Fantasmas escrita por Odette Swan


Capítulo 2
À Prova de Balas


Notas iniciais do capítulo

Olá! Espero que estejam gostando, e obrigada pelo comentário Vivi Martins.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/529305/chapter/2

Qual é o peso da nossa consciência? O suficiente para podermos sobreviver às nossas marcas? Mas e quando ela começa a pesar mais do que deveria? Ás vezes as marcas que deixamos são mais profundas do que se imagina. E quando elas estão fixas na sua mente remexendo dentro de você, na mesma medida que seu coração bate, e te lembrando a todo o momento que elas estão lá? Estão lá chamando seu nome, gritando por sua atenção, se contorcendo dolorosamente em você, o fazendo se sentir culpado por tudo aquilo que está lá e sentindo uma dor que não consegue controlar. Você sente vontade de abrir o seu peito e arrancar a força todos esses sentimentos, mas não pode, não consegue. E o que lhe resta a fazer? Aceitar os fatos e aprender a conviver com eles ou esperar que um golpe do destino vire o jogo?

–Investigador Collins?- Chamou um dos policiais.

–Sim?- Disse se levantando.

–Conseguimos algumas informações com os vizinhos.

–E então?

–Harriet Brown, parece que sofria de depressão e tomava remédios fortes. Parece que perdeu o movimento das pernas há alguns anos, uma vizinha que a ajudava disse que ela tinha parado de ir ao fisioterapeuta e o psicólogo, e também que fazia alguns dias que ela não a via, Harriet não atendia as ligações, não saia de casa...

–E aquele homem lá fora?

–Disse que era amigo de Harriet, disse que veio fazer uma visita, mas achou estranho ela não ter atendido a porta e nenhuma das ligações que fez avisando que viria.

–E a família dela?

–Fizeram uma busca no banco de dados, encontraram apenas um tio que mora no México, a mãe morreu no acidente que afetou as pernas dela.- O investigador olhou mais uma vez o corpo e depois deu um suspiro.

–Ok. Pode mandar recolher o corpo.- Disse se retirando do cômodo.

Depois de terminarem o trabalho, os policiais foram embora. O investigador policial James Collins foi para casa assim que terminou de resolver tudo, não trabalharia mais naquela noite.

Chegando em casa, James apenas acendeu a luz do corredor para que não tropeçasse em nada, foi até a cozinha pegou uma garrafa de Uísque, voltou para a sala, tirou sua arma da cintura a deixando sobre a mesa de centro, e se sentou na poltrona. Conforme enchia o copo e bebia, lembranças e sentimentos, bons e ruins invadiam seu corpo, conforme bebia ele encarava com os olhos cansados o retrato, que ele conservava com carinho na parede, que continha o rosto de uma bela mulher, a qual ele admirava e amava mais do que tudo.

Ele sabia que seu trabalho era em boa parte perigoso, e seu maior medo era que algo acontecesse e ele deixasse sua família sozinha, ele tinha que cuidar dela, ele prometeu. Mas às vezes as coisas saem do controle. James olhava para aquele quadro e sentia um vazio, uma angustia, uma culpa.

Um ano e alguns meses antes

–Olá!- Disse James entrando na cozinha.

–Oi!- Respondeu Mary indo abraçá-lo.- Por que não me avisou que ia almoçar em casa hoje? Eu teria feito algo especial.- Sorriu.

–Tudo o que você faz pra mim é especial.- Ela sorriu com a resposta.- Estava pensando em irmos a um pequeno restaurante perto do trabalho, o que acha?

–Ótimo, só vou pegar meu casaco.

Os dois entraram no carro e foram até o restaurante, durante o percurso eles conversavam e riam, pareciam um casal típico de novelas, as novelas mais clichês e apaixonantes que possam imaginar. Mas todas as novelas, até aquelas que têm os finais mais felizes, têm os seus “porém”, o clímax, o golpe do destino que pode destruir tudo em um piscar de olhos.

Enfim chegaram, entraram no restaurante e escolheram uma mesa.

–E então, está gostando da comida?- Perguntou James.

–É ótima, devíamos trazer Madison aqui.

–É uma boa idéia.- Sorriu.

De repente dois homens entraram no restaurante, pareciam duas pessoas normais, mas James sentiu que algo parecia suspeito. Os homens então sacaram suas armas e começaram a gritar.

–Ninguém se mexe! Entreguem tudo o que tiverem e nada de bancar o herói.- Mary olhou aflita para James, que encarava os homens.

–O que está olhando?- Disse um dos homens apontando a arma para James.- Façam o que eu mandei!

Mary e James entregaram seus objetos de valor assim como os outros clientes. Mas James não podia deixar isso assim, é claro que não, seu instinto policial falou mais alto, mais alto do que o olhar assustado de Mary, mais alto do que seus medos. James pegou sua arma e atirou em um dos homens que caiu no chão, o outro em um rápido reflexo atirou na direção de James, mas não o acertou, ele atirou novamente e atingiu o outro homem.

As pessoas que se jogaram no chão com medo, começaram a se levantar calmamente e seus olhares assustados, assim como James, se fixaram no corpo da mulher que acabara de levar um tiro.

–Mary?- Chamou aflito.- Mary!- Chamou novamente tomando o corpo em seus braços, as lágrimas começaram a cair junto ao peso de culpa.- Alguém chame uma ambulância!

A ambulância chegou apenas para levar o corpo e constatar o que no fundo James já sabia, sua bela esposa estava morta. O que ele diria a Madson? Como explicaria que Mary não voltaria mais?

A culpa e o desespero se remoíam dentro dele durante o enterro, por mais que quisesse esconder as lágrimas, elas eram bem visíveis, até mesmo por baixo dos óculos escuros que usava. Como ele pôde deixar que isso acontecesse? Como ele pôde deixar seu “heroísmo” à frente de sua família?”

Conforme o uísque descia por sua garganta, pensamentos e mais pensamentos o invadiam, ele não conseguia aceitar e conviver com a falta de Mary. E o que lhe restara fazer? Ele encarou a arma que estava na mesa. Seria assim que terminaria? Sua única opção seria enfiar uma bala na cabeça e acabar como Harriet? Não, é claro que não. James sabia que não podia fazer isso, tanto pelo fato de achar totalmente insano, quanto pelo fato de ter alguém que precisava dele.

–Papai?- Disse a garotinha esfregando os olhos de sono.

–Madson? O que está fazendo acordada?- Disse se levantando e indo em sua direção. Madson, sua pequena filha de seis anos.

–Não consigo dormir.

–Por quê?- Perguntou se agachando a sua frente.

–Tive um pesadelo.- Ela o encarava triste.- Com a mamãe.

–Madson, olha pra mim.- Segurou suas mãos.- Eu sei que você sente muita falta da mamãe, mas ela vai estar sempre com você e não vai mais deixar você ter pesadelos.

–Como?

–Você pode não ver, mas ela está sempre do seu lado, cuidando de você.- Ela o abraçou e James a pegou no colo.- Vou te colocar na cama.

James subiu as escadas com Madson no colo e a colocou na cama, ela dormiu em menos de cinco minutos, depois de ouvir algumas palavras doces de seu pai. James ficou sentado ao lado dela pelo resto da noite.

Ele não podia mudar o passado, não podia evitar que seus fantasmas o visitassem, os sussurros em seus ouvidos aos poucos seriam esquecidos e ele aprenderia a ignorá-los. Madson precisava dele e ela dela, o amor que tinha naquela família ainda não fora esquecido, e só ele poderia curar tudo. Ele poderia aprender a conviver com a verdade, a aceitar a realidade, poderia apagar toda a dor e a culpa que sentia, mas se isso aconteceria, só o tempo poderia dizer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Até o próximo capítulo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fantasmas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.