Nightmares Come True escrita por Polo


Capítulo 2
Ariel e Jim




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/526851/chapter/2

"Ariel, você tem que parar de fazer besteira". Esse era o primeiro pensamento que eu tinha quando eu acordava desde que eu me lembro por gente. Eu sempre fui uma desengonçada, em todos os sentidos possíveis. Eu me atrasava para eventos importantes, eu ficava pensando em surf invés de focar na aula de biologia do professor Archimedes, eu, mesmo que sem querer, iludi o meu melhor amigo Linguado que estava apaixonado por mim, o único momento que eu me sentia verdadeiramente em paz era quando eu estava na água, ela me relaxava de uma maneira que só eu entendo. Mas, enfim, é uma surpresa que alguém como eu tenha sobrevivido ao fim do mundo por tanto tempo. Eu nunca teria conseguido sozinha, essa é a verdade.

Eu tive muita sorte de ter Jim para cuidar de mim. Ele era um verdadeiro anjo, sempre me salvando das maiores enrascadas, eu deveria ser um peso a mais na vida dele. A gente se conhecia desde pequenos e sempre fomos muito próximos, a gente ficava no quintal da minha casa e ficávamos observando o mar e as estrelas. Ele me dizia que iria surfar nas estrelas e eu ria das brincadeiras dele. Nós eramos inseparáveis e pra todo o lugar que a gente ia, as pessoas diziam "Lá vão o pirata e sua sereia" e a gente ria muito disso. Porém, quando nós já éramos adolescentes, isso mudou. O pai de Jim havia abandonado a sua família e desde então, Jim Hawkins mudou. Ele não era mais aquele amigo carinhoso e presente de sempre, ele começou a se afastar e a se envolver com as piores companhias possíveis. Eu tentei ajudar, mas tudo o que eu ganhei em troca foi ele me mandando me afastar... E foi o que eu fiz. Me arrependo tando disso, Jim, meu grande amigo, havia se tornado um garoto problema.

Passamos anos sem se falar direito até que tudo mudou mais uma vez. Jim voltou para a minha vida, e isso era ótimo, mas não deveria ter sido dessa maneira. Os mortos voltaram a vida e engoliram tudo o que viam pela frente. Meu pai e minhas seis irmãs, todas elas, morreram na minha frente. Vaguei sozinha por algum tempo, sempre me mantendo perto da água por algum motivo que eu não entendia, eu simplesmente me sentia bem ali. Em uma tarde de sábado, ou domingo, eu já havia perdido as contas, eu caminhava do lado de um canal e estava faminta. O sol castigava o meu corpo e minhas pernas pareciam que poderiam parar a qualquer momento, eu só parei de andar quando eu vi uma macieira carregada de maçãs de aspectos suculento. Cada fruto era tão vermelho quanto o meu cabelo ruivo. Depois de ter executado uma dança da vitória, a mais ridícula que qualquer ser vivente já realizou, subi na macieira e provei do sabor da fruta. Estava deliciosa, e as outras maçãs se que seguiram também estavam. Depois de alguns bons minutos matando a minha fome, desci da árvore e decidi continuar andando. Porém, eu não conseguia, de repente eu me sentia tão cansada que a única coisa que eu conseguia pensar era que eu queria dormir. E foi exatamente isso que eu fiz.

Acordei em um lugar totalmente diferente. Eu estava no que me parecia ser um escritório escuro, haviam papéis e revistas espalhados por todo o chão, eu estava deitada em um sofá de couro. Eu sei que o certo era ir embora naquele exato momento, mas, aquele sofá era tão confortável que eu não ousaria fazer isso. Fiquei lá por alguns bons minutos quando a porta do escritório se abriu. Instintivamente, eu me pus sentada e me encolhi no canto do sofá.

– Quem vem lá? - Eu disse, desconfiada e com um claro tom de medo na minha voz - E o que você fez comigo?

– Te estuprei - Disse uma voz que eu já conhecia e que me deixou inteiramente feliz - Te estuprei tantas vezes que você não consegue mais ficar em pé, sereia! Além disso eu gravei tudo e postei no RedTube, você está bem popular agora!

Me levantei e dei um abraço em Jim Hawkins. Porém, não sem antes dar um bom tapa no rosto dele. Quem ele pensa que é para falar assim comigo? Mesmo assim, eu estava muito contente de estar perto dele. Depois de um bom tempo de abraço, eu me afastei um pouco e só fiquei encarando o rosto dele. Ele também estava feliz. Depois de alguns segundos sem falar nada, eu finalmente disse mais uma coisa.

– Nunca mais me deixe!

E foi exatamente isso o que Jim fez. Nós ficamos juntos a partir daí, ficávamos escondidos naquele velho escritório e só saíamos quando precisávamos de alguma coisa. O pirata havia mudado mais uma vez, ele não era mais um jovem inconsequente que se arriscava fazendo coisas estúpidas. Ele era o meu protetor agora. Sempre que a gente via algum "Tubarão", que foi o apelido que nós demos aos nossos queridos mortos assassinos, e eu ficava assustada, Jim se comportava como algum tipo de herói em uma armadura branca e ia matar o monstro para mim. Claro que eu não me sentia confortável com essa situação, eu não gostava de ser a donzela em apuros, mas eu era incrivelmente grata por ter Jim na minha vida.

– Você precisa aprender a se defender sozinha - Jim disse uma vez, nós estávamos sentados juntos lado a lado no nosso escritório, ele me abraçava e me envolvia em seu peito - Eu não posso estar lá sempre por você, mesmo que eu queira muito isso.

– Eu sei, Jim - Eu assenti, triste - Mas não fala assim, a gente vai continuar junto - E então me aconcheguei junto a ele - A gente vai sobreviver a tudo isso.

Jim parecia estar sério, todo o seu jeito brincalhão e afetuoso deu lugar a uma expressão que eu nunca havia visto em Jim. Ele estava sério e olhava para o nada com um olhar vazio, ele estava mais lindo que nunca.

– Quando eu vi a minha mãe morrer - Meu amigo de infância disse com um tom de voz meio falhado - Ela me fez prometer que eu mudaria para alguém melhor. Quando meu pai nos abandonou, bem... Eu me tornei alguém diferente, eu descontava tudo o que eu havia sofrido nos outros e em mim mesmo.

– Jim...

– E eu estava tão triste - Ele continuou - Mas aí eu te encontrei naquela macieira aquele dia, havia alguns Tubarões por perto e eu te tirei de lá.

– Sim - Eu confirmei - E desde então você tem me salvado todos os dias.

– Você não entende, Ariel - Agora, Jim me olhava nos olhos, isso me dava calafrios - Você sempre achou que sou eu quem salvo você. Mas foi você que me salvou. Eu estava perdido antes de você, eu era uma pessoa terrível, você me devolveu as coisas que eu achei que nunca ia sentir de novo. Você... Você é linda.

E então nós nos beijamos. Apenas parecia que estava certo, que tudo naquele momento era lindo e que o mundo não estava se acabando do lado de fora do escritório. Foi uma ilha de felicidade em um mundo tomado pelo desespero. Eu fui tão feliz naquela noite.

No outro dia, Jim me acordou com um beijo, ele parecia estar mais feliz que nunca também. Disse que a gente devia sair pra procurar alguns remédios e algumas camisinhas, isso me fez rir, e nós fomos. Andávamos de mãos dadas e quando a gente via um tubarão ao longe, eu que me oferecia para matá-lo. O pirata e a sereia estavam juntos novamente. Andamos por algumas quadras até chegarmos na Rua Tesouro, que ficava do lado de um rio e que tinha uma farmácia perto, eu falava sobre algumas besteiras de antes do apocalipse e Jim fingia que achava tudo aquilo interessante.

Mas, então, tudo aconteceu tão rápido. Uma explosão aconteceu muito perto de onde nós estávamos. Eu fiquei zonza e os meus sentidos não funcionavam direito. Estava tudo tão confuso. Dezenas de tubarões apareceram por todos os lados, Jim me pôs em seus braços e me carregou para longe. Ele era rápido, tubarões apareciam por todos os lados, mas ele os desviava, eu me sentia totalmente impotente. Conseguimos escapar de todos os mortos e Jim achou uma esquina pela qual poderíamos escapar.

Porém, na esquina havia o que me pareceu ser uma centena de tubarões. Não havia escapatória, iríamos morrer. Jim correu, ainda comigo nos braços, e se afastou deles. Haviam tubarões por todos os lados agora e, então, ele fez algo que me surpreendeu. Ele me deu um último beijo.

– Eu te amo, Ariel - Ele me disse, Jim Hawkins estava chorando - E, obrigado, graças a você eu cumpri a promessa que eu fiz a minha mãe. Eu me tornei uma pessoa melhor.

Jim, então, me jogou no rio. Os tubarões pareceram não se interessar muito por mim e continuavam atrás de Jim. A última visão que eu tive dele foi ele sorrindo para mim enquanto um tubarão se preparava para morder seu ombro.

A correnteza me levou por alguns bons minutos. Mesmo eu estando no meu lugar favorito, a água, eu não me sentia mais calma. Eu chorava e soluçava por todo o trajeto, estava começando a escurecer. Comecei a pensar em Jim e em tudo que a gente passou junto, eu não ia deixar o sacrifício dele ser em vão, eu me tornaria a garota mais forte que já foi vista. Nadei para fora do rio e fiquei olhando para as estrelas. Nesse momento uma estrela cadente passou atravessando o céu.

"É, Jim" Pensei, sorrindo "Você conseguiu surfar nas estrelas".


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Jim Hawkins, para os que não sabem, é do filme Planeta do Tesouro, da Disney. Eu gosto muito desse filme e principalmente do personagem, doeu ter dado esse fim pra ele, mas foi algo necessário para desenvolver a Ariel. Enfim, deixe seu comentário para eu saber o que você está achando!

E, ah, todo o sábado vai ser postado um novo capítulo. Até lá, abraços, Polo!