My Master Camus escrita por Love


Capítulo 3
Melt the ice #2


Notas iniciais do capítulo

era pra esse e o anterior serem um cap só mas eu achei que tinha ficado grande demais então dividi.



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O grito estridente ressonava no ar e, antes que pudesse registrar o que estava acontecendo, suas pernas já o levavam rapidamente para o lado de fora em um mecanismo automático. Avistou um amontoado de gente formado por adultos e crianças em um canto da praça e imediatamente decidiu se aproximar. Olhou em volta buscando alguém específico, mas não o encontrava naquela paisagem pálida, o que apenas aumentava seu nervosismo e fazia com que se locomovesse mais depressa.

– Não encoste nela! - escutou um homem berrar.

A voz atiçou algo em sua mente e o fez abrir caminho rapidamente, sem se importar em empurrar as pessoas que obstruíam sua visão enquanto ouvia as queixas das mesmas. Sussurros assustados adentravam por seus ouvidos, anunciando um mau agouro e percebeu sua nuca esquentando devido à antecipação. O que encontrou no meio da aglomeração fez seu coração quase saltar pela boca apesar da tentativa frustrada de permanecer calmo.

Seu discípulo encontrava-se ajoelhado a uma distância cautelosa de onde estava um sujeito que segurava uma garotinha assustada em seus braços, cujas pernas haviam sido congeladas por um tipo de gelo mais resistente que o normal. Conseguia distinguir o corpo do garoto tremendo freneticamente enquanto o mesmo parecia manter o olhar nas próprias mãos- sem luvas e mais brancas que o normal. Acercou-se sem pensar duas vezes, agachou-se e passou um braço em volta dos ombros da criança vagarosamente, porém a assustou. O loiro não havia percebido a presença do maior se aproximando então fez menção de se afastar quando sentiu seu toque, mas interrompeu-se ao encará-lo e identificar de quem se tratava a nova presença ao seu lado.

– O que aconteceu aqui, Hyoga? - sua preocupação apenas aumentou ao enxergar uma grande mancha vermelha em sua bochecha esquerda. Trincou fortemente os dentes no intuito de exalar a raiva que rapidamente acumulava-se dentro de si, direcionada ao suspeito de ter feito isto com seu aluno.

O menino, angustiado, não conseguiu formular uma resposta. Seus olhos, antes apenas arregalados, começaram a despejar lágrimas de aflição e soluços o impediram de articular algo coerente. Camus não exigiu sua réplica e transferiu sua atenção ao homem que jazia à sua frente para resolver o conflito.

– Pode me informar sobre o que se passou aqui? - indagou ao mesmo tempo que sentia os pequenos braços de Hyoga aferrarem-se ao seu redor e o menor enterrar o rosto em seu peito.

– Essa criança é sua? - o outro ignorou sua pergunta, sua face um misto de ódio e terror, segurando a garota em estado de choque em seu colo.

– Sim, sou seu responsável.

Apenas o som dos indivíduos curiosos ao redor era escutado enquanto o aparentemente pai da jovem alternava o olhar entre o ruivo e seu aprendiz. O burburinho incessante era fastidioso e o aquariana tinha de se esforçar para manter uma expressão neutra, não muito habituado a resolver assuntos que envolviam muitas pessoas.

– Esse menino... não, esse monstro atacou minha filha! Congelou as pernas dela e agora ela não as sente mais!

Camus entrecerrou os olhos. Sem emitir resposta, afastou-se de Hyoga, que continuava sem coragem para encarar qualquer pessoa, e foi em direção aos dois. Observou o mais velho aproximar a menina de si em um gesto de proteção, mas ignorou tal ato, ajoelhando-se frente a ambos.

– Eu posso resolver isso - comunicou e, sem a necessidade de permissão, pousou as próprias mãos sobre os dois blocos congelados que haviam se tornado os membros inferiores da pequena.

O gelo derretia rapidamente sob seus dedos, fundindo-se em água e escorrendo para o solo. O sujeito que a carregava apenas fitava estupefato, enquanto o cavaleiro solucionava aquilo que considerava irreparável. Logo, as pernas da mais nova estavam de volta ao normal e Camus se levantou.

– Sinto muito pelo mal entendido. Ela ficará bem agora - anunciou, indo em direção ao seu aprendiz. - Vamos embora.
Hyoga custou um pouco a obedecê-lo. Sentia o olhar de seu mestre sobre si e a incerteza do que aconteceria a seguir o deixava apavorado. Palavras repreendedoras que provavelmente viriam de seu professor já dançavam em volta de sua mente. Quando finalmente acatou a ordem do maior e começou a segui-lo para longe de toda aquela confusão, reuniu a coragem necessária para virar a cabeça e fitar Hanna, que agora se encontrava de pé. Buscou emitir um pedido de perdão através dos olhos a esta, mas foi retribuído com nada além de medo.


//

Os dois caminhavam pelo solo encoberto de neve da Sibérias, em direção à cabana onde moravam, na qual dividiriam a vida por mais alguns anos. A atmosfera aparentava estar mais fria que anteriormente, não necessariamente devido à diminuição da temperatura, mas sim em virtude do silêncio e distanciamento emocional entre as duas figuras presentes em tal cenário.

Camus ainda assistia o mais jovem a se locomover, como havia feito na ida ao vilarejo, mas este permanecia em sigilo, sem dizer nada desde a confusão causada pela própria ingenuidade. Isso tudo, de certo modo, incomodava o ruivo, acostumado com a criança energética apesar de quieta - a vivacidade de Hyoga mostrava-se constantemente presente em seus gestos e no azul cintilante de suas íris. Não conseguia enxergar o rosto do ser aluno no momento, escondido pela franja do mesmo, porém era capaz de imaginar que seus olhos não possuíam mais o brilho usual, assim como quando os encarou apavorados no meio de toda aquela gente.

O silêncio perdurou durante mais algum tempo, os únicos ruídos presentes sendo o som abafado de seus passos contra o chão congelado e o zumbido que o vento frio fazia ao chocar-se contra seus ouvidos. O local onde haviam escolhido realizar o treinamento de cavaleiro era deveras solitário, assim como os dois indivíduos que deslocavam-se por ele.

Às vezes, estar próximo de alguém não é sinônimo de não encontrar-se sozinho.

– Me desculpa - escutou seu pupilo se manifestar. Não emitiu nenhuma resposta simplesmente porque não sabia o que dizer. Desaprovações não vinham à sua mente devido ao estranho senso de familiaridade encontrada na situação, que promovia sua simpatia pelo menor.

Resolveu permanecer quieto e ouvir o que Hyoga tinha a falar.

A criança ainda hesitou um pouco, mas não tardou muito em continuar sua confissão.

– ... Eu não consegui me segurar. A gente estava conversando e ela parecia tão legal que eu quis mostrar o que sabia fazer. No início, tudo foi bem, mas depois acabei exagerando e tudo saiu de controle. Eu tentei consertar, mas só conseguia piorar a situação. Aí o pai dela chegou e me chutou pra longe...

Tal informação fez com que Camus cerrasse o punho que não segurava o menino. Era a primeira vez que tinha essa sensação de impotência. Queria mudar os fatos, ninguém deveria machucar seu aluno sem ser ele mesmo, que, quando o fazia, era pelo treinamento. Era algo diferente, nunca havia sentido essa urgência em proteger alguém antes.

– ... Eu sinto muito. Não queria que aquilo acontecesse... - interrompeu-se ao perceber que seu mestre não iria respondê-lo, o que desencadeou a criação de consequências exageradas em sua cabeça, desesperando-o ainda mais.

– Por favor, não me mande de volta pro orfanato! Eu preciso me tornar um cavaleiro! Por favor! Prometo nunca mais fazer isso!

O aquariano não retrucou. Continuaram seguindo pelo percurso em silêncio e Hyoga se acalmou depois de um tempo ao perceber que seu temor não viria a acontecer. Obedeceria a qualquer ordem e aceitaria qualquer punição, menos a volta àquele lugar onde todos seus pesadelos pareciam tornar-se realidade. Queria ser tão forte quanto seu mestre, então, talvez, poderia manipular o gelo como quisesse; descongelar não só objetos como também a frieza que envolvia o coração das pessoas, e então elas não o abandonariam. Se ficasse sozinho novamente, não suportaria.

Eu não quero me separar de você, não agora.


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Notas finais do capítulo

xau.



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