24 - Morte

Exalei um suspiro ao observar a cena a minha frente. Havia coisas que sabíamos que precisávamos que acontecesse. Que tinha que acontecer para que crescêssemos e ficássemos fortes, a morte deveria ser algo natural, doloroso, mas inevitável, eu entendia isso, Oliver entendia isso, ambos já passamos muito por isso, mas como explicar para uma garotinha de cinco anos? Marie estava sentada nos degraus da nossa varanda olhando para o passarinho morto a sua frente enquanto o pai falava em tom suave palavras ternas, era algo doce de se ver a forma como Oliver matinha seu braço envolta dela. Eu nunca cansava de admirar pai e filha, e como eles eram tão parecidos, não só fisicamente. Ela tinha a mesma expressão de Oliver quando estava decidida, ou quando algo a aborrecia, ela tinha seu sorriso, e mesmo seus olhos, ela era linda por dentro e por fora como ele mesmo era. A observei sorrir quando o pai falou algo e assentir pesadamente, resolvi sair do meu estado de expectadora e me aproximar deles, sentei ao lado dela notando se rostinho mais leve.

– Tudo bem aqui? – Perguntei enquanto colocava seu cabelo atrás da orelha.

– Sim. – Respondeu com sua voz infantil. – Papai já me explicou.

– Ele explicou? – Sorri encarando Oliver. Marie assentiu novamente. – Ele me contou que o passarinho agora está entre outros, e que ele está voando lá em cima no céu, eu expliquei para ele que os passarinhos já voam no céu. – Não pude evitar conter um sorriso com isso. – Mas ele disse que é um céu diferente agora.

– Mesmo?

– E ele me disse que ia me ajudar.

– Ajudar com o quê? – Franzi o cenho apreensiva, para não ver a filha chorando Oliver tendia a fazer promessas que EU teria que descumprir. Dessa vez não foi algo muito grande tudo que precisamos fazer foi enterrar o passarinho enquanto Oliver por insistência de Marie teve que se despedir do animal, já que segundo ela, tinha visto em um filme que era isso que as pessoas faziam quando alguém querido morria, mordi o lábio tentando não rir quando Oliver expressou o quanto um passarinho que ele nunca tinha visto antes ia fazer falta. Só mais tarde quando a coloquei na cama descobri que o “enterro” do passarinho não foi tudo que ele prometeu.

– Você prometeu um cachorro? – Falei quando entrei em nosso quarto, ele estava lendo um livro, ou como eu tinha certeza, fingindo ler já que eu poderia apostar ele sabia que estava lindo. – Oliver? – Ele levantou os olhos parecendo um pouco culpado.

– Ela estava chorando. – Apenas disse, suspirei, eu mesma não conseguia resistir quando ele me olhava desse jeito, e é como eu disse Marie puxou ao pai. Aproximei-me dele ainda fingindo estar aborrecida.

– Eu vou ter que fazer o papel de vilã? – Perguntei tirando o livro de sua mão, colocando na mesinha ao lado e sentando-me em seu colo.

– É só um cachorro. – Murmurou beijando a pele sensível do meu pescoço.

– Eu sei o que você está fazendo. – Alertei.

– Eu estou conseguindo? – Perguntou roçando sua barba no ponto que havia acabado de beijar.

– Tudo bem, ela fica com o cachorro. – Cedi. Ele sorriu tal como se ele fosse à criança. – Mas você é que vai ser responsável por ele.

– Sim. – Concordou.

–E vai ensinar a ela sobre a responsabilidade de ter um. – Continuei. Ele assentiu me beijando antes que pudesse falar qualquer outra coisa. Correspondi ao seu beijo antes de me afastar para encarar seus olhos tão próximos dos meus. – Obrigada. – Murmurei.

–Pelo o quê?

– Pelo pai e marido incrível que você é. – Respondi antes de eu mesma tomar posse da sua boca. E foi nove meses mais tarde que ele voltou a mostrar o quão incrível ele era como pai quando mostrou pelo vidro ao nossos amigos o nosso segundo filho.