Zorak, Vingança escrita por Semideusa


Capítulo 16
Capítulo 16 -


Notas iniciais do capítulo

Como o tempo custa a passar quando a gente espera!
Principalmente quando venta.
Parece que o vento maneia o tempo.
— Érico Veríssimo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/529655/chapter/16

Não sei o que dizer. Improviso.

– Então...O ar está um pouco rarefeito hoje, não é?

Ele fica decepcionado. Olha para cima e começamos a perder altitude lentamente. Fico olhando para o seu rosto. Ele não olha para mim em nenhum momento. Eu deveria odiá-lo, mas me sinto culpada. Não demora muito e meus pés tocam o chão. Ele olha para mim, mas não olha nos meus olhos, como costuma fazer.

– Tenho que te vendar de novo.

Ele diz sério. Eu apenas aceno com a cabeça. Ele passa mais uma vez o pano em volta da minha cabeça, sobre os meus olhos. Ouço ele fungar. Ele demora um pouco para segurar meu braço, e quando o faz, me toca de leve e seus dedos estão úmidos. Acho que ele está chorando. Receio um pouco em perguntar, mas as palavras escapam da minha boca.

– Tudo bem?

– Aham.

É a única coisa que diz durante todo o percurso de volta. Andamos por um bom tempo, fazendo, ao que me parece, o mesmo caminho. Ele tira minha “venda”. Já estamos no corredor do meu quarto.

– Então... Obrigada pelo, uhn, passeio. Tchau. Até amanhã?

Não sei por que pergunto se vou vê-lo mais uma vez.

– Tchau.

Ele responde cabisbaixo. Entra no quarto da escada e as desce. Sinto vontade de ir atrás dele, mas reprimo essa vontade. Ando devagar pelo corredor até meu quarto. Empurro a porta. Tudo está do mesmo jeito. Branco. Odeio branco. Afasto o dossel, sento na cama e com a cabeça entre os joelhos começo a chorar. Choro por me sentir culpada, por odiá-lo e odiar me sentir culpada por ele. Choro de raiva por ter adorado o que ele fez. Choro por estar feliz e triste, com raiva e culpa... choro por sentir qualquer sentimento de compaixão pelo Ormire. E choro por não saber o que estou sentindo. Tantas coisas passam pela minha cabeça. Acho que vou acabar louca. ONDE ESTÁ MEU PAI? Meus pensamentos gritam. Minha cabeça parece que vai explodir. Me volta a cena de hoje mais cedo. Minhas asas explodem para fora. Bato a asa no arame do dossel e sobe uma dor lancinante. Me abraço e me contorno com as asas. Choro até não poder mais. Recolho as asas e me deito. Fico em posição fetal e assim adormeço.

**************

Estou voando. Voando muito alto, mas ainda sim abaixo das nuvens. Rio muito alto, intensamente. Estou tão feliz o vento morno faz voar meus cabelos longos e soltos. Incrivelmente negros. Pego a mão de alguém. Olho do lado. Cabelos castanhos, olhos avelã. Ele sorri para mim e eu sorrio de volta. Voamos assim, rindo e brincando por um bom tempo. Ele olha para as nuvens acima de nós.

– É melhor descermos.

Não entendo... o céu ainda está claro e az.... cinza? Ele ficou cinza de uma hora para outra. Começamos a descer, mas o vento começa a ficar muito forte. Ele segura minha mão e tentamos descer, mas não há mais controle. Estamos, literalmente, à mercê do vento. Ele nos empurra para ambos os lados e rodopiamos, sem rumo, pelo céu. Minha asa se parte. Dor excruciante. Grito. Ele não solta minha mão, pelo contrário, me trás mais para perto e me abraça.

– Não vou te deixar cair.

Lágrimas escorrem de meus olhos. O céu fica limpo de repente. Ele desce, majestoso, com o sol brilhando às suas costas. Pousamos. Ele me põe no chão, com cuidado para não me machucar mais. Se ajoelha ao meu lado. Pela primeira vez eu olho para suas asas. Não são normais. São de morcego. Olho para seu rosto, bondoso, que começa a se transfigurar em algo horrendo. Grito. Seus olhos continuam bondosos, mas não consigo evitar. O medo toma conta de mim. Não posso confiar nele, não posso... ele tenta me acalmar, mas só faz com que eu me agite mais... não, não, não me toque...

********

Abro os olhos. Assustada, suada e presa no lençol. Estou ofegante. Eu raramente tenho sonhos. Por que? Por que um dos meus únicos sonhos tinha que ser com ele? Com esse homem... essa... essa coisa que desgraçou minha vida? Tem que haver mais um quilok aqui. É a única explicação para eu ter sonhado com ele. Sento. Levo as mão a cabeça, puxo a agulha e desfaço coque deixando os cabelos caírem ao lado do meu rosto. Alívio. Eu devia ter usado essa agulha antes, quando o vi da primeira vez... Passo os dedos pelo cabelo desembaraçando os fios. Calço os tênis. Me recuso a sair descalça outra vez, a sola dos meus pés estão sujas e doloridas pelo “passeio de ontem”. Acho que não teve o impacto que ele esperava. Talvez eu teria apreciado a vista se não estivesse: a) Com medo de morrer e b) Com o homem que prendeu meu pai, me prendeu e bateu na minha irmã. Mas fora esses pequenos detalhes, estava tudo ótimo. Passa pela minha cabeça a imagem de uma amora caindo da árvore e espalhando muito suquinho pelo chão. A amora seria eu. Imagem nada agradável. Saio do quarto. Espero que seja de manhã e não de madrugada. Quero no mínimo poder dormir na hora certa. A porta do banheiro está aberta novamente. Entro. O banho está pronto, como da última vez, mas a água não parece estar tão quente. Toco-a. Realmente, está morna. Tem uma chaleira e o “forno” parece quente. A água no recipiente está ainda quente. Despejo-a na banheira. Mais uma vez faço uma prece para que ele não esteja me observando. Agora, com a água mais quente, fico nua e entro na água. Ah, meus deuses! Por que eu, por que? Primeiro, o cara tenta me matar, agora, diz que está apaixonado? Ele é meio bipolar, essa é a minha opinião. Tem tanta coisa na minha cabeça. Uma saída daqui eu já sei que tem. Agora eu tenho que descobrir onde ela está. Me ensaboo, enxaguo e fico até a água estar fria. Saio. Me seco com uma das fofas tolhas brancas. Tem mais um conjunto de roupas dobradas ao lado do chão. Pego-as. Desço, com os cabelos pingando, pelas escadas. Mais uma vez sinto um cheiro ótimo. Vou pedir desculpas. Esse pensamento surge sem ser convidado. Paro. Eu não devia ter pensamentos assim. A ideia me anima. Vou correndo... paro. A mesa está arrumada, tudo está pronto para o café mas... ele não está. Há uma rosa em cima da mesa. Uma rosa branca. Eu. O. Odeio. Sento-me à mesa e tomo um delicioso café, com ovos mexidos e bacon. Como também uma pera. Sozinha. Estou ansiosa, sinto como se ele fosse aparecer a qualquer minuto. Termino meu café e ele ainda não veio. Subo as escadas. Vou ao meu quarto e pego a chave 2E. A sala com almofadas. Abro a porta e lá estão eles. Brancos e fofinhos. Fico pulando, batendo-os. Faço penas voarem até meu cabelo estar completamente branco e emaranhado. Brinco com a casa toda, volto a comer, tudo para me distrair de pensar nas coisas que tanto me afligem, mas não consigo tirar da minha mente... que ele ainda não apareceu. Cansei, deitei, cochilei, acordei, comi, comi mais. O “dia” está chato. Talvez o problema é que ainda é noite. Eu acordei na hora errada. Pronto! Problema resolvido. Ele vai aparecer, eu só tenho que esperar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agradeço a todos que estão lendo. Boa sorte e comentem sempre!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Zorak, Vingança" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.