Nightmares Come True escrita por Polo


Capítulo 5
Sebastião


Notas iniciais do capítulo

Ariel está de volta, senhoras e senhores! É a primeira vez que um personagem retorna a narrar um capítulo e espero fazer isso mais vezes. Mais uma vez, eu quero dedicar esse capítulo a todos os que comentam e favoritam essa história, vocês são incríveis!



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Talvez, entre todas as pessoas do mundo, quem eu menos esperava encontrar vivo depois de meses de apocalipse era o meu professor de biologia, Arquimedes Porter. Mas lá estava o homem de estatura baixa e bigodes exageradamente grandes sentado ao lado do assento do motorista. O Land Rover em que eu estava viajava a 80 Km/h. Haviam mais duas pessoas no carro além de mim e do Professor Porter. Quem estava dirigindo o carro era Clayton, um homem forte e de meia idade, minha intuição sempre me disse para me afastar desse homem, havia algo nele que me inspirava desconfiança. Ao meu lado, no banco traseiro, estava a filha do meu professor de biologia, Jane Porter. Era uma garota bonita e um pouco mais velha que eu, tinha lindos olhos azuis e um cabelo castanho liso que estava preso em um coque.

Estávamos indo em direção ao bosque mais próximo e seria ali onde eu me despediria dos meus parceiros de viagem. Eu havia usado essa tática de sobrevivência desde o acidente da Rua Tesouro, me juntava a um grupo de pessoas e permanecia junta a eles até o momento que eles tomavam uma decisão que não me parecia boa. Por exemplo, meu primeiro grupo foi com outras três garotas que eu encontrei na estrada, Branca, Aurora e Cinderela, formávamos uma boa equipe. Porém, um dia nos deparamos com anúncios de um zoológico onde poderíamos ficar seguras, as três ficaram bastante animadas, mas eu tentei alertar que não era uma boa ideia. Elas foram e eu fiquei para trás, semanas depois eu ouvi boatos que aquele zoológico era um lugar onde mantinham escravos sexuais, me senti mal pelas minhas companheiras, mas desde então aprendi a confiar na minha intuição.

O Professor Porter estava interessado em ir para o bosque para estudar os tubarões, ou gorilas como ele chamava, e possibilitar a fabricação de uma cura. Ele era o gênio, em minha opinião, não era a toa que ele lecionava na maior escola da cidade Litoral. Porém, eu simplesmente não conseguia acreditar que todo aquele sofrimento um dia teria fim. Depois de ter visto a toda a minha família e o Jim terem sido vítimas dessa realidade, acreditar em uma cura milagrosa desenvolvida no bosque me parecia agora só um conto de fada agora.

– Ariel, já estamos chegando - Jane me disse gentilmente colocando sua mão em meu ombro - Você tem mesmo certeza que quer seguir sozinha a partir de agora? Quer dizer, eu sei que você é esplêndida matando os gorilas, mas convenhamos... O mundo lá fora é tão...

– Jane, eu vou ficar bem - Eu sorri para a garota, o jeito que ela falava era sofisticado, havia herdado isso do pai - Quer dizer, mais ou menos, vou sentir muito a sua falta.

– Ruivinha... - Jane não queria demonstrar que estava com os olhos cheios de água e então virou seu rosto para a janela - ... Eu também vou sentir a sua...

Abraçamo-nos por uma última vez, me despedi do Professor Porter e lhe desejei boa sorte com o seu projeto, o Sr. Clayton parou o carro e eu finalmente desci da Land Rover. Mais uma vez, era apenas eu contra o mundo. De companhia, apenas a minha mochila e uma sensação de alerta permanente. Observei o carro prata se afastar cada vez mais pelo caminho de terra e dei um suspiro. "Você está fazendo a coisa certa, Ariel" pensei "Pelo menos eu acho que sim...".

Dei uma olhada a minha volta. Eu estava sozinha no meio do nada. Havia mato por todos os lados e única visão que eu tinha de civilização era um posto de gasolina abandonado há uns duzentos metros de distância. Do lado do posto havia uma loja de conveniência, o que era um bom sinal. Dentro da minha mochila havia o bastante para sobreviver por alguns dias, mas um pouco mais de comida nunca faria mal. Tirei um bastão de basebol da mochila e comecei a caminhar cautelosamente até o posto. Pelo trajeto inteiro eu ficava alerta a qualquer sinal de um tubarão a vista. Na metade do caminho pensei ter ouvido algo, mas eram apenas dois esquilos passando correndo, cheguei intacta ao meu objetivo.

O posto de gasolina parecia um daqueles cenários clássicos de filmes de suspense. Estava totalmente abandonado e não se ouvia um barulho por perto. A loja de conveniência ficava nos fundos e na porta de vidro podia se ler a placa que estava escrito "Aberto". Me aproximei da entrada e abri a porta, uma campainha tocou automaticamente anunciando a minha chegada, esperei alguns segundos pela vinda de um tubarão, mas felizmente, não havia ninguém dentro da loja.

"Pelo menos ninguém morto" Foi o que eu pensei ao notar o homem sentado atrás do balcão. Ele sorria para mim me apresentando os seus muitos dentes. Era um homem careca e de meia idade, com pele vermelha de tão bronzeada, e com um queixo proeminente. Estava usando roupas vermelhas e floridas em estilo havaiano.

– Seja bem-vinda ao Market - O homem disse com uma voz grossa e melodiosa - como posso lhe ser útil?

Não consegui me segurar e ri daquela situação. Era simplesmente improvável, um homem que ainda se comportava como se ainda vivêssemos em um mundo onde qualquer coisa fazia sentido. Eu não conseguia parar de gargalhar, estava começando a me sentir constrangida por isso.

– O que houve? - O balconista perguntou confuso - Eu disse alguma coisa engraçada? Você é bem estranha, sabia?

– Ah, eu sou estranha agora? - Eu perguntei enxugando as lágrimas de alegria do meu rosto - Olha só para você! Você não sabe o que está acontecendo, sabe?

– É evidente que eu sei, garota - O homem disse um pouco impaciente - Os mortos voltaram. Os vivos se tornaram uns monstros. O mundo humano se tornou uma bagunça. Sim, e daí?

– Daí... - Eu respondi não conseguindo acreditar no que aquele homem vermelho estava me dizendo - ... Daí que as pessoas não ficam mais atrás de balcões - E então eu dei meia volta e fui dar uma olhada nas prateleiras - De qualquer forma, vim aqui por suprimentos.

– Você quis dizer comida, certo? - O vendedor disse - Ótimo, dê uma olhada pela loja. Por você ter sido a primeira visitante em muito tempo, eu vou te dar um desconto no preço.

– Preço?! - Eu falei, claramente confusa - Mas eu não trouxe nenhum dinheiro! Ninguém mais anda com dinheiro!

– Então o que você veio fazer aqui? - O vendedor disse com um pouco de irritação em sua voz - Você não é uma ladra, é?

Eu era. Assim como todas as pessoas que havia encontrado em minha viagem, para sobrevivermos tivemos que fazer coisas que iam contra tudo o que acreditávamos e colocamos a nossa própria moral em cheque. Porém, aquele homem era diferente, ele ainda parecia preso ao mundo de antes. Tudo o que ele dizia me deixava cada vez mais confusa, tudo tinha sentido e lógica, mas não era em um mundo com lógica que eu vivia agora. O vendedor me olhava atentamente e, de repente, pareceu se lembrar de algo muito importante.

– Espera, garota... - O homem vermelho disse, agora com um aspecto mais sério - ... De onde você é?

– Da Cidade Litoral - Eu respondi, desconfiada - Por que você quer saber?

– Da Cidade Litoral... Será possível? - O homem parecia perdido em seus pensamentos - Você... Você conhece o Capitão Tritão? O rei dos mares?

– Conheço - Respondi, meu pai, quando vivo, era o capitão de um barco, entre todos os barcos de pesca, o dele era o mais veloz, isso o fez ganhar o apelido de Rei dos Mares - É o meu pai, por que?

O homem gritou pulando do balcão e correndo para me dar um abraço - Como você cresceu! Lembra de mim?

– Eu... - Falei um pouco zonza, mas não consegui parar de sorrir, eu sentia que podia confiar naquele homem - ... Deveria?

– Claro que sim! - Ele me disse, ainda muito sorridente - Eu sou o seu padrinho! Sebastião!

As horas que se passaram foram bastante animadas, depois de convencer Sebastião a me ajudar a colocar algo pesado na porta para impedir tubarões de entrarem na loja, conversamos bastante. Ele me contou que ele foi o primeiro imediato do meu pai e os dois já viveram muitas aventuras juntos, fiquei triste a ter que contar o que houve com o Rei dos Mares e com as minhas seis irmãs. Sebastião me pareceu triste, mas não surpreso, suspeitei disso, mas resolvi deixar pra lá. Vai saber, a minha intuição não devia estar sempre certa. Conversamos por horas e Sebastião me mostrou que era um excelente cantor.

– Eu me lembro de uma música que a Athena, a sua mãe, cantava quando você era pequena - Sebastião disse enquanto abria um pacote de batatas fritas, o dia estava começando a escurecer lá fora - Se chama "Aqui no Mar", você se lembra? - Sebastião começou a cantar, eu não me lembrava da letra, mas me recordava brevemente da melodia, era uma música linda que falava sobre amar o lugar de onde viemos e a ser feliz com o que a gente tem. Comecei a pensar na Cidade Litoral e em todos os que eu já havia visto sofrer. Meu pai, Attina, Alana, Adella, Aquata, Arista, Andrina, Jim, Linguado (seja lá onde ele esteja), Branca, Cinderela, Aurora... As lágrimas simplesmente rolaram na minha face e eu comecei a chorar como uma criança - Oh, Ariel, me desculpa!

O meu padrinho me abraçou mais uma vez e eu senti uma sensação esquisita em meu peito, eu tinha um novo alguém, alguém com quem me importar. Podia ser um homem de meia idade que não entendia os perigos da nossa nova realidade, mas ele era alguém. Eu me sentia bem com Sebastião, e pela primeira vez em muito tempo, eu não me sentia só.

...

Havia se passado uma semana e agora dormíamos no meio do nada. Acordei com um estrondo. Era uma explosão, mesmo com o barulho, Sebastião continuava roncando. Os acontecimentos da Rua Tesouro vieram em minha mente, talvez fosse Jim querendo me mandar alguma mensagem. Talvez houvesse pessoas que precisassem da minha ajuda naquele exato momento, eu poderia salvar vidas, me levantei e sem medo fui em direção ao fogo.

Ao chegar ao local fiquei horrorizada. Era um acampamento inteiro em chamas, Alguns tubarões queimados iam a minha direção, mas eu conseguia me livrar deles facilmente. Haviam corpos jogados por todos os lados, era uma cena desoladora. O cheiro de fumaça estava começando a me incomodar e eu já estava pronta para sair daquele lugar. Porém ouvi múrmuros entre os escombros, havia alguém ainda vivo no local. Não importa quem fosse, eu iria ajudar.

Foi então que eu vi, encostado a uma árvore, um jovem desacordado. O galho que estava em chamas em cima dele estava prestes a desmoronar. Sem perder tempo corri até onde ele estava. Era pesado, mas eu conseguir arrasta-lo para longe do local. E caminhei carregando ele pela escuridão até chegar ás margens de um riacho. Seu cabelo liso e negro estava totalmente bagunçado agora e seus olhos azuis olhavam vidrados para o nada, fiquei com medo de ele ter morrido, mas não foi era isso que tinha acontecido, chequei os seus sinais vitais e ele estava vem.

Sorri ao vê-lo acordado, meu Deus, como ele era bonito. Porém, eu sabia que não poderia ficar. Eu não o conhecia, ele poderia ser qualquer tipo de pessoa, eu deveria, mais uma vez, ignorar a minha intuição que, naquele momento, só queria ficar ali. Voltei sozinha para o lado do meu padrinho e tive sonhos muito bons durante a noite.


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Notas finais do capítulo

Os que gostam dos filmes da Disney, em especial A Pequena Sereia, vão notar muita referencias as histórias originais. Vocês não sabem o quanto eu me divirto fazendo esses paralelos. Qualquer elemento contido na história pode ter relação com a Disney, por exemplo, aqueles dois esquilos que apareceram no começo da história... Será que você consegue descobrir quem são?
Enfim, próximo sábado eu volto com mais um capítulo dessa história! Conto com o seu comentário para avaliar a história, sério, eles que me dão mais vontade em continuar escrevendo, até a próxima semana! Abraços, Polo!