Zorak, Vingança escrita por Semideusa


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

“Em uma cidade onde o governo usa a mentira e a maquiagem como forma de defesa, qualquer imposição de verdade é tida como loucura”
— Elias Guilherme



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Cavalgo devagar até a aldeia. Ninguém me vê saindo da floresta, mas me olham enquanto eu passo e ouço os discretos cochichos, não tão discretos assim. Será que tem alguma coisa diferente em mim? Será que tenho marcas nas costas ou algo que me diferencia dos demais agora?
De repente meu pai vem correndo em minha direção. Desço do cavalo e ele me abraça, como fez com Maby aquele dia.
– Papai eu....
– Shhhhhh... Não diga nada, meu amor, não diga.
Alguém bateu palmas. É o homem com quem eu deveria me casar.
– Que comovente! Esplêndido. Agora, se nós pudermos ir para casa e eu puder conversar com a minha futura esposa...
Ele me agarra pelo braço e começa a me puxar. Dou um supetão e liberto meu braço de seu aperto.
– Eu não vou me casar com você.
– Ah, vai sim minha cara. Você é minha prometida, bela dama. Ou melhor, bela selvagem!
Ele tenta me puxar outra vez, mas Maby se intromete entre nós.
– Não encoste um dedo na minha irmã!
– Que agradável. A vadia defendendo a vadia irmã.
Ele faz menção de me puxar mais uma vez mas Maby torce o braço dele.
– Não. Encoste. Na minha. Irmã.
Fala Maby, pausando em cada palavra e o empurra. Ele cambaleia e se recompõe. Todos estão olhando agora. Ele olha em volta e puxa a mão para trás. É um gesto muito rápido. Sei o que ele vai fazer mas não consigo impedir. Ele acerta o rosto da minha irmã com as costas da mão, Maby cai e eu ajoelho ao lado dela. Está desacordada com o lábio inferior cortado, sangrando. Levanto a cabeça procurando por meu pai, por ajuda, mas ele já está aqui, com um forcado na garganta do homem.
– Escute bem Ormire, se você encostar mais um dedo se quer nas minhas meninas, você vai pagar e pagar muito caro.
– Aquela vadia morena ali – aponta para mim com um dedo comprido – a de joelhos,do lado da garota fada, é minha noiva! Minha, não sua. E vai passar a vida assim mesmo, ajoelhada. Aos meus pés.
Os murmúrios crescem. Deixo Maby no chão e me levanto. Aponto o dedo para ele.
– Primeiro: Não fale da minha irmã. Segundo: encoste a mão nela de novo e vai desejar não ter nascido e terceiro: Não vou me casar com você.
Ele riu
– Se você não se casar...
– Se não, o que? Vai sair correndo e chamar a mamãezinha? Ou vai fazer uma prece para Friga?
Meu pai sem soltar o forcado começa
– Filha, não brinque com os deuses, mesmo em uma sit...
– Diga. Se não o que, pequeno viking?
– Se não, seu precioso papaizinho morre.
– Você não está em lugar de fazer ameaças. Eu jamais me casarei com você.
Ele puxa o forcado e meu pai com ele, da uma chave de braço tudo muito rápido, sobre-humano. Ele escancara a boca, sua mandíbula se desloca como uma cobra, ele mostra os dentes pontiagudos. Escuto gritos e vejo alguma correria, mas tudo parece distante e fora de foco. Escorre um líquido amarelo de suas presas e sua língua também tem pequenas agulhas, mais dentes. Ele dá uma rápida mordida e solta meu pai. Me ajoelho em seu corpo. Ainda respira mas não da sinal de vida.
– Eu sou mais do que um mero viking garota. – ele limpa a boca cheia de fluído amarelo e sangue no braço. – assim como a sua irmãzinha ali, eu também sou mestiço.
Ele fala a palavra com nojo na voz. Maby acorda.
– O que... papai!
Antes que Maby chegue a nosso pai, asas coricáceas explodem a camisa de Ormire, ele me empurra e arranca nosso pai de mim.
– Eu vou dominar o mundo um pouco por vez, bela dama, e preciso de uma rainha para me servir. Se quiser seu papai de volta, pense nisso. Me comunicarei em três dias.
Ele pisca um olho e se vai levando nosso pai e é tudo culpa minha. Minha irmã me abraça, chorando. Eu não consigo chorar. Tudo agora e recuperar meu pai. As pessoas, que para variar haviam se escondido, se aglomeram ao nosso redor em “solidariedade”. Me levanto e vou abrindo caminho entre as pessoas, muitas xingam, reclamam, eu não ligo. Não ligo para o que pensam, tenho que salvar meu pai, tenho que...
– Zora! – Maby segura meu braço – Zora você não precisa fazer isso sozinha.
– Não, Maby. – continuo andando – é minha culpa, minha. Eu deixei ele levá-lo, eu tenho que salvá-lo.
– Não, não foi sua culpa. Não tinha como saber.
– Não! Eu poderia ter aceitado, eu deveria ter aceitado.
Subo em Fúria e galopamos. Maby está montada em Cavalo vindo logo atrás. Ela não vai parar, não importa o que eu faça. Sem perceber, já estou cavalgando direto para Zorak. Ouço Maby gritando para que eu não entre na floresta e claro, eu a ignoro. Ela continua gritando e não para quando eu atravesso as primeiras árvores. Olho para trás para me certificar de que ela continua me seguindo. Chego a clareira. Ela me alcança gritando e simplesmente cala a boca. Eu desmonto e vou indo para minha casa. Ouço os passos dela atrás de mim. Olho e ela está com um olhar fascinado para tudo. Eu subo as escadas, vou até meu quarto nesta casa de dois cômodos e me sento na cama. Poucos segundos depois ela também sobe, olha e para em pé na porta do quarto.
– É aqui que você vinha todas as vezes que sumia?
Aceno que sim com a cabeça.
– Você manteve esse segredo escondido de todos.
Aceno de novo.
– Por que nunca me contou?
– Porque então não seria segredo. Você não mente.
– Poderia ser o nosso segredo. Eu mentiria por você.
Ela me lança um olhar ferido.
– Desde quando você vem aqui? – continua ela.
– Desde o primeiro dike. O cito que eu matei pra te proteger. – fico me sentindo idiota. Continuo com o vestido da noite passada. – eu estava coberta de sangue, mais sangue do que ácido, mas estava assustada. Corri, apenas corri e acabei aqui. Na verdade acabei dentro do rio. Me assustei assim que percebi onde estava, mas logo fiquei deslumbrada. Não há nada de ruim aqui. Tem animais ferozes, mas não dikes. Nenhum dike. E desde então... – faço um gesto abrindo os braços.
Ela fica em silêncio por um tempo, mas logo acrescenta.
– Tem mais alguma coisa que você não me contou?
– Estava com medo que dissesse isso.
Me levanto e pego a mão dela. Vou puxando até a porta que dá para a “varanda”. Solto-a, sento no parapeito e abro os braços. Ela me lança um olhar confuso.
– Zora o que voc.... ZORAA!!
Ela grita quando eu me jogo, no ar, abro minhas asas e dou um mortal. Fiquei observando os pássaros enquanto voltava para casa. Estava torcendo para que desse certo. Volto e me equilibro em pé no parapeito. Ela recua, eu desço para ficar cara a cara com ela.
– Maby, Maby, não precisa ter medo.
– Como... como isso... hã?
– Olha, eu não sei como aconteceu. Ou o por quê. Mas ontem...
– Espera. Ontem?
– Sim. Quando eu fugi da festa eu vim para cá. Chamo este lugar de Zorak...
– Zora Abak, você chamou este lugar de Zorak e eu que não tenho criatividade?
– Eu tinha treze anos. Quieta. Eu nadei muito fundo e achei uma gruta que eu acreditei não existir. Subi por uma fenda e cheguei ao alto da cachoeira e de repente... eu tinha asas. Eu entrei em desespero, mas logo descobri que eu poderia escolher, tê-las – e recolho minhas asas – ou não.
– Você prefere tê-las.
Não foi uma pergunta, mas eu aceno com a cabeça mesmo assim. Ela olha para cima na direção da cachoeira.
– Como vamos resgatar papai Zora?
– Eu vou fazer o que ele pediu.
– Acredita mesmo que ele vai devolver papai são e salvo. Nosso pai iria preferir morrer a ver você se casar com algo como aquilo.
– A questão é como vamos fazer se não for da forma como ele quer.
– Ei, – ela segura minha mão – vamos dar um jeito. Vamos convocar os guerreiros da aldeia e das cidades próximas...
– Por que guerreiros de outros lugares nos ajudariam?
– Você não ouviu o cara disse? Ele pretende dominar o mundo.
– Ninguém vai acreditar. Aqui nós somos respeitadas e até, quem sabe, temidas. Mas lá fora não é Cratem. Cratem é essa vila pequena, poucas pessoas, poucos guerreiros competentes. Além de que mesmo que a gente consiga ajuda de fora, como vamos ir, convencer eles a ajudar e voltar em menos de dois dias?


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