Nightmares Come True escrita por Polo


Capítulo 13
John Silver


Notas iniciais do capítulo

Fui surpreendido muitas vezes essa semana. Consegui três recomendações e uma capa, tem como ser melhor? Sério, a cada semana eu vou tendo a certeza que tenho os melhores leitores que existem. Irei dividir os agradecimentos nesse e no próximo capítulo porque eu acho que isso deve ser algo especial para cada um e isso não seria possível se eu agradecesse diversas vezes no mesmo capítulo, pareceria automático.
Para começar, The Crown. Cara, sério, muito obrigado pela recomendação que você fez e gostei de saber a maneira que você descobriu o NCT. Todo o capítulo você é um dos primeiros a comentar e sempre tem uma opinião diferente sobre o capítulo, é muito bom ter você por aqui. De verdade.
O que dizer de Halima Sheeran? Essa leitora simplesmente leu toda a história em apenas um dia e recomendou após isso. Foi uma surpresa enorme, de verdade. Deu pra ver que ela é alguém com uma personagem forte e queria perguntar se a sua imagem de perfil agora é a Cruella por minha culpa? Porque se for, me sinto honrado, kkkkkkkkk. Legal ter você por aqui.
Ainda em tempo, não me esquecerei de agradecer a todos os que estão favoritando e comentando por aqui. É ótimo falar com vocês. Lua (a recomendadora) e Katherine Winchester Valdez (a criadora da capa) não esqueci de vocês. Próximo capítulo agradeço corretamente.
Eu recomendo aos que forem ler que assitam ao filme "Planeta do Tesouro" da Disney antes, acho que dá uma visão diferente referente ao capítulo. Foi o maior capítulo até então, então se preparem! Boa leitura:



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Eles vinham de todos os lados. Por uma esquina, pela esquerda, pela direita, por dentro de lojas. Todos, lentamente se aproximando de nós. A garota que estava nos meus braços estava respirando com dificuldades e parecia frágil demais para conseguir andar. Os tubarões iriam nos alcançar e eu não poderia ver o sorriso de Ariel mais uma vez. Tentei procurar por alguma alternativa de escape, qualquer uma serviria, e meus olhos encontraram o rio que passava do lado da rua. Os mortos pareciam evitar aquela região, mas eu tinha a impressão que se nós dois pulássemos lá, eles continuariam vindo. Não havia esperança para mim, mas, talvez, eu conseguiria fazer afinal alguma coisa certa na vida. Olhei para Ariel e sorri ao lembrar todos os momentos que passamos juntos: Nossas brincadeiras infantis, o dia em que eu me afastei, pois havia desistido da vida, o dia que eu a encontrei dormindo exposta aos tubarões e o do nosso primeiro beijo. Aproximei-me do seu rosto e a beijei por uma última vez.

– Eu te amo, Ariel – Disse, fazendo força para não chorar - E, obrigado, graças a você eu cumpri a promessa que eu fiz a minha mãe. Eu me tornei uma pessoa melhor.

Joguei a garota dentro do rio e sorri ao perceber que os tubarões não estavam indo atrás dela. Porém, meu foco rapidamente voltou à ameaça. Era impossível eu sobreviver e eu tinha a noção disso. Porém, eu não desistiria até que eu não tivesse mais forças para lutar. Um tubarão tentou abocanhar meu ombro, mas eu desviei e, tirando uma faca do bolso, o empurrei para longe. Avancei contra outro e enfiei a faca dentro de um dos seus olhos. Naquele exato momento, mais três mortos se aproximaram ameaçadoramente, mas eu girei o tubarão que eu havia acabado de matar e empurrei na direção deles. Corri pela Rua Tesouro tendo muito cuidado para não ser abocanhado. Estava dando tudo certo até que senti um puxão no meu braço esquerdo e notei que um deles estava me segurando e se preparava para dar uma mordida. Rapidamente, peguei a minha faca e enfiei no seu crânio, porém ela ficou emperrada e tive que deixa-la para trás. E eles continuavam vindo, eu estava completamente cercado, por um momento fiquei tentado a me encolher e esperar pelo pior, mas pensei em todas as pessoas que importavam para mim. Basicamente, Ariel e a minha mãe, e como elas não iriam querer que eu morresse como um covarde. E fiquei em pé, de peito erguido, esperando a morte chegar.

Porém, ela não veio. Eu nunca fui muito religioso e não acreditava em milagres, porém não havia outro nome para descrever o que aconteceu naquele mesmo instante. Tiros foram disparados de todas as direções e matavam todos os tubarões que me cercavam. Olhei para cima dos pequenos prédios da Rua Tesouro e notei que havia atiradores cuidando para que eu continuasse vivo. E depois de algum tempo o barulho do tiroteio acabou, todos os tubarões estavam mortos e eu estava salvo.

Ofegante, olhei para todos os lados esperando alguma resposta daqueles que salvaram a minha vida, ninguém parecia mover um músculo. Até que eu olhei para o lado oeste da rua e vi que um homem vinha mancando em minha direção. Era um homem de meia idade, grande, gordo e com pele morena. Percebi também que o seu lado esquerdo estava completamente queimado e por isso ele usava algumas próteses. Um olho de vidro, uma perna de metal e o seu braço havia sido substituído por um tipo de prótese que, ao invés de uma mão, apresentava uma ameaçadora lâmina em sua ponta.

Por mais que eu estivesse agradecido por ter a minha vida salva, ainda suspeitava das intensões de todos os que estavam a minha vida. Eu aprendi que eram raras as pessoas que se arriscariam por um desconhecido apenas para praticar uma boa ação. Olhei diretamente para o homem que se aproximava lentamente de mim.

– Quem são vocês?

– Um obrigado já era o suficiente – O homem respondeu – Não seja mal-agradecido, nós salvamos a sua vida.

– Obrigado – Eu corrigi impaciente – Mas quem são vocês?

O homem simplesmente sorriu e foi em direção a um dos atiradores. Sem falar nada, tirou o rifle das mãos do homem e o apontou para mim. Pareceu-me que ele não estava realmente com a intenção de atirar, mas ele demonstraria que estava com vantagem.

– Se ainda não entendeu, garoto, nós fazemos as perguntas por aqui – Ele fez um movimento de abrir os braços, como se apresentasse um show – E que tal começar com o seu nome? Como você se chama?

Olhei para todos os lados, eu estava cercado, porém eu não me sentia realmente ameaçado. Eu estava diante de um grupo forte e bem estruturado. O bom senso me dizia para não ir contra eles, eu não conseguiria nada mesmo com isso, e que eu deveria confiar neles.

– Eu me chamo Jim – Eu respondi simplesmente – Jim Hawkins.

...

Já fazia duas semanas que eu havia embarcado no R.L.S e ainda me sentia como um estranho perto de todas aquelas pessoas. Eu havia me juntado ao grupo, o qual eu descobri que possuía um navio bastante moderno a sua disposição, e recebi um importante cargo entre eles: Ajudante de lavador de pratos. Uma das únicas duas pessoas que eu conversava naquele lugar era o “lavador de pratos mor”, que coincidentemente, era o mesmo homem que me interrogou no dia da Rua Tesouro. Seu nome era John Silver e, se eu ignorar a mania dele de falar gritando ou suas milhares ordens de afazeres para mim era um cara legal. A outra pessoa era o meu colega de quarto, Butch, que sempre aparentava estar tranquilo e tinha um jeito de malandro. De resto, todos os outros ignoravam a minha existência. Sempre estavam cochichando e me olhando com maus olhos. Em especial um homem chamado Scroop que logo que eu embarquei armou uma briga comigo, John Silver interviu, mas sempre senti que o homem magro e de cabelos brancos estava esperando a hora certa para continuar o que nós não havíamos terminado.

No comando do R.L.S estava a Capitã Amélia, uma mulher que eu não tive nenhum contato até o momento, mas que liderava a embarcação com punhos de ferro acompanhada por seu braço direito, um homem grande conhecido por Mr. Arrow. Como a minha posição na hierarquia do navio era ainda muito modesta, eu não tinha ideia de qual era o nosso destino, porém John havia comentado que era uma ilha aparentemente segura e longe dos tubarões.

No momento eu estava descascando batatas. Depois de um tempo, cerca de cinco segundos, você fica completamente cansado dessa tarefa e se torna algo totalmente monótono e desinteressante. Porém eu tinha recebidos ordens de terminar a minha tarefa e era isso que eu faria. Houve momentos da minha vida que eu simplesmente largaria o que eu estava fazendo e iria em busca de uma briga com o primeiro que aparecesse na minha frente. Porém, eu não era mais assim, Ariel havia mudado realmente algo e mim e eu me esforçaria para manter isso vivo em mim. Depois de alguns minutos, todas as batatas estavam sem casca.

Subi para o convés e o vento marítimo bateu em meu rosto. Olhei para os meus lados e muitos homens iam de um lado para o outro segundo as ordens de Mr. Arrow que estava ao lado da cabine da capitã. Porém, um dos marujos apenas observava as ondas e horizonte. Sorri ao perceber que era Butch e fui falar com ele. Com cabelos castanhos bagunçados e um sorriso divertido, o meu colega de quarto me recebeu com um tapa na nuca exageradamente forte.

– Ai! – Eu soltei massageando a minha cabeça – Isso doeu, maldito!

– E essa foi a intensão – Ele se justificou olhando para o nada – Olha para essa vista, Jim! Não é incrível? Sério, ás vezes não dá vontade de simplesmente pular nesse mar e ir nadando até o horizonte?

– Eu acho que você está levando muito sol nessa cabeça de vento, Vagabundo! – Respondi usando o apelido que fazia jus ao seu dono – Eu só quero chegar nessa tal ilha logo, não aguento mais descascar batatas e lavar pratos.

– Nem me fale... – Ele disse ainda olhando para o mar – Sabe qual vai ser a primeira coisa que eu vou fazer quando chegar à ilha?

– Eu não faço a mínima ideia.

– Mulheres! – Vagabundo respondeu se virando para mim e me sacudiu – Eu não aguento mais essa abstinência de sexo! A única pessoa do sexo feminino nessa porcaria de lugar é a capitã e eu não sou nenhum louco para tentar qualquer coisa com ela – Eu o olhei como se dissesse “até parece” – Certo, certo. Eu seria sim. Mas aquele guarda costas dela me assusta pra caramba. Porém, talvez você tenha mais coragem que eu, vamos Jim, todos sabem do seu fraco por ruivas!

– Não é fraco por ruivas, e sim por uma ruiva – Fiquei um pouco triste em falar de Ariel – Ainda está muito cedo, um dia eu volto à ativa.

– Ótimo. Menos concorrência para mim. – Butch deu um tapa nas minhas costas – Ei, Jim, eu estou precisando de um favor. Parece que alguém derramou suco de uva na sua cama e esse alguém está precisando de uma toalha para enxugar o estrago. Se você pudesse fazer esse favor para esse alguém, ele ficaria muito grato.

– Ah, vai se foder, Vagabundo! Já é a quarta vez que você faz isso! – Eu disse dando as costas para ele e me dirigindo a dispensa – Mas pode deixar que eu trago essas merdas pra você.

– Ah, obrigado, seu fofo! – Ele gritou rindo enquanto eu me afastava – O que eu não faria sem o meu grande amigo Jim?

Eu gostava do Vagabundo. Era um folgado e era cheio de vícios, mas ainda assim, era um bom amigo. Caminhei pelo convés ignorando os olhares estranhos que eu recebia e as viradas de cabeça suspeitas. Como sempre, fiquei pensando se eu era o único que era recebido assim, mas julguei que não havia muitos motivos concretos. Cheguei até uma grande porta dubla de carvalho que levava a dispensa. Empurrei uma das portas e entrei no lugar.

Estava tudo escuro, mas pude perceber que aquele lugar era enorme. Todos os utensílios que eu precisasse estavam distribuídos pelas prateleiras do local. Eu poderia andar até o interruptor e simplesmente acender as luzes, mas ele estava distante e não valia o esforço. Caminhei até a dispensa onde ficava o meu objetivo. Fiquei encarando o grande monte toalhas e fiquei de ponta de pé para alcançar a que estava mais em cima.

Porém, no mesmo momento, senti algo me puxando para baixo e apertando o meu pescoço. Por mais que eu tentasse escapar, o braço esquelético que ameaçava a minha vida apenas apertava cada vez mais.

– Você vai morrer, garoto – Uma voz irritante e conhecida disse em um tom quase inaudível para mim – E o Silver não vai estar aqui para impedir.

Era Scroop, o homem que já havia demonstrado várias vezes que não ia com a minha cara. Uma raiva desumana se apoderou de mim, eu não havia feito nada para aquele homem, mas mesmo assim ele queria me ver morto. Eu mordi o braço dele com toda a minha força e pude sentir o gosto do sangue do velho. Ele me soltou gritando e eu pulei para cima dele. O homem caiu com tudo no chão e eu comecei a desferir golpes em sua direção. Em certo ponto, o velho marujo de cabelos brancos arranjou forças e me empurrou para o lado. Levantando-se rápido, Scroop tirou uma navalha do cinto e apontou para mim.

– Scroop! – John Silver interviu mancando em nossa direção – Já chega!

Scroop apenas continuou me encarando. Suas narinas bufavam e eu notei que ele estava com ódio naquele momento. Eu mesmo estava com raiva, não gostava de ter que ser salvo todas as vezes que eu me encontrava em perigo, mas o velho estava armado e aquela não seria uma luta justa.

– Silver, me escuta, você está amolecendo com esse garoto – O homem magrelo disse ainda empunhando a lâmina – Quando chegar a hora eu duvido que você terá a coragem para...

– Eu exijo respeito! – O lavador de pratos gritou enfurecido, pude notar que Scroop mudou a sua postura, possivelmente por causa de medo – E você me dará esse respeito, estamos entendidos? Devo lhe lembrar do que aconteceu com o último que me desobedeceu?

– Não, senhor...

– Então continue sendo obediente – John Silver aconselhou enquanto Scroop saia de dentro da dispensa – E ninguém toca no garoto, é uma ordem.

A porta se fechou e nós dois ficamos a sós. Eu tinha dúvidas sobre o que acabara de testemunhar. Havia muitas perguntas a serem feitas. Por que Scroop obedeceu aos comandos de um lavador de pratos com tanta rapidez? Como ele sabia que eu estava em perigo? O que havia acontecido com o último homem que o desrespeitou? Porém, entre todas, havia uma pergunta que mais ecoava em minha cabeça...

– Por que você se preocupa tanto comigo?

– Ora, Jimbo... – O homem coçou a cabeça e explicou usando o apelido que ele me deu -... Eu não sei, você parece um cara legal. Eu não poderia deixar um verme como o Scroop assassinar você.

– Não, não é isso – Eu disse confuso e me afastando – Você sempre está me salvando. Por que você me salvou naquele dia na Rua Tesouro? Não faz sentido, gastar todas aquelas balas com alguém que nem ao menos era do seu grupo!

– Você é alguém, Jimbo! – Ele disse gritando – Um ser que respira, que está vivo, só isso já era motivo para eu salva-lo! – E depois voltou a se recompor – Além disso, pensei que talvez pudesse vir a ser útil no futuro.

– Eu?! Útil? – Eu ri – Ah, por favor, olha para mim! Eu sou um problema! Em todo o lugar que eu vou eu arranjo confusão! Ninguém que eu me importo sobrevive! Minha mãe está morta, Ariel provavelmente está também – E então eu simplesmente falei algo que sempre esteve preso em minha garganta, que eu tive vontade de dizer sempre que eu me afundava mais e mais nos meus problemas, disse a verdade que eu tentava esconder de mim mesmo – Vai ver foi por isso que o meu pai me abandonou.

Dirigi-me pesadamente em direção à porta com lágrimas querendo sair pelos olhos. Não entendi como eu explodi daquela maneira por um motivo tão pequeno, mas apenas parecia o lógico a se fazer. Antes que eu pudesse chegar à saída, John Silver me puxou de volta para perto dele.

– Agora, você me escuta, Jim Hawkins! – O olho de vidro e o real do homem grande e gordo me olhavam profundamente – Você tem que começar a ver a grandeza que há em você! Tudo o que eu pude ver nessas duas semanas é um homem esforçado que só termina de descascar batatas quando todas estiverem assim. Eu não sei porque o idiota do seu pai te abandonou Jimbo, mas você tem que parar de se culpar, eu acredito em você!

A única coisa que eu pude fazer nesse momento foi encostar-me à barriga de John Silver e chorar todas as lágrimas que eu guardei durante anos. Toda a dor que eu senti já não importava mais, eu poderia ter conhecido John há pouco tempo, mas mesmo assim ele acreditava em mim. Ele acreditava em mim.

...

A porta do dormitório estava trancada. Eu havia acabado de acordar e, ao tentar sair do quarto, percebi que não era possível. Estranhei e fui em direção à cama de Butch para acorda-lo driblando alguns pedaços de pizza estragados que ele havia deixado no chão do nosso quarto no caminho. Balancei o seu ombro e continuei até que ele abriu os seus olhos negros e desinteressados.

– O que foi mãe? – Vagabundo resmungou, sonolento – Veio me dar café da manhã na cama, é?

– Nós estamos presos – Fui direto ao ponto – A porta está trancada.

– Hum... Isso não é um bom sinal – Ele disse fechando os olhos – Boa sorte com isso, Hawkins!

Tentei procurar uma chave em algum lugar, mas nós nunca havíamos precisado de uma antes então era uma busca inútil. Tente girar a maçaneta de todas as maneiras possíveis, mas isso também não levava a nada. Só havia uma maneira de sair de lá: Arrombando a porta.

Convenci Butch a acordar e me ajudar com isso e, depois de ter resmungado bastante, concordou em me ajudar. Com um empurrão, forçamos a porta e saímos do quarto.

A visão não poderia ser mais caótica. Pelo largo corredor, marujos iam de um lado para o outro, apressados e rindo. Alguns pareciam não notar que eu e Vagabundo havíamos saído do dormitório de tão contentes que estavam. Porém, não foi o caso de John Silver. O homem estava segurando uma mulher ruiva e com aspecto feroz que logo identifiquei como a Capitã Amélia. O meu amigo parecia infeliz a me ver.

– Eu queria que você ficasse fora disso, Jimbo, mas parece que não foi possível... – E então se dirigiu aos outros marujos com uma postura autoritária – Tranquem junto com o resto.

...

Aparentemente já havíamos chegado ao nosso destino e eu estava sendo feito de prisioneiro junto com o meu companheiro de quarto, a ex-capitã do navio e o seu braço direito, Mr. Arrow. Estávamos todos amarrados com cordas e presos a estruturas de pedra que enfeitavam o escritório. A sorte foi que não nos amordaçaram e pudemos conversar naquelas intermináveis horas que se passaram.

Estávamos atracados em uma ilha conhecida como Terra do Nunca. O R.L.S havia sido contratado por um homem misterioso para apenas checar se era um local seguro para ficar para fugir dos tubarões, mas aparentemente esse mesmo homem havia contratado toda a tripulação para amotinar o navio e capturar alguns sobreviventes que estavam na ilha. John Silver aparentemente era o líder deles.

– Quando eu estiver livre dessas cordas – Os olhos verdes e felinos de Amélia faiscavam – Eu vou atrás de cada um desses traidores e vou...

– Ah, cala a boca – Vagabundo disse ao meu lado – Nós não vamos conseguir sair daqui, estamos totalmente nas mãos deles.

– Mais respeito ao falar com a sua capitã, Sr. Butch! – Mr. Arrow disse sério, nem mesmo amarrado e com poucas perspectivas de sobreviver ele perdia a sua pose de oficial – Ela com certeza tem um plano para nos tirar daqui.

– Obrigado, Mr. Arrow, isso foi muito doce de sua parte – A capitã falou, mas depois riu nervosamente – Mas eu não tenho nenhum plano.

A porta se abriu e todas as atenções se voltaram para o homem que havia entrado no recinto. Com um sorriso sinistro, Scroop estava armado e olhava para cada um de nós. Ele veio em minha direção e cuspiu no meu rosto, rindo após isso. E então olhou para a Capitã Amélia, a maneira que ele a fitava demonstrava que os seus pensamentos não eram nem um pouco puros.

– Ah, madame... – Ele disse se aproximando da capitã e mexendo em seu cabelo - ... Você não sabe quantas vezes eu nos imaginei nessa posição... esperei cada segundo por isso – E então apertou os peitos dela, uma careta de dor se formou na face da mulher – E você vai fazer valer a pena.

– A solte, seu verme! – Mr. Arrow avisou irritado – Você não vai tocar na Sra. Amélia!

– Esqueceu quem está armado aqui, Arrow? – Scroop disse rindo e apontando a arma para a cabeça do homem grande – Eu faço o que eu bem entender e isso inclui enfiar o meu...

– Mais nenhuma palavra! – Mr. Arrow avisou gritando e se debatendo para escapar das cordas – Eu vou me soltar daqui e quando eu conseguir eu mesmo vou honrar a capitã lhe retirando a vida e alimentar os peixes do mar com o seu cadáver.

Scroop simplesmente se agachou na frente de Mr. Arrow. Eu e Vagabundo nos entreolhamos e tentamos falar algo que acalmasse a situação. Porém já era tarde demais, o circo já estava armado. O velho apontou a arma para a testa do ajudante da capitã.

– Eu só quero ver você tentar isso com um buraco de bala na sua cabeça.

BANG

Amélia gritou alto e tentou se levantar. Butch se debateu para escapar, porém sem sucesso. Eu fiquei atônito demais para ter qualquer reação, Mr. Arrow estava morto e Scroop não parecia demonstrar nenhum sentimento de culpa para nós. Ele apenas parentava estar ainda mais furioso e se dirigiu até Amélia. Ela agora chorava e tentava morder o assassino de seu melhor amigo. Tentei com todas as forças escapar da corda que me apertava e que me impedia de fazer justiça. Ninguém dizia nada, era como se dançássemos uma dança de loucos e a única coisa que nos importava era o nosso próprio impulso.

Porém um som de fora do escritório se fez ouvir e Scroop parou de tentar qualquer coisa com Amélia. Ele mais uma vez empunhou a arma e saiu apressado do lugar. Um silêncio constrangedor se seguiu, o único ruído era o choro de Amélia. Eu e Vagabundo nos entreolhamos e nós não sabíamos o que fazer. Era óbvio que o velho iria voltar para terminar o serviço. Se ele não teve nenhum problema em matar Mr. Arrow, eu nem sequer imaginava o que ele faria comigo.

Porém a nossa salvação chegou quando uma garota, com cerca de dezessete anos, entrou sem fazer nenhum ruído pela janela da sala. Era bonita e loira, sua pele era clara e seus olhos eram azuis e maníacos. Ela carregava uma faca entre seus dentes. Pude notar que Vagabundo se endireitou ao ver a garota, mesmo em uma situação tão extrema, ele ainda estava pensando em mulheres. Ela veio até mim e tirou a lâmina de seus dentes e cortou a corda.

– Quem é você?

– Já lhe disseram que você é muito mal educado? – A garota respondeu a mim se virando para Butch para cortar a suas cordas – Um muito obrigado já seria o suficiente.

– É, já me disseram isso sim – Eu não pude deixar de sorrir – Obrigado.

– Assim está bem melhor. Eu me chamo Alice, muito prazer – E então se virou para o corpo de Mr. Arrow – Hã... Esse aqui está morto?

– Então você é uma nativa, muito prazer – Vagabundo abriu um sorriso safado e se aproximou da garota – Eu me chamo Butch.

Alice nem se deu o trabalho de responder e cortou as cordas de Amélia. A capitã não falava nada e apenas olhava para o chão, sua postura revelava o quanto ela estava furiosa. A loira se dirigiu até a janela e fez sinal para que nós a pulássemos.

Fizemos como ela havia nos aconselhado e mergulhamos no mar. Nadamos até um pequeno bote onde um garoto dentuço e vestido de coelho nos esperava. Ele me ajudou a subir e eu, em seguida, puxei o resto também.

– Olha, linda – Meu amigo disse olhando para Alice – Não é seguro voltarmos para a ilha. Suspeitamos que toda a tripulação desse navio esteja lá para capturar todos os que vivem alí.

– Pode ter certeza que não é seguro – A garota abriu um sorriso divertido – Mas para os piratas! Podem ter certeza, há essa hora os Meninos Perdidos já capturaram todos eles.

...

De fato, o cenário que encontramos quando chegamos ao esconderijo dos Meninos Perdidos era impressionante. Marujos experientes estavam amarrados pela perna e trepados em cima de árvores, vários outros estavam presos dentro de poços e alguns estavam desacordados. Eu só não conseguia visualizar John Silver e Scroop entre eles. Vi mais alguns meninos vestidos como animais, todos eles aparentavam não passar dos dezesseis anos, duas garotas, e um ruivo que me aparentou ser o líder do grupo só pela postura que ele estava.

– Ei Peter, olha isso! – Alice disse se virando para Butch e dando um beijo nele. O Vagabundo parecia mais surpreso que feliz após isso, a loira apenas levantou o dedo do meio e apontou para o líder – Vai se foder, babaca!

A garota simplesmente saiu e criou um clima tenso entre todos os que estavam presentes. Peter pareceu incomodado, mas não quis demonstrar isso e simplesmente se dirigiu a mim.

– Você deve ser Jim Hawkins, venha comigo – O ruivo disse em tom autoritário – Vamos dar um passeio.

Seguimos para a vegetação da ilha, Peter sempre ia a minha frente. Mesmo sendo mais novo, percebi que o garoto parecia ser o mais centrado de lá. Caminhamos até que ele parou e tirou uma faca de seu bolso. Fiquei um pouco tenso, mas ele me entregou logo em seguida.

– É só para o caso de sermos atacados – Ele explicou – E então? Você deve estar se perguntando o porquê de eu ter te trazido até aqui.

– Naturalmente...

– Bem, eu vim aqui para lhe fazer algumas perguntas – Peter disse me encarando – Quem são vocês? O que vieram fazer aqui? E por que vocês estavam amarrados no navio?

Eu sentia que poderia confiar no ruivo e simplesmente contei toda a minha história. Começando desde o momento que a minha mãe morreu até quando Alice nos salvou de dentro da embarcação, passando por Ariel e por John Silver. O garoto escutava atentamente, apenas me interrompendo algumas vezes para perguntar algo. Quando terminei ele respirou aliviado.

– É, acho que posso confiar em vocês três. Agora, quanto a essa questão dessa garota ruiva... – Ele disse coçando a cabeça e abrindo um sorriso torto – Sinto que não posso aconselhar você a nada. Mulheres são complicadas.

– Nem me fale, quando eu estava com a Ariel era difícil desvendar o que ela estava pensando – Eu falei sorrindo de forma melancólica – Mas foram os momentos mais felizes que eu já vivi.

– Você viu o que a Alice fez há pouco? – Já conversávamos como se fossemos amigos há muito tempo – Dá para acreditar naquilo?

– Vocês estão juntos ou algo assim?

– Hã... Não na verdade – Ele respondeu um pouco confuso – Na verdade eu meio que estou com a Sininho, eu não sei, vai ver eu que sou complicado mesmo.

Rimos por um momento, mas depois ficamos sérios ao ouvir que havia barulhos nos arbústeos próximos a nós. Havia alguém nos observando. Sacamos as nossas facas e, quando fizemos isso, fomos surpreendidos pelos dois marujos que faltavam serem capturados: Scroop e John Silver. Em um milésimo de segundo, Peter avançou até o velho e começou a duelar com eles com lâminas. Encarei o lavador de pratos e ele sorriu para mim de forma triste. Porém, ele usou a lâmina de sua prótese para me atacar e eu desviei por pouco. Em poucos segundos eu e John Silver estávamos duelando.

Para um homem grande e com próteses, Silver era bastante ágil em seus movimentos e era muito difícil atingi-lo. Ele tinha uma força impressionante e cada vez que me golpeava eu tinha que voltar para trás. Meu coração parou de bater quando percebi que havia tropeçado em uma raiz e que tinha perdido o equilíbrio. Minha lâmina caiu para o lado e Silver apontou sua prótese para o meu rosto.

Ele poderia ter me matado naquele momento, poderia ter me atacado e acabado com aquilo, mas não foi isso que ele fez. Ele apenas continuou me olhando e, com medo de que ele despertasse de seu transe, alcancei a minha faca e cortei a prótese do seu pé. John Silver caíra com força no chão e eu havia vencido o duelo. Olhei para o lado e vi que Scroop estava desacordado no chão aos pés de Peter. O garoto estava de braços cruzados e sorrindo.

– Bem, acho que devemos levar esses prisioneiros para junto dos outros – O ruivo sugeriu apontando para Scroop e Silver – A não ser que tenha algo diferente em mente para eles.

Encarei o rosto moreno e desacordado de John Silver que estava a minha frente e pensei no que deveria fazer. O que eu sabia é que ele não teria um destino igual a de todos os outros marinheiros.

– Pode levar esse com você – Eu disse apontando para o velho – Eu tenho assuntos para tratar com o outro.

...

– Jimbo, você não pode está pensando em fazer isso – Silver balbuciava desesperado enquanto caminhávamos pela praia – Você não faria isso comigo, faria?

– Apenas continue andando.

Nós dois andávamos pela praia de areias claras da Terra do Nunca. Ele ia a frente mancando mais do que nunca, pois parte de sua perna havia sido cortada e eu ia atrás apontando a faca para ele. Ele ás vezes olhava para trás e me olhava com um olhar triste, mas eu não me deixava me levar por isso. Andamos por mais alguns minutos até que chegamos onde eu queria ir.

– Agora feche os olhos e fique de joelho.

– Jimbo, não, por favor – Ele suplicava de joelhos – Você não quer ter isso na sua consciência, quer? Por favor, me deixe viver, eu prometo que vou mudar!

– Agora!

O homem engoliu o choro e fechou o olho verdadeiro aguardando a minha decisão. Olhei para a minha lâmina e nem por um instante senti vontade de usar contra John Silver. Fui até o mar e puxei um pequeno bote que estava perto da ilha.

– Pode abrir.

O lavador de prato olhou para o bote e começou a rir, mas não um riso maldoso, um riso completamente embriagado de emoção. Percebi que ele estava com vontade de me abraçar, mas se conteve, pois sabia que talvez não fosse algo prudente. Invés disso ele apenas me olhou orgulhoso.

– Mas por que, Jim? – John Silver falou ainda sem acreditar na sua sorte – Você sabe que eu posso voltar a fazer algo desse tipo, por que me ajudar?

– Uma vez um homem me disse que havia grandeza dentro de mim – Eu respondi – E esse homem não era um monstro, ele irá parar de fazer besteira. Em outras palavras... – Eu sorri para John Silver -... Eu acredito em você.

...

Já havia se passado semana desde os eventos da Terra do Nunca. Os Meninos Perdidos nos desejaram boa sorte e nos ajudaram a manter todos os traidores presos no porão do navio. Tivemos dificuldade de navegar com apenas três pessoas como equipe, mas Amélia era uma ótima capitã e conseguimos chegar ao porto de Nova Londres sem maiores dificuldades.

Estávamos nós três observando a cidade pelo porto, não víamos nenhum tubarão naquele momento, mas sabíamos que eles estavam por alí apenas esperando algum deslize para acabar com nossas vidas.

– Eu não conseguir encontrar Scroop na ultima contagem dos prisioneiros – Comentei olhando para a embarcação – Vocês tem alguma ideia de onde ele possa estar?

– Não adianta procurar, ele nunca mais vai ser achado mesmo – Amélia disse despreocupadamente. Um arrepio subiu pela a minha espinha. Aquela mulher podia ser muito perigosa se quisesse. – Mas ele teve o que mereceu, Mr. Arrow se sentiria honrado.

– Hã... Certo – Vagabundo disse coçando a cabeça – E então? Qual é o plano agora?

– Eu contatei a base militar Heitor que fica nas proximidades, eles vão vir capturar os prisioneiros para interrogatório – Amélia respondeu – Eu vou ficar aqui e depois vou me juntar ao exército. Quem sabe assim eu posso usar toda a raiva que eu estou sentindo para algo útil?

– Não sou muito fã do exército, eles são sérios demais – Vagabundo disse e depois olhou para mim – Eu estou com você, Jim, para onde você for, eu vou junto. Qual é o nosso destino?

Por um instante fiquei pensativo, mas a resposta era simples demais. O que eu iria fazer agora era ir atrás da única pessoa que eu arriscaria tudo para salvar. Que talvez estivesse com medo em algum lugar. E que eu precisava beijar mais uma vez.

– Nós vamos atrás da Ariel.


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Notas finais do capítulo

Eu admito que estou exausto kkkkkkkkk, eu não conseguia para de escrever e deu no que deu. Mais de 5000 palavras escritas em dois disas. Não vou fazer um texto enorme aqui, me perdoem, mas meus dedos doem.
Enfim, no próximo capítulo um narrador irá voltar. Hã... Abraços, Polo.