O Preço da Honra escrita por Julia Nery


Capítulo 11
A Verdade




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Connor POV

O cubículo onde Connor os levara – um dos muitos encontrados naquele labirinto subterrâneo – estava tão escuro que a penumbra quase parecia palpável. Connor sabia que um lampião sempre se encontrava ao alcance de quem quer que entrasse ali, com o objetivo de tornar possível a localização entre os túneis, e ele tateou em volta em busca da fonte de luz, usando sua visão especial para tentar ver melhor, mas a ajuda era quase nula. E Emma mantinha-se tão silenciosa que sentiu que estava sozinho novamente.

— Emma? — chamou, e sua voz ecoou pelo espaço quase vazio. 

 

Um suspiro soou de sua esquerda; fora baixo, mas nítido devido ao silêncio que os cercava.

— Estou aqui — disse ela, sua voz reverberando da mesma maneira.

Connor encontrou o lampião e o acendeu. O fogo bruxuleou, clareando ainda mais, permitindo que ele olhasse pela sala repleta de caixas, livros e suprimentos. As teias de aranha reluziram com a iluminação e ratos correram para longe. Partículas de poeira flutuavam pelo ar parado.

Emma se encontrava sentada em uma das muitas caixas apodrecidas, molhada da cabeça aos pés. Havia abaixado o capuz, torcendo o cabelo marrom-avermelhado para tirar a água. Ela ergueu os olhos, e o reflexo da chama da lanterna apareceu em seus olhos, por trás de cílios longos como espanadores de penas.

— Vamos — chamou ele, fazendo um movimento de cabeça para o único corredor disponível ali, e acima da entrada, uma placa dizia “Igreja Presbiteriana”.

Connor acendeu os lampiões pendurados nas vigas de madeira que sustentavam as antigas passagens, tentando deixar o lugar menos sinistro, o que parecia impossível graças às paredes cheias de musgo, ao cheiro asqueroso do esgoto e do gelado vento que deslizava entre seus pés. Mas Emma não parecia se importar. Ela permanecia quieta como uma sombra, seguindo Connor de perto. O som de seus passos leves eram encobridos pelos dele.

À frente, a luz do lampião revelou uma porta que bloqueava o caminho.

— Não quer saber onde estamos? — perguntou Connor, colocando a lanterna no chão e abaixando-se para destrancar a porta com suas pequenas ferramentas.

Emma deu de ombros.

— Onde estamos, Connor? — perguntou, em um tom de quem fingia estar interessado.

A primeira resposta foi o baque da fechadura se quebrando e se abrindo. Connor se levantou, empurrando a porta, pegando a lanterna, e liberou a passagem para que Emma passasse primeiro.

— É um sistema de túneis feito pelos maçons décadas atrás. Corre por toda a cidade, e poucas pessoas sabem suas entradas, muito menos sua existência. Se estou certo, vamos sair longe da mansão e acharemos uma estalagem em seguida. Estamos seguros.

Andaram por mais alguns minutos, e o som da água do esgoto em movimento ficava mais alto a cada passo dado. Então, quando passaram por mais um portal, encontraram-se em um espaço mais aberto e ventilado, revelando então a fonte do som.

À esquerda, em um paredão, dois canos despejavam água do alto em um fosso que parecia muito profundo, separado do caminho seguro por uma pequena cerca de pedra. Acima, no teto agora alto, puderam ver que a chuva havia passado, e o suave luar escorria para dentro daquele ambiente agourento por meio de bueiros, como um véu prateado.

Não era possível seguir em frente devido a uma porta de metal trançado ao lado do fosso. Do outro lado da porta, Connor viu mais uma parede, que parecia escalável, e logo acima estaria a saída. Ele colocou a lanterna no chão novamente e observou a fechadura coberta de ferrugem e teias de aranha. Estava enferrujada demais para que ele pudesse fazer qualquer coisa, e a tranca do outro lado era inalcançável devido ao pequeno espaço disponível por entre as barras de ferro cruzadas. Olhou para o fosso, mas a água passava para o outro lado por um buraco na parede que era bloqueado por cilindros de aço.

Olhou para cima, procurando por um caminho alternativo. Vários metros acima da porta, havia um pequeno buraco que sairia do outro lado do obstáculo, mas estreito demais para Connor passar. Ele virou-se para mostrar a Emma, mas ela já dizia:

— Eu subo — e começou a escalar, prendendo a ponta dos dedos e dos pés nos sulcos, e puxando-se para cima.

Connor instintivamente estendeu as mãos quando ela pisou em um pedaço solto de rocha, mas não caiu, e continuou subindo.

— Está começando a me assustar — comentou ele, cruzando os braços e observando-a subir. — Quieta demais.

Ela apenas sacudiu a cabeça, e procurou por mais lugares onde apoiar-se.

— Me deixe em paz.

— Eu quero ajudar.

— Você não pode fazer nada.

— Como pode ter certeza?

— Eu apenas tenho.

— Emma.

Ela estendeu uma das mãos, indicando que ele deveria parar bem ali, e olhou para baixo, fitando-o.

— São apenas lembranças ruins que antes eu conseguia ignorar. Nada com que precise ocupar seus pensamentos. Só preciso de um tempo, então esqueça isso. Não vai interferir na missão — ela voltou a escalar, e passou pelo buraco engatinhando.

Mas não era isso que levemente o preocupava. Se lembrava do contentamento de Emma ao controlar o Aquila, ou o modo como seus olhos cintilaram como pequenas joias quando ela mencionou sua casa, e se perguntava o que poderia ser tão terrível a ponto de estragar algo como aquilo. Mas ele não iria incomodá-la mais. Por enquanto.

Connor observou enquanto Emma pulava para o outro lado da porta e empurrava a tranca com os pés, apoiando suas costas no batente. Depois de exigir certa quantidade de força, a tranca abriu com um estalido alto o suficiente para assustar alguns roedores, e Connor empurrou a porta, passando por ela em seguida.

Depois de escalar o corredor vertical que levava à uma sala exatamente igual à primeira em que estiveram, Connor destrancou a porta da saída, e uma escadaria e outra porta de alçapão foram reveladas, e com um empurrão de seus ombros, a porta foi aberta.

Espiaram com cuidado antes de sair de volta para o ar puro – ou quase –, tomando cuidado para não esbarrar em uma patrulha, mas tudo parecia muito calmo naquela parte da cidade; claramente a notícia de um assassinato ainda não havia chegado ali. Connor rapidamente se localizou e tomou caminho para a estalagem mais próxima.

Moveram-se pelas sombras dos becos, esmagando poças sujas de água com as botas, seguidos apenas pela lua e pelos sussurros dos mendigos e das pessoas que ainda se encontravam na rua àquela hora da noite. Connor virava-se para olhar Emma de vez em quando, e ela o olhava de volta, e perguntava se havia algo de errado, mas ele apenas virava-se de volta. Ele acreditava que tinha medo de vê-la chorando – apesar de crer ser uma possibilidade muito remota. Mas se acontecesse, ele não saberia o que fazer.

A estalagem que encontraram ficava em uma rua não muito movimentada, e possuía uma placa acima da porta indicando chamar-se “A Filha do Capitão”. Connor espiou pela janela embaçada e viu que não estava cheia, e a maioria de seus ocupantes eram marujos e viajantes cansados. Suspirou e entrou, com Emma em seus calcanhares.

O lugar era aconchegante e vezes mais quente que o ar da noite na rua. Cheirava a comida recém-cozida, e alho e cebola. Era bem rústica, diferente das estruturas brancas e modernas lá fora. Connor estivera lá uma vez, muito tempo atrás, uma noite antes de ir atrás de Thomas Hickey. As memórias não eram agradáveis, então espantou-as rapidamente.

Emma seguiu para o balcão onde estava o dono do estabelecimento e, pela primeira vez naquela noite, Connor foi atrás dela, e não o contrário. As estantes atrás do balcão estavam repletas de livros empoeirados e garrafas quase vazias de uma quantidade impressionante de bebidas alcoólicas. Connor olhou em volta, garantindo que não haviam atraído olhares indesejados, mas os viajantes nem pareciam notá-los. 

Antes que Emma pudesse pronunciar sua primeira palavra, o estalajadeiro – um homem baixo e robusto, que lembrou a Connor um dos leitões na fazenda, cujos botões do casaco mal aguentavam a largura de sua pessoa, ergueu a mão enrugada e inchada, levantando uma sobrancelha grossa por baixo do chapéu.

— Não quero problemas — avisou ele, olhando para as roupas dos assassinos e para as manchas de sangue que possuíam. — Vocês não me parecem do tipo pacíficos. Devo avisá-los que este não é um lugar para bárbaros, como aqueles bares imundos. É um estabelecimento de respeito.

— Tivemos nossa cota de ação pela noite — garantiu Emma, removendo as luvas devido ao calor fornecido pela lareira no fundo, e revelando mãos finas e brancas com dedos e unhas longas.

Uma mulher de meia-idade apareceu da porta dos fundos, que provavelmente levava à cozinha, levando uma pilha de toalhas limpas e começou a organizá-las em um pequeno cesto.

— De qualquer forma, só tenho um quarto disponível — relatou o estalajadeiro, observando um grosso livro aberto em cima do balcão por trás de seus óculos meia-lua. — Com uma cama de casal, um sofá e uma lareira. Cinquenta libras cada noite. Vocês não são...

— Não, mas vamos ficar com ele, posso dormir no sofá — respondeu Connor, tirando de sua algibeira um saco de couro que continha mais libras que o proprietário cobrava, e com um motivo, que sussurrou para o homem: — Não vamos ficar muito tempo. Há quinhentas libras aqui, então nunca nos viu em sua estalagem.

O estalajadeiro sentiu o peso do saco em seus dedos gordos, e suspirou, um pouco desconfiado, mas guardou o dinheiro no bolso.

— Claro que não, senhor — concordou, e entregou uma chave grande e velha a Connor. — Terceiro andar, segunda porta à esquerda. Tenha uma boa noite.

O quarto e o silêncio sem dúvidas valeram o dinheiro gasto. Era espaçoso e tinha uma vista da entrada da pousada, então Connor saberia se guardas se aproximassem, e se chegassem ao terceiro andar procurando por eles, já estariam longe dali. Era retangular, e no lado direito, encontrava-se a cama, que possuía um dossel de madeira bem trabalhado e os lençóis brancos pareciam bem limpos. Em frente ao móvel, na parede oposta, encontrava-se a lareira e o sofá de tecido carmesim.

— Não parece muito confortável — comentou Emma, referindo-se ao lugar onde Connor dormiria. — Você é... grande, tem certeza de que a cama não é uma opção melhor?

— Já dormi em uma cela de prisão — lembrou-se Connor, e percebeu que não estavam tão longe da prisão Bridewell. Bons tempos. — Isso está ótimo. Além do mais, acredito que você necessite de uma boa noite de sono mais do que eu.

Emma abriu a boca para dizer alguma coisa, provavelmente perguntar a que Connor se referia quando dizia prisão, mas mudou de ideia, aparentemente deduzindo que aquela seria uma história para outra noite. Então, virou-se e andou em direção à cama.

Enquanto Connor acendia o fogo na lareira, pelo canto do olhou viu Emma tirar seu cinto de armas e o colocar na mesa ao lado de sua cama. A espada tilintou quando bateu contra a madeira. Então, desabotoou sua capa.

— Quer que eu me retire? — disse Connor, cutucando o fogo.

— Não acha que vou tirar minhas roupas, não é? — perguntou retoricamente, e largou a capa sobre o cinto.

Connor deu um sorriso torto e discreto de uma satisfação secreta, vendo que o lado sarcástico de Emma estava voltando. Estava mais feliz por aquilo que deveria. A madeira crepitou sob o atiçador. Perguntou-se se ela estaria fingindo estar com um humor melhor só para que ele parasse de incomodá-la.

Quando se levantou e sentou-se no sofá, ele mesmo se preparando para dormir, Emma se deitou, depois de ter tirado suas botas, encolhendo-se no cobertor como um filhote de passarinho com medo do inverno. Olhou para ele com curiosidade, como se tentasse adivinhar em silencio o que ele estava pensando. Mas apenas disse:

— Boa noite, Connor.

Connor jogou suas botas no chão após tirá-las, e suspirou, retribuindo o olhar dela.

— Boa noite.

Emma POV

Depois de tantas luas quase em paz, Emma teve pesadelos naquela noite.

Rufus, ou Thomas, qualquer que seja o nome daquele homem, abriu um ferimento em sua mente com suas palavras cruéis. Um ferimento que levou anos para mesmo começar a se curar. Ela tentara arduamente por muito tempo mandar os fantasmas embora, mas agora eles estavam de volta para assombrar seu sono.

Como tantas incontáveis e dolorosas vezes antes, ela estava de volta à estrada de terra cercada por árvores que levavam à Guilda. O céu estava escuro devido à noite sem lua, e uma névoa sinistra lentamente se espalhava pela área. Ela podia ouvir as folhas na floresta sussurrando quando o vento as tocava suavemente.

Os machucados estavam de volta, parecendo muito reais. Emma podia senti-los ardendo na superfície de sua pele. Ela olhou para seus braços, cheios de hematomas, e podia sentir o gosto metálico de sangue em sua boca. Seu tornozelo estava torcido, e ela levou o que pareceram séculos para chegar aos portões da muralha.

Tudo estava uma irreparável desordem. Fogo e sangue. Gritos. Tantos gritos, ecoando em suas memórias. Os cavalos fugiam apavorados dos estábulos em chamas. O fogo cuspia para fora das janelas, explodindo-as em milhares de pedaços de vidro. Ela havia sido obrigada a reviver aquela noite tantas e tantas vezes, e estava marcada em sua cabeça como a queimadura de um ferro ardente.

Mas algo mudara, desta vez, três pessoas estavam em pé sobre os cadáveres que cobriam todo o chão do jardim da frente. Eberus era uma delas, sorrindo para ela. Emma focou-se nele, e correu em sua direção, brandindo sua espada.

Ela mirou em sua cabeça, mas quando ela chegou perto o suficiente, de repente estava em outro lugar. Uma sala escura. Ela correu em círculos, batendo as mãos nas paredes que pareciam rocha maciça. Não, não, não, desesperou-se.

A risada de Eberus reverberou da direita, e ela se virou em um átimo, apontando sua espada naquela direção, respirando tremulamente, mas não havia ninguém lá. Então, o som frio daquela risada maquiavélica pareceu vir de todas as direções e, de repente, tudo estava pegando fogo à sua volta novamente, e Emma ouviu mil bocas chamando-a e rindo-se dela.

Ela sentou-se no chão e cobriu as orelhas, começando a gritar como uma louca para cobrir aquele som que arranhava todos os ossos de sua espinha.

— Emma! – risada. – Emma!

Connor POV

Connor acordou com os gritos vinda da cama do outro lado do quarto. Ele se levantou em um vislumbre, ativando suas lâminas, imaginando o que poderia estar atacando-os no meio da noite. Mas não havia nada no quarto, além do vazio e de Emma, que gritava os pulmões para fora na cama. Ela estava tendo um pesadelo, e um terrível.

Ele correu em sua direção e segurou seus ombros, sacudindo-a, tentando acordá-la.

— Emma — chamou, mas ela continuou a tentar se livrar das mãos dele. — Emma!

De repente, ela abriu os olhos claros, mas ainda não estava ali. Ela não estava vendo Connor em frente a ela. Estava vendo outra pessoa. Ela o empurrou para fora da cama e ele caiu no assoalho velho do quarto. Ela pegou sua espada na mesa de cabeceira e o atacou, mas ele bloqueou com suas adagas.

— Emma, sou eu! — tentou ele, e passou suas pernas nas dela, derrubando-a. Rapidamente, ele pulou sobre ela e pegou sua espada, jogando-a para o outro lado do quarto. Ela ativou suas lâminas e o presenteou com um corte profundo na bochecha, mas ele segurou suas mãos acima da cabeça e apoiou o joelho em sua barriga, como ela já havia feito uma vez antes. Ele colocou sua própria adaga na garganta dela, querendo que ela parasse de se mexer. — Acorde!

Então, seu rosto se tornou medo puro. Ela parou de se debater e olhou em volta, reconhecendo o ambiente em que se encontrava. Seu peito inflava e expirava constantemente, e seus olhos pareciam os de uma corça assustada.

— Connor? — Ela disse, em um tom assustado e baixo, como uma criança com medo do escuro. Olhou para ele. — O que... O que é...? O que aconteceu com seu rosto?

Connor encarou Emma profundamente nos olhos enquanto ela limpava o corte que deixara em seu rosto. A expressão dela o entristecia. Ela parecia doente. Seu rosto estava pálido, e seus olhos, vazios, mortos como uma folha seca. O ferimento ardeu, e Connor recuou um pouco com a dor.

— Desculpe — sussurrou ela.

— Não é nada.

Então, ela fez um movimento inocente. Quando ela terminou de limpar o ferimento, ela suavemente passou a ponta do dedo indicador na pele dele, como se tentasse abrandar a dor. Mas foi breve, e ela removeu sua mão, acreditando que Connor não havia notado. Ela se levantou do sofá, mas ele segurou seu braço.

— Emma, pare.

Ela o fez, olhando para ele.

— Isso tudo é sobre o que aconteceu esta noite, não é? — ele a soltou e se levantou, andando pelo espaço entre a lareira e o sofá. — Tudo o que Mason te disse foi doentio. Estou confiando em você, mas você não está ajudando. Tem algo que você não está me contando, eu sei disso, e quero que me diga o que é. Não acha que tenho o direito depois de você tentar me matar?

Emma suspirou, desviando o olhar para o fogo, como se ele trouxesse memórias ruins. Mais delas.

— O nome dele não é esse — Ela começou, sentando-se de volta. — Pelo menos, quando o conheci, ele se apresentou de outra forma.

— Thomas — deduziu Connor. — Como você o conheceu?

Ela sacudiu a cabeça.

— Não é uma história que gosto de contar, então vou tentar diminuí-la.

Connor suspirou.

— Eu só quero a verdade.

Ela puxou os cabelos soltos para trás, dobrando os joelhos em cima do sofá, como se tentasse se livrar de uma terrível dor de cabeça.

— Três anos atrás, eu estava em Londres com alguns recrutas, procurando algumas coisas que meu pai tinha nos pedido. Foi quando vimos, no meio da rua, um cidadão sendo atacado por guardas reais — Emma ergueu a sobrancelha, quase com admiração. — Mas ele era habilidoso, e estava conseguindo se defender muito bem, até que foi superado pela quantidade de guardas que se juntou contra ele, e eu e meus companheiros tivemos de agir.

Emma suspirou em arrependimento, sacudindo a cabeça e parecendo repreender a si mesma por dentro.

— Ele me agradeceu após a luta, e disse que nossas vestimentas eram incomuns, perguntando se éramos guardiões ou algo assim, para que ele pudesse se juntar a nós, como um modo de agradecer pela nossa ajuda — continuou ela, em um fôlego só. — Como filha de meu pai e com uma... autoridade um maior como Assassina, eu me senti no dever de convidá-lo para a Ordem, e disse que os recrutas voltassem para casa, e eu estaria lá logo. Então, eu conversei com o homem, explicando sobre tudo de uma maneira sucinta.

Connor ouvia com atenção, e percebeu quando o olhar de Emma ficou mais distante.

— Ele parecia tão honesto naquele momento — refletiu ela. — Parecia valer a minha confiança, como você. Ele pareceu um novo amigo. Mas o que eu nem pude sonhar, era que ele era um espião Templário. Eu não fazia ideia; eu não fiz perguntas.

— Ele era Mason — Connor concluiu.

Emma assentiu.

— Tola e ansiosa por fazer algo pela Guilda, eu o convidei para a mansão, para que ele pudesse começar seu treinamento e se tornar um de nós. Mas quando eu o guiei até lá, eu entrei diretamente em uma armadilha — Emma amaciou os olhos fechados com a ponta dos dedos. — Por volta de duzentos dos homens de Eberus tinham me seguido até a localização secreta da casa, e eu fui atacada, espancada por eles. Era eu contra setenta que investiram contra mim, inclusive Thomas. Fiquei surpresa que não me mataram; acho que queriam que eu assistisse.

Connor suspirou. Ele sabia qual era o gosto amargo da traição. Ela não merecia aquilo.

— Eles me deixaram inconsciente e seguiram seu caminho pela floresta — Emma colocou as mãos nas laterais da cabeça, ainda de olhos fechados. — Quando eu cheguei aos portões, mal conseguindo andar, tudo estava em chamas. Minha casa, meu lar, destruído por Eberus, Thomas e seus homens. Estavam atrás do Diamante. Tantas pessoas mortas, Connor. Incluindo os recrutas que foram comigo a Londres. Consigo me lembrar de cada detalhe daquela noite como se fosse ontem.

Connor se silenciou, tentando processar tudo aquilo. Seu coração doía por ela.

— Eu deveria ter me lembrado de nosso credo — disse ela, com pesar. — Nada é verdade.

Connor lentamente se aproximou do sofá novamente e se sentou ao lado dela, que suspirou.

— Quando conseguiram o Diamante, eles recuaram, deixando uma trilha de morte para trás. Não ouvi nada deles até três anos atrás, e hoje. A mansão não voltou a ser o que era até alguns meses atrás. Os pilares, paredes e corredores estão novos em folha agora. Mas seus habitantes nunca estarão completamente curados. Eles nunca se esquecerão, e como você pôde ver esta noite, eu também não.

Connor colocou sua mão em seu antebraço, afagando-o. Não havia muito o que ele pudesse dizer.

— Por que não mencionou isso antes?

— Não parecia relevante, e... não queria que você pensasse que sou fraca.

— Não penso isso. Você está seguindo em frente, pronta para consertar seu erro. Nem todos são corajosos e capazes de fazer isso.

Ela sorriu por um segundo, o que deu a Connor um breve sentimento de vitória. Ficaram um tempo ali, aproveitando o fogo que já começava a se extinguir na lareira, já que ambos haviam perdido o sono, e Connor refletia em silêncio. Ele conseguia sentir a distancia entre ele e Emma se diminuindo, de uma forma que ele nunca achou de fosse acontecer.

O sentimento que ele uma vez tivera de ela ser orgulhosa, fria e ameaçadora, não estava mais ali. Ele via claramente agora, que ela não era nada mais nada menos que um ser humano, e na verdade, ele partilhava de suas preocupações e medos. Ele perdera pessoas também, e em formas nada melhores que as dela. Ambos até mesmo eram até mesmo um tanto parecidos. Pela primeira vez nos dias passados, ele viu que trabalhar com ela não seria o fim do mundo. Apesar de tudo, revelara-se ser uma coisa agradável, e ele gostava da companhia dela, afinal.

Quando Emma dormiu, finalmente, com a cabeça inocentemente encostada no ombro dele, ele a levou para a cama, e encostou-se à parede ao lado, cruzando os braços, e observando a noite e as corujas lá fora. Se ela tivesse outro pesadelo, ele estaria ali. Supirou, e murmurou:

— Boa noite, Emma.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, comentários são muito apreciados ♥



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