Zorak, Vingança escrita por Semideusa


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

A ignorância se alimenta de aplausos. A inteligência bebe na fonte do silêncio. A melhor risada é a de dentro. Aquela que os invisíveis não ouvem.
— Mel Fronckowiak



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Hoje é véspera do meu aniversário. Meu pai está mais amável comigo desde a nossa conversa ontem a noite, mas eu também estou tentando não irritar ele. Maby até está estranhando nosso comportamento, mas atribuiu ao aniversário. Ela também está estranha, disse que precisa sair, mas não disse onde vai. O melhor é não dar atenção, afinal, ela é sempre estranha. Acho que mais tarde vou até Zorak. Preciso ficar um pouco sozinha e quero nadar. Quando desci para tomar café, meu pai estava estranho. Tinha acabado de conversar com um homem, que me olhou e me cumprimentou como se me conhecesse, mas a maioria aqui me conhece, então não foi surpresa. O olhar que meu pai me deu depois é que foi. Me olhou como se estivesse pedindo desculpas. Talvez se sentindo mal por ontem ainda, mas tinha algo mais, um segredo velado. Não faz diferença, é claro, o que ele faz ou deixa de fazer. Maby acaba de chegar, entra pela porta e diz:
– Chamado Zora, tem um cito na praça central.
Levanto pegando o arco e aljava, minha adaga nunca sai de perto de mim e já estou vestida.
– Odeio citos.
Pego meu cavalo, Fúria e Maby o dela, que muito gênia, deu o nome de Cavalo. Em questão de criatividade, ela é uma ótima caçadora. A praça central fica na maior área de comércio daqui, e um cito na área da “burguesia” não vai agradar nada, nada. Havia de metal a madeira corroído pelo maldito ácido do cito, uma criatura, meio humanoide com quatro olhos, dois no rosto, cegos como uma toupeira com miopia e mais dois, um em cada mão que enxergam melhor que uma águia de caça. Os braços mais longos, como de uma preguiça. Tem a pele fina como pergaminho que deixa entrever as veias cheias de sangue azul, mas é rápido. Quando não pode ver, grita como um morcego, te localiza e cospe ácido. Suas garras são afiadas como navalha.
Ele está cuspindo em tudo que se mexe e errando. Malditos pássaros. Ao invés de ficarem quietos, fazem alvoroço. Um cito parece vulnerável em razão da pele fina. Mas tem um tipo de sensor de movimento e o ácido alcança até uns três metros a uma velocidade incrível.
Agora, eu e minha irmã estamos escondidas atrás de uma carroça virada.
– Pelo amor da mãe, Maby, não faça nada estúpido ou você vai acabar como aquela boneca. – apontei para um manequim na loja do alfaiate com o vidro quebrado. A boneca de madeira estava com a metade do rosto derretido.
– OK. Nada estúpido programado. Qual o plano?
Por sorte, citos não ouvem bem e não são espertos.
– Uma distração. Precisamos de uma distração.
– Que tal te colocar lá com uma grande placa dizendo “ME COMA!”? – olhei ameaçadoramente para ela – Tudo bem. Nada de placas legais.
Ela é extremamente irritante. Tanto que se parece comigo as vezes. Estou pagando o preço por tê-la irritado quando criança. Ela aprendeu. Aproveitando a chama de uma lanterna quebrada ali perto incendiei a ponta de três flechas.
– No três você corre. Corte as mãos. Três!
Atirei as três flechas ao mesmo tempo para o alto e agora tudo fica em câmera lenta. Maby está a meio caminho do cito quando ele cospe ácido nas flechas flamejantes percebe a aproximação de algo e ergue as mãos. Antes que ele possa ver com os olhos da mão, Maby as corta com a espada e derrapa de lado erguendo o escudo, ele se vira tentando vê-la. Jogo a adaga mirando o pescoço, ele cospe nela. Não vejo se adaga acertou, tenho que ver minha irmã,ela tem que estar bem, tem que estar...
Ela joga o escudo antes que o ácido chegue a pele e eu a abraço. Só agora vejo que a adaga acertou em cheio o alvo. Ele se afogou no próprio sangue.
– Uau! Bom arremesso. Mas eu vou te contar um segredo: eu achei que ia me acertar, ele estava muito perto de mim.
Soltei ela. Mais uma vez as pessoas saíram do esconderijo e aplaudiram. É sempre assim. Aplaudir é tão fácil.
– E eu vou te contar um. – saio andando, depois de pegar minha adaga e limpar na blusa, depois vou saindo e ela me segue.
– Qual? Também achou que me acertaria?
– Não, eu fechei os olhos.
Ela para de andar, olho para trás.
– Tá falando sério.
Rio e continuo andando. Ela me alcança.
– Não, isso foi sério? Se eu morresse eu te matava.
– Se você morresse, eu colocava uma placa dizendo: “ME COMA!” antes que papai me alcançasse.
– Ele morreria e iria atrás de você.
– Obrigada.
– Ele iria pra te matar. Não foi um elogio. Ainda estou brava.
Me deu uma ombrada de leve. Fúria me deu uma cheirada e espirrou. Cheiro de cito é o pior de todos. Subi nele acariciando sua crina macia e cinza. Maby monta em Cavalo.
– Vamos. Você precisa de outro escudo.
– Não. Tenho outros planos.
– Tomar banho? Precisa. Você está fedendo.
– Aii.
Ela me espichou a língua e cavalgamos juntas até em casa.


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