Nightmares Come True escrita por Polo


Capítulo 19
Mulan


Notas iniciais do capítulo

Então, galera. Eu sei que eu demorei uma eternidade para postar. E eu queria me desculpar por fazer vocês esperarem tanto, mas em minha defesa, eu tava no terceiro ano e passei o ano inteiro focado no enem. O mundo precisa de futuro advogado/escritor.
Bem, vocês devem estar sedentos por um capítulo com um zumbi está por carne humana! Então boa leitura!



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Eu seria uma hipócrita se dissesse que não estava empolgada em estar no meio daquela missão. Eu sei que o natural, e o saudável, era estar assustada, mas não era assim que eu me sentia. Havia algo em caminhar dia e noite no meio de um grupo tão imponente quanto o que eu fazia parte agora que me deixava totalmente excitada. Nós tínhamos um objetivo: Entrar na casa de um geneticista chamado Jumba, descobrir informações sobre o projeto que deu origem aos cães geneticamente modificados e convencer ele a cooperar com os militares.

Obviamente, não era uma ideia nada amistosa simplesmente invadir a casa do cientista e força-lo a trabalhar conosco, então, o nosso grupo foi montado para que parecesse como alguns sobreviventes comuns ao apocalipse. Nosso bando era formado por Arthur, um garoto órfão e comum que agora carregava uma espada bastante poderosa com ele, Mulan, uma agente secreta do governo que já participou de várias missões desse tipo, Ralph, um homem grande e engraçado que já fora um terrorista procurado antes do apocalipse começar, Vanellope, uma criminosa procurada e uma excelente motorista, Stitch, um cachorro azul geneticamente modificado, e eu, Lilo, uma garota de dezesseis anos.

Já havíamos avançado vários quilômetros e agora faltava muito pouco para chegarmos ao nosso objetivo. Dava para notar que todos no grupo estavam ansiosos por isso. Até Stitch parecia estar assim, uma vez que ele ficava rolando o tempo todo.

– Então é isso galera... – Vanellope, uma garota de vinte anos comentou animada no volante -... Está quase na hora do grande show, estão animados?

Um silêncio constrangedor se seguiu. A verdade era que no grupo, apenas Ralph (que no momento dormia no acento do copiloto) falava com a garota, afinal nós tínhamos noção de tudo o que os dois haviam feito antes. A verdade era que os dois pareciam simpáticos, mas simplesmente não podíamos nos sentir a vontade perto deles, invés disso, optávamos por ficar calados.

– Imaginei que não.

Estávamos viajando em uma caminhonete azul já havia dias, Arthur havia ficado com o último turno de vigia na noite anterior e por isso estava tirando uma soneca, o que me deixava sozinha com Mulan, que no momento olhava a paisagem pela janela.

– E então... Mulan? – A mulher oriental olhou para mim e no mesmo momento eu me senti estúpida, eu sei que era besteira se sentir assim, mas ela era forte demais, incrível demais, tudo que eu pudesse falar soaria estupidez – Hã... Você... Hum...

– Ei, calma – Mulan disse me dirigindo um sorriso sincero – Eu não mordo, quer dizer, até mordo, mas isso foi só em uma missão três anos atrás.

– Sério? – Eu ri – Como isso aconteceu?

– Hum... Não estou autorizada a dizer, desculpa, é confidencial – Mulan respondeu se esquivando – Mas envolve um grilo da sorte, é uma história bastante estranha.

– Nossa, olha para nós três, que divertido – Vanellope disse animada no banco da frente- Três garotas conversando alegremente, isso não é legal?

Mais uma vez o silêncio se fez.

– Eu odeio vocês.

– Mas e então, Mulan, essa carreira militar deve ser bastante animada, não? – Eu perguntei – Quer dizer, fazendo missões e tal.

– Na verdade não são todos os que participam da divisão das missões secretas – Ela me esclareceu – A maioria fica nos três quarteis generais treinando para o caso de precisarem entrar em algum confronto eventualmente. Quem teve a ideia dessa estratégia foi o Taran, você sabia?

Fiz que sim com a cabeça. Taran era conhecido por toda base militar Cícero e por todas as outras duas também, Heitor e Próspero, como um verdadeiro herói. Passou de um criador de porcos para o grande comandante das forças armadas de Disney Land. Arthur se orgulhava de carregar uma espada, a Excalibur, que um dia fora dessa lenda.

– Ok garotas, sem querer atrapalhar o papo heroico de vocês – Vanellope se intrometeu – Mas nós chegamos ao nosso destino! Hora de detonar!

...

Revisamos o plano, estávamos há alguns metros da propriedade de Jumba e escondidos pela mata, nosso próximo objetivo seria atrair uma quantidade perigosa de mortos para perto da residência. Ralph, Vanellope e Stitch correram pelo bosque para chamar a atenção de qualquer defunto. Eu, Arthur e Mulan ficamos esperando o retorno deles. Depois de alguns minutos, escutei o barulho dos latidos de Stitch acompanhado por murmúrios sinistros, ele, e o casal de terroristas se juntaram a nós e começamos a correr em direção à casa do cientista.

Deparamo-nos com um grande muro amarelo que ocupava cerca de um quarteirão inteiro. Corri até a pesada porta de metal que dava acesso ao local e comecei a bater nela freneticamente.

– Por favor! Abram! – Eu gritei com toda a convicção – Se não nós iremos morrer! Socorro!

Enquanto eu fazia a maior cena, os outros cuidavam do excesso de mortos. Sempre que uma quantidade preocupante se aproximava, um deles cuidava disso, mas não de alguma forma que levantasse suspeitas, afinal, provavelmente estávamos sendo vigiados.

Levou cerca de trinta segundos até que o portão de metal fosse aberto e dele aparecesse o maior e mais musculoso homem que eu já havia visto em toda a minha vida. Ele utilizava uma espécie de macacão preto e tinha um cabelo negro e ondulado que ia até o ombro. Seus olhos azuis revelavam seriedade.

– Vamos – O homem disse em tom autoritário – Podem entrar.

Corremos em direção ao portão com exceção de Ralph, como havíamos planejado. O homem veio de costas até a nossa direção como se tivesse preocupado com o ataque de algum morto e então ele caiu de uma forma desastrada no chão. Meses atrás ele havia concordado em fazer esse sacrifício pela equipe, ele iria deslocar o seu ombro a fim de termos uma desculpa para ficar naquele lugar por mais tempo. E foi exatamente o que ele fez.

– Você só pode estar de brincadeira – O homem grande e musculoso resmungou indo em direção ao Detona Ralph. O terrorista era um homem bastante grande e era incrível como o homem de cabelos longos conseguia carrega-lo, mesmo com certo esforço – O que você anda comendo rapaz?

– A minha namorada gosta muito de doces – Ralph riu e fez uma careta de dor depois – Sabe como é...

E então, nós conseguimos entrar na fortaleza de Jumba, não pude deixar de soltar um sorriso vitorioso de satisfação.

...

Já havia se passado duas semanas que estávamos na grande e luxuosa casa de Jumba. O recinto parecia um cenário de algum filme de ficção cientifica. As portas abriam sozinhas quando passávamos, havia esteiras que nos levavam mais rápidos para outros lugares da casa e, o que era melhor que tudo, havia muito conforto. Eu tinha um quarto só meu. Existia uma parte de mim que desejava que Jumba não fosse um cientista louco e que aquela fosse a minha nova casa. Porém, eu sabia que aquilo não era verdade. Eu tinha uma missão a cumprir.

A grande casa tecnológica tinha apenas quatro moradores. Jumba, obviamente, um homem gordo e com um sotaque bastante peculiar que sempre usava roupas de praia. Pleakley, a mulher de Jumba, demorou alguns dias para que eu percebesse que ela era trans, era magra e utilizava uma maquiagem exagerada. Hazel, a filha do casal, era ruiva e tinha a mesma idade que Arthur, vivia comendo nozes e era bastante elétrica. Também havia Gantu, o homem que havia nos recepcionado no primeiro dia. Era muito forte e permanecia calado na maior parte do tempo.

Segundo Mulan, todos eles haviam acreditado que nosso grupo era apenas formado por pessoas comuns que, por coincidência, estava acompanhado por um dos cães modificados pelo cientista. Isso era perfeito, uma vez que era uma questão de tempo até que Jumba revelasse os seus segredos. Até lá, nós tentamos relaxar alguns dias de folga naquela mansão incrível. Tenho que admitir que eu pensava que a vida no exército ia ser bem mais difícil.

– Lilo, eu preciso da sua ajuda – Hazel disse certa vez quando estávamos sozinhas na piscina. Eu estava usando um maiô amarelo e vermelho e ela um biquíni vinho – É sobre o Arthur. Você pode me ajudar, hein? Você pode?

– O quê?! – Fui pega de surpresa – Como assim? Que tipo de ajuda você tá falando?

– Você sabe... – A garota ficou tímida. Algo dentro de mim não estava gostando do rumo que essa conversa estava tomando – Coisas do coração. A mais bonita das coisas. Eu acho que estou meio apaixonada pelo seu amigo.

– Mas, hã? – Me engasguei por um instante – Você está falando sério?

– Sim, seríssimo. Eu não sei explicar, desde o dia que vocês chegaram aqui, eu senti uma conexão muito forte com ele e... – Então ela parou de falar – A não ser que você tenha algum problema com isso... Está tudo bem para você?

Fique uns segundos para responder. E, sinceramente, não entendi o motivo da minha demora. Devia ser ciúmes. É, definitivamente, era ciúmes. Mas eu não gostava do Arthur, gostava? Eu lembro que quando a Nani começou a namorar o David eu senti um ciúme gigantesco e isso não quis dizer que eu estava apaixonada pela minha irmã mais velha. Devia ser a mesma coisa com o Arthur. Tinha que ser.

– Está tudo ótimo pra mim – Forcei um sorriso – Vai fundo, garota, o Rei Arthur te espera.

– Ai que bom ouvir isso, Lilo! – Hazel me deu um abraço apertado invadindo a minha zona de conforto, tive que retribuir o abraço. Aquela menina ruiva era fofa demais para guardar qualquer tipo de rancor – Que bom que vocês entraram nas nossas vidas, tudo era muito mais solitário antes.

Dei um suspiro que continha uma parcela de culpa. Não havia como fugir do fato que eu e meus companheiros estávamos escondendo algo daqueles que haviam nos acolhido. Eu me sentia meio mal por isso. Jumba tinha culpa no cartório, isso era inegável. Mas e a Hazel? Qual seria o seu destino após seu pai ser desmascarado? Duvido muito que fosse algo cordial.

Nesse exato momento, uma sirene começou a soar. Eu e minha companheira nos olhamos receosas. O que estava acontecendo? Em poucos segundos, a mãe de Hazel adentrou a área da piscina. Ela parecia muito transtornada. Depois de tentar falar algo por algum tempo, sem sucesso por causa de seu nervosismo, a senhora magrela reuniu força para construir uma frase que fizesse sentido.

– Estamos sendo invadidos! – Ela finalmente disse – Rápido, meninas, para o quarto do pânico!

Rapidamente me levantei da piscina e puxei Hazel que estava em choque. Pude ouvir barulhos de tiros e gritos vindos do jardim. Algo estava dando muito errado naquele momento. Pleakley corria na frente e nos guiava pelos muitos corredores da casa. Depois de algum tempo, nos deparamos com uma escada que levava para um andar subterrâneo com uma grande porta preta como portal. A matriarca digitou rapidamente uma senha e a porta foi aberta para que nós três entrássemos. A pesada porta feita de material negro se fechou atrás de nós.

A quarto do pânico era relativamente grande e tinha mantimentos para uma semana. Era mal iluminado e tinha certas camadas de poeira, algo bem diferente do luxo que era o restante da casa. Ouvi um latido e minha visão se encontrou com a do meu cachorro. Sem perder tempo me adiantei para o chão. Lá estava Stitch que me lambia alegremente no chão. Ele estava feliz por ver que eu estava bem.

Olhei para os outros no quarto. A maioria parecia ter um semblante aflito. Mulan e Gantu andavam de um lado para o outro sem saber o que fazer, eu não sabia dizer o que se passava na cabeça de ambos. Pleakley correu para abraçar o seu marido quando o viu cabisbaixo e pensativo. Hazel começou a chorar e Arthur a abraçou para acalma-la. O choro se sessou em poucos momentos. Vanellope, entre todos, porém, era a mais transtornada. Ela parecia está procurando por alguém.

O Detona Ralph. Ele não estava entre nós. Devia ter ficado em um dos quartos quando fomos invadidos. Agora ele estava solto a sua própria sorte, com um ombro machucado, sem ninguém para defendê-lo. Jumba rapidamente ligou a grande televisão instalada naquele local. Havia vídeos de todas as salas. Entre elas, a do quarto de Ralph. O homem havia se escondido em baixo da cama, mas não acho que esse esconderijo era um dos mais convincentes.

– Merda...

Minha atenção voltou-se para Mulan que encarava a tela com fúria. Sem compreender ao certo o que estava havendo, segui o olhar de da mulher oriental para ver o que a estava incomodando de fato. Deparei-me com a imagem de um dos invasores da casa e levei um susto. Era um homem enorme e de olhos puxados. Seu semblante era assustador e exalava poder e estava vestindo pele de texugo. Algo me dizia que Mulan o conhecia.

– Temos que ir lá fora! – Vanellope disse com um tom de voz preocupado – Eles vão matar o Ralph! Eu não posso... – Uma lágrima desceu em seu rosto, antes brincalhão -... Eu não posso perder aquele cara. Eu não...

– Está fora de cogitação – Gantu rebateu – Não temos chances contra eles. São muitos e vocês não tem o preparo necessário.

– Gantu – Jumba o chamou, sua voz estava trêmula – Você acha que o Hamsterville tem algo a ver com isso?

– É impossível, doutor – O homem grande respondeu – Nós o matamos. Você estava lá.

– Quem é Hamsterville? – Perguntei sem entender o que estava acontecendo, segundo depois balancei a minha cabeça me lembrando do quão inútil fora o meu questionamento – Esquece. Isso não é importante, temos que decidir o que fazer.

– A Lilo tem razão – Arthur falou cabisbaixo – Nós não podemos perder o Ralph... Ele é um dos nossos.

Neste momento, Vanellope sorriu agradecida pelo garoto loiro que segurava uma espada. Mulan parecia refletir algo, mas não parecia saber que decisão tomar. Comecei a ficar angustiada com aquela situação. Era uma questão de tempo até que os invasores encontrassem o Detona Ralph.

– Por Deus, Mulan! – Resmunguei, todos olharam diretamente para mim – Fala o que você está pensando logo!

– Eu o conheço... – A mulher falou apontando para o homem que eu havia visto na televisão – Seu nome é Shan Yu. Antes do mundo todo acabar... Antes dos mortos ganharem vida e de monstros como esse terem sido criados por um monstro maior como você – Mulan bradou referindo-se a Stitch e Jumba que observava a cena da guerreira sem demonstrar nenhuma emoção – Eu o conhecia. Participei de muitas missões contra ele. Ele é um guerreiro feroz. Talvez um dos melhores que existam por aí. Ele está aqui procurando por esse imbecil. E eles vão encontra-lo. É óbvio que vão! Vão encontra-lo e vão tortura-lo até conseguir fazer você trabalhar para eles. – Mulan acalmou-se por um instante – Tudo o que eu peço é que você me conte tudo o que sabe sobre os cães! Agora!

– Mulan, nós podemos fazer isso depois... – Vanellope falou com um tom de desespero iminente – nossa prioridade agora é salvar o Ralph.

– Ralph é um soldado e soube bem onde estava se metendo ao aceitar a missão! – Mulan gritou para a ex-criminosa que passou a chorar – A nossa prioridade é coletar informações e trazer de volta para Cícero!

– Eu vou com você – Gantu disse pondo a mão no ombro de Vanellope – Vamos trazer aquele balofo de volta a segurança. Mesmo que vocês sejam ratos infiltrados não posso tolerar mais sangue em minhas mãos.

– Eu posso ir também.

Não, Lilo, você fica. – Mulan ordenou – Tenho ordens diretas do Cobra Bubbles para mantê-la em segurança.

– Foda-se você, Mulan! – Disse me levantando e encarando a oriental – E foda-se o exército e essas ordens estúpidas, eu faço as minhas próprias regras.

Mulan, no mesmo instante, me deu um chute com força me fazendo cair de volta no chão. Minhas costas bateram em alguma lata e senti muita dor. Stitch e Arthur levantaram-se para me defender, mas Mulan rapidamente desarmou Arthur e usou o cabo da Excalibur para fazer Stitch desmaiar. Aproveitando-se da confusão, Vanellope e Gantu escaparam da sala e correram em direção ao quarto de Ralph. A porta se fechou atrás deles.

O clima da sala ficou tenso. Pleakley e Hazel estavam abraçadas em um canto da sala. A garota parecia controlar-se para não se abrir em choro. Eu estava deitada sentindo dor do lado do meu cão azul desacordado. Arthur estava posicionado ao meu lado sem saber o que fazer. Todos do lugar já haviam entendido que não eram páreo para Mulan. Jumba, com suas roupas floridas de praia, olhava para a mulher sem demonstrar emoção. Ela parecia ainda mais ameaçadora segurando uma espada formidável como a Excalibur.

– Por favor, Jumba... – Mulan parecia cansada – Eu não quero machucar ninguém. Não me obriga a usar essa espada. Preciso de informações agora!

– Está bem – Jumba assentiu, finalmente, ainda sem demonstrar emoção – Se você quer tanto saber isso eu lhe digo. Tudo começou há dez anos quando eu e meu parceiro, Hamsterville, trabalhamos em um projeto de aperfeiçoamento genético de animais. O objetivo era curar doenças. Talvez a cura do câncer estivesse em nossas mãos. Porém o meu parceiro, aquele desgraçado, se vendeu. Um homem pagou ele para que o nosso projeto fosse alterado e usado para fins bélicos. Eu descobri isso e junto com a ajuda do Gantu assassinamos o meu parceiro – Nessa hora sua voz falhou – Foi uma das piores coisas que eu já fiz. Naquela noite alguns cães escaparam, a maioria foi feita por mim e tem boa índole, como o Stitch sentado aí. Outros devem trabalhar para esse tal homem que contratou o meu parceiro. Temo o que eles possam fazer.

– Eu preciso de um nome.

– Lobo Mau. – Jumba respondeu com pesar e com melancolia – Foi o nome que eu ouvi. Bem, suponho que agora você irá me matar.

Hazel começou a chorar e Pleakley levantou-se para ficar ao lado do marido. Olhei assustada para Arthur que também não parecia entender o que estava acontecendo naquele lugar. Mulan assentiu com tristeza.

– Não posso arriscar que alguém como você caia em mãos erradas – Ela pareceu, por um instante, que estava emocionada. Impressão que durou menos de um segundo – Ordens são ordens. Sinto muitíssimo, doutor.

E então, com um golpe certeiro da Excalibur, Mulan atravessou o geneticista e tirou sua vida. A morte foi rápida e indolor, pude ver que a mulher era uma profissional. Mesmo assim, não pude deixar de sentir nojos de suas ações. Hazel bradava horrorizada. Pleakley mantinha-se estática. O sangue de Jumba pingava na face de sua assassina.

A porta se abriu. Lá estavam Ralph, Jumba e Vanellope, os três estavam sujos de sangue e pareciam alarmados.

– Temos que dar o fora daqui! – Vanellope falou e depois viu o corpo de Jumba sem vida no chão – Ok. O que foi que eu perdi?

...

Atravessávamos a casa de forma extremamente lenta e cautelosa. Mulan guiava todos pelo recinto e mandávamos parar quando sentia que corríamos algum perigo. Nenhum de nós guardava sentimentos positivos por ela naquele momento, mas a verdade é que não tínhamos muitas opções se não segui-la. Todos andavam se rastejando e receosos. Alguns invasores uivavam e pude notar que isso deixava Hazel assusta. Mulan, em certo ponto, mandou que parássemos. Haviam dois homens conversando na sala que dava para o jardim. Estávamos perto de nossa liberdade.

– É inútil, Shan – Um dos homens falou me causando um arrepio. Aparentemente, ele estava conversando com Shan Yu, o homem que Mulan havia mencionado, não queria imaginar o que eles fariam se nos notassem – Eles não estão em lugar algum. Devem ter fugido de certo.

– Hayabusa – Shan Yu respondeu, sua voz grave me deixou bastante desconfortável. Era como se a sua voz transmitisse por si só autoridade e respeito – Nos foi dado uma missão e nós temos que cumpri-la. Ordens são ordens.

Ordens são ordens. Irônico. Essa havia sido uma das últimas palavras que Mulan havia dito antes de tirar a vida de Jumba. Qual é a linha tênue que separa o que é o correto do que é necessário? Naquele momento eu vi a verdade. Éramos todos peões. Shan Yu e Mulan eram mais parecidos do que gostariam de admitir. Quem mandava, no fim, era o Lobo Mau e Taran, de resto, somos todos descartáveis. Nossas vidas serviam para matar e morrer. Isso que significava estar em um exército. Estar em guerra...

Quando me dei por mim, vi Pleakley agarrar a cintura de Mulan e empurra-la para o campo de visão dos dois homens que conversavam na sala. Todos fomos pegos de surpresa e nos levantamos de supetão. Stich latia ao meu lado.

– Você matou o Jumba! – Pleakley gritou desesperada – Você matou o homem que amo! Deve morrer também!

Bang!

O corpo de Pleakley cai, sem vida, no chão. Seu sangue escorre no chão e Mulan salta em direção ao seu inimigo. Com um chute de ótima precisão, ela derruba a arma de Shan Yu que cai perto de onde estou, sem pensar duas vezes me jogo e consigo agarrar o objeto. O parceiro do comandante oriental, Hayabusa, aponta uma arma em minha direção e já precinto o tiro que viria em minha direção.

Mas não foi isso que aconteceu. Com uma velocidade impressionante, Gantu se jogou contra o homem e começou a espanca-lo no chão. Ralph, contraindo-se de dor, se junto ao homem de cabelos negros e ondulados. Eram dois homens grandes contra um que se agonizava de dor. Eu não queria ser ele naquele momento.

Mulan e Shan Yu travavam uma luta impressionante, daquelas que só parecem existir nos filmes. A força do homem era imensa e era perceptível que faziam um impacto sério na mulher, porém ela apresentava uma resistência impressionante e uma agilidade invejável. Minha concentração voltou-se para outros capangas que se aproximavam de onde estávamos. Arthur também os notou e sacou a sua espada, mas eu sabia que ela não seria o suficiente. Ergui a minha arma na direção dos invasores e os encarei.

– Não se aproximem – Avisei – Ou eu vou atirar.

Arthur me olhou como se não acreditasse no que eu dizia e as minhas palavras não fizeram o efeito que eu esperava. O invasor que se aproximava carregava um arco e flecha e tinha um olhar sanguinário. Eu sabia o que ele pretendia fazer. E eu sabia que tinha apenas uma opção.

Bang!

O homem caiu morto no chão. Os outros invasores pararam de avançar. Mesmo assim, continuei com a arma apontada para os homens que estavam no corredor. Olhei para o defunto. Aquela havia sido a primeira pessoa que eu havia tirado a vida. Não havia prazer algum naquele ato, mas eu não me sentia culpada, eu fiz o que tinha que ser feito.

– Bela mira, Pelekai! – Vanellope me disse dando um tapa no meu ombro – Agora vamos sair daqui!

Olhei para Mulan, ela ainda travava uma luta ferrenha contra Shan Yu. Eu não sabia quem sairia vencedor. Mas também não queria ficar naquele lugar o tempo suficiente para descobrir. Tive vontade de atirar no agressor da oriental para salva-la, mas estava receosa em atingi-la. Era melhor deixar o seu destino em suas mãos.

Ainda com a arma apontada para os invasores, recuei com o meu grupo em direção ao jardim e daí corremos para fora da casa. Pude ver Mulan levar um golpe cruel em sua face e cair com tudo no chão. Eu sabia que ela não tinha nenhuma chance de sobreviver.

...

– Eu não vou – Hazel disse suas primeiras palavras desde que escapamos da mansão de Jumba, ela havia permanecido calada por todo o trajeto, mas em seu rosto pude notar que ela estava em muito sofrimento – Não vou para Cícero com vocês.

– Não posso deixar você sozinha – Gantu falou se pondo do lado de Hazel – Não seria isso que seus pais iriam querer. Eu vou com você.

Suspirei. Estávamos em um bosque ao lado de um carro vermelho que nos serviria de transporte. Devia ser final da tarde e meus pés estavam me matando. Detona Ralph levantou a mão.

– Eu também voto em não irmos para a base militar – Falou abraçando Vanellope – Eles nunca foram muito legais com nós mesmo.

– É – A garota de cabelos negros e casaco turquesa concordou – Eu prefiro voltar a ser uma fora da lei que me submeter às ordens daqueles esquisitões de novo.

– Depois que... – Arthur parecia pensativo – Depois que a Excalibur foi usada de maneira tão brutal, eu nunca mais deixarei ninguém do exército usa-la. Eu vou ser o único a levantar essa arma. Eu não voltarei.

Todos olhavam para mim, inclusive Stitch, que já estava recuperado da bancada que havia sofrido de Mulan. Ao longe, consegui ouvir barulho de gente morta indo na nossa direção. Eu sabia o que era o certo a se fazer naquele momento.

– Não.

– O quê? – Arthur perguntou como se não tivesse entendido o que eu havia dito.

– Não. – Repeti – Nós não vamos embora. Vamos voltar para Cícero.

– Mas Lilo... – Vanellope falou meio constrangida – Você viu o que eles são capazes.

– Sim, eu vi... – Olhei diretamente para Hazel que me encarava com rancor – E, como vocês, não achei nada daquilo bonito de assistir. Mas parem um pouco para pensar. Foi necessário. Jumba sabia demais, desculpa Hazel, eu sei que é difícil ouvir isso, mas ele era uma ameaça. Um homem como aquele é perigoso demais nas mãos do nosso inimigo – Continuei – E não se enganem. Nós temos um inimigo em comum. Ele mandou aqueles homens capturar o Jumba e matar todo o resto. Eu sei que é fácil julgar a Mulan e chama-la de assassina. Eu sei que é fácil apontar o dedo para o exército e culpa-los por toda a merda que acontece nas nossas vidas. Mas eles estão tentando salvar a Disney Land. Salvar todos nós. Mulan se sacrificou por essa causa, ela matou por essa causa, mesmo que doesse em sua alma. Nós... Temos que voltar. Lá nós temos chance de fazer algo contra o Lobo Mau e seus homens. Lá não somos vítimas – Encarei os olhos castanhos e tristonhos de Hazel – Eu sei que é especialmente difícil para você. Eu sei que você não deve confiar em nenhum de nós e que o seu pai está morto por causa das ordens deles. Mas nós queremos ajudar. O exército matou seu pai, mas o seu pai ajudou a matar o mundo. Não peço que você concorde ou que goste de nós, mas, por favor, deixe-nos tentar ajudar.

Sem dizer uma palavra, Hazel entrou no banco traseiro do carro. Seguindo o seu exemplo, um a um, todos do grupo adentraram o veículo. O Detona Ralph se aproximou de mim com um sorriso estranho no rosto.

– Belas palavras, Lilo Pelekai – Ele me disse a pouco centímetros de mim – Quem diria que a menina prodígio do Cobra Bubbles tinha essa força dentro de si. Estou admirado

Depois disso, ele foi para o banco ao lado do motorista. Olhei para Stitch, ele parecia receoso de se aproximar. Me agachei para fazer carinho nele e pude notar o quanto a minha pele morena estava arranhada. Pensei no que Ralph havia me dito e no meu discurso. Eu era igual a Mulan, igual ao Cobra Bubbles. Eu era uma soldada. Pronta para matar e morrer pela minha pátria. Já nem sentia falta das músicas do Elvis.

– Ah Stitch... – Falei acariciando o meu cachorro azul – ...No que foi que eu me transformei?


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Notas finais do capítulo

Eu queria agradecer demais todos os comentários e mensagens no privado de NCT enquanto eu estava fora. Eu não irei responder todos os comentários que vocês deixaram porque demoraria muito e quero guardar minhas energias para os próximos capítulos (Mas muito obrigado a todos vocês, cês são demais)
Mas, entretanto, todavia, irei responder todos os comentários desse e dos próximos capítulos. É muito importante para mim saber o que você acharam e tal.
Obrigado por continuar comigo e por confiar em NCT.
Mais uma vez, abraços, Polo.