Zorak, Vingança escrita por Semideusa


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Excesso de expectativa é o caminho mais curto para a frustração.
— Martha Medeiros



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Nada. Durante esses minutos minha expectativa aumentou ao ponto da euforia e não há nada além de lençóis e toalhas. Reviro tudo e ainda não há nada. A maneira mais fácil de não se decepcionar é não criando expectativas.

Saio do quarto e vou a próxima porta. Depois de alguns minutos, ela também se abre para que eu encontre um quarto vazio e assim sucessivamente até a penúltima porta. Apenas para encontrar lençóis, cadeiras, talheres e uma sala com roupa e sapatos femininos, coisas inúteis. Frustrante. Estou cansada, então antes de abrir a última porta desço beber água. Encontro sentado em uma cadeira Ormire, que bebe um copo de leite. Meus sentidos entram em alerta, mas ele apenas me olha e não diz nada. Vou até o armário, sem baixar a guarda e pego um copo, pego água na pia e então ele fala.

– Você poderia ter usado as chaves.

– O que?

– Para abrir as portas. As chaves.

Verdade, não lembrei das chaves.

– Achei que fosse uma piada de mau gosto. – minto.

– Não, tinha o número da porta que cada chave abre.

Droga! Que burra eu sou. Não vi o que estava na minha cara.

– Muitas vezes não vemos o que está na nossa frente.

Cuspo a água.

– Como fez isso? Le mentes também? – falo indignada com a invasão.

Ele começa a rir.

– O que? Ler mentes? Acho que você lê histórias demais.

Me sinto chateada. Ele deveria estar morrendo, não rindo de mim. Me sinto ainda mais tola.

– Mas, espera... como sabia que eu estava abrindo as portas? Estava me espionando? Ah, mas eu te mato com ....

– Não, longe de mim! Eu cheguei agora pouco, te vi concentrada e não quis te atrapalhar.

Ele ri

– Quem você pensa que é? Seu, seu...

– Monstro?

– Não, você é pior!

Tiro a faca do cós e o ataco. Ele arregala os olhos e eu sorrio. Antes de eu atingi-lo, em um piscar de olhos ele já não está mais lá. Me viro e está encostado na pi a com a mão no peito. Roxo como uma berinjela.

– Meus deuses, mulher! Não te ensinaram que facas machucam?

– Era a minha intenção. – estreito os olhos nele – E se você ficar parado só um pouquinho...

Ergo a faca na direção dele novamente.

– Nossa! Que garota violenta.

Ele sai da cozinha e quando vou atrás dele, este já sumiu. Como esse nojento imundo faz isso. Será que fica invisível. Não. Estou paranoica e não vou mais ser motivo de risos para ele.

Subo as escadas. Estou morrendo de raiva e me sinto tola. Vou para o dormitório destinado a mim e pego a fronha com as chaves ainda caída no chão ao lado da porta. Jogo-as no chão e as analiso. Realmente há números impressos nas chaves, seguidos pela letra E ou D. Esquerda e direita. Pego a chave 4E. Quarta porta à esquerda. Vou até a porta correspondente e reparo agora uma outra coisa: na maçaneta também há números igual a chave. Como eu fui burra! Enquanto isso meu pai pode estar morrendo, as Sete Províncias sucumbindo, Maby perdida e eu aqui, dando uma de Lena, a amiga gorda da minha irmã. Até desse animal eu sinto falta. Enfio o chave na fechadura e a porta facilmente se abre.

Empurro-a e não consigo acreditar nos meus olhos. A porta se fecha atrás de mim com um baque surdo. Meu pai está acorrentado, pendurado ao teto pelos pulsos e minha irmã, morta aos pés dele com a boca repleta de espuma. Ormire então sai das sombras com os olhos marejados, as mãos ensanguentadas, líquido amarelo escorrendo do canto da boca. Ele se ajoelha perante mim.

– Me perdoe.

São suas únicas palavras. Perdão é algo impossível. Eu o ataco com minha adaga, ignoro tudo e qualquer coisa, penetro diretamente o coração, se é que ele tem um. Me preencho de prazer ao ver a agonia em seu rosto. Prazer. Puro e intenso prazer. Mas tudo começa a se dissolver e o prazer dá lugar ao desespero. O rosto de Ormire vai tomando feições diferentes. Feições que pertencem ao meu pai. Ele está me olhando. Tomo-o nos braços em desespero.

– Me perdoa?

Seus olhos se fixam e perdem o brilho, olhando para o além.

– Não! Papai! Papai, não.

Choro desconsolada, desesperada. Tudo se esvai e eu me sinto absolutamente vazia. Arranco a adaga de seu peito e a coloco na garganta, ouço as batidas do meu coração, altas e claras como murros. De repente ouço um grito que que tira meus sentidos adaga é arrancada de minha mão a força e o som para. Choro como um bebe. Vejo que há um pedaço de espelho que foi arremessado em um animal ao canto, sinto braços ao meu redor e começo a me debater e gritar ainda mais mas ao invés de se defender, esse alguém tenta me acalmar, nada faz sentido.

– Shhhhh, shhhhh, não chora, meu amor. Foi um pesadelo, não tenha medo. Eu estou aqui e vou te proteger.

Não sei por que, mas eu acredito.

Não tenho ideia de por quanto tempo chorei. Mas esgotei todas as minhas forças. Me sinto vazia, completamente vazia de uma forma que eu jamais achei possível. Sinto braços ao meu redor, mas não sei a quem pertencem. E não sei se quero saber. seja lá quem for não emitiu som algum após aquilo. Tudo desmoronou. Sinto meus olhos inchados e ardendo, minha garganta queima e um líquido quente escorre por ela. Minhas bochechas molhadas. E eu que jurei não mais chorar. Olho o animal no canto. Ou o que eu achei que fosse um animal. Um dike. Quilok. Um parasita voador que se instala em lugares abandonados e escuros, te causa pesadelos e emite um som que desnorteia quando é descoberto. Se alimenta de desespero e angústia. Tola, tola,tola. Eu só enfrentei esse tipo de dike de longe e eu e Maby sempre prevenimos para ficarem atentos a lugares escuros e pouco utilizados. A pessoa beija o topo da minha cabeça. Olho para cima e vejo quem eu mais temia. Ormire.


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Notas finais do capítulo

Desculpem-me o tempo sem postar, ando meio ocupada.



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