Nightmares Come True escrita por Polo


Capítulo 4
Lilo e Stitch


Notas iniciais do capítulo

Eu queria aproveitar para agradecer a todos os comentários e a todas as pessoas que estão seguindo e que favoritaram a minha história. Vocês não sabem o quanto isso me deixa feliz.



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Nós três já estávamos na estrada a tanto tempo que meus pés já estavam começando a me machucar, mesmo assim, fiquei quieta. Eu não queria ser um estorvo mais uma vez. Minha irmã mais velha, Nani, andava na frente e no meio do asfalto. Seu cabelo negro era arrastado junto com o vento e ela olhava para todos os lados, eu não sabia o que ela tanto procurava. O terceiro integrante do nosso grupo era o meu cachorro, Stitch, que andava sempre ao meu lado. Ele não era igual a todos os outros cachorros, Nani me dizia que isso era besteira da minha cabeça, mas eu sabia que era verdade. Pra começar, o pelo do Stitch era azul, e como se isso não fosse estranho o bastante, ele ainda parecia consciente de tudo que estava acontecendo com o mundo. Além disso, ele parecia entender tudo o que eu dizia pra ele e, mesmo que Nani não saiba, ele já salvou a minha vida.

Eu sempre fui solitária, as outras garotas da minha idade me tratavam mal e eu, sinceramente, nunca consegui entender o motivo. Nani, como sempre, percebeu a minha tristeza e teve a brilhante ideia de adotar um novo amigo para mim. E então, nós duas fomos à carrocinha e lá eu encontrei o cachorro mais estranho que eu já tinha visto. Ele era totalmente diferente do resto e os outros cachorros pareciam evita-lo, naquele momento eu soube que aquele seria o meu melhor amigo, eu me via em Stitch.

Esse fato aconteceu há alguns meses atrás, mas agora me parecia uma vida inteira de distância. Eu me lembro de quando tudo começou para mim. Eu estava sentada do lado de fora da casa onde eu fazia dança esperando a aula começar, as outras meninas deveriam estar lá dentro falando mal de mim ou conversando sobre algum assunto bobo, eu estava escutando a minha playlist do velho rei do Rock no meu Ipod. Eu simplesmente amava as músicas do Elvis, me faziam me sentir melhor e esquecer os meus problemas. Então, quando começou a tocar Blue Suede Shoes eu simplesmente não consegui me controlar e me levantei para dançar. Despreocupada, eu balançava a minha pélvis enquanto aproveitava um pouco de música boa, hoje eu sinto muita falta de poder fazer uma coisa idiota como essa.

Eu estava tão distraída que não havia escutado os gritos que vieram de dentro da casa. E eu estava tão absorta em minha própria dança que nem percebi que Mertle Edmonds se aproximavam de mim. Mertle, entre todas as outras garotas, era a mais cruel comigo, porém dessa vez Mertle não era mais cruel. Ela se aproximava com sua usual roupa de hula, seus óculos estavam quebrados e seu cabelo ruivo agora estava mais bagunçado que nunca, sua carne estava podre e suas tripas estavam expostas. Porém eu não a via, inocente, eu, de olhos fechados, apenas ouvia a voz apaixonante de Elvis Presley. Quando eu, finalmente, abri os meus olhos, uma Mertle morta se jogava em cima de mim. Eu caí com tudo no chão, meu Ipod se quebrou com a queda, e a garota má que sempre me tratou mal agora estava em cima de mim tentando me morder. Eu teria morrido naquele exato momento se não fosse por Stitch.

Vindo de sabe-se-lá-da-onde, o meu cachorro saltou em cima da morta que me ameaçava e rolou com ela. A cena era surreal, a valentona tentava agarrar Stitch, mas o cão de pelagem azul era rápido demais e, depois de algum tempo ele começou a morder a cabeça da garota. Quando eu consegui processar o que estava acontecendo, o meu cachorro havia aberto a cabeça de Mertle e começou a morder uma massa cinzenta que eu identifiquei como o cérebro da garota. Virei-me para o lado enojado, eu odiava Mertle, mas eu não conseguia assistir aquilo. Depois de mais algum tempo, Stitch terminou o seu trabalho. Assustada, me levantei para longe de Stitch. Ele apenas me observava, sua expressão me parecia tristeza.

– Que porra é você? – Eu chorava e me tremia, o focinho de Stitch estava sujo de sangue e isso me causava náuseas – Qual é o seu problema, Stitch?

Stitch apenas me olhava. Dessa vez eu notava algo diferente em sua fisionomia, eu percebia um olhar mais inteligente nele, era como se ele pudesse entender como eu me sentia no momento. Porém, não tive muito tempo para ficar assustada, no mesmo momento mais garotas mortas com roupa de hula apareceram em meu encalço. Corri institivamente e Stich veio atrás de mim. Eu estava bastante assustada e confusa e não percebia para onde eu corria, eu apenas corria. E corri por tanto tempo que eu me perdi. Para onde eu olhava na cidade, mais daquelas pessoas mortas apareciam e iam, vagarosamente, atrás de mim. Eu só parei quando, já anoitecendo, cheguei a um matagal perto da praia e me escondi entre as suas árvores. Stich, como sempre, estava do meu lado.

Eu estava totalmente atordoada depois de todos os eventos que se seguiram. De repente, todos os meus sentimentos vieram à tona. Minha cabeça estava a mil, eu estava apavorada, nunca havia visto alguém morrer na minha frente, ainda mais de uma forma tão brutal. Eu queria entender o que estava acontecendo ao meu redor, mas eu não conseguia, eu era apenas uma garota de dezesseis anos que chorava na floresta, escondida, apenas com o meu cachorro assassino. Olhei para Stich e ele continuava a me olhar profundamente, como se tentasse me consolar, mas não conseguisse pronunciar uma palavra. Comecei a rever a cena que havia acontecido mais cedo na minha cabeça várias e várias vezes. Eu não entendia o motivo, mas sabia que Mertle estava querendo me matar, se o meu cachorro azul não tivesse chegado para intervir, eu provavelmente não existiria mais. Logo depois me senti triste por não ter sido grata a quem havia salvado a minha vida.

– Você sabe que meus pais morreram em um acidente de carro quando eu era bem pequena, não é Stitch? – Eu disse olhando para o chão – Mas eu nunca os esqueci, de alguma forma eles sempre estiveram comigo. Bem, eu me lembro de que uma vez a minha mãe chamou eu e a Nani para o quarto dela e nos explicou o significado da palavra Ohana.

Os olhos atentos de Stich me fitavam na escuridão.

– Ohana quer dizer família – Eu disse me lembrando exatamente o que minha mãe havia me dito naquela noite – E família... Família quer dizer nunca mais esquecer... Ou abandonar – Eu agora chorava freneticamente e abraçava o meu cachorro, o seu coração estava acelerado – E você faz parte da minha Ohana, eu te amo, Stich!

E então nós dois ficamos sozinhos naquela mata pelo que me pareceu uma eternidade. Ás vezes eu escutava alguns barulhos de galhos se quebrando e de ruídos que me davam calafrios. Sempre que isso acontecia, Stich desaparecia na escuridão e só aparecia minutos depois com a boca ensanguentada. Porém, já quase amanhecendo, escutei alguns barulhos e dessa vez Stich não foi averiguar. Na verdade, ele me parecia bastante animado. Eu estava assustada e só consegui relaxar quando vi quem era por trás das árvores.

Era Nani e David, o seu namorado. Eu fiquei tão feliz que não pude me conter, a abracei com todas as forças que restavam em minha alma. Desde a morte dos nossos pais, eu vi Nani se transformar de uma adolescente comum a uma mulher responsável que sempre esteve lá para me proteger. Ela teve que crescer muito rápido e, mesmo que ela me parecesse mandona ás vezes, eu a amava, ela era a minha Ohana também. Também fiquei muito feliz em ver David, ele fazia a minha irmã feliz e parecia estar disposto a carregar o mundo junto com ela. Lá estávamos nós, eu e as duas pessoas (e o cachorro azul) que eu mais amava em todo o universo. Mesmo com o mundo estando o caos lá fora, eu nunca havia me sentido tão em paz.

O tempo passou, mas nós continuávamos juntos, um ajudando o outro. De vez em quando encontrávamos algum lugar seguro para ficar e lá permanecíamos até sentirmos que era a hora de seguir em frente. Eu tentei explicar para Nani o que Stich havia feito, mas ela afirmava que eu estava exagerando e que era tudo coisa da minha cabeça. Depois, de algum tempo fui começando a acreditar no que a minha irmã dizia, era realmente um absurdo o que havia acontecido. Mesmo com as dificuldades e com a possibilidade de ser atacado por um morto, eu estava relativamente bem e conseguia me divertir de vez em quando. Lembro-me de uma noite onde nós quatro estávamos acampados em algum ponto de uma floresta qualquer. Havia sido um dia difícil.

– E então? – David disse quebrando o silêncio – Do que vocês sentem mais falta da época quando o mundo ainda fazia sentido?

– Do meu Ipod – Eu disse sem nenhuma sombra de dúvidas enquanto fazia cafuné em Stitch – Ah, o que eu daria para poder ouvir mais daquela voz deliciosa do Elvis... Também sinto saudades da Xepa.

– Da Xepa? – Nani gargalhou alto como eu nunca havia visto desde quando o fim do mundo começou – Aquela boneca era horrível e me dava arrepios, uma das coisas boas de tudo isso é que eu nunca mais precisei olhar para aquela coisa.

– Nani, não fale assim dela! – Eu disse, fingindo está muito afetada com as suas palavras – David, me ajude aqui!

– Desculpa, Lilo! – O jovem disse sorrindo – Mas, eu sou obrigado a concordar com a Nani. Os tais mortos que andam são bem menos assustadores que aquela boneca!

Todos nós rimos e naquela noite eu pude dormir embalada por um dueto de Nani e David que estavam cantando os maiores sucessos do Rei do Rock. Stitch dormia ao meu lado e eu dormir sem nem imaginar o que o outro dia me reservava.

O dia havia amanhecido como todos os outros, mas havia algo de errado. Nani, desde aquele dia, começou a olha para todos os lados quando estávamos na estrada. David havia sumido, de repente, sem explicação. Uma hora nós estávamos rindo e festejando e em outra ele não estava mais entre nós. Eu e Stitch tentamos consolar Nani, mas ela não demostrava nenhum sentimento. Ela ficava calada por horas e se preocupava com qualquer possível ameaça que podíamos estar expostos. Ela não iria demonstrar fraqueza, ela estaria lá por mim como já esteve antes. Ela sofria, eu sabia disso, mas ela não aparentava isso por mim. Essa é a minha irmã mais velha e eu amo tanto por tudo que ela já fez por mim.

Tropecei em uma parte do asfalto que estava solto e voltei para o tempo presente. Nani ia à frente e Stich ia ao meu lado, o dia estava amanhecendo. Alguns mortos apareciam e era Nani, sempre, que ia mata-los. Não que eu não conseguisse tirar a vida de quem não a possui mais, mas eu julgava que, nesse momento, ela estava precisando descontar tudo o que estava sentindo em alguma coisa. Stitch não usava o seu extinto assassino na frente da Nani por razões que simplesmente eram misteriosas para mim.

Suavemente, eu escutei ruídos ao longe. Porém, dessa vez eles não vinham da terra como nós já estávamos acostumadas, vinham do céu. E o barulho foi aumentando até tomar forma de algo que eu já havia me esquecido do som. Era um helicóptero. Nani veio para perto de onde eu tava e me abraçou, o veículo pousou alguns metros a nossa frente na estrada. Quando as portas negras do helicóptero se abriram, um homem pulou de dentro dele.

Era um homem negro e musculoso. Usava óculos escuros, terno e roupas sociais. Tinha uma fisionomia de quem tinha poucos amigos. Não pude deixar de sorrir quando notei que ele não tinha sobrancelhas usava um brinco de argola em cada orelha. Sem entender o motivo, eu senti que podia confiar naquele homem misterioso.

– Meu nome é Cobra Bubbles – O homem falou com uma voz grossa e imponente – E eu sei que vocês já passaram por muita coisa. Viemos aqui para transferir vocês duas e o Experimento 626 para uma base militar. Não se preocupem, vocês estão seguras.


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Notas finais do capítulo

Vocês ainda não sabem o quanto o desenrolar da história da Lilo e do Stitch vai ser importante para essa fic. Mas posso garantir que haverão muitas surpresas por aí. Bem, próxima semana um dos nossos antigos narradores irá voltar para contar como anda a sua vida. Será o corajoso Peter Pan? A atrapalhada Ariel? O desalmado Hades? Ou será que a história da garota que ama as músicas do Rei do Rock terá a sua continuação mais cedo que o esperado? Sábado você terá a sua resposta.

De resto, comentem porque são os comentários que mais me dão vontade de continuar escrevendo. Acho que é isso por hoje, abraços, Polo.