O Preço da Honra escrita por Julia Nery


Capítulo 9
Preparativos




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Quando o dia clareou por trás de um céu cinza e nublado, com apenas alguns opacos raios de sol passando pelas nuvens, Emma se levantou em um átimo na cabine do capitão, assustando-se com os múltiplos sinos que soavam dos navios que agora se encontravam aportados no cais de Nova York. Não parecia tão cedo; talvez meio dia. Ela não percebera como estava cansada. Suspirou, esperando seu coração voltar ao ritmo normal, e fitou o céu apagado, perguntando-se se aquilo significava que seria um dia ruim, mas sacudiu a cabeça, espantando a ideia.

Emma saiu da cabine e a brisa salgada soprou em seu rosto. A tripulação não se encontrava em lugar algum à vista, e nem Faulkner. O navio estava em silêncio. Apenas Connor se encontrava sentado em alguns caixotes no píer. Estava usando seus robes brancos outra vez, e Emma involuntariamente se perguntou se ele havia se trocado lá dentro enquanto ela dormia. Emma o seguiu para dentro da cidade, e pode ter sua primeira impressão do lugar que se estendia à sua frente.

Sem sombra de dúvida, era mais sofisticada que Boston. As simples casas de madeira e vidraças quebradas não eram encontradas ali – ou pelo menos Emma não pôde vê-las. Deduziu terem aportado na parte rica da cidade, pois todas as casas e lojas eram feitas de cimento e tijolos brancos e limpos, e as ruas estavam salpicadas de árvores nuas que já haviam perdido suas folhas para a estação.

As ruas tinham cheiro de terra molhada e chuva, e Emma via rostos mais sorridentes, e olhares mais satisfeitos. Havia pouquíssimos guardas britânicos patrulhando os telhados e as calçadas. A maioria das autoridades usavam fardas azuis e brancas e conversavam entre si em tons mais alegres.

Os arredores do porto borbulhavam de comerciantes e fregueses, e barris e caixotes repletos de produtos estavam à mostra para os interessados. Apesar de cedo, Emma pode sentir o aroma cru e salgado de peixe cozido, e olhando à sua volta, descobriu que o animal era servido ali mesmo, em um fogão improvisado sobre o píer. O estomago de Emma roncou, e ela se aproximou de um feirante, jogando-lhe umas moedas em troca de um dos pães frescos em sua banca.

Mas uma pequena parte, bem ao lado da praia, estava destruída. Alguns quarteirões estavam demolidos e queimados pelo que pareceu um incêndio, e entrava em contraste nítido com as reluzentes construções próximas, como um grande e feio tumor no meio da cidade. O chão era forrado de destroços e tijolos onde, ela viu, mendigos e cães dividiam um espaço para dormir ao relento. As pessoas que andavam por ali evitavam olhar ou chegar muito perto, e nem se importavam em olhar, como se um muro invisível houvesse sido levantado, separando os ricos dos pobres.

— O que aconteceu aqui? – Emma perguntou.

— O grande incêndio – respondeu Connor, sem olhar, como se já estivesse cansado daquela paisagem mórbida e carbonizada. – Quatro anos atrás. Começou em uma taverna, pelo que dizem, e se espalhou, queimando parte da cidade.

Emma deu uma última olhada para os destroços, que logo ficaram para trás.

— Temos de achar Deborah Carter – Connor afirmou, parando e olhando em volta. – Eu enviei uma carta a ela pedindo que ficasse atenta aos guardas aqui. Não sei se ela recebeu, mas seria bom checar.

— Quem é Deborah?

— Uma amiga. Ela também é uma assassina, assim como Clipper.

 

Ela realmente esperava que pudessem ter uma caminhada saudável e sem empecilhos enquanto andavam pela cidade, aparentemente esperando que Deborah Carter simplesmente aparecesse na frente deles. Mas ela não estava tão certa assim.

Em frente a uma taverna, a alguns metros, havia um pequeno grupo de homens, usando capas e chapéus tricornes, com espadas afiadas e cintilantes pendendo de seus cintos. Discutiam, insatisfeitos, em voz baixa. Não foi apenas a intuição de Emma que a avisou que aqueles eram inimigos, mas também o único homem cujo rosto ela podia ver.

Connor e Emma reconheceram Haytham ao mesmo tempo, mas ambos tiveram reações diferentes. Enquanto Emma se apressou para dentro de um beco, Connor seguiu com passos pesados pela rua. Ele estava prestes a confrontar seu pai, e fazer deus sabe o quê, mas Emma segurou sua aljava e o puxou de volta.

— O que você pensa que está fazendo? – murmurou ela, empurrando-o contra a parede úmida do beco.

— Ele está bem ali— reclamou ele, apontando para a rua.

— Não é por ele que estamos aqui – lembrou Emma, mantendo as mãos nos braços dele, apertando de leve. Não pensou que aquilo poderia impedi-lo. Ele era tão impulsivo. – Você terá sua chance de enfrenta-lo, Connor, mas não podemos ser vistos. Não agora. Assassinos são silenciosos. Ninguém lhe ensinou isso?

Connor olhou para baixo, escondendo seus olhos de Emma. Ela notou que ele fitava suas mãos que o seguravam. Ela as removeu.

— Ele não pode avisar os outros que estamos aqui antes de enfrentarmos Mason – disse. – Ou vão desaparecer novamente.

— Nem mesmo sabemos se ele sabe sobre Eberus e o Diamante – rebateu, tentando sair, mas Emma o puxou de volta.

— Connor, pare. Quer mesmo correr esse risco? Pensei que não quisesse mata-lo.

— Eu não quero – enfatizou, impaciente. – Eu tenho de mata-lo.

— Eu não sei o que ele lhe fez, ou a dor que ele lhe causou. Mas, por favor, não pode esperar?

— Eu já esperei demais.

— E deus sabe que eu entendo perfeitamente como você se sente – Emma rebateu. – Mas mata-lo agora não será benéfico para nós de maneira alguma. Por favor – Emma nunca dissera “por favor” tantas vezes em uma só conversa antes.

Ele voltou os olhos marrons de volta para Emma, e eles se encararam por uns segundos. Eram pensativos, e Emma notou que ele tentava ler o rosto dela. Outra vez. Talvez aquilo deveria irritá-la, já que seu temperamento era sensível, mas por alguma razão, não acontecia. Ela simplesmente esperou, quando ele finalmente tomou a decisão correta.

— Vamos embora – murmurou ele, e seguiu pelo beco, na direção oposta a de Haytham, que quando Emma olhou pela última vez, estava entrando na taverna com seus comparsas atrás de si.

Emma apressou os passos para alcançar Connor, que já estava saindo do beco. Ele não fazia esforços para diminuir o ritmo, mesmo sendo suas pernas o dobro das de Emma, e ela dava passos mais largos, tentando acompanha-lo.

— Onde estamos indo? – Emma perguntou.

— Deborah geralmente toma conta do distrito norte de Nova York – explicou Connor, apontando em certa direção, logicamente, o norte. – Talvez a encontremos lá. Vamos.

Conforme iam se afastando da pontiaguda península onde a cidade crescia, as casas iam ficando mais afastadas umas das outras, dando espaço para os agricultores semearem a terra arada, produzindo seu alimento que utilizariam para vender e sobreviver. A periferia rural que contornava o perímetro do município, assim como em Boston. O cheiro de orvalho e capim seco ficou mais forte, e era mais silencioso, mas algo não estava certo.

Emma ouviu a luta antes mesmo de vê-la. O som conhecido e comum de aço em contato. Ela e Connor pararam, concentrando-se em sua audição e, de fato, havia um conflito acontecendo não muito longe dali. Ambos trocaram olhares, e correram atrás do som. O som do qual era quase sempre certo que possuía o envolvimento de um assassino. O som da batalha.

Mais à frente, atrás de algumas das casas, havia uma mulher alta e esbelta, mas forte, lutando sozinha com dez ou mais guardas em frente a um pequeno galpão velho e empoeirado. Usava roupas verdes escuras manchadas de sangue; estava se virando bem, mas parecia estar se cansando. Emma deduziu que a mulher de irritados e pequenos olhos e rosto redondo era Deborah Carter.

Um dos guardas iria acertá-la por trás, mas Emma correu, desembainhando a espada e usou-a para passar uma rasteira no guarda, e terminou com ele enfiando sua lâmina escondida no peito do homem.

— Quem é você? – perguntou Deborah, com um forte sotaque, ainda defendendo-se com maestria. Então, ela pareceu ver Connor. – Connor!

Connor, desembainhando seu machado, passou-o pela cabeça de um dos casacas-vermelhas, e cortou sua garganta, fazendo sangue jorrar para fora. Emma voltou sua atenção para os guardas, e bloqueou habilidosamente uma investida de mosquete contra seu rosto, e girou sua lamina contra a arma, desequilibrando-a e então enfiou a espada em seu estômago. O líquido vermelho manchou a camisa branca por baixo do casaco de seu oponente.

— Deborah, do que se trata? – Connor perguntou, bloqueando o ataque de um guarda, socando-o no nariz e enfiando sua machadinha na testa do soldado.

— Estou seguindo esses bastardos desde madrugada– respondeu Deborah, atirando com sua pistola em um pobre alvo, e jogando sua adaga prateada no peito de outro, como um jogo de dardos em um bar. – Vieram pegar uma entrega deixada aqui, e tiveram uma pequena surpresa.

O último guarda com quem Emma lutava passou os braços à volta dela, e a apertou, mas ela segurou uma de suas adagas na mão e a enfiou no músculo de sua coxa. Ele gritou de dor, e Connor, a dois metros, virou-se e jogou sua machadinha pelo ar, acertando o casaca-vermelha no meio da testa. Emma caiu para trás, ainda sendo segurada.

Quando acabou, o silencio reinou novamente e todos suspiraram, aliviados. Connor abaixou-se para soltar Emma do abraço do morto, e ajudou-a a se levantar. Emma bateu a poeira da roupa, e virou-se para Deborah, que tirava sua adaga do peito ensopado de sangue de sua vítima, ofegante.

— Recebi sua carta – disse ela, limpando a adaga na calça. – Parece que me acharam na hora certa.

— Você está bem? – Emma murmurou, colocando a mão na cintura e apontando para um corte no rosto rosado de Deborah.

— Ah – Ela passou o dedo no ferimento sem delicadeza, indiferente. – Não é nada – Deborah estendeu a mão, já pegando a de Emma antes que ela pudesse dizer algo. – Sou Deborah Carter. Dobby se preferir.

— Emma.

— O que eles vieram buscar? – Connor perguntou, com os olhos atentos no galpão.

— Eu não sei – Deborah coçou a testa. – Não tive muito tempo de checar, eles me viram chegando, e... bem, vocês viram o que aconteceu em seguida – ela apontou por sobre o ombro. – Sinta-se livre para olhar.

Emma adiantou-se e abriu a porta do galpão rápido demais, e um ocre cheiro de poeira e fezes a atingiu no rosto como um martelo, e ela recuou, cobrindo o nariz com a mão. Não havia nada naquele galpão imundo, no entanto, apenas uma caixa de madeira comum.

Connor viu que Emma não entraria, passou por ela, e agarrou a caixa, levando-a para fora. Emma fechou a porta com o pé, e os três se reuniram em volta do objeto. Emma esperava algo dourado e brilhante, talvez diamantes, mas o que viram quando Connor levantou a tampa não parecia tão valioso.

Era apenas uma bola de metal de tamanho médio. Parecia ordinária, mas, assim que Connor abriu a caixa, que era revestida por um grosso veludo roxo, a ponta da espada de Emma, já pendurada no cinto, ergueu-se em direção à bola, e o antebraço de Connor, em um movimento súbito, grudou-se ao objeto. Os dois se entreolharam.

— É um imã – disse Emma, abaixando-se e examinando aquilo que parecia uma bala de canhão. A fivela de seu cinto foi atraída também. – Curioso.

— Os guardas trabalhavam para Rufus Mason, por isso os segui – contou Deborah, limpando o suor da testa com as costas da mão. – O que ele poderia querer com um imã?

— Não sei – disse Connor, fechando a caixa, e os objetos de aço voltaram ao seu comportamento normal. – Mas para mandar tantos guardas para protegê-lo, deve ser imporatnte, e nós agora o temos. Vai atrasá-los. Bom trabalho, Deborah.

A assassina assentiu.

— Você sabe de algo sobre a reunião que acontecerá hoje à noite? – Emma perguntou, cruzando os braços. – Sabemos que Mason vai estar lá, e quero ter uma conversa com ele.

— Reunião? Está mais para um leilão de terras e objetos valiosos. Sim, eu vi vários navios aportando no cais ontem. Aparentemente os templários não são os únicos que veem algo promissor nesse país. Os nobres desejam possuir terras aqui caso se torne algo lucrativo.

— Entendo. Você sabe onde vai acontecer esse leilão?

— Sim, é uma casa afastada do centro comercial. Posso leva-los até lá.

Não era muito longe, e “casa” seria um termo gentil para descrever o local para onde Deborah guiou-os. Era uma construção enorme, quase do tamanho da Casa Grande, na guilda de Emma na Inglaterra. Fora construída em forma de um meio quadrado, de forma que a entrada se localizava no maior lado do perímetro. Era cercada por árvores e por um alto muro de concreto e barras pretas de aço, com lanças na ponta, para realmente manter os intrusos longe. O muro possuía alguns portões além do principal, mas todos eram guardados por casacas-vermelhas. Emma estava agachada em um telhado em frente à mansão e estudava uma maneira de se infiltrar, com Connor e Deborah em pé ao seu lado.

— Tenho certeza de que a segurança vai dobrar durante o evento – comentou Deborah, indicando os muros. – Vou tentar reunir os outros e causar uma distração para garantir a sua passagem.

— É uma boa ideia – concordou Connor. – Tente atrair os guardas da esquerda. Emma e eu podemos circular o perímetro, e se colocarem patrulhas no campo, podemos eliminá-las.

— Conte conosco.

— Pode levar isso para o Aquila? – Connor entregou a Deborah a caixa que continha o imã. – Está atracado no porto. Diga para Faulkner colocar homens na entrada do navio. Os templários não podem colocar as mãos nisso outra vez.

Enquanto Deborah se encarregava de fazer o que Connor lhe havia designado, Emma passou a tarde inteira observando a mansão de cima dos tijolos gelados da loja do outro lado da rua. De minutos em minutos, ela sentia uma garoa fina tocar seu rosto, deixando gotículas de agua doce em suas bochechas, mas não se importava. Estava perdida em pensamentos, variando de Rufus Mason e as perguntas que ela faria, à sua casa, na Inglaterra, já que o casarão em frente a ela era tão similar. Sentiu falta de seus amigos novamente. Lembrou-se do rosto sorridente de Kara. Lembrou-se de Prince, e das tardes de treinamento. Perguntou-se vagamente se veria o cais inglês novamente. Se voltaria para casa.

Emma só notou que a noite havia caído sobre a cidade quando alguém a tirou de seu pequeno momento de alienação. A cidade estava mais silenciosa, e ela conseguia ouvir os grilos por toda parte, cigarras também. O movimento de carruagens estava aumentando, e logo os convidados chegariam à entrada da casa.

— Deve ser muito estranho para você – comentou Connor, sentando-se ao lado dela. – A cidade. Deve ser monótona comparada a Londres.

— Na verdade – Emma suspirou, observando as poucas pessoas na rua, as carruagens, as ruas molhadas, as tavernas cheias de homens bêbados... – É tudo um pouco familiar.

Connor silenciou por alguns segundos, e depois perguntou:

— Como é? Londres.

— Nada incrível– Emma respondeu com sinceridade. – Pelo menos não aos meus olhos. Está sempre chovendo, pessoas ocupadas andando para todos os lados. Todos vivem por dinheiro e poder. “Sua majestade” sempre se esconde atrás de seu palácio, cego para o que o povo precisa. É por essa e outras razoes que os templários são tão poderosos naquela cidade. Londres é pura ganância. Por que você acha que essas pessoas – Emma apontou para as carruagens chiques que começavam a se aproximar. – estão tão interessadas em terras? Nunca é o suficiente.

— Por que há um quartel-general, então? Não é arriscado?

— Não. O templo é um segredo aos Templários. Eles não sabem de sua presença, e não sabiam da existência da guilda, minha casa, na Inglaterra, até... – Emma parou, travando a língua, parando ali mesmo. Ela não podia pensar naquilo agora.

— Até o que?

— Nada – Emma limpou a garganta. – Não é importante.

— Diga.

— Não é nada, de verdade.

Connor suspirou.

— Me fale sobre a Guilda, então.

Emma deu um sorriso discreto, encarando as telhas laranjas debaixo de suas botas.

— É uma mansão enorme, a algumas horas de Londres – Emma deixou-se viajar nas memórias. – Foi inspirada na Villa Auditore, antigo quartel-general dos Assassinos em Monteriggioni, Itália. Fica escondida atrás de uma floresta de pinheiros, no topo de uma montanha. Uma muralha cerca toda a propriedade, e de manhã, o sol nasce sobre essa muralha, e as janelas da casa refletem a luz laranja. Tem belos jardins coloridos, que misturam flores de diversas cores e cheiros.

— Parece um paraíso.

— É um dos lugares mais lindos que já vi. Mas somos mais uma base de suporte. Recrutas são mandados para nós para receber treinamento e as missões têm muito a ver com batalhas. Somos uma grande família – Ou pelo menos eram, quando ela ainda era uma parte dela. A cabeça de Emma voltou a viajar pelo passado. – Nós... cuidamos uns dos outros.

— Deve ter sido difícil deixar isso do outro lado do oceano.

— Difícil. Muito difícil – ela murmurou, sem perceber que não estava respondendo Connor.

Todo aquele fogo... O som das lâminas atravessando corpos...

— Emma – Connor colocou sua mão no ombro dela e a sacudiu rapidamente. – Você está bem? De repente você ficou branca como papel.

Emma sentiu os pelos de seu braço se arrepiarem, e o arrepio subiu até a parte de trás de sua nuca, mas ela sacudiu a cabeça.

— Estou bem – mentiu ela, e voltou os olhos para a entrada da mansão. A última coisa que ela queria era contar a Connor seu segredo. Também não queria cogitar o que ele pensaria. Não havia necessidade de ele saber. Deixaria sua tristeza presa em seu peito, escondida, pelo período que ela julgasse necessário.

Passos soaram atrás deles, e Deborah, com seu rosto redondo agora invisível sob a sombra do capuz, se aproximou, agora com as mãos vazias. Ela assentiu para ambos.

— A caixa está segura – anunciou.

Enquanto ambos os assassinos observavam das sombras de uma chaminé os convidados do leilão chegando para começar a gastar suas libras em pedaços vazios de terra, uma carruagem negra e reluzente, puxada por dois cavalos da mesma cor, estacionou junto às outras, destacando-se dos transportes brancos e marrons que ali se encontravam.

Quando seu passageiro, um homem alto com cabelos lisos que imitavam a cor de sua carruagem e uma barba bem aparada desceu da cabine, Emma sentiu seu estômago se embrulhando e teve vontade de vomitar.

Não. Não podia ser ele.

Os músculos de Emma se enrijeceram, e tudo que viu foi coberto de vermelho quando a raiva subiu à sua cabeça. Sua respiração se acelerou, e ela fechou as mãos em punho. Sentiu suas unhas machucando a pele sensível da palma de sua mão por cima do couro fino da luva. Ele estava mais elegante do que se lembrava. Enquanto Emma carregava cicatrizes visíveis e invisíveis, lá estava ele, sorrindo como se o mundo fosse feito de rosas e a vida fosse colorida de magenta, e exibindo toda a sua pompa em um traje caro e refinado. O bastardo peçonhento e mentiroso. Emma teria sua língua.

— Ali – disse Deborah, apontando para a multidão em frente à casa. Apontando para ele. – Bem ali, veem? Aquele é Rufus Mason.

O maxilar de Emma se contraiu, e tudo o que ela conseguia ver era seu inimigo, misturando-se com os nobres, bem ali, no meio da rua. Depois de tanto tempo, Emma finalmente sentia a sensação que imaginou quando pensou no momento em que se encontrariam novamente. E era ódio líquido, correndo por suas veias. Os olhos de Emma lacrimejaram de raiva.

Connor notou a alteração de Emma, e a tensão que agora emanava dela.

— Emma? – chamou.

Mas ela o ignorou.

Sem pensar duas vezes – ela sequer tinha capacidade mental para lembrar seu próprio nome naquele momento – Emma se levantou, ajustou o capuz sob a cabeça, e com um movimento gracioso e calculado, pulou do telhado.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, comentários são muito apreciados ♥



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