O despertar do Apocalipse escrita por AHSfan


Capítulo 5
O despertar do Apocalipse -


Notas iniciais do capítulo

Capítulo longo, cheio de explicações, cheio mesmo. Tive um bloqueio de criatividade enorme para escrevê-lo, mas enfim aqui está!

Obrigada por acompanhar até aqui



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Pedaços grandes, médios e pequenos do espelho desabaram, enviando uma chuva de fragmentos, translúcidos como cristais, por todo o local. Stella cobriu a cabeça com as mãos enquanto Atlas apenas curvou-se, tentando proteger-se dos estilhaços. O casal de ex-namorados permanecia com os olhos fechados no momento em que um grande feixe de luz amarela iluminou todo o recinto, dispersando os manequins.

“Ora ora, essa foi por pouco! Mas vocês estão a salvo agora.” A voz acolhedora da jovem loira ressoou pelo sombrio lugar.

Quando Atlas abriu os olhos e viu sua salvadora, ele não poderia ter ficado mais impressionado. A garota estava vestida com a mesma jaqueta das animadoras de torcida da Dalton School. Ela usava um vestido marrom com detalhes dourados e em suas mãos estava uma fita amarela, como as que são utilizadas pelas meninas da ginástica rítmica. Atlas notou que os manequins iam recuando à medida que a garota se aproximava deles, até que repentinamente ela jogou a fita para o alto e disse: “Fucile da caccia!”.

Enquanto a fita ainda estava no ar ela começou a enrolar-se em si mesma, transformando-se em uma espingarda prata com detalhes dourados, como por mágica. A espingarda caiu nas mãos da garota que velozmente efetuou 10 disparos, sem hesitar. A cada tiro o local parecia mais iluminado que antes.

“I-Incrível...” Atlas escutou Stella sussurrar ao seu lado.

A garota graciosamente virou-se na direção deles, fazendo com que seu vestido tomasse algum movimento durante o giro.

“Vocês salvaram Kyubey não foi? Obrigada, ele é um amigo muito querido.”

Atlas arriscou dar um passo na direção da garota loira e respondeu inseguro.

“Eu ouvi a... Voz dele. Estava me chamando.”

“Imaginei que sim.” A garota replicou sorrindo cordialmente.

“Essa jaqueta pertence às animadoras de torcida da Dalton School, não é? Você também estuda lá?” Stella perguntou curiosa, entretanto não pôde obter sua resposta, pois nesse instante a garota loira deu as costas de repente.

“Fiquem atrás de mim.” Ela comandou.

O estridente som de arame farpado sendo arrastado recomeçou. Metros e metros de arame surgiam do chão espalhando-se pela parede leste, onde a pista de boliche deveria estar. O arame foi acumulando-se ligeiramente, até configurar-se em uma gigantesca mão que se esticou até alcançar a garota loira, como que prestes a agarra-la. A jovem loira tinha uma postura atenta e confiante como uma jogadora de vôlei prestes a receber a bola.

“É hora de acabar com isso.” Ela falou segurando a fita atlética junto ao peito e então criando um enorme circulo de tiras douradas ao seu redor.

A cena poderia até mesmo ser considerada bela, pois a fita dourada dava voltas e voltas em círculo ao redor do corpo da garota como um escudo, enquanto a mão de arames farpados se dilacerava a cada tentativa de esmagar a garota. Ela abriu os braços e as fitas se estenderam pelo local abrindo-se em formato de elipse.

“Multiplo Fucile!” A garota loira exclamou e simultaneamente vários losangos dourados se espalharam á sua direita e esquerda. Cada um desses pequenos losangos converteu-se em uma espingarda prata com detalhes dourados. Logo a garota loira apontou um dedo na direção da mão de arames farpados e apertou uma espécie de gatilho invisível, imediatamente ativando as armas flutuantes.

Os disparos faziam sons ensurdecedores e Atlas mal podia acreditar no que seus olhos estavam vendo. Toda a experiência era insana: a veloz queda da mão de arame farpado e a luz dourada que envolvia o corpo da garota loira, tornando-a uma pintura viva, além da desfragmentação de todo o local que eles se encontravam. O chão sob os pés de Atlas desfazia-se, tremeluzia e tremia como se não passasse de uma ilusão. Quando ele deu por si, estava novamente ao beco do lado de fora do Yelp Club. Era como se tudo não tivesse passado de um bizarro sonho e ele estivesse prestes a acordar em casa mais uma vez, suado e com uma vaga lembrança do que tinha sonhado.

“Estamos de volta!” Stella comentou comovida.

A garota loira voltou-se para o casal de ex-namorados, mas seu olhar estava distante, ela via outra pessoa.

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Magdalena viu toda a cena de longe. A garota loira conseguiu quebrar a barreira e adentrar o local com destreza. Ela nomeou em italiano os golpes que utilizou durante batalha e conseguiu salvar a vida de Stella e Atlas facilmente. Ela tinha feito o que Magdalena não fora capaz.

Agora, esta mesma jovem loira olhava para Magdalena com vivacidade.

“A bruxa escapou, como você deve ter notado.” A garota loira explicou.

“Eu sei.”

“Se quiser captura-la é melhor ir agora... Dessa vez vou deixar com você.”

A garota loira ainda falava quando Magdalena sentiu o olhar de Atlas recair nela. Ela logo assumiu uma postura firme e ficou em silêncio por um minuto antes de responder. Magdalena utilizou esse frágil e rápido minuto para apreciar Atlas. Ele estava especialmente bonito hoje, como se tivesse se arrumado na esperança de vê-la e isso quase a fazia sentir-se mal por tê-lo deixado na mão. Então, Magdalena notou o alvo maldito aninhado nos braços de Atlas e sua expressão endureceu-se. Ela sabia muito bem o motivo de ter ido ali e não estava tão disposta a desistir assim.

“Tenho negócios aqui, Maya.” Magdalena respondeu dando um passo a frente e vendo a surpresa estampada no rosto de Maya.

Ela provavelmente está se perguntando como sei o seu nome, Magdalena pensou sentindo-se cansada pela primeira vez em muito tempo. Ela notou que Maya logo recuperou a compostura e disse:

“Não mais, moça. Estou dizendo que vou deixar de lado o que você fez a Kyubey esta noite.”

Magdalena observou Maya, sem mover um músculo sequer. A garota loira deu mais um passo na direção de Magdalena e mesmo sabendo que as coisas poderiam não terminar bem, tentou dialogar com ela mais uma vez. Maya era mesmo uma esperançosa incorrigível.

“Não acha que deveríamos evitar combates desnecessários?” Maya perguntou genuinamente acreditando que seria capaz de mudar alguma coisa. Magdalena simplesmente desistiu de responder e acendeu um cigarro.

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Atlas finalmente percebeu que a tensão era palpável. O ar tornou-se carregado, como se um conflito novo estivesse prestes a desabrochar ali. Nenhumas das duas garotas mágicas pareciam dispostas a desistir do que quer que fosse. Ele não pôde deixar de notar o quão casual Magdalena estava vestida, como se ela tivesse passando pelo Yelp Club por acaso e em nenhum momento tivesse considerado seriamente o convite dele. O rosto de Magdalena era indecifrável, mas seu olhar se mostrava tão intenso quanto o que ele encontrara em seus sonhos. Atlas não fazia a menor ideia do que significava essa impulsiva atração por uma garota que ele tinha conhecido somente em seus sonhos.

“Tanto faz.” Magdalena respondeu seca. Ela não precisava ler mentes para experimentar a atmosfera de ansiedade que emanava de Atlas e de Stella. Neste momento, Lena deu as costas e saiu com a certeza que as coisas não iriam acabar por ali.

Atlas enfim soltou a respiração que não notou estar prendendo e sentiu seu irrequieto mar de emoções se acalmar um pouco. Enquanto isso, Maya, a garota loira voltou-se para o casal de ex-namorados. Aos poucos ela aproximou-se de Atlas e tomou a pequena criatura de seus braços.

“Ah, meu querido Kyubey, você ficará bem agora.” Maya estendeu sua mão e um pequeno anel prateado com uma única pedra dourada brilhou, tomando outra forma diante dos olhos de todos.

“Isso é um Ovo Fabergé?” Questionou Stella. O pequeno objeto nas mãos de Maya tinha uma base de metal, adornada com desenhos, que sustentava dentro de si uma pedra âmbar. Maya riu um pouco antes de responder.

“Isso é uma joia da alma.” Ela explanou gentilmente. “Vou curar Kyubey com a magia que esta joia contém.”

Magia? Atlas repetiu a palavra mentalmente. A noite inteira tinha sido insana desde que ele tinha ouvido a voz do animal albino. O gato de três olhos com o qual ele havia sonhado tinha se comunicado, falando dentro da cabeça dele. Atlas nervosamente lançou um olhar em direção a Stella que parecia tão desnorteada quanto ele próprio. Repentinamente, o animal misterioso teve todas as suas feridas saradas e abriu os três olhos de uma só vez.

“Maya... Você me salvou?” O animal pôs-se de pé como se fosse um gato realmente. Ele olhava para Maya ansiosamente esperando por sua resposta.

“Se quiser agradecer a alguém, agradeça a estes dois aqui, Kyubey.” Ela apontou para Stella e Atlas. “Eu só queria beber alguma coisa essa noite” Maya completou dando ombros.

“Muito obrigado! Meu nome é Kyubey!” O animal sem boca disse, ecoando sua voz inumana pelos pensamentos de Stella e Atlas.

“Então... Hum... Era você que estava me chamando?” Atlas perguntou em voz alta, sentindo-se preso em um de seus sonhos fantasiosos nos quais ele testemunhava o fim de Manhattan.

Sim, eu tenho procurado por vocês, Stella Lancaster e Atlas Youngblood.” Kyubey aproximou-se dos dois e pôs uma pequena pata albina no meio deles.

Vim aqui porque tenho uma oferta a fazer para os dois.”

“Uma oferta?” Stella perguntou soando desconfiada.

Sim! Eu quero que vocês assinem o contrato comigo e se tornem jovens magi!”

Maya deu uma pequena risada e pegou Kyubey nos braços.

“Ora, ora, vamos com calma, Kyubey. Porque vocês não dormem hoje à noite na minha casa e eu explico o que ele quer dizer por contrato?”

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Lower East Side – 8 de janeiro – 3 da manhã

O Lower East Side era uma região típica de imigrantes do leste europeu, judeus e da república dominicana. A região era também conhecida por concentrar dormitórios para estudantes bolsistas que não poderiam pagar para morar no lado elegante da cidade. Maya era uma dessas estutantes e portanto, vivia em um conjunto de apartamentos pequenos e apertados, próximo a Sinagôga Bialystoker. O apartamento dela era no primeiro andar, portanto eles não precisaram pegar o elevador velho que parecia um convite direto a morte. Atlas ligou para a mãe informando que ia passar a noite fora e Stella enviou uma mensagem no whatsapp para Simon avisando o mesmo.

“Você acha mesmo que isso é uma boa ideia?” Stella sussurrou para Atlas enquanto Maya pegava as chaves para abrir a porta.

Atlas pensou brevemente na velocidade que as coisas tinham fugido ao controle. O perigo que os assolou era tão real quanto o ar que ele respirava. Atlas conhecera medo e aflição em um nível completamente novo, entretanto vivenciar toda aquela loucura o fez sentir algo diferente, mesmo que ele não estivesse certo do que exatamente tinha mudado nele. A única certeza que Atlas tinha é que estava disposto a buscar algumas respostas.

“Eu preciso saber o que aconteceu.” Ele respondeu segurando a mão de Stella, para acalma-la. Ela ficou em silêncio por alguns segundos, mas logo concordou com a cabeça.

“Sejam bem-vindos!” Maya fez uma reverencia e sorriu calorosamente.

Stella e Atlas caminharam por um tapete indiano e se sentaram em um sofá amarelo, na sala decorada com estrelas adesivadas. Maya foi rapidamente à cozinha e quando voltou, trazia consigo uma bandeja com várias fatias de bolo, torta e pudim. Foi quando o estômago de Atlas roncou bem alto, deixando-o corado imediatamente. Eles começaram a comer, degustando o sabor de cada iguaria e parabenizando Maya por cozinhar tão bem.

“Meu nome é Maya Harrison. Estudo na Dalton School como bolsista e sou do terceiro ano A. Há um ano eu assinei o contrato com Kyubey.”

Aí estava o que Atlas queria ouvir. Toda a atenção dele se voltou para a jovem loira de cabelos trançados. Ela tinha olhos castanhos, lábios finos e a maçã do rosto alta. Maya suspirou antes de começar a narração.

“Escutem o que vou dizer com calma e pensem bem no que irei explicar. Não é todo mundo que consegue entender os eventos de hoje, muito menos aceitá-los. Vocês estão aqui porque acreditaram no que viram e essa crença os tornou escolhidos por Kyubey, ou seja, vocês tem o potencial necessário para se tornarem jovens magi.”

Stella e Atlas acenaram com a cabeça para demonstrar que compreendiam o que estava sendo dito.

“Quando alguém escolhido por Kyubey assina o contrato, uma joia da alma é criada, assim como essa.” Maya transformou novamente o anel prata em sua mão na joia da alma âmbar, anteriormente utilizada para curar o misterioso animal.

“Isso mesmo, aqueles que assinam o contrato têm as suas joias da alma criadas e tornam-se iuvenis magi, cuja principal missão é caçar bruxas. Em recompensa por assinar o contrato, eu posso realizar qualquer pedido que o contratante queira fazer.” Disse Kyubey telepaticamente.

“Um pedido?” Stella questionou intrigada.

“Sim, um desejo de qualquer natureza. Eu posso realiza-lo desde que vocês façam um contrato comigo e tornem-se caçadores de bruxas.”

O olhar de Stella tornou-se turbulento, Atlas sabia que ela deveria ter suas próprias ideias de pedidos se formando naquele momento, mas ele preferiu focar-se no último pedaço de informação dado por Kyubey.

“O que são bruxas?”

“Se iuvenis magi são aqueles que, como a Maya, semeiam esperança, bruxas são o oposto. Bruxas são seres que espalham e se alimentam de desespero.”

Maya então completou: “Estas mesmas bruxas marcam suas vítimas com um beijo mortal, aproveitando-se da fraqueza nos corações das pessoas, devorando-as de dentro pra fora. As bruxas causam a maioria dos assassinatos e suicídios inexplicáveis ao redor do mundo e se alimentam do desespero gerado através desses sentimentos negativos.”

“Se elas são assim tão poderosas, como ninguém, nenhuma autoridade tipo a CIA ou o FBI, como eles não tem conhecimento disso?”

“Boa pergunta Atlas. Para permanecerem invisíveis diante dos olhos humanos, as bruxas criam labirintos do desespero como os que vocês entraram mais cedo. Elas atraem as vítimas para esses labirintos e não os deixa sair vivos de lá... Resumidamente, o que fazemos é caçar bruxas pela cidade de Nova York, adentrando no labirinto criado por elas e impedindo-as de fazer mais vítimas, é claro que existe o risco de nós mesmos perecermos em uma dessas batalhas.” A expressão no rosto de Maya tornava-se exponencialmente mais séria a cada sentença dita.

“Então uma vez que nós assinarmos o contrato teremos que caçar bruxas assim como você?” O olhar de Stella revelava todo seu interesse no assunto. Ela nunca se sentiu tão tentada a dizer sim para uma proposta.

“Exato. Até o fim de seus dias vocês viveriam em função disso. E mantenham em mente que o risco de morrer durante uma caçada é altamente possível.”

“Com grandes poderes vem grandes responsabilidades. Como super-heróis.” Atlas disse distraidamente.

“Isso mesmo, Atlas.” Maya replicou dando um pedaço de pudim para Kyubey.

“Aquela garota, Magdalena. Você a conhece?” Stella perguntou lembrando-se do momento em que Magdalena chamou Maya pelo nome.

“Eu não a conheço, mas estou certa que ela é uma jovem mágica, também. E uma bastante poderosa, diga-se de passagem.”

Atlas pensou em Magdalena, nos seus olhos escuros, cabelos longos e cachos lustrosos. Ele lembrou-se da risada melancólica que só ouviu uma única vez. Ela realmente estava envolta em uma teia de mistérios e parecia que essa sequencia de segredos só aumentava. De repente, Atlas notou Stella levantando a mão para fazer outra pergunta como se estivessem em aula.

“Mas se os jovens mágicos são como guerreiros que lutam por justiça, então, porque Magdalena praticamente atacou Atlas?”

“O alvo dela não era ele, mas sim eu. Magdalena estava tentando me impedir de formar novos contratantes.”

“Isso não faz sentido... Se todos os jovens mágicos são como super-heróis, não seria melhor se tivéssemos mais gente pra ajudar?”

“Não é tão simples, Atlas. Infelizmente nem todos os jovens mágicos pensam da mesma forma ou trabalham com o mesmo objetivo. Quando nós derrotamos as bruxas elas deixam pra trás... Recompensas. Alguns iuvenis magi tentam criar monopólios dessas recompensas e acabam lutando entre si.”

Atlas balançou a cabeça negativamente. Ele não conhecia Magdalena, nem sequer sabia o motivo de estar tentando defende-la, mas seu instinto lhe dizia que não era bem assim. Havia algo sobre ela...

“Voltando ao assunto dos desejos, nós podemos pedir qualquer coisa?” Stella tomou a palavra para si e Atlas notou pela primeira vez o brilho em seu olhar. Ela estava prestes a dizer sim para a oferta diante dela.

Sim. Qualquer coisa, mesmo.” Kyubey respondeu.

“Mesmo que seja algo para outra pessoa?” Ela questionou incerta.

“Não existem regras contra isso. Fique a vontade.” Kyubey pôs-se face a face com Stella. “Você quer assinar o contrato agora?”

“Espere. Antes de firmar o contrato lembre-se, Stella, que como escolhidos por Kyubey vocês podem pedir-lhe qualquer coisa, entretanto...” Uma sombra de tristeza tomou conta do olhar de Maya e ela escolheu as próximas palavras cuidadosamente, como se já tivesse visto isso antes.

“Lembre-se que seu desejo também pode trazer a morte.”


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo, mais ação, mais mistérios e ... nossa primeira morte?!

Espero-os ansiosamente! Até mais e deixe um comentário se possível!