Zorak, Vingança escrita por Semideusa


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

A pior parte da traição é que ela vem justamente quando nós não a esperamos e através de quem nós nunca desconfiamos.
— Flávio dos Santos



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Papai está na porta. Espero uma bronca, mas ele vem na nossa direção antes que a gente possa se quer desmontar. Puxa Maby e a abraça.
– Você está bem? Ernesto veio dizer que o cito...
– Aquele velho babão fofoqueiro. Ele voa quando se trata de fofoca quente, mas quando pede pra sair da frente vira uma lesma com problema de autoestima. Como ele chegou aqui tão rápido? Ele estava lá agora a pouco!
– Zora, mais respeito. Ele é um...
– Lesma com problema de autoestima.
– Eu ia dizer ancião, Maby.
– É que ela está mais criativa que eu hoje.
– Hoje? – digo – Em questão de criatividade você é uma ótima cozinheira!
– Mas eu sou péssima na cozinha.
Vou para a sala, meu pai e Maby me seguem.
– Este é o ponto.
– Claro que não! – responde
– Você deu o nome de Cavalo, pra um cavalo.
– Ela tem um ponto – diz meu pai.
– Pai! Você deveria me apoiar! Você – e apontou pra mim – colocou o nome do coelho de Dragão!
– É criativo. Não é óbvio. Não é Dragão? – acaricio nosso coelho de estimação – meu Dragão é lindo, e morde como um.
– E fede como um dragão também. – diz meu pai e começa a se retirar.
– Ei! Isso não vale – grito.
– Bem feito. – Maby mostra a língua e sobe para o quarto.
– Não se ofenda, Dragão. Eles estão só tentando nos atingir.
– Não! – meu pai grita da cozinha – ele fede mesmo!
Olho incrédula para a cozinha. Ele tem audição de um cão. Subo para o meu quarto levando Dragão comigo. Deixo-o na gaiolinha dele no corredor. Meu pai tem razão, ele fede. Mas fede como um coelho, não como um dragão. Até porque dragões só tem o hálito horrível.
– Por que ele tem que ter razão?
Falei comigo mesma. Fico virando na cama, procurando uma posição confortável e acabo com os pés na parede e a cabeça pra fora da cama, pendendo. Fico algumas horas assim até que meu pai chama.
– Zora, Maby!
Nos duas saímos no corredor.
– Chamado?
– Almoço!
Descemos e a mesa está arrumada.
– Por que arrumou a mesa?
– Benefícios do aniversário.
– Uh. Eu tenho que fazer aniversário mais vezes.
– Uma vez por ano não basta? – Maby perguntou.
– Nop. Tenho que fazer aniversário mais vezes.
– Mas agente comemora aniversário por dois dias!
– Comam. Não vou fazer isso pela vida inteira.
Almoçamos em silêncio, eu tirei a mesa, minha irmã lavou os pratos eu sequei enquanto meu pai varria o chão. Quase parecemos normais assim. Se não fosse por algumas armas em baixo do sofá, da pia e flechas ocasionais, seria uma cena bem comum.
Depois de tudo, já são três horas, resolvo ir a Zorak. Aviso mau pai, mas Maby sai correndo e me para.
– Que foi? Ficou doida?
– Não, vem comigo!
Começa a me puxar pela mão, sobe as escadas, me leva para o meu quarto, faz com que eu me sente, sai correndo dizendo
– Espera ai.
Ela está começando a demorar, penso em levantar, mas ela entra usando um lindo vestido azul e com algo nas mão.
– Nossa, Maby! Você está linda!
– Obrigada, mas não era exatamente isso que eu queria que você visse.
Ela me entrega um embrulho. Eu o abro.
– Maby! É riquíssimo! Como você comprou? Deve ter custado todas as sua economias!
– Não foi nada. Vamos, experimente!
Vou até o banheiro e quando volto, ela apenas me olha.
– Não vai dizer nada?
– Não tem como. Você está mais que linda, está... magnífica, perfeita.
Me olho no espelho. Ela me deu um vestido vermelho de baile, com alças largas e um decote em V na frente. Tem um talho na perna direita, que vai até um pouco acima do joelho. Meu cabelo está preso com a agulha em um coque no alto da cabeça. Ela vem e puxa uma mexa, que cai enrolada e negra do lado do olho. Meus olhos. São azuis escuros, mas na maior parte do tempo parecem pretos. Agora eles parecem azuis.
– Mas não é muito ousado? – exibo a parte de pele nua na perna.
– Não. Assim você pode prender a adaga na perna, como sempre faz e pode estar linda em uma festa, mas vai ter uma arma.
Peguei a adaga e a bainha de prender e coloco na perna. Ela fica escondida, mas super acessível caso eu precise.
– Obrigada Maby! É simplesmente tudo! – eu a abraço. Ficamos conversando algum tempo. Um tempo que passa bem rápido. Já são seis horas.
De repente, meu pai grita. Desço a escada correndo e a porta está escancarada.
– Pai. – chamo – Pai. – grito mais alto.
– Algo pegou ele.
– Algo não. Alguém. Dikes não são inteligentes a esse ponto. – pego o arco e aljava – Vamos. Seja quem for não pode ter ido longe.
– Mas o uniforme.
– Não dá tempo.
Monto em Fúria e saio o mais rápido que ele consegue, Maby está logo atrás de mim grita contra o vento.
– Olhe, tem rastro. Eles o arrastaram.
Faço Fúria cavalgar mais rápido. Ele está no limite, consigo sentir, mas logo nos deparamos com uma construção de pedra que o povo daqui usa em poucas ocasiões. Desmonto Fúria e Maby vem atrás. Levanto o arco e preparo uma flecha. Empurro a porta e minha irmã vem me pedindo calma.
– Calma Zora, pode ser uma...
Chuto a porta.
– SURPRESA!!!
Grita um coro de vozes. Abaixo o arco, espantada demais para falar alguma coisa. Sinto os braços da minha irmã ao meu redor e meu pai vem em minha direção.
– Papai, você está bem?
Me abraça.
– Claro que estou, filha. Mas não seria uma festa surpresa se você não ficasse surpresa.
Eu apenas assenti. Então, estava consciente de tudo. Meu pai conversando com o homem do outro dia, os vestidos e só agora percebo que Maby não pegou a espada e o escudo como ela sempre faz. Eu nunca tive uma festa. Mas talvez meu pai tenha achado que a ocasião merecesse.
Vou andando com Maby ao meu lado, cumprimentando várias pessoas, algumas eu conheço e outras eu não faço ideia de quem são.
– Maby, só me diga uma coisa.
– O que?
Continuamos sorrindo e dando breves acenos.
– De onde papai tirou dinheiro para isso tudo?
– No início, era para ser apenas uma coisa casual. Mas as pessoas ficaram sabendo, então ofereceram ajuda como pagamento por “serviços prestados” e ele aceitou.
Ela fez aspas com os dedos em serviços prestados.
– Uau! Muito obrigada. Mesmo.
– Tudo bem. Não me agradeça.
Eu comi, bebi e dancei muito. Não demorou muito e já é quase meia-noite. Daqui a quinze minutos eles vão começar a contagem regressiva para que eu faça dezoito. Papai bate na taça e eu saio de meus pensamentos.
– Daqui a alguns minutos, minha menininha fará dezoito. E eu acho que ela não é mais uma menininha. Ela está se tornando uma moça e muito em breve uma mulher. Vai casar, ter filhos...
“Isso não está nos meus planos” eu penso.
– Daqui a alguns anos, talvez eu não esteja mais aqui, e não quero que ela fique sozinha no mundo. Ela vai ter que cuidar da irmã caçula e pra isso, seria bom ter alguém junto a ela...
Olho para Maby e ela faz sinal de que não sabia disso. Ele continua.
– Então, eu arrumei um noivo para você. Um que queria você e somente você.
Todos batem palmas e começam a contagem. Um homem aparece do lado de papai. Mas não é só um homem. É o homem com quem meu pai conversava aquele dia. Ele começa vir em minha direção. Olho traída para meu pai, procuro o olhar de minha irmã que olha para baixo. Ele chega em mim. Eu saio correndo ao mesmo tempo em que a contagem termina. Meia-noite. Fogos de artifício explodem, mas eu não olho para trás. Ouço abafado meu pai me chamando e Maby gritando ao mesmo tempo, como se em baixo da água, mas não me importo. Monto Fúria e saio cavalgando rápido, rápido, cada vez mais rápido. Não ouço Cavalo atrás de mim, talvez Maby tenha brigado com meu pai. Meu destino é tão certo quanto as lágrimas que caem. Zorak.


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Notas finais do capítulo

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