Zorak, Vingança escrita por Semideusa


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

A verdadeira liberdade é um ato puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere, e a estar sozinhos até no meio da multidão.
— Massimo Bontempelli



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Eu me sinto cada vez mais cansada. Dormir já não é o suficiente para meu corpo ficar bem. Isso não é vida. Se antes eu daria tudo para sair de casa, agora eu daria tudo pelo aconchego da minha casa, o riacho em Zorak... Até mesmo aguentar as amigas chatas da minha irmã e bater nos que implicam com as orelhas dela. Eu não ligaria nem mesmo de ter que enfrentar um cito. Fico por muito tempo deitada no chão. Não tenho fome, nem dormi tão pouco sinto sede. Queria vedar todos os meus sentimentos. O Tempo passa e não faço nada a não ser manter meu corpo funcionando. Ouço batidas na porta e a mesma sendo aberta. Não me movo, me sinto um vegetal. Quero apenas definhar.

–Zora! – Ormire grita e se ajoelha ao meu lado – Zora, você está bem? Vamos me responda!

Ele pega minha cabeça, senta e apoia em seu colo. Uma lágrima cai sem ser convidada e muitas outras a acompanham.

–Não chore Bela Dama, me desculpe, me desculpe! – Não chore...

Ele acaricia meu rosto e cabelo, ainda bem arrumados enquanto cantarola uma melodia que eu desconheço

–Fale comigo, Zora. Você está bem ? Vamos eu preciso saber...

–Eu estou bem.

–Isso é mentira e você sabe que eu sei.

–Se sabe que eu não estou bem por que perguntou?

Fico com raiva e ele sorri. Ele tem o sorriso lindo. E com essa convicção minha raiva aumenta.

–Grosseira como eu conheci. Você está começando a melhorar.

Que raiva! Ele me tira do colo e começa a me puxar.

–Vamos, levanta.

–Não! Sai daqui!

–Levanta a bunda dai sua cozida.

Ele está rindo, como ele pode rir? Não vê que eu não quero nada? Ele consegue me levantar entre seus risos e meus protestos me empurra e segura a porta do lado de fora. Dou murros contra a madeira. Ele com certeza está segurando a porta com o corpo e ri a cada batida.

–Nossa como você é forte – Debochado – Não vai sair dai até ter tomado um banho e ter trocado de roupa.

–Não! Você não manda em mim! – grito com todas as minhas forças empurrando a porta com o corpo também.

–Quer que eu entre aí e te dê um banho ?

Ele grita de volta.

– Não!

Agora a situação se inverte. Ele tenta abrir a porta e eu tento fechá-la.

– Só deixo se você prometer sair depois de tomar o banho!

– Eu tenho outra escolha?

– Na verdade... Não.

– Então tá. Pare de puxar.

A força para de tentar abrir. Eu também paro de fazer força. Olho para trás. Estão lá a bacia, as toalhas, objetos de banho.

– Não tem roupa nova aqui.

– Eu quero que você vista uma coisa.

Ouço os passos dele se afastando. Aguardo. Quando ele retorna, bate na porta e a abre. Me entrega um pano vermelho, que ao desenrolar, descubro se o vestido vermelho. Percebo também, que ele não é idêntico ao branco como pensei a princípio. As costas tem um decote mais baixo, até ao que seria a metade das minhas costas.

– Não! Sem chance. Não vou vestir isso!

– Quer que eu vista em você?

Bato a porta na cara dele. Resignada. Começo a me despir e entro na água quente. Mais uma vez ela está perfeita. Me lavo e o habitual aroma de rosas sobe. Não lavo os cabelos, mantendo-os presos enquanto me lavo. Saio e visto a porcaria do vestido. Saio descalça.

– Satisfeito?

Ele me olha com ternura e diversão. Puxa a agulha que prende o meu coque.

– Você não vai precisar disso.

– Me devolve!

– Só se prometer não usá-la.

Olho-o nos olhos. Mais uma vez, sinto que não deveria, mas confio nele.

– Tudo bem – digo, comprimindo os lábios.

Ele me entrega a agulha e eu a coloco na faixa ao lado da perna. Ela incomoda mais que a adaga, mas é uma coisa com a qual estou acostumada.

– Vamos Bela Dama?

Ele me oferece o braço e eu o aceito de má vontade. Que ódio! Por que ele tem que controlar a minha vida dessa forma?

– Quero que esteja linda.

– Para quê? – pergunto desconfiada.

– Você logo saberá.

Ah, ótimo! Resolveu todas as minhas dúvidas. Odeio as evasivas que ele dá.

– Vamos.

Me oferta o braço. Ele também está vestido de forma elegante, mesmo sem estar formal. Usa uma camiseta branca, um blazer preto, calças de um material escuro que eu não consigo identificar e tênis. Acho que o blazer sobre a camiseta que dão o charme. Charme? Eu estou achando este monstro charmoso? A que ponto cheguei, meus deuses?

Descemos as escadas e paramos na cozinha. Ele vira de frente para mim e pega um pano da cadeira próxima, enrola-o e mostra para mim. Ele levanta as sobrancelhas, estalo os olhos, ele vira a boca para o lado, como um pedido de desculpas. Exalo um longo suspiro e me viro. Ele me venda. Essa conversa silenciosa foi muito fora do normal. Normalmente só fazia isso com a Maby. Maby, que nem veio me procurar... Ele vai me guiando durante o trajeto. Eu não saberia dizer se o mesmo da vez anterior. Andamos em silêncio, um silencio que não me incomoda. Começo a sentir sob meus pés, um terreno mais tortuoso e logo também sinto o sol em minha pele e o vento alvoroçando meus cabelos. Sorrio involuntariamente. É tão bom sentir ar fresco outra vez.

– Depois que meu padrinho morreu, bem... antes de eu sair daqui, eu tentei deixar este lugar menos como um cativeiro e mais como um lar para mim... Eu nunca tinha conseguido, sempre faltou alguma coisa. Eu decidi sair para conhecer pessoas, fazer amigos e arranjar um verdadeiro lar, mas então... então tudo aquilo aconteceu. – ele faz uma pausa e o ouço respirar fundo – Eu não consegui voltar, estava tomado de fúria. Eu não achei o caminho. Fiquei louco, mas quando recuperei minha sanidade, me lembrei de onde ficava. – ele tira minha venda – e tudo estava assim.

Ele faz um gesto abrangente com as mãos. Fico completamente maravilhada. É lindo! Mais do que eu possa dizer. Há vários tipos de flores, que crescem selvagemente, sem poda. Algumas árvores distintas, uma delas coberta de flores rosas. Tudo fica ainda mais lindo com o doce aroma de rosas. Um lindo roseiral, com flores brancas. E a liberdade, a brisa no rosto. Abro os braços. Não quero mais saber de nada, apenas flutuar nessa imensidão de rosas, lírios e violetas. Tantas cores, aromas, a brisa leve despenteando meu cabelo. A casa é apenas um enorme bloco branco com uma porta para um possível porão.

– Quando eu te trouxe, tinha a intenção de te matar, mas... você fez disso – e aponta para a construção – um lar. Me fez ver que um lar, não é formado de tijolos, mas das pessoas com as quais você convive, se se sente bem ao lado delas.

Não respondo. Na verdade, não tenho palavras para responder. Eu sinto como se devesse estar preocupada com outra coisa, mas neste momento, existe apenas nós dois e a linda vista. Ele se aproxima ainda mais de mim e devagar, põe as mãos em minha cintura. Não me movo. Parece que ele espera alguma reação, meu coração bate muito rápido, mas apenas não me movo. Sei que eu deveria lembrar de alguma coisa, mas não consigo. Ele sobe uma das mãos pelas minhas costas até meu cabelo. Coloca uma mecha atrás da orelha e cheira um pedaço dele. Estou ofegante. De que é que eu tenho que lembrar? Ele coloca a mão na minha nuca e a arrasta, embolando meus cabelos em seus dedos até a parte de trás da minha cabeça. Segura firmemente meus cabelos e muito levemente, puxa-os, forçando minha cabeça um pouco para trás, de forma que olho diretamente em seus olhos. Estou um pouco tonta, mas não sei bem o motivo. Não consigo parar de olhar para ele. ameaço perder o equilíbrio, ele aperta minha cintura ao mesmo tempo em que me seguro em sua camisa. Seu olhar vai dos meus olhos para minha boca e, sem querer, acabo fazendo o mesmo. Ambos estamos ofegantes. Por que? Me vem a ideia estranha: sua boca parece tão interessante, qual sabor deve ter? Começo a me aproximar ao mesmo tempo que ele. Seu aperto ganha mais pressão...


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Notas finais do capítulo

Hahahaha.... Não me odeiem...



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