Nightmares Come True escrita por Polo


Capítulo 3
Hades


Notas iniciais do capítulo

Eu já vou avisando, o capítulo que você está prestes a ler é bem mais pesado que os outros dois que foram apresentados anteriormente. Hades é uma pessoa ruim, que acredito eu, seriam muito comuns em um universo como o de Nightmares Come True. O aviso foi dado, boa leitura.



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Éramos como duas feras se atracando e devorando cada resto de inocência que ainda poderia haver em nossas carnes impuras. Ela não dizia nada, e nem me olhava nos olhos, mas eu sabia que ela estava gostando. Seu cabelo castanho e encaracolado se espalhava pelo chão, pensei ter escutados soluços por trás de seus cachos, mas afastei essa ideia. Mégara me amava, e se não o fizesse ainda, iria aprender a fazê-lo.

– Eu tenho a sua alma - Sussurrei no ouvido da garota que eu dominava com toda a minha paixão - Você é minha.

Sem respostas do outro lado. Não entendia o seu silêncio até que me dei conta que ela era quem tinha entendido tudo. Não éramos humanos, éramos feras, trepávamos em uma jaula que antes era reservada para uma família de jaguares. Agora nós éramos o espetáculo, pena que havia apenas um telespectador nos observando. Era um homem triste que olhava para nossa performance com um olhar vazio e uma expressão sombria. Eu ria do homem triste, talvez fosse essa a sensação de todas as feras que habitaram o Zoológico Olimpo antes dos mortos voltarem a vida, elas tinham pena de toda a sua plateia que as observava.

Eu e Mégara continuamos até eu me satisfazer por completo. Dei um grito selvagem e ela caiu cansada no chão. Acariciei os seus cabelos e a virei de frente para mim. Ela era tão linda. Sua boca carnuda tremia, e sua expressão acentuava as suas maçãs do rosto, seus peitos estavam enrijecidos, mas o que mais me chamava a atenção era o seu olhar. Seus olhos me revelavam uma força que apenas me fazia ficar cada vez mais louco por ela. Havia tanta dor e tanta beleza escondida naqueles olhos azuis, quase roxos, que me varriam a alma.

– Meg, me escuta - A voz do homem triste da jaula em frente a nossa pôde-se fazer ouvir - Eu te amo, independente do que acontecer comigo, eu sempre a amarei. E por causa disso eu te peço... - O ser patético agora estava chorando - ... Eu te imploro que pare.

– Adônis...

– Altruísmo - Eu comentei em voz alta enquanto vestia os meus jeans - Agora entendo o que você viu nele, Meg - Ri sarcasticamente - Porém, o nosso acordo continua em pé.

– Uma alma por outra, eu sei – Mégara concluiu com um tom melancólico – Se eu for, ele morre.

Eu disse que ficava feliz por ela ter entendido e dei um beijo na cabeça dela. Resolvi deixa-la um pouco sozinha e pedi para que Pânico, um dos meus velhos companheiros que me ajudaram a conquistar o Zoológico, abrir a jaula para que eu pudesse sair. Agonia e Pânico eram quem faziam o nosso lar funcionar, mesmo eles sendo muito atrapalhados e mesmo que lhes faltassem massa cinzenta, eles eram úteis.

– Senhor, nós temos um problema – Pânico, um homem magro, de cabelos loiros e com um nariz proeminente falou com sua típica voz fanha enquanto eu pulava da jaula de Mégara – O homem que nós não sabemos o nome, o que está na jaula das aves, está piorando a cada dia.

– Você está falando do Galinho Chicken Little? – Ri do apelido que nós tínhamos dado para o nosso prisioneiro – O que aquele louco está dizendo agora?

– Anda dizendo que o céu está caindo – Pânico disse enquanto tropeçava em uma pedra – O que nós devemos fazer a respeito?

– Mate-o – Falei chegando a uma simples conclusão - A nossa atração principal anda precisando de comida, e se eu me lembro bem, ela adora um ensopado de frango.

Pânico concordou com a cabeça em afirmação e correu em direção à jaula das aves que ficava do outro lado do zoológico. Caminhei sozinho por um bom tempo admirando o lugar que eu havia erguido. Na verdade, o Zoológico Olimpo, e todas as suas franquias, pertencia ao meu irmão mais novo, Zeus. Desde pequeno ele havia sido paparicado pelos nossos pais. “Olha como Zeus é forte” eles diziam, “E como ele é esperto, um dia ele irá me substituir no Olimpo” meu pai disse em uma ocasião. Mas eles se esqueciam de que eu escutava tudo e avaliava cada coisa que eles falavam. Eu era um antissocial, um garoto problema com cabelos azuis e pele quase cinzenta. Me afastei de casa e me associei a pessoas como Agonia e Pânico, em pouco tempo eu me tornei o rei do submundo, enquanto isso, depois da morte do nosso pai, Zeus subia ao Olimpo. Ele expandiu os negócios e virou dono de um império, era o orgulho da família. Mas então, tudo mudou. Os mortos subiram a superfície e os demônios que vivem dentro de nós também se tornaram mais evidentes.

Zeus, infelizmente, não durou muito nesse mundo tão caótico. Mas, o Olimpo não ficou muito tempo sem ter alguém para comandá-lo. Eu e meus dois companheiros subimos aos céus e encontramos um lugar perfeito para nos abrigar dos mortos. Havia comida de todos os tipos, desde coelhos a leões, nosso paladar nunca fora tão refinado quanto nos primeiros meses em que ficamos lá. Porém, com o passar do tempo, nós três começamos a nos sentir muito sozinhos, estávamos precisando de mais contato humano. Espalhamos avisos sobre um lugar seguro por todos os arredores do zoológico. E depois disso, nunca mais nos sentimos sozinhos. De primeira, três belas jovens haviam atendido ao chamado, seus nomes eram Branca, Cinderela e Aurora. De início tentamos conviver com elas, mas depois notamos que elas não estavam muito interessadas no que nós estávamos interessados, então nos sentimos obrigados a tomar uma decisão. Prendemos as três “princesas” em suas devidas jaulas e nós aproveitávamos delas quando nos sentíamos com vontade. Elas se debatiam muito, então Pânico teve a brilhante ideia de utilizar das maçãs com sonífero que antes eram utilizadas com os animais com as nossas novas convidadas.

Pouco tempo depois, o Olimpo se tornara um zoológico humano. Alguns machos eram mantidos para entreter Agonia, que tinha um gosto mais variado, mas as fêmeas eram a atração principal. E Mégara era, entre todas, a minha favorita. Ela e o noivo haviam chegado procurando refúgio e desde e o primeiro momento, ela era minha. Disse para Agonia e Pânico que eles poderiam usufruir todas as nossas atrações, menos Mégara, ela era minha.

Eu estava tão perdido em meus pensamentos que não percebi o homem gordo e de pele vermelha que se aproximava de mim. Era Agonia, ele deveria ter algum problema para eu resolver.

– Hades, meu velho, temos um problema - O homem estava suando - A casa de máquinas está com a pressão muito elevada, eu tentei concertar, mas estava tão quente que...

– Entendi – Eu disse dando as costas para Agonia e me dirigindo até a casa de máquinas – Eu resolvo isso.

O calor nunca havia me incomodado de verdade, eu sempre tive certa resistência ao calor, nos meus tempos de “rei do submundo” eu costumava utilizar o meu lança-chamas para queimar aqueles que mereciam. Embora as chamas não fossem tão úteis contra os mortos, era uma ótima maneira de proporcionar agonizantes últimos momentos para os vivos. Adentrei na casa de máquinas que era um espaço bastante apertado e claustrofóbico, meu querido lança-chamas estava em uma mesa, e lá era perceptível um cheiro bastante desagradável de gás. Identifiquei o problema que Agonia tinha me falado logo de cara, uma válvula estava soltando um gás estranho e um dos resistores soltava faíscas, me dirigi até o armário de ferramentas e peguei o que era necessário para concertar o defeito da máquina. O trabalho era exaustivo, mas eu estava acostumado com isso, alguns minutos eu pude ouvir passos se aproximando de onde eu estava.

– Agonia, não me confunda com um dos viados que você come – Eu disse brincando enquanto apertava um parafuso – Eu, acho que isso deve dá, estava com um curto-circuito, mas eu já resolvi.

Porém, não era Agonia que estava atrás de mim. Um braço envolveu o meu pescoço e começou a apertar. Eu tentava me debater, mas o braço apertava cada vez mais forte e eu estava começando a ficar sem fôlego. A sala de máquinas agora girava e a minha visão ia ficando cada vez mais escura, eu tateava o chão na esperança de encontrar algo que pudesse ser a minha salvação. E encontrei. Peguei a chave de fenda que eu estava usando antes e golpeei a cabeça do meu agressor com ela. Pude ouvir o impacto do meu golpe em seu crânio, o homem misterioso foi obrigado a me soltar. Eu estava, embora meio sem fôlego, completamente furioso. Dei um soco em seu rosto e só em tão me dei conta de quem era.

Era Adônis, o noivo de Mégara, sua cabeça estava sangrando e ele a segurava com força, pois devia estar sentindo muita dor. Seu longo cabelo loiro caia sobre seu ombro bronzeado e seus olhos verdes e frios me olhavam furiosos. Naquele exato momento eu tive a certeza que apenas um de nós ia sair vivo da casa das máquinas. Avançamos um contra o outro, um festival de socos e chutes se seguiu. Ele me atingiu uma vez na nuca e isso me deixou um pouco zonzo, mas eu estava munido com uma chave de fenda e os meus golpes eram mais eficazes. Depois de desferir mais alguns golpes em sua cabeça, Adônis caiu no chão e eu tive a certeza que eu o venceria.

– Eu te odeio... – Ele me disse me olhando nos olhos, agora ele cuspia sangue -... Eu te odeio tanto. E Mégara também, você não vê, Hades? Você é digno de pena. Pensa que é um deus, mas não passa de um verme. Você vai queimar no inferno.

Olhei por um tempo para o rosto sangrento do homem triste que me observava e depois dei meia volta em direção à mesa que estava na sala. “Era uma ótima maneira de proporcionar agonizantes últimos momentos para os vivos”, pensei em quanto pegava o meu querido lança-chamas. O expus para Adônis que agora parecia está desacordado, mas eu sabia que não estava, e me aproximei dele. Fiquei de joelhos ao seu lado e sussurrei as últimas palavras que ele ouviu em vida.

– Essa é a minha intensão.

...

O corpo queimado de Adônis agora jazia dentro do saco negro que eu carregava em direção da zona proibida do Zoológico Olimpo. Ele pesava menos do que aparentava, mas eu estava cansado após a luta e a caminhada da casa das máquinas até a zona proibida. Cheguei a tempo de impedir que Pânico atirasse na cabeça do Galinho Chicken Little.

– Deixa pra lá, demônio – Eu disse me dirigindo a porta que ficava no fundo da zona – Eu arranjei comida para a nossa atração principal.

Pânico foi embora levando o garoto míope com ele, o Galinho ficava repetindo coisas sem sentido sobre o céu, mas achei melhor ignorar isso. Continuei o meu caminho e abri a pesada porta vermelha. A porta dava para uma escada escura que levava até o subterrâneo. Deixei o saco rolar escada abaixo e, depois de trancar a porta, desci as escadas. Tudo naquele lugar fedia e mal dava para ver nada, tirei uma teia de aranha do meu rosto quando cheguei à sala.

Estava tudo escuro e o único barulho que se escutava era de um morto que eu havia prendido nesse lugar há alguns meses atrás. Ele havia sido melhor que eu por toda a sua vida, mas em sua morte não era nada além do meu animal de estimação. Pessoalmente, acho que ele estava bem melhor agora.

– Trouxe o seu lanche – Eu disse na escuridão – Irmão.


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Notas finais do capítulo

Quais são os reais vilões dessa história? Os zumbis ou os próprios seres humanos que viram no fim do mundo uma desculpa para soltar todos os seus demônios? Em um mundo onde a moralidade é questionada todos os dias não é difícil de imaginar pessoas como Hades por aí. Porém, em algum outro lugar haveriam pessoas que passariam de "Zero à Herói" e que, em meio ao fim do mundo, suas melhores qualidades se tornariam mais evidentes.
Próxima semana tem mais, deixe seu comentário sobre o que achou do capítulo, eu realmente gosto de ver o que você está achando. Abraços, Polo.

(Bora comentar cambada!!! kkkkkkkk, são os comentários que me dão mais vontade de continuar, fica a dica)