Zorak, Vingança escrita por Semideusa


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade.
— Renato Russo



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As portas são simplesmente lindas. Madeira escura talhada com imagens de ramas. As imagens continuam de porta em porta até terminar em uma porta de madeira branca com a gravura de um carvalho. Testo as portas. Todas ao longo do corredor estão trancadas, mas já era de se esperar. Tenho medo de abrir a última porta. Branco começa a me irritar. Vou até ela e empurro. Está aberta. Agora vai ter um dike ai dentro. Empurro, e estou enganada mais uma vez. Há uma escada em caracol que leva para baixo. Por que um quarto com uma escada apenas? Nenhuma janela. Eu devia estar calma pelo silêncio, mas nada aqui faz sentido, o que me deixa ainda mais nervosa. Desço a escada. Estou em uma casa. Uma casa comum que não tem janelas nem portas. O que faz dela uma casa não tão comum assim, mas da mesma forma uma bela casa. Claro que ainda não faz sentido a questão da porta e por que me colocar em um lugar tão legal.

Sofás, uma estante, um tapete de centro. Uma porta leva a uma cozinha com armários simples de carvalho, em fogão à lenha e uma pia. Só. Nada de porta ou janela. Um belo lugar, mas ainda sim uma prisão.

– Vejo que minha princesa acordou.

Tomo um dos maiores sustos da minha vida.

– O que você quer comigo?

Me acalmo. Ele ter chegado significa que há uma porta, mesmo que bem escondida.

– Já disse. Transformá-la em minha rainha.

– Para depois me matar.

– Ainda estou pensando nisso. Você, sua irmã. Farinha do mesmo saco. Pra mim não importa.

– Por que nós?

– Talvez tenha chegado o momento de você conhecer a história toda. Não apenas a parte em que eu sou mau.

“ A muito tempo, eu conheci uma garota. Uma menina linda, de cabelos negros, agilidade incrível. Incompreendida. Ninguém sabia do meu segredo. E eu, apaixonado, me casaria com ela e seria o maior caçador que todos já viram, matando todos os dikes para vingar a minha mãe, e acabar, de certa forma, com uma parte de mim que eu nem ela nunca quisemos. Na vila havia também o preferido de todos. O que todos acreditavam que seria o maior e melhor caçador. Eu o invejava. Ele tinha tudo o que queria. Sabe qual o nome dele?”

Eu não respondo.

– Sabe? – ele grita. Aceno que não, perplexa.

– O nome dele é Yanom.

Me falta ar. Meu pai. Tudo se trata de vingança.

– “Yanom é lindo, Yanom é forte, bravo” – imita uma voz feminina – todas diziam. Mas não ela, ela não. Ela era forte e brava, não dependia de ninguém. Linda. Um dia eu a chamei de lado. Eu ia mostrar a ela o que eu podia fazer e mostrar como poderíamos ter um mundo juntos, desde que se unisse a mim. Mas ela se assustou e tentou fugir. Eu a segurei. Nunca fui um monstro, mas Yanom apareceu e entendeu tudo errado. Ele sacou a espada e eu corri para longe dali, para uma floresta. Não podia mais ser visto na aldeia, mas observei tudo de longe. Como ela se apaixonou por seu salvador. Ela engravidou, eles se casaram e você era tão pequena, tão inocente e tão culpada ao mesmo tempo. Observei-os por um tempo, como Yanom desistiu de caçar por ela. Minha linda Kaeli estava feliz ao lado dele.

Então o nome da minha mãe é Kaeli. Ele continua a tagarelar.

– Fugi. Fugi e me escondi. Fiquei tanto tempo escondido, a base de água e peixes. Eu fiquei louco. Só não morri porque ainda tinha esperanças de encontrar ela, foi a única coisa que me manteve vivo. A lembrança dos lindos olhos azuis de Kaeli. Quando eu começava a me perder de mim mesmo, lembrava dela, e da forma doce que ela cantava.

Paro de prestar atenção. É estranho que outro alguém tenha amado minha mãe. Kaeli. Papai nunca quis me contar seu nome. “deixe o passado no passado” ele dizia, até que um dia deixei de me importar. Volto a ouvir Ormire

– ...cantando pra você. Um dia do que eu lembrei foi diferente. Lembrei do dia em que fui falar com ela. Então o que me preencheu foi o ódio. E eu me senti tão bem.

”O desejo de vingança me manteve são por mais tempo, e passei um ano planejando como seria. Juntei os dikes com inteligência suficiente para seguir ordens, fiz reféns, chantageei algumas pessoas e convenci outras a me seguir. Quando me dei por conta, tinha dominado três das sete províncias. Então mudei meus planos: eu seria soberano sobre todas as províncias e faria de Kaeli uma rainha que morreria em nome de seu marido e senhor: eu.

Só então saio de choque e falo

– Mas por que matá-la se você a amava.

– Ainda amo, minha bela. Mas eu a mataria da mesma forma que ela matou o que eu tinha de humano. O problema, veja bem, é que quando eu cheguei a Cratem, ela não estava mais lá, mas haviam duas outras em seu lugar. Através da plebe fofoqueira, descobri que uma era a garotinha filha de Kaeli e a outra uma bastarda filha de fada. Fui espiar e... você era tão linda e tão valente quanto ela. Os mesmos olhos, o mesmo cabelo. - ele estica a mão para tocar meu rosto, eu me encolho e ele para a mão estática no ar e deixa-a cair em seguida - Yanom me pegou te observando, mas por sorte não me reconheceu. E então eu adaptei meus planos a você. Iríamos ser felizes e não precisaria que você morresse. Poderia até poupar sua irmã, mas você foi ainda mais cruel que Kaeli. Então eu apenas substitui ela por você.

– Você é um maluc...

– Cala boca! Cala boca! Eu não pedi a tua opinião! Não pedi a opinião de nenhum de vocês! Só precisavam me aceitar, apenas me aceitar!

Ele grita com o rosto arroxeando de raiva. Eu recuo para trás. Ele. Me. Dá. Medo. Não sei o que fazer. Estou com saudade do meu pai, com saudade da minha irmã, do fúria e do pobre dragão, que ficou em casa sem cuidados. Espero ter soltado-o da gaiolinha. E Zorak. Que saudade de Zorak. Sinto gosto de sal e Ormire me olha de forma estranha. Quase com pena. Ele sai da cozinha e demoro um pouco para registrar isso. Quando vou atrás, ele já sumiu. Foi-se sabe-se lá por onde. Só então percebo que minhas bochechas estão molhadas. Eu estava, estou, chorando. Tenho feito tanto isso. Chorar é o que acontece quando a alma transborda. Sento no chão, entre as supostas sala e cozinha e, mais uma vez, deixo as lágrimas caírem e minha alma transborda pelos olhos. Chorando por meu pai, minha irmã, Zorak, chorando por tudo que mudou e por tudo que ainda vai mudar. Então, silenciosamente, eu adormeço.


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Notas finais do capítulo

Ando um pouco atarefada, mas ai está. O que estão achando??



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