O Preço da Honra escrita por Julia Nery


Capítulo 10
Vingança


Notas iniciais do capítulo

Disclaimer das músicas:

Approaching Target 2 - Assassin's Creed 2
Por Jesper Kyd ✔

Breaching the Walls - Assassin's Creed 3
Por Lorne Balfe ✔



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↓ Música ↓

Connor POV


Connor franziu as sobrancelhas por baixo do capuz, confuso além de qualquer medida, quando Emma saltou do telhado e aterrissou na rua, em silêncio, misturando-se na pequena multidão que já se formava em frente à casa. Ele ainda conseguia ver seu capuz branco, mas seria por pouco tempo se não a seguisse agora. O que ela estava tramando?

— O que ela está fazendo? — Deborah perguntou, franzindo as sobrancelhas finas, tão confusa quanto ele. — Houve uma mudança nos planos?

— Não — respondeu Connor com um suspiro impaciente. — Eu irei atrás dela. Obrigado, Deborah.

Então, pulou do telhado atrás de Emma.

Connor usou as carruagens que ainda se aproximavam do casarão como barragem, mantendo-se fora de vista dos guardas no muro enquanto varria o local atrás daquela mulher. Deborah tinha razão. A quantidade de soldados guardando as pequenas brechas no muro dobrara, o que poderia ser um problema ou não. Dependia deles, e Emma não parecia estar querendo cooperar.

Quando a viu, ela estava perto do portão dos fundos, atrás de uma casa que parecia abandonada. Dois guardas circulavam por ali, mas ela fez questão que eles fossem liberados de seu serviço, e pulou sobre o de trás, matando-o com um golpe certeiro no pescoço, e quando o outro se virou, emitindo um som de surpresa um tanto alto, ela enfiou a adaga em seu peito. Qual era o problema dela? Ela ouvira quando Connor disse o plano. Estava decidindo ignorá-lo de propósito? 

Connor rangeu os dentes e olhou para os lados, se certificando de que ninguém ouvira aquele pequeno ocorrido, e correu até lá, mantendo-se às sombras. Emma já estava seguindo para o muro novamente, sem se dar o trabalho de se esconder, desfilando pelo campo em plena vista, como uma corsa em uma pradaria.

Connor correu e puxou-a de volta pelo braço antes que ela pudesse ir mais longe, e escondeu ambos atrás de uma árvore.

— O que está fazendo? — perguntou, irritado.

— Mudei de ideia — disse, sacudindo o braço, e Connor a soltou. — Saia do caminho.

— Emma, o que aconteceu? O que você viu?

— Nada.

Connor suspirou. O que ele mais desejava naquele momento era que ela cessasse com as mentiras. Ele teve pessoas mentindo para ele sua vida inteira, e sabia bem o olhar que possuíam quando o faziam. Era o olhar que Emma agora tinha em seus olhos raivosos. Embora talvez não admitisse para si mesmo, isso o aborrecia um pouco.

Ela deu um passo para longe da árvore, mas Connor colocou sua mão no caule, impedindo a passagem dela com o braço. Ela encarou o braço de Connor como se quisesse mordê-lo.

— Connor, não — avisou ela.

— Temos de esperar Deborah e sua distração. Há guardas demais no muro, nunca conseguiríamos entrar sem ser vistos, o que era o que você queria, estou certo?

Emma ergueu os olhos para ele, fitando-o através dos cílios. Então, empurrou-o forte o suficiente para que ele recuasse um passo, e continuou seu caminho. Connor contou até dez, e deu um soco na árvore. 

A única coisa que a fez parar a alguns metros do portão dos fundos foi a comoção que ouviram na frente da casa. Connor olhou. Não era possível ver muito de sua atual posição, mas ele ouviu com atenção. Eram algumas pessoas, vinte talvez, civis, sacudindo as carruagens estacionadas ali. Gritavam com os guardas e com os convidados que, horrorizados, corriam para dentro da segurança da mansão. Os guardas foram chamados, e todos eles se reuniram na frente da casa, demandados a lidar com aquilo. Satisfeito, Connor se virou para avisar Emma que o caminho estava livre, mas é claro que ela já estava à frente dele.

Emma já estava ao portão, enfiando suas lâminas ocultas ao mesmo tempo no pescoço dos dois guardas que permaneceram ali. Connor hesitou antes de segui-la para dentro da propriedade. O que ela estava escondendo? Ela estava com raiva. Perguntou-se qual seria a razão para tal, e que motivos ela teria para esconder dele. Duvidava que ela pudesse surpreendê-lo de mais alguma forma.

Connor conseguiu alcança-la, e o enorme jardim que cercava a casa era bem decorado, com estátuas de criaturas humanas com asas e instrumentos nas mãos. Lembrava-se de tê-los visto em um livro na Fazenda, e Achilles dissera que eram... anjos? Mensageiros do Deus dos colonos. Estátuas dos anjos também se encontravam sobre as pequenas fontes, e a grama era repleta de flores variadas, e cheirava a grama recém-cortada.

Poucos dos guardas que não estavam tentando conter a irrupção dos cidadãos estavam patrulhando com lampiões que projetavam um pequeno e fraco círculo de luz na escuridão. Um deles virou a esquina onde estavam escondidos, mas ele não teve tempo de reagir, pois Connor jogou sua machadinha pelo ar, por cima de Emma, que estava bem em frente a ele, acertando seu alvo – a testa do guarda. Emma continuou a andar, impassível, e Connor seguiu-a após recuperar sua arma.

Parando atrás da casa, em frente à maior fonte de todas, que jorrava água em um ritmo sonolento, Emma olhou para cima, e Connor observou seus olhos mais uma vez. Apesar dos esforços dela para manter-se como um livro fechado, ele estava começando a aprender a ler as expressões dela. Tinham uma determinação violenta, o que o preocupou. Ela havia falado de uma mente calma e estável no dia anterior, o que com absoluta certeza não era o caso naquele momento. Ela parecia capaz de fazer qualquer coisa, pois não conseguia enxergar. 

— Há uma janela aberta — Emma tentou subir, mas a parede era completamente de concreto, liso como madeira encerada, e parecia impossível.

Connor puxou Emma de volta para o chão.

— Espere.

Ela tirou a mão dele de seu braço com um tapa.

— Você quer parar de me tocar?

— Emma, você não sabe quem está lá em cima. As luzes estão acesas. Deixe-me subir primeiro.

— Se julga melhor que eu?

Connor fechou os olhos, apertando as mãos em punho. Lentamente contou até dez outra vez, e murmurou "quanta teimosia, eu ainda vou matá-la" em Mohawk, para que ela não o entendesse.

— Por que não diz isso em minha língua? – Ela cruzou os braços.

— Por que eu não quero — retrucou Connor, cansado de discutir. — Se quiser ir, vá. Posso te dar um impulso. Agarre na sacada.

Emma concordou silenciosamente, e olhou para os lados antes de tomar distancia de Connor, que flexionou os joelhos, posicionando-se de costas para a casa, entrelaçando seus dedos.

— Pronto? — Emma perguntou.

Connor assentiu, e Emma correu em sua direção. Quando ela pisou em suas mãos, ele a impulsionou para cima. Não requereu muita força, já que não era pesada, e ela agarrou a balaustrada da sacada. Quando entrou, silenciosamente, olhou para baixo. Os fios soltos de seu cabelo caíram em volta de seu rosto.

— Consegue subir? Estou perdendo tempo.

Mas Connor precisava de um segundo sozinho. Se Emma dissesse mais uma palavra a ele com aquele seu tom insolente, ele ficaria louco.

— Vou procurar o mapa de Mason, ou tentar conseguir qualquer informação útil — respondeu. — Nos encontramos aqui depois.

— Tente eliminar os guardas — sussurrou de volta, e ajustou as lâminas nos braceletes. — Vamos precisar de uma saída rápida, e não pode haver nada em nosso caminho.

Connor estreitou os olhos. O que ela estava planejando que poderia ser chamativo o suficiente para atrair a atenção de um leilão inteiro? Tudo aquilo estava começando a irritá-lo também. Ele não tinha o melhor temperamento, e aparentemente Emma adorava tornar as coisas mais difíceis do que já estavam. Mas era inútil tentar argumentar com ela; era algo que ele também estava aprendendo. Então apenas sacudiu a cabeça.

— Tome cuidado — murmurou.

Emma ficou quieta por um segundo.

— Tomarei — E entrou na casa, saindo de vista.

Connor se manteve no primeiro andar, conseguindo entrar por meio de uma janela arrombada. Observava cada canto com cuidado antes de seguir, mas duvidava que a segurança dentro da casa fosse tão intensa, pois o trabalho dos guardas lá fora era exatamente impedir que alguém chegasse tão longe, e estava certo. Apenas dois soldados guardavam as grandes e brancas portas de entrada, e Connor conseguia ouvir o leilão em andamento, no que parecia a maior sala do primeiro andar, à direita das portas. Manteve distância dali, e entrou em uma das salas que parecia ser um local de armazenamento de arquivos.

O lugar cheirava a poeira, apenas. Livros e papéis enchiam as estantes, e em cima de uma escrivaninha grande de madeira maciça, encontrava-se um grande livro, aberto em uma determinada página. Connor se aproximou, e viu que naquela parte encontravam-se nomes e endereços, que ele imaginava ser dos convidados do leilão. Haviam muitos, inúmeras Madames e Lordes, com seus correspondentes endereços de residência escritos em pena e nanquim. Ele correu o dedo pelo livro, parecendo ser a única coisa ali que não estava coberta de poeira, procurando nomes familiares e achou o que estava procurando.

Sem pensar duas vezes, arrancou um pedaço em branco da página e pegou a pena no pote de nanquim, anotando o endereço de Mason. O nome Eberus Fitzgerald também estava lá, mas riscado e sem informação adicional, como se houvesse cancelado sua presença. Connor não conseguiu se decidir se aquilo era bom ou ruim, mas continuou a folhear pelo livro.

Havia também uma lista dos produtos leiloados. De grande maioria, eram coordenadas e locais desocupados, pedaços de terra que não pertenciam a ninguém. É claro que seu povo e o resto dos nativos não pensavam dessa forma, e a seu ver aquelas terras pertenciam a eles. Mas não haviam nada que pudesse fazer, e o fazia se sentir impotente. Como tantas vezes antes. Ele arrancou a página, jogando-a para um canto escuro, e guardou o endereço no bolso interno do robe. 

Connor observou o corredor com cautela antes de sair, e ouviu passos, então se escondeu novamente. Espiou por trás da porta e viu o rosto de Rufus Mason. Era o que a maioria das mulheres julgariam atraente; seu cabelo era negro, e a barba era bem feita. Estava acompanhado por outro homem que vestia uma farda vermelha que apenas um oficial inglês usaria. Ambos haviam saído da sala onde o leilão estava supostamente acontecendo, e seguiam pelo enorme hall de entrada, em passos lentos, e pararam perto das escadas que levavam aos andares superiores. Connor se concentrou para escutá-los.

— Diga-me que você tem a verba, Ronald — disse Mason, e sua voz era grave, mas estranhamente calma. — Não podemos ter gastado tempo e dinheiro nessa fachada para que eu perdesse meu navio para um lance maior que o seu.

— Não se preocupe — Ronald respondeu, mexendo nervosamente no cabo da espada pendendo de seu cinto. — Teremos o navio.

— Eu soube que seu forte foi atacado, na fronteira. Por que não me disse?

— Nada que merecesse sua preocupação. Era uma assassina, atrás de um rapaz que capturamos. Coloquei uma recompensa na cabeça dela, mas nada surgiu. Era inglesa; deve ter morrido para algum animal selvagem na floresta.

— Se for o caso, os Assassinos estão desesperados para mandarem alguém tão inexperiente — Mason bufou. — Se ela não estiver sozinha, tome o devido cuidado. Não podemos deixá-los chegar mais longe do que isso. Ela o questionou?

— Sim, e não parecia tão ignorante quanto você supõe — Connor detectou certo resquício de admiração na voz dele. — Era corajosa e, oh, era rápida. Conseguiu passar a perna em todos os meus homens no forte para escapar. Ninguém sequer a viu entrar. Talvez não devamos subestimá-los. Parece um erro. E se mandarem mais gente?

— Não seja tolo — Mason riu. — O que ela perguntou?

— Sobre você.

— Sua resposta?

— Disse que havia rumores de que estava preparando a partida de um barco, e que deveria ter voltado à Inglaterra. Nada que ela não descobriria perguntando ao povo da cidade.

— É melhor não estar errado em nada disso.

— Não estou — garantiu Ronald, e suspirou, ajeitando o chapéu.

Como um sinal divino para contrariar as últimas palavras pronunciadas por Ronald, um som baixo veio do segundo andar, talvez? Um som de porcelana se partindo. Os Templários olharam para as escadas ao mesmo tempo, e Ronald segurou o punho da espada, e subiu o primeiro degrau, mas Mason o impediu, como Connor havia feito com Emma pouco tempo antes.

— Não — vetou. — Não deve ser nada. Fique atento ao leilão, não posso perder aquele navio por nada.

Ronald suspirou outra vez e voltou a embainhar a espada, que já estava com metade da lamina para fora, e voltou para o leilão, pisando firme, então, bateu as portas duplas da sala, deixando Connor sozinho naquela sessão do primeiro andar.

Lentamente, ele andou até a escada e olhou para cima. O teto era alto e esculpido em gesso, de onde um grande e ostentativo lustre balançava sutilmente. Sua visão aquilina detectou guardas nos outros andares. Se Emma estivesse precisando de ajuda, por aquele caminho ele não iria.

Voltou para dentro da sala dos arquivos para sair dali, a tempo de ouvir uma martelada final do leiloeiro:

— “O Destruidor”, vendido por 70,000 libras para o capitão Ronald Phillips!

Connor foi surpreendido quando saía da casa pela mesma janela que entrara. Um soldado resolvera passar por ali justo naquele exato segundo. Connor desembainhou seu machado.

— Ei! O que é isso? — gritou, correndo até ele.

Quando o homem chegou perto o suficiente, Connor agarrou seu braço e o torceu, acertando sua coluna com o joelho, e cortou sua garganta com a lâmina afiada da machadinha. Olhou em volta, e quando ouviu mais patrulhas se aproximando, rapidamente puxou o corpo para dentro de uma das moitas de margaridas no jardim e se escondeu atrás de uma coluna.

Mas ele não permitiu que os guardas terminassem sua conversa sobre armas, pois quando deram às costas a Connor, ele acertou ambos em cheio com suas lâminas escondidas. Juntaram-se ao soldado nas moitas.

Connor limpou o sangue do rosto e voltou para a parte de trás da casa, por onde Emma tinha entrado, e começou a pensar em um jeito de subir sozinho. Estava quieto demais, e as estrelas que antes salpicavam o céu como pequenos diamantes, já não podiam ser vistas. Agora, se escondiam, tímidas, atrás de nuvens de chuva. Quando ele andou até um pequeno depósito de jardim, pronto para procurar por uma corda, ele foi pego inteiramente de surpresa.

Repentino como uma bala de canhão, o som agudo de uma janela se estilhaçando soou do pátio. O som fora encobrido por um estrondoso trovão, e era impossível dizer se alguém ouvira. Connor olhou para a casa a tempo de ver algo caindo do terceiro andar em meio a milhares de cacos de vidro. Não, algo não. Alguém.

Ele não foi capaz de distinguir a forma que disparara para baixo, então correu até lá. Pensou ser Emma a princípio, e se aproximou com as palavras estavam prestes a sair de sua boca, perguntando se precisava de ajuda, mas não era ela que se levantava, esmagando os cacos com a sola das botas. Era Mason, com o cabelo e barba negros sujos de pequenos cacos de vidro, o rosto repleto de cortes e um olho roxo.

Seus olhos verdes encontraram Connor, e ele brandiu a espada a esmo, confuso, sem saber quem ou o quê queria acertar, mas Connor nem teve de pegar seu machado, ou flexionar seus pulsos. Apenas deu um passo para o lado e empurrou Mason de volta ao chão.

Quando Connor olhou para cima novamente, para a janela destruída, viu Emma saltando de lá, e pousando no chão. Ficou parada agachada por um segundo, recuperando o equilíbrio, mas logo estava em pé. Seu rosto era uma máscara de calma, mas as mãos fechadas em punho denunciavam sua fúria.

— Você está bem? — Connor murmurou.

Ela assentiu uma vez e apenas andou devagar até Mason, que se levantava, brandindo a espada novamente. Seu rosto estava repleto de surpresa enquanto ele olhava Emma.

— Fique longe de mim — disse, e a espada em sua mão tremia como um pedaço verde de bambu. — Achei que estava morta!

Connor percebeu, com um leve choque, que ele tinha medo dela. Era um templário, provavelmente treinado – Connor ouvira seu tom de autoridade e confiança antes, na casa; e tinha medo de uma Assassina – também muito habilidosa, mas que tinha metade de seu tamanho e peso. 

— Estou bem viva — Emma vociferou.

Connor não soube se deveria interferir, e ficou parado, encarando os dois, esperando que a verdade naquilo revelasse a si mesma. Não sabia que ela possuía esse lado agressivo. Ele tentou se recordar de algo que ela dissera que talvez fizesse referência àquela raiva por Mason, mas não encontrou nada.

Emma, já perto, puxou sua espada da bainha, e quando Mason atacou-a com a sua, ela bloqueou e girou a perna no ar para lhe acertar o pé na cara. Mason caiu para trás, gemendo, com o nariz sangrando ainda mais.

— Eu disse que eu iria encontrá-lo, Thomas — disse ela, ainda se aproximando de Mason enquanto ele se afastava. — Só não esperava que o destino fosse tão gentil comigo.

Thomas

O oponente tentou outro golpe, que também se mostrou inútil, pois Emma nem deixou que a lâmina chegasse perto de seu rosto. Aparou-a com uma das lâminas ocultas, e então, correu sua espada pela parte de trás dos joelhos de Mason, cortando seus tendões. Aquilo parecia muito pessoal, e Emma acabaria matando-o se não tomasse cuidado. Ele gritou, em dor e foi forçado a se ajoelhar, com as pernas sangrando. Emma trincou os dentes, e segurou a cabeça de seu inimigo para dar-lhe uma joelhada no rosto. Ele caiu para trás.

Emma pisou no que parecia um corte profundo nas costelas de Mason.

— Emma — Connor alertou, dando um passo na direção dela. — Precisamos dele vivo.

Ela o ignorou, e se abaixou perto dele. Perto demais.

— Não imaginou que um dia trocaríamos de lugar, não? — murmurou ela. — Agora você quem está no chão, como o pedaço de merda que você é.

Rufus se irritou, e claramente perdendo seu prévio medo e susto, e ergueu o braço, acertando as costas da mão no rosto de Emma com uma força bruta, que foi jogada para o lado com o lábio sangrando. Mason se levantou, mas Connor o empurrou em direção ao muro e segurou sua machadinha no pescoço do homem.

— Nos diga o que queremos saber, Mason — murmurou Connor em um tom grave e ameaçador. — E então quem sabe sua morte valerá alguma coisa.

A atenção do prisioneiro de Connor estivera em Emma, mas agora ele olhou para o outro assassino que o segurava.

— Vá para o inferno, selvagem.

Connor socou-o forte no estômago, e ficou feliz em fazê-lo. Mason grunhiu, curvando-se para frente.

— Onde está Eberus Fitzgerald? – Connor tentou mais uma vez.

Mas Mason novamente encarava Emma, que estava parada a dois metros dele, limpando o nariz que sangrava.

— Emma, Emma. Você está tão linda quanto no primeiro dia que a vi.

Connor socou seu estômago novamente, enquanto Emma se levantava.

— Eu me lembro bem agora — ele deu uma risada, e seus olhos verdes cintilaram. — Ah, a casa em chamas... Fui eu que acendi o primeiro incêndio, sabe? Acendi o fogo no feno dos cavalos. O pobre guarda dos estábulos nem viu quando rompemos pelos portões e teve seus braços cortados. Me lembro do jardim da frente coberto com os corpos de seus amigos, e de todo aquele sangue, colorindo os tijolos de vermelho. Os lobos devem ter devorado todo aquele banquete. Ah, Emma, queria que você tivesse visto. Lembro-me de ver um homem pegando fogo caindo pela janela, correndo, espalhando o cheiro de carne assada por todo lugar. Não sabia que mantinham tantos barris de pólvora. As explosões mutilaram várias pessoas, sabe. Há! Eu gostaria de ter levado alguma lembrança. Quem sabe a cabeça de seu pai? — ele riu outra vez. — Nunca vou me esquecer do horror nos olhos dele enquanto via tudo o que prezava sendo destruído, queimando como o fogo do inferno. Só o que faltou naquela noite foi você e ele, jazendo aos meus pés, com um buraco na testa. Então, eu diria que fui completamente feliz naquela noite. Eu não tenho medo de você, Emma. Só tenho a agradecê-la por sua vital ajuda. Nunca teríamos conseguido sem você.

Connor encarou Mason, um tanto horrorizado por suas palavras, e havia desistido de entender. Pretendia perguntar a Emma, mas ela não iria responder naquele momento.

Em um movimento rápido, Emma deu dois passos em direção a ele e empurrou Connor de seu caminho novamente, mas dessa vez, enfiou sua espada no peito de Mason. Ele se engasgou e sangue escorreu de sua boca. Emma o olhava bem nos olhos, seu rosto a pouquíssimos centímetros do dele.

— Você e Eberus destruíram tudo o que eu tinha — murmurou Emma. — Eu não tenho nada a perder. E disso você deveria ter medo.

Emma puxou sua espada de volta, e Mason caiu, engasgando-se em seu próprio sangue, deslizando pela parede até o chão. O sangue empapou as roupas do homem moribundo, manchando o tecido de negro.

Connor viu o maxilar de Emma contraído, e ela ia começar a se afastar, mas Mason segurou-a pela capa, manchando o pano branco de sangue.

— Você pode encontrá-lo — disse, com dificuldades, cuspindo sangue. — Mas nunca irá derrotá-lo. Não foi capaz de nos impedir quando possuíamos nada além de espadas e tochas, quem dirá... agora. Suas mãos sempre estarão vazias.

Emma começara a ofegar novamente, e socou-o mais uma vez. E outra. E outra. Passou uma de suas adagas no rosto dele incessavelmente. Mason já possuía os olhos mortos, recebendo os socos sem reação alguma, deixando sua pele ser atacada, cortada, inchada pelos punhos de Emma. Connor não podia deixar que ela fizesse aquilo, lembrou-se de seu sorriso e dos comentários sarcásticos, e soube que ela não era assim. Também ouviu os guardas chegando, atraídos por aquela bagunça, e passou seus braços em volta dela e a levantou, levando-a para longe dali, esperneando.

— Me solte! — gritou ela, debatendo-se como uma criança. — Me solte!

Quando voltaram ao campo, o som dos guardas ainda estava perto, mas ele a colocou no chão e segurou seu rosto pequeno entre suas mãos enormes. Um par de olhos âmbar, escurecidos por raiva e pela noite e, acima de tudo, infelizes, o encarou de volta.

— Ele está morto, Emma — disse, olhando bem para ela. — Não pode causar mais nenhum mal. Temos que ir, ou passaremos um bom tempo na cadeia, ou pior. Fique calma. Venha atrás de mim. Não se afaste.

Sua respiração estava voltando ao normal e, bem devagar, ela assentiu. Seu lado cheio de ódio se fora, e a tristeza que o substituíra incomodava-o. Ele conhecia bem a tristeza, e Emma não a merecia, o que quer que fosse aquilo que Rufus tinha falado. Ficou olhando-a por alguns segundos, segurando seu rosto, querendo dizer algo, qualquer coisa, mas se virou e começou a correr de volta para a cidade. Não havia tempo. Um grito feminino estridente ecoou da casa. Provavelmente haviam encontrado Mason.

Haviam guardas bloqueando o caminho com uma linha de fogo, e estavam mirando em Emma e Connor, mas ambos se separaram e os soldados se confundiram. Os tiros foram perdidos e Connor matou dois guardas com um contra ataque e atravessou seu crânio com sua lâmina oculta. Emma estava distraída, mas foi capaz de se cuidar com sua espada.

A chuva veio de uma vez, e apesar de múltiplos avisos estrondosos e raios, ainda pegou-os de surpresa. Connor não conseguia ver muito à frente, e os passos de Emma esmagando as poças sujas recém-formadas atrás dele eram a única coisa que o avisavam que ela ainda estava ali.

Achou em uma das ruas adjacentes à avenida principal de Nova York uma das entradas que levava aos corredores subterrâneos, e abriu as portas de porão. A chuva incessante e intensa escorreu para dentro e Connor indicou as escadas para Emma, e esperou que ela reclamasse de qualquer coisa, mas ela não disse nada. Connor suspirou e entrou depois dela, fechando as portas e embebendo os corredores em trevas.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, comentários são muito apreciados ♥



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