Nightmares Come True escrita por Polo


Capítulo 18
Jack Frost


Notas iniciais do capítulo

Sem tempo para explicações. Dou no próximo capítulo.



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Certo, Jack Frost, fique em posição de ataque, o Papai Noel vai forçar a porta.

Obedeci a voz em minha cabeça e me agachei agarrando o meu bastão de ponta afiada com mais força. Olhei a minha volta e todos os meus companheiros estavam fazendo a mesma coisa. Coelho da Páscoa, um homem um pouco mais velho que eu e que tinha a mania de implicar comigo, estava armado de seus característicos bumerangues. Sandman, que aparentava estar tranquilo quanto o usual, carregava armas fortemente carregadas com pólvora. Fada do Dente, que sorriu para mim quando notou que eu a estava observando, levava um porrete consigo. E, finalmente, Papai Noel estava com duas espadas e um corpo altamente musculoso.

A porta será aberta em três... Dois... Um... Agora!

Fazendo um estrondo, o grandalhão do nosso grupo chutou a porta dupla que estava a nossa frente e a arrombou com toda a força. Meus olhos foram rápidos e eu, em poucos segundos, tracei um mapa da situação em minha cabeça. Estávamos em uma cozinha relativamente grande e que tudo estava desarrumado dentro dela. Havia cerca de trinta pesadelos no recinto e isso não me preocuparia se não estivéssemos em um espaço fechado. Porém, eu não estava assustado, fazer esse tipo de trabalho já havia virado rotina para mim e para os Guardiões há muito tempo.

Com um grito, o homem grande e barbudo usando um casaco de pele vermelho se jogou em cima de alguns pesadelos e começou a cortar seus membros com uma rapidez impressionante. Já o homem pequeno e loiro, Sandman, subiu em cima de um armário e começou a atirar contra os mortos. Fada do Dente, uma garota morena e com mechas coloridas no cabelo, honrava o seu nome e usava seu porrete para arrancar molares dos mortos. Eu e o Coelho competíamos para ver quem matava mais pesadelos.

– Esse já foi o meu sexto – O homem moreno e coberto com tatuagens se vangloriou enquanto enfiava um bumerangue na cabeça de um morto – Como está indo aí, Frost?

– Sétimo – Eu falei simplesmente, sorrindo – E contando.

Coelho da Páscoa, Jack Frost, por favor mantenham o foco.

Como a voz na minha cabeça havia dito, paramos a competição naquele mesmo momento. Mais pelo fato de que havia acabado os pesadelos do que pela a ordem em si. A sala estava repleta de mortos no chão, o cheiro estava muito desagradável.

– Parece que eu venci, Bunnymund – Sorri citando o seu sobrenome e estalando o pescoço – Pela oitava vez seguida, se me lembro bem.

– Não se orgulhe tanto disso, garoto – Norte, o homem barbudo e com aspecto selvagem, me avisou pondo a mão no meu ombro – Só o Sandman alí matou treze sozinho.

Eu e Bunnymund nos entreolhamos surpresos e depois encaramos o homem loiro e baixinho que sorria e levantava os ombros como se dissesse “É, eu sou fodão, podem admitir”. Fada estava rindo da situação e então parou de rir para ouvir a mensagem seguinte em sua cabeça.

Bom trabalho, Guardiões, agora fiquem onde estão que três representantes do grupo que vocês salvaram estão indo para onde vocês estão para agradecer.

Ficamos exatamente na mesma posição que estávamos por cerca de um minuto até que a porta dos fundos se abriu e dela saiu dois homens e uma mulher, que aparentava estar no comando, que me deram calafrios assim que eu os vi. A mulher era negra e baixa e tinha um estilo bem alternativo, ela encarava tudo que estava em sua volta com um olhar meio sarcástico. Um dos homens era negro, musculoso, com barba para fazer e usava uma jaqueta de couro, ele também não estava com uma expressão nada amistosa. Por último, o outro homem era realmente assustador, ele era negro, tinha um moicano, olhos totalmente insanos e deixava a língua para fora o tempo todo, ele também ria compulsivamente.

– Então, vocês são os Guardiões? Bem, muito prazer – A mulher disse pulando em cima de um dos mortos para ficar na mesma altura do Coelho e apertou a sua mão – Eu me chamo Shenzi. Esses são Banzai e Ed, digam olá rapazes.

– Olá.

Ed, ao invés de falar, continuava rindo e foi até a direção da Fada e lhe deu um abraço apertado. A garota com mechas coloridas tentou se afastar, mas o lunático não a largava. Fui forçado a ir em direção a eles e dar um empurrão em Ed, que caiu abobalhadamente no chão. O homem parou de rir por um instante e me olhou raivoso. Naquele mesmo instante, ele puxou uma faca do bolço e começou a gargalhar mais uma vez.

– Opa, opa, calma – Fada do Dente disse em tom apassivador – Não vamos brigar, ok?

– Claro – Concordei dando um chute no braço de Ed e segurando a sua faca, que havia caído de sua mão, ainda no ar – Até porque se houvesse uma briga, já sabemos quem seria o vencedor.

Em resposta, o homem riu mais uma vez e foi correndo para o lado de Shenzi que fez um carinho em sua cabeça. A garota alternativa cruzou os braços e cochichou algo no ouvido de Banzai que se afastou e concordou com a cabeça. O jovem musculoso foi em nossa direção e nos indicou a saída.

– Se quiserem nós podemos ficar – A Fada comentou com um sorriso – Para ajudar a se livrar desses corpos, ou algo do gênero.

– Não! – Banzai respondeu rapidamente, depois notou que foi rude e deu um riso nervoso – Por favor, não precisam se incomodar, nós cuidamos disso.

– Mas, nós...

– Obrigado pelo serviço – Ele continuou, praticamente nos empurrando para fora da cozinha – Agora, vão, até mais!

E então a porta do recinto se fechou atrás de nós e nos vimos no mesmo restaurante que estávamos antes. Risadas do trio puderam ser ouvidas atrás de nós e decidimos que deveríamos sair de lá. Talvez entrar em algum apartamento abandonado enquanto esperávamos uma nova missão da lua.

Lua era como chamávamos a voz que ás vezes ficava dando ordens na nossa cabeça. Eu normalmente obedecia o que ela dizia, afinal, isso era importante para minha sobrevivência, mas não sempre. A verdade era que os Guardiões, pelo que sabíamos, era um grupo que foi selecionado de outro continente para salvar grupos de sobreviventes como uma maneira de estreitar relação ente as duas nações envolvidas. Essas pessoas escolhidas, no caso eu e os meus companheiros, tiveram suas memórias retiradas e tiveram em sua mente instalado um dispositivo que possibilitasse a central se comunicar com eles. E depois de um intenso treinamento, nós estávamos prontos. Tornamo-nos verdadeiras máquinas de matar pesadelos. Havíamos salvado muitas pessoas em nossas missões e me orgulho muito disso.

Porém, na maior parte das vezes que salvamos algum grupo, eu percebia uma atmosfera meio estranha no ar. Como se algo me dissesse que essas pessoas não eram confiáveis. Tentei dividir minha opinião com o resto dos Guardiões, mas eles não me ouviam, diziam que eu não poderia desconfiar nunca da Lua. Que a Lua sabia o que era o melhor para nós. Acontece que eu não pedi para ser um Guardião, ou pedi, nunca vou saber. Eu não tinha ideia de quem eu era antes de Jack Frost. Os outros tinham até alguma noção de suas vidas passadas, mas nada muito expressivo, porém, isso não parecia incomoda-los nenhum pouco.

Eu estava tão perdido em meus pensamentos que quando voltei a mim mesmo, já estava em um apartamento escuro e desarrumado com os meus companheiros a minha volta. Fada estava do meu lado lendo algumas dessas revistas que se lê quando se está na fila de espera do dentista.

– Há barras de cereal para todo mundo aqui – Norte avisou tirando comida de sua mochila e arremessando para todos nós – Vamos lá, sirvam-se.

– Nada como algo de gosto intragável depois de ter arriscado a vida pra salvar um trio de possíveis psicopatas – Bunnymund disse mordendo a barra de cereal e depois fazendo uma careta – Se fosse ao menos uma cenoura, ou quem sabe chocolate, eu poderia mudar de ideia.

– Ah, Coelhão, cala essa sua boca – O velho musculoso e barbudo disse cruzando os braços – A missão foi diretamente ordem da Lua, ela sabe o que faz.

– Vocês sabem a minha opinião sobre isso.

– Jack...

– Não, deixa ele falar, Fada – O Coelho disse me encarando – Por que você é tão contra a Lua, Frost?

– Não é que eu seja contra – Eu respondi tentando me explicar – É só porque, temos que concordar, é muito estranho não termos memórias exatas de quem nós éramos antes e esse fato de termos sempre uma voz na nossa cabeça. Não me parece com algo que eu concordaria de livre e espontânea vontade.

– Quer saber? – Coelhão se levantou, o que automaticamente me fez levantar logo depois – Não me parece ser algo que eu concordaria também, mas quem liga? Quem eu era antes disso tudo? Quem era a Fada? Quem era o Norte? Quem era o Sandman? – Nesse momento o loiro gordinho deu de ombros – Quem era você, Jack Frost? Quem se importa? Nós éramos pessoas normais que viviam uma vida normal, agora nós temos a chance de fazer algo bom, algo grande, entende? Nossas vidas vão valer a pena!

– Eu sei, Coelho, mas você não acha suspeito toda essa condição? Por que eles tirariam as nossas memórias? Isso não faz sentido! – Eu respondi em um tom mais alto – Além disso, todas aquelas pessoas que nós salvamos nos pareciam tão...

–... Suspeitas, é isso? Sim, suspeitas talvez, mas são vidas, devem ser salvas a todo custo! –Bunnymund respondeu, o que mais me afetava era que tudo o que ele estava falando fazia sentido – Você não tem o direito de ser contra o que estamos fazendo aqui.

– Sim, eu tenho! Eu tenho o direito de pensar e de ter as minhas próprias ideias! – Eu disse me aproximando de coelhão – Mas parece que a Lua já tirou isso de você!

– Ei, garotos, já é o bastante – Norte se levantou – Chega de brigas por hoje.

Olhei ao meu redor e era a mim que todos estavam encarando, todos os olhares que eu recebia me revelavam um sentimento diferente. Os de Bunnymund me mostravam raiva, os de Norte eram severos e desaprovadores, os de Sandman eram de apreensão, mas o que os olhos caleidoscópios de Fada revelavam naquele momento? Eu nunca saberei, mas não era algo que eu queria descobrir. Dei as costas para os guardiões e saí da sala escura bastando à porta com força atrás de mim.

Decidi que iria dar um passeio. Isso iria acalmar a minha cabeça. A verdade era que os pesadelos não me amedrontavam, afinal, fui treinado para ser uma arma contra eles, então eu não me sentia apreensivo de andar perto deles. Eu estava em uma rua comercial meio deserta e abandonada.

Jack Frost. Volte para junto dos outros Guardiões agora mesmo. É uma ordem direta!

– Ah, vai se foder!

Pelo tamanho das sombras daquela rua abandonada, pude notar que o sol não ia demorar a se por. Talvez eu devesse voltar para o apartamento, não era o que eu queria, mas que outra opção eu tinha? Andei por mais algumas quadras quando notei uma visão parada no meio da rua de concreto. Primeiramente pensei que se tratava de um pesadelo, mas, apesar da palidez do homem que me fitava, percebi que era alguém vivo. Era um homem alto e com aspecto sombrio, usava vestes totalmente pretas e tinha um cabelo negro e espetado penteado para trás. Ele estava, aparentemente, me aguardando. Só naquele momento descobri que estava sem o meu cajado, me amaldiçoei por isso.

– Quem é você?

– Eu não sei – O homem respondeu com um sorriso sarcástico – E creio que nem você possa responder essa pergunta

– Você está enganado – Eu olhei para o homem pálido com curiosidade, me perguntei se ele sabia algo sobre mim – Eu me chamo Jack Frost.

– Errado, você acha que tem esse nome – O homem me disse, suas sombras apenas aumentavam conforme o sol ia sumindo – Mas você sabe que isso não é verdade, não é?

Jack Frost! Volte para junto dos seus companheiros agora mesmo! É uma ordem emergencial!

– Eu tenho alguma suspeita...

– E isso é mais do que o bastante para você me seguir e descobrir o que eu tenho para lhe dizer – O homem de meia volta e começou a andar em direção ao ponto que o sol se punha – Venha, guardião.

Um calafrio se deu em meu corpo. Ele sabia que eu era um guardião, ele não estava lá por coincidência. Eu não confiava nele, mas ele sabia de algo que era muito importante. Dei de ombros e segui o homem de vestes pretas pelas ruas já sombrias da cidade.

...

– A primeira coisa que você tem que ter em mente, Frost, é que vocês não estão fazendo algo bom – O homem sombrio disse, nós estávamos em um beco abandonado, tudo em nossa volta estava escuro – A chamada “Lua” trabalha para um projeto muito maior do que você pode imaginar. E todas aquelas pessoas que você salva? Apoiadores desse mesmo projeto. E, acredite em mim, é algo pior do que você pode sequer imaginar.

– E como eu posso saber que você está falando a verdade? – Perguntei desconfiado – Pelo que eu sei você é só um homem estranho que fala demais.

– Eu me chamo Breu, mas já tive outro nome... – O homem respondeu olhando para o nada -... Bicho-Papão.

Olhei para o homem, incrédulo. Até onde eu sabia, Bicho-Papão era o nome de um antigo guardião que havia se rebelado contra a lua e abandonado o grupo. Norte me disse que ele e os outros passaram a caçar Breu por toda a Disney Land por ordens diretas da Lua. De alguma forma, o Bicho-Papão sempre escapou. Eu entrei no grupo como forma de substituir esse homem. E lá estava ele. Na minha frente.

Mate-o.

– Ela quer que você me mate, não?

– Sim... – Respondi olhando para o chão -... Mas eu não vou fazer isso, continue.

– Como você já deve saber, eu abandonei os Guardiões – Breu continuou – E desde então, fui procurar informações sobre quem era a Lua e o que ela queria. Visitei os grupos que havíamos salvado, fiz coisas de que não me orgulho, mas finalmente descobri a verdade.

– E qual seria essa verdade?

– A verdade, Jack Frost, é que... - O Bicho-Papão falou em tom soturno -... O Lobo uiva para a Lua.

...

Todos no quarto me encaravam de maneira suspeita. Desde que ignorei a ordem de matar Breu, parei de receber mensagens na minha cabeça. Porém, só deus sabia o que eles estavam escutando naquele instante. Pude notar que a boca de Fada tremia, como se ela quisesse dizer alguma coisa, mas não ousava a falar. Coelhão e Norte olhavam para o chão, estavam confusos demais para fazer qualquer coisa. Sandman olhava para todos os lados, ele estava assustado. Algo no meu coração me dizia que eu estava correndo risco alí.

– Ela está mandando vocês me matarem... – Eu disse olhando para o chão de madeira daquele lugar – Não está?

Não obtive nenhuma resposta, apenas um silêncio constrangedor que se seguiu no lugar. Era uma realidade, eles tinham ordem para me executar. Depois de alguns segundos sinistros, Norte foi o primeiro a abrir a boca.

– Desculpa por isso, filho...

E então, o homem levantou duas espadas para me atingir. Eu tentei desviar, mas Bunnymund rapidamente correu para trás de mim e me segurou com força. Fada ainda estava paralisada. Eu fechei os meus olhos e esperei pelo pior. E, acreditem quando eu digo, o pior aconteceu.

Eu abri meus olhos e a cena era aterradora. Lá estava Sandman, entre mim e Norte, com cortes feitos no meio de seu peito. Havia sangue espirrado nos rostos do Papai Noel e da Fada do Dente. Eu também estava chocado, aquele homem havia morrido no meu lugar, se jogado na frente de mim. Eu estava vivo por causa do sacrifício de Sandman. Eu não deixaria que aquilo fosse em vão, eu iria me juntar a Breu e juntos descobriríamos todos os segredos envolvendo a lua e o lobo.

Soltei-me de Bunnymund e corri para fora do apartamento.

Mas por quanto tempo você vai conseguir se esconder, Jack Frost?


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Notas finais do capítulo

Ainda sem tempo, continuo gostando de vocês, em breve vocês vão ter mais explicações.