O despertar do Apocalipse escrita por AHSfan


Capítulo 10
Não é óbvio? -


Notas iniciais do capítulo

Olá amados!
Primeiramente, gostaria de pedir mil perdões pela demora gigantesca e até mesmo colossal em postar o capítulo novo. Na verdade, estou passando por um momento meio delicado na minha vida e pra resumir tudo o seguinte é esse: se Deus permitir, me formo esse ano e estou atolada com coisas da universidade para resolver. Estive consumida por um cansaço e desanimo sem igual nos últimos dias e portanto me resignei o prazer de escrever, entretanto não se preocupem, pois não abandonarei esta fic, ela será devidamente concluída até o final do ano de 2014. Prometo.
Enfim, vamos aos devidos agradecimentos de hoje! Gostaria de agradecer as lindas que comentaram tão gentilmente e lindamente nos capítulos anteriores e estas são: Heidi Akatsuki, Juliana Leite, Lynn Fernandes, Fran Carvalho, Thays Marques e Nêmesis! Cara, o que seria de mim, mera estudante atarefada, sem o incentivo continuo de vocês? Eu fico dando pequenos pulinhos de alegria pela casa cada vez que leio os comentários de vocês :3
Quero agradecer em especial também a meus fiéis amigos, Glauco e Thiago, Thiago e Glauco. Pode não parecer, mas eu nunca teria postado essa fic sem vocês dois pra me darem feedbacks.
Enfim, desejo a todos uma magnífica leitura!
Ps: Na imagem de hoje, apresento-lhes o meu dreamcast!



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Eu deixo a onda me acertar

E o vento vai levando

Tudo embora

Vento no Litoral – Legião Urbana

ATLAS YOUNGBLOOD

10 de Janeiro de 2014, um pouco antes de ir ao Lenox Hill Hospital com Stella, começo da tarde, em uma residência no Brooklyn -

“Atlas?”

A voz meio rouca e serena do senhor Joseph ecoou nos ouvidos de Atlas, mas o garoto de acinzentados olhos castanhos estava muito distraído para dar ouvidos a seu velho. Atlas novamente havia se perdido em devaneios e dessa vez á plena luz do dia. Ele estava pensando na delicadeza e fragilidade das relações familiares, afinal qual o real poder que a família exerce na formação do indivíduo? Ele estava a se perguntar.

No dia anterior Maya narrara o que acontecera para que ela se tornasse uma jovem magi e todo o relato foi carregado de dor e apreensão. Ele tinha certeza que as cicatrizes que marcavam a trajetória de Maya eram mais profundas que as dele próprio e isso apenas intensificou sua gratidão pelo fato de tê-la conhecido na hora certa.

Ele levaria as palavras dela como um ensinamento.

“Filho, você escutou o que eu disse? Stella está te esperando do lado de fora.”

Somente ao ouvir o nome da melhor amiga, Atlas enfim voltou seus olhos para o pai e focou-o em seu campo de visão. O senhor Joseph tinha em torno de seus 50 e tantos anos, era branco e alto com largos ombros, tinha cabelos meio grisalhos e acolhedores olhos castanhos. Atlas acreditava fielmente que o tom ambíguo dos olhos dele se dava por conta da mistura entre o castanho do pai e os olhos acinzentados da mãe.

“Ah... Sim, estamos indo ao Lenox Hill visitar Sam e acho que só voltaremos de noite, ok?”

“Sim, mas não esqueça de ligar avisando sua mãe também. Você sabe como ela pode ficar preocupada.” O pai respondeu com um sorriso generoso que formava pequenas rugas ao lado dos olhos. Atlas concordou balançando a cabeça e em um impulso irracional abraçou o pai antes de sair. Após ouvir o depoimento da garota loira ele estava mais determinado do que nunca a aproveitar os pequenos momentos que tinha ao lado da família. O pai o abraçou de volta sem hesitar. Depois quando Atlas se afastou para pegar sua mochila preta o senhor Joseph o olhou com cautela.

O seu pequeno bebê estava ali, crescendo e se tornando um homem, alguém confiável, corajoso, sensível e gentil. O senhor Joseph não poderia pedir por nada mais, apenas esperar que a pequena Sofia também seguisse esses mesmos passos. O senhor Joseph percebera também que o humor de Atlas tinha melhorado consideravelmente no último mês quando comparado aos primeiros momentos após o divórcio, ele parecia mais sorridente e feliz como se estivesse experimentando o primeiro amor. Entretanto o abraço repentino tinha deixado palavras não ditas no ar e por isso antes que Atlas saísse pela porta marrom do apartamento, o senhor Joseph tocou gentilmente no ombro do rapaz e perguntou se estava tudo bem.

Atlas parou pra pensar naquela pergunta. Estava tudo bem? Ele sabia que por muito tempo esteve triste e infeliz, sem se sentir amado de forma alguma. Por um ano o namoro com Stella não o tinha feito realmente feliz, mas tampouco o tinha feito realmente triste e por um período - atemporal que poderia ser apenas comparado com séculos - seu coração parecia estar dormente. Então, as coisas finalmente mudaram. A chegada de Lena foi o pontapé inicial para que Atlas conhecesse Kyubey e Maya. E em boa hora lhe foi dada a oportunidade de tornar-se um jovem magi, finalmente uma chance para que ele retribuísse a bondade que via no mundo, a chance de tornar-se alguém forte como a garota loira. A vida de Atlas estava caminhando de uma forma diferente e, ele esperava, melhor. Ele sentiu uma centelha de esperança acender dentro de si e sorriu ao responder.

“Está sim, pai. Dê um beijo em Sofia por mim, sim?”

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STELLA LANCASTER

10 de janeiro de 2014. Dentro do Labirinto da bruxa, no Lenox Hill Hospital, um pouco antes do falecimento de Maya Harrison –

Stella tinha acabado de se levantar para cumprimentar Maya. Ela chegou até mesmo a dar alguns passos em direção a jovem loira que tanto a inspirava. Stella estava maravilhada, decidida a assinar o contrato assim que os três adolescentes saíssem dali. Ela viu a líder de torcida em toda a sua graça, parada a alguns poucos metros. A pele da garota loira parecia reluzir e Maya exibia no rosto o riso mais radiante já visto desde que as duas estudantes tinham se conhecido. Um sorriso destemido, sem medo, sem arrependimento e que viria a ser seu último.

Stella praticamente não teve tempo de esboçar nenhuma reação durante os eventos que se seguiram. Seu cérebro não tinha processado os velozes acontecimentos que se davam apesar dela ver com clareza o desenrolar das cenas.

Repentinamente, Stella notou que a bruxa não tinha sido completamente destruída e a parte que residia dentro da porcelana emergiu.

“Maya cuidado! Saia daí!” Atlas gritou de algum lugar que parecia estar a quilômetros de distancia. A boneca de pano movimentou-se, com agilidade sobre-humana, e traspassou o braço, que era um bisturi de aproximadamente um metro, pelo pescoço de Maya.

Stella estava tão próxima que viu quando as sobrancelhas de Maya se franziram em estranhamento. Ela observou, silenciosamente, quando a amiga tentou debilmente erguer o braço. Depois disso o sangue escorreu do corte, a princípio devagar e então com a força furiosa de um rio raivoso. Stella sentiu o estômago revirar-se, mas ainda não conseguia acreditar no que seus olhos viam. De repente seu coração começou a bater em um ritmo diferente, como se cada movimento do músculo involuntário a estivesse machucando.

“Não... Não!” A garota de madeixas azuis pensou sentindo seu corpo retesando-se de imediato. O uniforme de Maya estava completamente vermelho manchando o símbolo mascote da Dalton School, estampado em seu top, que fora branco outrora. O sangue vermelho como os olhos de Kyubey, escorria até as pernas da garota morta.

Então, com um estalo oco, os joelhos de Maya bateram no piso, mas isso não foi tudo. Em horror e descrença, Stella observou o momento em que a cabeça da jovem magi atingiu o solo rolou, ligeiramente, até seus pés. Os fios loiros cobriram o rosto de Maya, mas era possível ver o sangue que escorria ainda em alguma quantidade do pescoço e isso enviou violentos tremores às pernas de Stella. Ela sentiu-se tonta e desequilibrada, como se o chão sob seus pés tivesse magicamente sumido. Alguém começou a gritar em pavor, e com certa surpresa, Stella notou que se tratava dela própria. Antes que pudesse impedir-se de desmaiar a garota de cabelos azuis pensou ter ouvido a voz de Kyubey ecoar em seu cérebro.

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MAGDALENA NORTHUP

10 de Janeiro de 2014 – Dentro do labirinto da bruxa no Lenox Hill Hospital, tempo indeterminado -

Lena estava presa. Seu corpo voluptuoso, imobilizado pelas amarras de Maya. A jovem de acetinada pele negra amaldiçoou novamente o momento em que decidira tentar dialogar com Maya. Se ela tivesse sido mais grosseira e incisiva, mais fria e mais forte as coisas não teriam fugido do controle e ela não estaria naquela humilhante circunstância. Lena não conseguia nem sequer erguer o braço direito e tocar no seu escudo com a pedra ametista no centro. Se ela apenas conseguisse fazer isso, talvez a pudesse contornar a situação, mas em pouco tempo Magdalena notou que se tratava de mais um esforço inútil, pois as fitas se apertaram em seu corpo mais uma vez, fazendo-a arquejar.

Aparentemente, só lhe restava esperar. Porém, sem nenhum motivo aparente, a energia mágica das fitas douradas diminuiu, decaindo como uma reta que após atingir seu auge começa a despencar. Lena sentiu a fluidez da energia mágica de Maya se perder. Em sua mão, erguida com a palma para cima, ela tocou no último resquício do poder dourado da jovem magi.

“Maldição!!” Lena pensou cerrando o punho em um aperto de ferro. Por saber o que aquilo significava toda postura dela mudou. Seu olhar foi adquirindo uma feracidade não vista em muitos anos enquanto seus lábios se curvavam para baixo em animosidade.

Todos os que se impusessem em seu caminho iriam pagar.

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ATLAS YOUNGBLOOD

10 de Janeiro de 2014 – Dentro do labirinto da bruxa no Lenox Hill Hospital, após o falecimento de Maya Harrison -

“Depressa, assinem o contrato comigo. Agora! É a única chance de vocês!”

A voz inumana de Kyubey se fez presente nos pensamentos de Atlas, retirando-o da hipnose macabra que ele havia sucumbido. Somente assim Atlas pôde ver quando o corpo de Stella começou a fraquejar, o que o fez ir correndo até ela. O garoto conseguiu impedi-la de cair, segurando a jovem de cabelos azuis em seus fortes braços. Stella estava com os olhos fortemente fechados e sua respiração era quase tranquila.

“Desmaiada.” Atlas concluiu finalmente identificando o que se passava.

Repentinamente, um som remotamente familiar se espalhou pelo local, fazendo com que cada pelo no corpo de Atlas arrepiasse. Tratava-se do timbre inumano de uma expressão humana... O garoto de acinzentados olhos castanhos elevou a cabeça para cima e viu a bruxa rindo, sua boca costurada alargando-se e emitindo uma gargalhada cruel e diabólica que apenas crescia em intensidade.

“Atlas, agora, feche o contrato comigo! Rápido!” Kyubey disse novamente achegando-se perto dos pés de Atlas.

A bruxa, cujo formato era o de uma boneca, caminhou lentamente pisando no sangue de Maya e espalhando-o a cada passo. A assassina da jovem magi levantou seu braço em formato de bisturi e prosseguiu na direção dos melhores amigos. Ficou claro, naquele momento, que eles seriam mortos.

“Assim como Maya” Atlas pensou com um enorme aperto no peito. O garoto inspirou profundamente uma única vez, pronto para fazer o seu pedido, em um surto frenético de adrenalina e coragem. O coração de Atlas acelerou loucamente e ele apertou o corpo de Stella contra si. Ele abriu os lábios trêmulos, mas antes de poder dizer qualquer coisa, rápidos e irritantes disparos foram efetuados na direção das pernas da bruxa, levantando uma nuvem branca de fumaça que se espalhou velozmente pelo local.

Por um segundo Atlas acreditou ter visto Lena, ou uma figura feminina muito semelhante à dela. A figura esguia moveu-se dentro da nuvem de fumaça também com uma velocidade sobre-humana e cada passo era tão preciso que mesmo sob a densa fumaça ele poderia distinguir sua exatidão. Lena aproximou-se da boneca de pano, pegando impulso ao inclinar parte do torso para trás e chutou a cabeça da bruxa com tamanha força que esta foi imediatamente empurrada para fora do espaço de visão de Atlas.

Quando a fumaça finalmente abaixou o suficiente para que os olhos frágeis e humanos de Atlas pudessem ver alguma coisa, a boneca gigantesca estava derrubada, próxima a uma das paredes circulares de raios-x. Ele notou também que o resquício de porcelana na bruxa havia sido completamente destruído. Porém ela não havia sido derrotada ainda. A boneca se levantou rapidamente, mas ela não parecia estar mais rindo.

“Fique longe!” Magdalena comandou emitindo autoridade em cada palavra e a entonação enfurecida dela fez com que Atlas imediatamente começasse a se afastar do local, levando Stella nos braços.

Ao olhar para trás tentando localizar a garota negra, Atlas notou que Lena estava em pé sobre um dos alicates da sala, em equilíbrio perturbador. Em sua mão esquerda, Magdalena segurava uma submetralhadora HK MP5 e o olhar no rosto dela era extremamente colérico de forma que pequenas ondas de calafrio se espalharam pela nuca de Atlas.

Ele finalmente percebeu que de fato não conhecia Magdalena Northup.

De repente a bruxa deu o primeiro passo, para em seguida ir correndo até o local onde Lena estava, entretanto a jovem magi não saiu do local, ela apenas comprimiu os carnudos lábios. Então, antes que Atlas pudesse piscar ele testemunhou o instante em que a bruxa atacou a garota, partindo em dois o alicate no qual ela se encontrava.

Mas Lena não estava mais lá.

O coração de Atlas bateu intensamente uma vez e pareceu parar. Seus olhos buscaram pela jovem magi em todo lugar, mas ele não conseguia encontrá-la.

Então, o som incrivelmente realístico dos disparos da submetralhadora indicaram a localização de Magdalena e para a grande surpresa de Atlas, a jovem magi estava atrás da bruxa, atirando impiedosamente até que o tecido que cobria a pele da boneca fosse destruído. Em seguida, sem nenhum aviso prévio, a bruxa se virou e tentou atacar Magdalena novamente. O bisturi cortou o ar com um assovio frio, entretanto Lena fora mais ágil, abaixando-se. A garota alongou uma de suas pernas habilmente e girando seu corpo, logrou chutar a bruxa em seu calcanhar, fazendo-a cair relutantemente. Lena ergueu-se e retirou uma faca militar de seu escudo, atirando-a contra o bisturi da bruxa de forma que seu braço ficasse imobilizado. Sem delongas, Lena virou o rosto para o local onde Atlas estava e os dois se encararam em silêncio por um segundo.

“Atlas, preste atenção” Lena comandou com seu tom de voz controlado e impassível “Em três minutos, esse labirinto inteiro explodirá e eu preciso que você e Stella se afastem o máximo que puderem daqui, entendeu?”

O garoto apenas acenou positivamente, fraco demais para emitir uma palavra que fosse. Magdalena então abaixou seu olhar e caminhou, deixando para trás a bruxa que rugia como um animal ferido. Lena andou até alcançar o que buscava. Ajoelhando-se ela recolheu a cabeça e em seguida o corpo da garota loira. Se apenas alguém pudesse ver a jovem negra daquele ângulo perceberia o misto instável de emoções que transcorria em seu olhar torturado. Enquanto isso, o garoto de cabelos castanhos abraçou Stella com ainda mais força, tomando-a em seus braços e correndo em direção às portas. As lágrimas quentes como o inferno acumuladas em seus olhos enfim escorreram.

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STELLA LANCASTER

Foi o perturbador e distinto som de uma explosão que a trouxe de volta a si. Stella abriu os olhos lentamente, notando que sua garganta estava estranhamente ressecada, como se ela tivesse gritado muito. A jovem de madeixas azuis percebeu também que estava sendo carregada por alguém, pois podia sentir a vibração da respiração entrecortada de quem a carregava.

“Atlas.” Ela sussurrou entre dentes, sabendo que aquele que a tinha nos braços era seu melhor amigo.

“Stella! Você está bem?” Ele questionou encarando-a com afável preocupação. Olhando mais atentamente Stella viu as lágrimas que escorriam no rosto do melhor amigo e seu coração se contorceu em dor. Ela finalmente lembrou o que testemunhara minutos antes de desmaiar.

“Ma- Maya... Ela realmente está...”

A garota não precisou concluir a sentença, pois suas palavras visivelmente tinham quebrado a pouca resiliência que restava em Atlas. Ele começou a soluçar fechando os olhos com força e isso bastou enquanto resposta. Stella empurrou seu corpo para longe, tentando apoiar-se no piso e sair dos braços do amigo. Quando seus pés tocaram o chão, ela observou o labirinto desfazer-se, em um processo que outrora seria considerado mágico. As sombras que formaram uma versão horripilante do Lenox Hill Hospital, finalmente estavam desvanecendo, como se nunca tivessem existido. Ela e Atlas estavam finalmente de volta ao mundo real, do lado de fora do hospital.

Stella inspirou profundamente uma única vez, sentindo um nó desconfortável se fazer em sua garganta. Ao piscar, a primeira lágrima salgada escorreu de seu olho direito e então várias outras se seguiram, sem que ela conseguisse controlar. A poderosa tristeza que pairava sobre os dois jovens era avassaladora e eles se fitaram em pesar por um momento.

“Lembrem-se do que aconteceu hoje. Isso é o que significa ser um jovem magi”

A voz poderosa de Magdalena ressoou e Stella imediatamente virou-se na direção dela. Lena estava em pé segurando Maya em seus braços magros. O corpo da garota loira pendia verticalmente de uma forma não natural e a cor de sua pele era pálida, acinzentada, distante da coloração bronzeada que costumava ter. Stella notou também a frágil luz ametista que era emitida de uma linha fina no pescoço de Maya e ela entendeu que a junção deveria ser fruto da magia de Magdalena. Então em pleno ar, uniu-se uma pequena corrente de energia mágica, visível a todos. A semente da angústia da bruxa tomou sua forma inofensiva e caiu lentamente na palma aberta de Magdalena, como se ela estivesse esperando por isso. Um turbilhão de sentimentos efervesceu em Stella.

“Não te pertence...” Ela disse experimentando a raiva incontida finalmente estabelecendo-se, substituindo momentaneamente a devastadora tristeza.

“Essa semente de angustia não te pertence!” Stella vociferou, avançando na direção de Lena. “Não ouse ficar com ela, está ouvindo?! Essa semente pertence à Maya e não a você! Tire suas mãos dela!”

“S-Stella, por favor!” Atlas pediu interferindo, pondo-se entre Lena e Stella.

Ele segurou os ombros da melhor amiga, impedindo-a de andar. Stella fitou Atlas em desgosto, mas desistiu de prosseguir uma vez que ela sentiu as mãos dele tremerem em seus ombros. A dor nos acinzentados olhos de Atlas era idêntica a dela própria, o que a fez abaixar a cabeça e ficar em silêncio.

“A semente pertence aquele que derrotou a bruxa e a caçou devidamente. Esta pessoa sou eu, Stella, mesmo que você desgoste disso.”

Uma nova onda de ira se espalhou por cada terminação nervosa de Stella, mas antes que ela pudesse ponderar uma resposta, Atlas indagou:

“Lena... O que você fará com... Maya?” A voz do rapaz falhou ao pronunciar o nome da falecida amiga.

“Ela será enterrada amanhã. Encontrem-me no Central Park no final da aula se quiserem se despedir de Maya propriamente.”

Stella suspirou frustrada, triste e confusa. Ela fixou seus olhos azuis cristalinos em seus sapatos caros por um instante e se afastou das mãos de Atlas, dando um passo para trás. Stella sabia que gostaria de ver Maya uma última vez, mesmo que para isso tivesse de lidar com a presença indesejável de Magdalena. Quando ela pensou em confirmar para a garota negra que iria estar no Central Park amanhã, Stella olhou para o local onde Lena deveria estar.

A jovem magi havia simplesmente sumido.

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ATLAS YOUNGBLOOD

11 de Janeiro de 2014 – Segunda feira de manhã, em um apartamento no Brooklyn

Atlas acordou de um sono profundo e sem sonhos. Era a primeira vez desde o mês anterior que ele fora capaz de dormir daquela forma. Seus olhos ardiam e ele sentiu-se indisposto, com vontade de encolher-se na cama e chorar até dormir como na noite anterior. Ele fechou os olhos por um momento, prestando atenção a sua respiração, tentando manter quaisquer pensamentos ou sentimentos profundos fora de si. Em vão.

Atlas levantou-se, usou o banheiro e olhou-se no espelho. Sua pele branca estava avermelhada de choro e suas olheiras estavam ignoráveis, além de da barba rala por fazer e o cabelo castanho tristemente desgrenhado. Naquela manhã ele não poderia se importar menos com sua aparência.

“Você vai pra escola?” Kyubey perguntou balançando sua cauda branca sentado na escrivaninha do jovem.

“Sim.” Atlas respondeu secamente, vestindo-se com pressa para não atrasar-se demais. O animal misterioso o seguiu sem mais perguntas.

Atlas sabia que àquela hora da manhã o pai já deveria ter saído e levado a pequena Sofia para a escola, portanto ele encontrava-se completamente só no apartamento. Apenas ele e Kyubey. O garoto ficou surpreso quando viu sobre o balcão da cozinha um café da manhã belo e que realmente parecia ter sido feito com muito carinho. Normalmente, o pai não cozinhava e ocasiões assim sempre traziam certo estranhamento para Atlas. Ele tocou em um bilhete pequeno que continha a letra rápida e inclinada do pai.

Você é meu orgulho e merece um café da manhã a altura. Espero que tenha um dia bom na escola e cuidado para não se atrasar, sua mãe me esganaria.

Nós te amamos, de Seu Pai e Sofia

Atlas engoliu em seco. Ele observou em silêncio o café da manhã que incluía bananas fatiadas, metades de laranjas, um sanduíche misto e uma xícara de café.

Uma mistura de sentimentos se infiltrou no coração de Atlas e antes que ele pudesse se impedir, desejou que Maya pudesse ter vivido mais um dia. Desejou que seus pais a amassem e respeitasse e que fizessem coisas para anima-la quando notassem que ela estava triste. Ele desejou poder abraçar a garota loira mais uma vez e chamá-la de amiga novamente. Seus lábios começaram a tremer e ele sentou-se desolado em uma das cadeiras da mesa.

Ali, antes das oito horas da manhã, Atlas Youngblood chorou novamente.

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O caminho do metrô até a escola foi um borrão rápido e inexpressivo, como se parte das coisas tivessem perdido sentido. Atlas mal notou quando Kyubey sumiu durante o percurso até a Dalton School.

Ele estava agora de pé na entrada dos portões da escola, incerto se deveria dar o próximo passo ou não. A dor era insuportável e Atlas sabia que não teria forças para permanecer até o final da aula. O único motivo para ele ter acordado e se dirigido até ali naquela segunda feira, foi para poder dizer um último adeus a Maya.

De repente, Atlas sentiu o sol brilhar cálido em sua pele e ele pensou que a líder de torcida certamente adoraria um dia como aquele, onde o clima louco da cidade de Nova York dava uma folga para seus cidadãos e a primavera se aconchegava. O último e estridente toque para o início da primeira aula ressoou pelos tijolos até o portão em que Atlas se encontrava. Isso bastou para que ele tomasse sua decisão.

Atlas estava prestes a dar meia volta e encolher-se em casa quando uma mão áspera e calejada segurou em um de seus dedos. A princípio, a mão levemente trêmula estava distante e fria, mas em um súbito apelo ela encaixou-se nos dedos de Atlas, entrelaçando-os.

O garoto triste voltou seu rosto para a garota negra que estava ao lado dele.

Ele sentiu o aroma amadeirado que emanava dos cabelos crespos de Lena e apertou a mão dela, sentindo uma inesperada carga de energia transcorrer de um para o outro.

Sem nenhuma palavra os dois entraram juntos na escola.

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KYUBEY

Ele estava sentado e imóvel na árvore há alguns metros de distancia. Os animais terrestres chamados gatos também faziam isso e Kyubey concluiu que havia certa sabedoria naqueles seres. Eles possuíam uma técnica maravilhosa de observação. Ficar no topo daquele galho dava uma visão fantástica dos portões da Dalton School onde Atlas e Magdalena tinham acabado de entrar.

“Você é a última pessoa que eu esperava ver aqui.” Kyubey falou ecoando seus pensamentos até o cérebro do jovem encostado no tronco da árvore.

“Ay, aye, Kyubey, não seja tão indelicado, vamos lá! Assim você vai partir meu coração!” O jovem riu debochado e prosseguiu com seu sotaque escocês “Não é porque passei seis meses longe que não estive observando a cidade, você sabe.” Ele completou ascendendo um cigarro e dando um bom trago.

“O que o trás de volta?” Kyubey questionou verdadeiramente curioso.

O garoto soltou um risinho irônico antes de responder.

“Aye, Kyubey, achei que você fosse mais esperto que isso. Vim para clamar o território de Nova York, é claro. Ainda mais agora que a vadia loira faleceu.”

“Este território não está vazio, apesar de ter apenas uma jovem magi no momento”.

“Pfff, estou sabendo, Kyubey, uma baita gostosa por sinal.” Kevin respondeu tocando na ponta de seus cabelos ruivos.

“E o que pretende fazer?”

“Não é óbvio?!” Ele perguntou enquanto soltava a fumaça tóxica do cigarro pela boca vermelha.

“Vou elimina-la, é claro!”


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Tem algo que vocês não curtiram tanto?! Sejam sinceros, não tenho problema algum com críticas construtivas :D
Como vocês imaginam o nosso mais novo personagem, o Kevin? Ele veio para agitar as coisas, isso eu garanto!
Próximo capítulo teremos o enterro da Maya e um fanart LINDOSO da Heidi que merece minha eterna gratidão e um enorme abraço o/
Por hoje é só, people!
Até a próxima!