Give me Love escrita por LelahBallu


Capítulo 15
Um dia


Notas iniciais do capítulo

Baseada no pedido da Iz (Izabel Seliger) que me deu como lugar "cemitério". Espero que gostem! Iz fic dedicada a você!!



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O dia estava incrivelmente frio. Gélido na verdade. Esfreguei minhas mãos sentindo falta de luvas que pudessem evitar que o ar frio deixasse as pontas dos meus dedos dormentes, mas na ausência delas tive que me contentar em enfiar as mãos dentro dos bolsos do meu casaco grande, eu pelo menos tinha colocado uma touca de lã grossa e calçados botas de cano longo junto com meu jeans escuro. Suspirei enquanto seguia andando por entre a rua quase vazia.

Era uma bobagem. Uma grande bobagem. Eu não deveria ter me levantado tão cedo, não deveria estar andando em uma rua deserta em uma manhã fria com o destino de ir a um cemitério, indo invadir um cemitério para ser mais sincera e precisa. Suspirei quando parei na parede lateral, olhei para a parede branca e com degaste, o reboco irregular poderia ajudar, mas eu nunca conseguiria subir nela sozinha, então sequer tentei fingir orgulho.

– Oliver? – Sussurrei em tom baixo, demorou apenas alguns segundos até que eu escutasse alguns barulhos e visse a cabeça de Oliver por cima da parede, seus olhos brilhavam e um sorriso deslizou lentamente em seus lábios, fazendo com que eu mesma correspondesse seu sorriso com o meu. – Oi. – Murmurei bobamente.

– Oi. – Devolveu em tom suave. Eu amava esse tom, a forma com ele falava comigo, Oliver raramente era rude comigo, eu não era um ser frágil e minha língua raramente se segurava fazendo com que às vezes eu fosse inclusive grossa, mas Oliver sempre se dirigia dessa forma comigo, nunca em tom brusco. Sua cabeça voltou a sumir e logo deduzi que ela ia tomar outro impulso, ele subiu no muro e colocou uma perna de cada lado, estendeu sua mão para mim, não tive que refletir muito apenas a alcancei e de forma desajeitada eu tentei não ser um peso total enquanto ele me ajudava a subir no muro, quando consegui imitei sua posição colocando uma perna em cada lado e fiquei em sua frente, seus olhos me analisaram atentamente e não pude afastar os meus dos seus, era tão errado isso, eu sabia o que significava o dia de hoje, inferno estávamos em um cemitério e tudo o que eu conseguia fazer era encarar Oliver. – Espere aqui. – Pediu antes de passar a perna para o outro lado e pular, olhei para baixo encontrando seus olhos novamente e suas mãos se erguendo indicando que eu confiasse nele, assenti e pulei caindo em seus braços, suas mãos envolvendo minha cintura com força, permanecendo ali mesmo não sendo mais necessário.

– Não faça isso. – Pedi percebendo que seu rosto se aproximava do meu, recuei saindo de seus braços.

– Por que não? – Perguntou decepcionado.

– Por que hoje é um dia triste. – Falei voltando a me aproximar dele e envolvendo meu braço no seu, mesmo tendo recuado antes eu sabia que ele permitiria isso. – Por que você está triste e acha que me beijar vai diminuir. – Conclui. Ele não deu uma resposta, sua mão apertou a minha e me encarou confuso.

– Está sem luvas. – Comentou percebendo isso tardiamente. – Você esqueceu novamente.

– Três anos fazendo isso e sempre tenho esperanças que não precise usa-las. – Dei de ombros. – Mas você também está sem. – Acrescentei.

– Eu não sou tão sensível ao frio. – Murmurou soltando minha mão e mexendo nos bolsos do seu casaco. – Aqui. – Entregou-me suas luvas. – Use-as.

– Oliver se você as trouxe é por que você sabia que em algum ponto iria precisar. – Murmurei negando.

– Sim. – Concordou. – Mas não para mim.

– Você as trouxe para mim? – Murmurei surpresa.

– Tem sido três anos. – Retrucou. – Coloque-as Felicity.

– Está bem. – Cedi. – Mas se você precisar...

– Não vou. – Negou. Suspirei resistindo à vontade de prolongar a discussão, mas optei por calçar as luvas em silêncio, quando terminei seu braço voltou a entrelaçar ao meu e sua mão envolveu a minha, passamos andar em silêncio. Desde que havia entrando estava ignorando o cenário ao redor por que eu odiava cemitérios, não havia muito pelo o que se gostar, olhar aqueles túmulos mesmo de relance fazia pensar em quantas famílias sofreram pela perda de seus entes queridos, a história que havia por trás de cada morte, a namorada que foi deixada esperando o próximo telefonema, o pai que havia ido comprar um presente para sua filha que havia passado na faculdade, o marido que estava trazendo flores, ou o irmão que estava levando sua namorada ao cinema e ambos sofreram um acidente. Foi isso que aconteceu com Roy e Thea.

Levantei meu rosto já esperando encontrar as três pessoas paradas diante o túmulo. Roy estava agachado em frente ao túmulo de Thea Queen enquanto Sara e Tommy estavam parados juntos, Sara estava abraçada ao braço de Tommy, seu olhar entretecido. Era difícil para cada um de nós. Roy é meu irmão e estava perdidamente apaixonado por Thea, eles tinham apenas 17 anos na época, muito jovens para saber o que é amor, mas afirmava firmemente que era isso que sentiam, e eu acreditava nisso. Nós conhecemos os Queen em nosso primeiro dia no novo colégio, apenas dois anos mais velha que Roy fiquei na sala de Oliver Queen enquanto ele estava na sala de Thea, ele caiu de amores por ela assim que a viu, mas era orgulhoso demais para admitir, ele a chamava de riquinha e a provocava, apenas no ano seguinte que fez seu movimento para chama-la para sair, eu em contrapartida sempre achei Oliver cativante e doce, mas igualmente inalcançável, ele namorava Laurel na época que não tinha gostado nem um pouco de nossa aproximação após Oliver ser obrigado a me mostrar o colégio, ele foi simpático e isso fez com eu mesma me abrisse com ele com facilidade. Oliver e eu viramos amigos enquanto Thea e Roy viraram namorados.

– Hey. – Murmurei quando paramos em frente à dupla. Tommy e Sara foi uma consequência da amizade com Oliver, eles eram ótimos e foi impossível não me deixar levar por suas brincadeiras e provocações. Sem soltar a mão de Oliver deixei que a outra alcançasse o ombro de Roy. Ambos foram os que mais sofreram com a morte de Thea, ambos ficaram destruídos e quase inacessíveis por dias. Roy sentia-se além de tudo culpado por estar vivo enquanto ela não, e Oliver culpava-se por não está lá, como se isso tivesse o poder de mudar algo.

– Odeio esse dia. – Escutei Tommy murmurar.

– Esse dia é uma droga. – Sara concordou. Encarei o perfil de Oliver enquanto ele seguia encarando a lápide, o semblante triste. Seu rosto se voltou para o meu e seus olhos entraram em contato com os meus, sua mão apertou a minha. Apenas uma leve pressão.

– Já foi pior. – Murmurou nos surpreendendo. – Eu sempre vou odiar esse dia. – Continuou. – Sempre será o dia em que perdi minha irmã, mas já foi pior, a dor nunca irá embora, mas está diminuindo. Um dia não teremos mais a necessidade vir aqui cedo pela manhã e pular aquele muro, um dia esse dia será apenas lembrado com tristeza, mas não com tanta dor.

– Um dia. – Concordei. Oliver assentiu com um sorriso triste.

– Um dia. – Repetiu. Passamos mais alguns minutos ali, Tommy quebrou o clima triste lembrando-se do dia em que Thea o fez com que ele falsificasse a assinatura do pai dela para que ela pudesse ir a uma viagem com sua turma, mas Oliver descobriu tudo e o pai deles parou o ônibus fazendo com que ela descesse cheia de vergonha de dentro do ônibus, eu estava nesse dia, à viagem envolvia várias salas e ela estava sentada ao meu lado, já que Sara estava com Tommy e Oliver com Laurel, Oliver pensava que o pai de concordado com a viagem até que Tommy confessou que não, não sabemos bem o que Thea falou ao seu pai, mas ela voltou ao ônibus com um enorme sorriso e um novo termo assinado por ele, provocou o irmão afirmando que Oliver não tinha conseguido acabar com seus planos dessa vez e o próprio Oliver segurou um sorriso quando a escutou.

Cada um acabou trazendo novas histórias, inclusive Roy que se sentou no chão juntando-se a nós formando um circulo, um a um contou uma das peraltices de Thea e acabamos em meio a risos e lágrimas, quando percebemos que ela não poderia mais aprontar nada, ainda com pesar fizemos nosso caminho de volta. Roy sempre era o primeiro a chegar, seguido de Tommy, Sara e finalmente Oliver e eu, mas sempre voltávamos juntos. Quando já estávamos do outro lado do muro Tommy e Sara se despediram, Roy foi embora sem mais nenhuma palavra, restando apenas eu e Oliver.

– Você quer voltar para casa? – Perguntei ainda encarando Tommy e Sara se afastando. Oliver ainda morava com os pais, mas seus pais se retraiam nesse dia, eu já sabia a resposta para essa pergunta, mas sempre a perguntava.

– Não. – O fitei observando-o menear a cabeça em negativa. – Posso ir para a sua? – Assenti concordando, Roy não voltaria para casa, esse era seu modo de agir, e minha mãe já devia ter ido trabalhar a essa hora, em teoria eu, Sara, Tommy e Oliver estávamos faltando a nossas aulas da faculdade, mas não nos importávamos, voltei a envolver seu braço com o meu e caminhamos até em casa, quando chegamos fechei a porta e observei Oliver subir as escadas sem cerimônia, o acompanhei até chegarmos em meu quarto, ele tirou o casaco pesado e os sapatos e se deitou em minha cama, imitei seu gesto livrando-me das luvas, casaco e botas e deitei na cama ficando em sua frente, seus olhos me encaravam com intensidade.

–Você está certa. – Falou de repente.

– Como? – Perguntei confusa.

– Eu estou triste e acho que te beijar vai diminuir. – Explicou-me. – Por que eu sei que vai, você me faz feliz Felicity, mesmo nos dias em que eu não deveria ser, eu vou te beijar. – Murmurou me surpreendendo. – Não hoje, mas eu vou te beijar, por que já passou da hora, você e eu já deveríamos estar juntos, eu não acredito nessa coisa de amigo, não mais, não com você. Então eu quero apenas que você esteja ciente. Eu vou te beijar, não hoje, mas eu vou te beijar. – Prometeu. Sorri com o que disse.

– Um dia. – Murmurei.

– Um dia. – Repetiu antes envolver minha cintura e me aproximar mais para si, minha cabeça encostando-se ao seu peito enquanto a sua apoiava-se a minha, sua mão alcançou a minha a erguendo e entrelaçando meus dedos aos seus. – Não estão mais frios. – Comentou.

– Oliver. – Murmurei contra seu peito.

– Hum? – Senti o vibrar de sua voz.

– “Um dia” pode ser amanhã. – Murmurei antes de fechar os olhos concentrando-me apenas no pulsar constante do seu coração.

– Então vai ser. – Sua resposta foi à última coisa que escutei antes de cair no sono, tendo como último pensamento o quanto eu estava ansiosa por amanhã.


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Notas finais do capítulo

Não pude revisar, então desculpe qualquer errinho.. Espero que gostem e nos vemos nos comentários... Xoxo LelahBallu



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