O despertar do Apocalipse escrita por AHSfan


Capítulo 6
Não desloque a linha reta -


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Estamos de volta após tanto tempo! Ufa!
Estou satisfeita com o ritmo e o desenrolar desse capítulo e pela primeira vez teremos um POV (Point of View, ou ponto de vista) da Stella. Quem aí já é fã dela? hehe
No mais, obrigada a todos que estão acompanhando e comentando, vcs tem um lugar especial no meu coração (é sério, pq tem sido mais difícil escrever isso do que eu esperava e vcs me incentivam a prosseguir)
Em suma, boa leitura!



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08 de janeiro de 2014

Atlas estava deitado e sua respiração era marcada por um ritmo tranquilo. Alguns lençóis o cobriam e uma de suas pernas pendia fora da cama, preguiçosamente. Ele podia sentir a luz do sol de Nova York batendo suavemente em seu rosto, mas uma parte de seu subconsciente ainda estava aprisionada no mundo dos devaneios, repassando a noite anterior repetidamente. Ele encontrava-se em um daqueles meios-termos entre acordar e dormir. Atlas sonhou com manequins de braços longos e esguios, muros altos, o olhar aterrorizado de Stella e com o rosto de Magdalena. Por vezes ele também via a garota do cabelo loiro.

“Eu sou Maya Harrison.” A voz distante da garota loira ecoou nos sonhos de Atlas. Ele reviu Maya segurando o gato de três olhos carinhosamente. Entretanto, dessa vez ele observou o brilho escarlate no olhar do animal.

Atlas revirou-se na cama. Ele vislumbrou novamente o rosto de Magdalena em seus sonhos, porém ela parecia triste, o mais triste que alguém poderia estar. Seu rosto estava manchado de lágrimas e seus ombros tremiam violentamente. Atlas queria lhe perguntar o porquê dela estar assim, ele queria poder ajudá-la.

Magdalena pareceu então notar a presença dele. Ela tinha lágrimas densas que escorriam pela acetinada pele negra.

“Atlas, acho que vocês vão chegar atrasados.” A voz inumana do gato ressoou nos pensamentos de Atlas. Ele poderia jurar que o animal albino estava no mesmo recinto em que ele dormia. Stella ainda estava roncando alto há alguma distancia quando Atlas tentou abrir os olhos, lentamente. Ele piscou algumas vezes até ter certeza de que estava desperto. Atlas tomou um baita susto quando viu o gato de três olhos sentado ao seu lado na cama, fitando-o.

“Bom dia, Atlas!”

Um grito assustado escapou dos lábios de Atlas que empurrou o próprio corpo contra a parede.

Então, tudo que aconteceu ontem, foi... Real. Ele pensou ainda deslumbrado.

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Ela observava silenciosamente as pessoas que estavam no metrô, aqueles a quem seu irmão chamaria de classe trabalhadora. Stella estava sentada em uma das cadeiras do metrô, ao lado de Maya que conversava animadamente com Atlas sobre o que quer que fosse. Normalmente, Stella era uma garota alerta e atenta a tudo que seus amigos diziam, pronta para ouvir e comentar quando julgava necessário. Naquela manhã, porém, ela sentia-se diferente. Stella não conseguia parar de refletir sobre as informações que o gato de três olhos tinha dado. Um desejo, qualquer desejo, ele dissera. Os pensamentos de Stella davam voltas e voltas em torno dessa chance. Se ela tivesse que escolher algo pra si, o que ela pediria? Stella tinha tudo que uma pessoa precisava para viver bem. Ela vivia bem até demais, por vezes sentindo-se culpada por ser tão abençoada em um mundo construído em bases de desigualdades sociais. Stella tinha uma família funcional, um corpo saudável, um irmão gêmeo por quem ela nutria muito carinho, dinheiro para gastar a seu bel prazer e amigos como Atlas, que a faziam sentir confortável e feliz.

“Desculpe!” Um rapaz judeu usando um quipá na cabeça gritou ao esbarrar em Atlas que, perdendo o equilíbrio, deixou Kyubey cair no colo de Maya. Após recuperar-se do susto Atlas abaixou-se e sussurrou:

“Escuta, Maya, você tem certeza que ninguém consegue mesmo ver Kyubey?”

“Sim, somente os que possuem potencial para tornarem-se jovens magi são capazes de vê-lo. Não se preocupe.”

Parando pra pensar um pouco Stella notou que Maya parecia com uma irmã mais velha bacana, do tipo que só existia em filmes adolescentes sobre a vida escolar. Ela era bonita, tinha um ar de mais velha e sempre parecia ter a resposta certa para acalmar o coração das pessoas.

“E graças a minha magia vocês podem se comunicar telepaticamente também!” Kyubey disse com sua voz inumana.

Você consegue ler nossos pensamentos?” Atlas perguntou telepaticamente.

Não. Na verdade somos como ondas de rádio. Minha magia permite que nossas mentes se conectem, como estações de rádio, mas somente quando nós assim desejamos.”

“Então isso é magia sua? Nós não temos nenhum poder ainda?” Stella perguntou olhando para Kyubey.

“É minha magia sim, para facilitar a comunicação ente vocês. Vocês só terão magia após assinarem o contrato.” Kyubey respondeu pondo uma pata na mão dela.

Stella perguntou-se o porquê dela e Atlas serem escolhidos, para se tornarem seres mágicos, por Kyubey dentre os oito milhões de cidadãos que habitavam a megalópole da Estátua da liberdade. É como ganhar na loteria, ela pensou quietamente.

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Atlas avistou de longe, Hannah Envystone e Simon Lancaster, nos portões da escola. Ele viu quando Hannah cutucou Simon com o ombro e indicou Maya com a cabeça. Simon, como de costume, demorou um pouco para desgrudar os olhos de Hannah e ver a quem ela estava se referindo. Então ele deu de ombros e falou algo com certo ar de desprezo. Atlas até já poderia imaginar do que se tratava a conversa: a amizade súbita entre Stella e Maya Harrison. Faltavam apenas alguns metros para que eles estivessem dentro da escola.

“Bom dia!” Hannah Envystone cumprimentou a todos com um abraço e um beijo do lado direito do rosto, entretanto quando chegou o momento de falar com Maya, ela parou e observou a garota loira por um rápido segundo.

“Você deve ser Maya Harrison, não é? Não sabia que você conhecia Stella e Atlas.” Hannah comentou estendendo a mão. “Prazer, eu sou...”

“Hannah Envystone, eu sei. Atlas, Stella e eu nos conhecemos ontem no clube do seu pai. Muito prazer!” Maya replicou educadamente.

“Eu me chamo Simon Lancaster. Stella é minha irmã.” Simon disse estendendo a mão na direção de Maya que a apertou, sem hesitar.

“É um prazer Simon, sua irmã falou muito bem de você.” Essa parte não era bem verdade o que causou uma pequena crise de risos em Atlas, enquanto Stella permaneceu séria, pois ainda estava distraída em suas considerações.

“Bem, espero vê-los novamente na hora do almoço, não esqueçam.” Maya despediu-se se dirigindo para sua sala.

Atlas e Stella trocaram um olhar cheio de palavras não ditas. Eles sabiam o que Maya queria dizer com este ‘não esqueçam’. Durante o percurso no metrô, ela propôs que eles a acompanhassem em uma caçada, pois isso facilitaria a compreensão deles acerca do trabalho e da responsabilidade de ser um jovem magi. Sem esperar por Hannah e Simon como costumavam fazer, Atlas e Stella saíram na frente. Eles já estavam na metade da escada para o corredor dos terceiros anos quando Stella perguntou:

“Tem certeza que está tudo bem trazer Kyubey pra escola?” Ela lançou um olhar ansioso para os ombros de Atlas, onde Kyubey estava.

“Qual o problema?” Atlas questionou de volta, sentindo-se um pouco desatento ao avistar os cabelos esvoaçantes de Magdalena a alguma distancia. Era impossível fugir dela e o fato de que os alunos não paravam de comentar o seu excelente desempenho em todos os aspectos da vida escolar também não facilitava. Aparentemente, Lena era perfeita em cada disciplina que a Dalton School ofertava e não se falava em outra coisa.

“Ela teve o melhor tempo na corrida durante a educação física ontem! Tão rápido que o professor praticamente implorou pra ela entrar no clube de corrida.” Uma garota magricela comentou para uma colega mais gordinha.

“Isso não é nada, você deveria ter visto a velocidade com que ela conseguiu terminar as questões de química na turma avançada e ainda por cima acertar todas. Queria ser assim...” A outra estudante respondeu com ar de admiração.

“Duh, Magdalena estava tentando matar Kyubey até ontem.” Stella replicou.

“Não se preocupem, se Magdalena tentar algo eu posso ligeiramente pedir ajuda a Maya que virá em nosso socorro, não é Maya?” Kyubey disse.

“Sim, Kyubey pode me informar a localização de vocês.” A voz telepática de Maya chegou como se carregada pelo vento.

“Segure Kyubey, Stella, eu preciso falar com Magdalena um instante.” Atlas disse em voz alta e então passou Kyubey para os braços de Stella, distraído demais para notar que os outros estudantes o encaravam como se ele estivesse louco.

“Está bem, mas preste atenção, porque já vai tocar.” Stella comentou sentindo o peso risível de Kyubey em seus braços. E assim, Atlas caminhou, atravessando o mar de alunos, até Magdalena tentando manter-se calmo...

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Magdalena o viu de longe. O olhar conturbado no rosto de Atlas a deixou alerta. Ele estava vindo à direção dela e parecia determinado a fita-la, como se viesse para demandar respostas. Ela o observou de volta sem medo do que ele pensaria e deixou que seus olhos o seguissem. Magdalena conseguia observa-lo e nada mais.

“Preciso falar com você, Lena.” Ele disse achegando-se a uma distancia respeitosa. A voz de Atlas exibia uma nota de seriedade que Magdalena simplesmente não deixou de notar.

“Está bem.” Ela o guiou até o canto mais distante do corredor, onde poderiam conversar sem serem ouvidos por outros alunos. Ele a olhou por um segundo e então, suspirou frustrado. Atlas passou as mãos pelos cabelos desgrenhados, sentindo-se um pouco mais desnorteado a cada segundo que passava. Magdalena tinha esse efeito sob ele, ela o deixava desconcertado e incerto do que viria a seguir. Essa conversa tinha sido muito mais fácil quando foi imaginada na cabeça dele.

“Você disse que precisava falar comigo. Do que se trata?” Ela perguntou direta.

“Lena, eu... Eu preciso saber de você, porque acho que todos merecem o direito de explicar-se. Quero ouvir a sua versão da história.”

Magdalena concordou com a cabeça esperando que ele prosseguisse. Atlas pôs uma mão no bolso da calça e desviou o olhar.

“É verdade que você estava perseguindo Kyubey porque não queria que fizesse novos contratantes?”

“Sim.” Magdalena respondeu sem hesitação e com um toque de frieza. A velocidade da resposta assustou Atlas que não escondeu o olhar surpreso. Ele não conseguia de maneira alguma entender as atitudes dela. É como se Lena encarnasse a própria esfinge e Atlas estivesse sempre no limite de ser devorado por seus mistérios.

“Maya me explicou tudo sobre ser um jovem magi e eu tenho certeza que impedir Kyubey de fazer novos contratos não faz parte do trabalho.”

“Maya explicou tudo sobre ser um jovem magi, não é? Eu aposto que sim...” Magdalena respondeu com o olhar distante.

“Por favor, não mude de assunto, já é difícil ficar concentrado perto de você...”.

Ela, prontamente, ergueu as sobrancelhas e somente através disso Atlas compreendeu o peso do que tinha deixado escapar. Ele pôs uma mão no rosto, sentindo-se corar, envergonhado. Então a vergonha se transformou em raiva.

“Porque Lena? Porque você não quer que nós assinemos o contrato?” Atlas perguntou sem rodeios e se congratulou mentalmente por manter a voz firme. Magdalena ficou em silêncio por instantes que correram bem lentamente para Atlas. Ela viu as mãos dele apertadas, demonstrando sua ansiedade e observou os olhos acinzentados nebulosos, emoldurados pelos cílios castanhos que Atlas possuía. Os lábios avermelhados estavam apertados em uma linha fina e as bochechas ainda estavam levemente enrubescidas.

Atlas realmente se importava com o que quer que ela estivesse prestes a dizer.

“Não é da sua conta.” Magdalena respondeu secamente e deu as costas.

“Lena...” Mas antes que Atlas pudesse prosseguir em sua fala, o sinal para a próxima aula berrou alto e estridente, fazendo com que uma enxurrada de estudantes aparecesse, empurrando-os e distanciando-os um do outro, até que eles entrassem na sala. Magdalena, sentando-se em seu lugar e agradeceu aos céus por eles terem sidos separados naquele minuto, justamente quando ela estava tão perto de quebrar.

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“Você já pensou no que pedir?” Stella perguntou pondo uma mecha azul do cabelo atrás da orelha. Após o final do turno diurno, ela e Atlas andavam lado a lado no corredor vazio, rumo à sala de Maya, prontos para embarcarem na primeira caça a bruxas experimental de suas vidas.

“Pedir?” Atlas repetiu incerto de que tinha ouvido bem. A mente dele ainda estava irremediavelmente centrada na conversa com Magdalena.

“Se você se tornar um jovem magi, o que vai pedir?” Stella questionou novamente. Atlas coçou os cabelos castanhos. Ele não tinha parado pra refletir no assunto e não sabia nem por onde começar.

“Eu não sei, Stella. Não pensei em nada ainda... E você?”

“Estou ponderando sobre isso desde ontem, mas não sei. Acho que não existe nada que eu queira o suficiente a ponto de arriscar minha vida por isso...”.

“Que curioso. Normalmente os jovens que escolho aceitam minha oferta na hora.” Kyubey comentou ecoando sua voz pelos pensamentos de Stella e Atlas.

“Quem sabe nós sejamos tolos, Kyubey.” A voz de Stella adquiriu um ar introspectivo que se agravou a cada palavra dita. “Rasos e efêmeros demais. Somos irresponsáveis, bebemos, nos drogamos, estamos sempre em busca de algo, algo que não sei nomear. Somos tão fúteis e cheios de vaidade que por vezes não conseguimos enxergar nada mais que nosso próprio umbigo. Somos a geração que supervaloriza o espetáculo e ignora a dor do mundo real”.

Atlas virou o pescoço e olhou para Stella. Realmente olhou. Ela tinha o rosto atento e vívido como Atlas só vira uma vez, durante uma das apresentações musicais de Sam. A postura de Stella era defensiva, o que contrastava com a jovialidade de seus cabelos azuis e a deixava mais... Corajosa.

“Whoa, não é bem assim, Stella... Acho que você anda lendo Mario Vargas Llosa demais.”

Ela pareceu pensar um pouco antes de responder e enfim disse:

“Talvez. Mas você não acha isso injusto? Estou certa de que existem pessoas que arriscariam suas vidas e assinariam o contrato com Kyubey sem pensar duas vezes. Enquanto isso, nós dois nem sequer conseguimos decidir o que pedir. Somos tão abençoados que não entendemos o sofrimento daqueles que dariam tudo em troca de seus desejos.”

Atlas ficou boquiaberto com o que ouviu. Ele percorreu a mente em busca de contra-argumentos, mas não encontrou nada além do conjunto vazio, assim como na matemática. Stella estava coberta de razão, afinal os problemas que eles enfrentavam não passavam de banalidades quando comparados as problemáticas reais do mundo adulto. A verdade é que Atlas, mesmo não sendo abastado como Stella, também não tinha uma vida miserável. Ao contrário, a pior coisa que lhe tinha acontecido fora o divórcio dos pais que apesar de lhe deixar cicatrizes não o tinha impedido de continuar vivendo. Atlas lambeu os lábios sentindo-se hesitante e indagou-se pela primeira vez qual seria o motivo de Kyubey tê-los escolhido entre tantas outras pessoas.

Bem neste momento Maya apareceu e seus olhos brilharam seus novos amigos. Ela verdadeiramente estava feliz contemplando a possibilidade de não mais ficar só, somente Deus sabia o quanto ela era realmente solitária.

“Olá meus pupilos! Prontos pra nossa aula inaugural de caça as bruxas?” Logo, porém, ela notou o clima tenso entre Atlas e Stella e seu semblante decaiu um pouco.

“Aconteceu algo?”

A dupla de melhores amigos se olhou, mas nenhum dos dois disse nada.

“A garota novata... Ela fez algo a vocês?” Maya deixou toda a preocupação transparecer na voz e aproximou-se com os enormes olhos castanhos apreensivos. Maya era gentil demais e Stella não teve coragem de derrubar seu humor, então ela respirou profundamente e respondeu:

“Não aconteceu nada. Por hoje Magdalena resolveu nos deixar em paz, ainda bem.” Stella deu um sorriso perfeito de dentes brancos, reluzentes, o sorriso de quem sempre teve tudo facilmente. Ela enganaria qualquer um com maestria, exceto Atlas que a conhecia bem demais e viu quando Stella simplesmente afastou de si a nuvem turva de pensamentos.

“Que bom!” Maya respondeu aliviada e seu rosto se iluminou novamente. “Hoje quero mostrar pra vocês como faço pra seguir o rastro de uma bruxa, mas primeiro devemos retornar ao Beco do Yelp Club.”

Após uma caminhada de cerca de vinte minutos, estavam os três jovens de volta ao local onde tudo tinha começado na noite anterior. Atlas mal podia acreditar no quão ordinário o beco parecia no período diurno, tratando-se apenas um local sujo e inofensivo, bem diferente do circo de horrores da noite passada. A neve caía suavemente sob a cabeça dos três quando Maya ergueu o braço e abriu a palma da mão. A joia da alma com a pedra âmbar surgiu e Atlas notou, de imediato, que a pedra oval estava mais brilhante.

“Observem como a minha joia da alma está cintilando. Isso é uma reação à energia mágica deixada pela bruxa.”

Stella e Atlas balançaram a cabeça demonstrando que compreenderam o que tinha sido dito.

“Basicamente, o uso da joia da alma é fundamental para encontrarmos nossas inimigas, pois funciona como um radar. As maldições das bruxas são as principais causas de acidentes de transito, assassinatos inexplicáveis e suicídios, portanto eu mapeei os locais onde esses três tipos de fatalidades costumam acontecer com mais frequência em Nova York. Atlas você poderia pegar o tablet que está na minha bolsa, por favor?”

Atlas prontamente abriu a pequena bolsa carteiro, cujo tom de amarelo era idêntico aos dos fios loiros de Maya. Ele pôs as mãos no tablet prateado e destravando a tela observou um mapa detalhado da cidade de Nova York. “Uau!” Atlas pensou impressionado. Existiam milhares de pontos que iam do preto ao laranja e se espalhavam como dentes-de-leão pelos mais distintos locais. Atlas sentiu quando Stella tentou ver por cima do ombro dele e solidarizando-se com a altura da amiga, resolveu passar o tablet pra ela.

“Nossa!” Stella exclamou arregalando os cristalinos olhos azuis.

“É um mapeamento que fiz ao longo do ano passado, com jornais e noticiários, marcando os locais de maior probabilidade de uma bruxa manifestar-se. Tentem ver onde estão localizados os pontos mais próximos daqui”.

Stella que estava com o mapa eletrônico nas mãos não pôde deixar de perceber, involuntariamente, a proximidade do Lenox Hill Hospital, local onde Sam estava internado.

“Sim, tem uma rua, cerca de três quarteirões de distancia daqui...” Atlas falou sentindo um calafrio estranho descer-lhe a coluna.

“Vamos até lá” Maya disse pondo a joia da alma adiante.

Enquanto eles caminhavam Atlas questionou-se o porquê dele estar tão interessado em Lena, já que ela não fizera nada a não ser rejeita-lo. Ele não compreendia a fascinação magnética que o seduzia a estar ao redor dela como uma mariposa condenada a achegar-se a luz. Sim, Lena era fisicamente atraente, mas suas respostas negativas já teriam feito Atlas desistir se ele estivesse apegado somente à aparência dela. A verdade é que, desde o divórcio dos pais Atlas sentia um estranho e potente vazio dentro de si, ele perdera a vontade de dedicar-se a qualquer atividade e desacreditou, desconstruindo, aos poucos a ideia do amor romântico.

No ano anterior ele sonhava constantemente com os gritos das brigas dos pais e com o estridente silêncio que se seguia, Atlas vislumbrava o pai chorando e a mãe escondendo os papeis do divórcio. Isso o assombrou durante um bom tempo e mesmo as idas ao psicólogo pareciam não surtir efeito. Até que outras imagens surgiram em sua mente no mês passado. Lena surgiu em seus devaneios noturnos, ela e o pesadelo caótico sobre o fim de Nova York o tinham retirado do ciclo de dor anterior. Lena, indiretamente, o tinha resgatado.

Mas porque ele estava sonhando tanto com ela?

Atlas suspirou confuso e quando deu por si, Maya e Stella haviam parado de andar. A joia da alma, âmbar, de Maya brilhava com intensidade em sua delicada mão. Um prédio acinzentando e abandonado erguia-se imponente diante do trio, com várias janelas quebradas cujos estilhaços pareciam prestes a cair. A construção tinha pichações por todo o lado, que iam desde símbolos do anarquismo até declarações de amor, dando um ar de ainda mais negligencia ao local. A porta de entrada havia sido arrancada e no lugar dela, ramificações de plantas adornavam a abertura, em um sombrio convite.

Não mais que de repente, Atlas sentiu um forte odor de gasolina. Ele deu um passo à frente e seu tênis ficou úmido, pois o enorme fio de um líquido viscoso escorria velozmente até seus pés. Ele observou que Stella estava um pouco à direita do líquido e Maya à esquerda, entretanto nenhuma das duas estava em contato direto com a substância, diferentemente dele.

“O que é isso?” Atlas perguntou em voz alta percebendo que seu outro tênis também estava sendo encharcado pelo líquido úmido.

“Cuidado!” Maya alertou-os com o tom da voz urgente e Kyubey imediatamente pulou para longe dela.

O aviso de Maya foi a última coisa que Atlas ouviu com clareza antes de ser atingido por velozes labaredas de fogo.


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Notas finais do capítulo

Então, ninguém morreu ainda.... Ou será que já? hahaha Descubram tudo no próximo capítulo, prometo que as coisas vão ficar bem...Quentes hahaha (Piada péssima, sorry)
Espero vê-los no próximo capítulo e até mais