O despertar do Apocalipse escrita por AHSfan


Capítulo 11
Não se trata do que eu quero -


Notas iniciais do capítulo

Olá amados!!
Depois de todo esse período sabático, onde eu sumi das redes sociais, de uma maneira geral, anuncio que ESTOU DE VOLTA! Finalmente, amém!
De volta, MESMO, acabou o semestre, GRAÇAS A DEUS!
Eu queria agradecer a todas as lindas que comentaram no capítulo passado, vocês fazem a alegria do meu coração de escritora amadora e estas são: Fran Carvalho, Heidi Akatsuki, Nêmesis, Lynn Fernandes e Lukuornicova (Thays Marques, aparece por menção honrosa também)!! :D
Queria agradecer também ao Thiago e ao Glauco, minha dupla de amigos que não se conhecem, mas que certamente teriam muito em comum, a começar por mim (consigo até imaginá-los juntos, analisando todos os meus defeitos kkkk)
Enfim, meu mais sincero obrigada a todos vocês que corajosamente abriram o link do MAIOR capítulo da saga!
Isso mesmo, quebramos um novo recorde e chegamos a marca de 5.000 palavras! (OH YEAH!)
Boa leitura!!!



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"A silent devotion
I know you know what I mean"

The xx - Angels

MAGDALENA NORTHUP

11 de Janeiro de 2014 – Dentro dos portões da Dalton School

Um erro.

Magdalena Northup sabia que estava cometendo um erro. Todas as regras impostas por ela mesma estavam sendo irresponsavelmente quebradas e o autocontrole tão prezado pela jovem estava perdido.

Em um impulso, um momento de vulnerabilidade e de franqueza, ela decidira aliviar a dor do garoto de olhos turbulentos, oferecendo-se para estar com ele. Ela escolhera seu caminho e não haveria mais como voltar atrás ou como desfazer aquele ato. Sem misericórdia se si mesma e do que o futuro lhe reservava, Lena deu o primeiro passo adentrando os portões da escola.

E se alguém pudesse observá-los de longe concluiria o óbvio: havia algo de diferente em Magdalena e Atlas, quando estes estavam juntos. Desde a sincronia dos passos até o ritmo da respiração dos dois, algo estava mudando naquele mesmíssimo instante. Quando Lena e Atlas caminharam pelos corredores da Dalton School até a sala de aula eles passaram a estar sob os cuidados um do outro. E isso era o que mais assustada a jovem negra: estar sob os cuidados dele, aproximando-se dele, acompanhando-o. Entretanto foi somente dessa forma que ela pôde sentir a mão de Atlas, tão próxima, quente e viva, com uma vibração entusiástica e irresistível. Irresistível demais para Lena, daquela forma incompreensível e abstrata que algumas poucas pessoas nos afetam. Ele a afetava.

E assim, a armadura ametista tão cuidadosamente protegida, a barreira emocional que Magdalena levantara para si, começou a ruir.

Na verdade ela estava destinada a cair.

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STELLA LANCASTER

Stella acordou com dor de cabeça.

Seu cérebro parecia prestes a explodir, como se um martelo invisível estivesse tentando acertar vários pregos em seu crânio. Ela levantou-se da cama king size e olhou ao redor do seu quarto high-tech clean. As paredes eram lisas, perfeitas, com os rodapés pintados de azul marinho. O teto era alto, com luzes embutidas que se ascendiam e apagavam de acordo com um sensor de calor humano, além da opção por comando de voz. Do lado direito da parede havia um enorme espelho triplo que ia do rodapé até o teto e atrás dele estava o closet de Stella com enormes coleções de roupas, sapatos e bolsas e até mesmo algumas peças do inverno de 2015, que ainda nem sequer estavam nas lojas.

Stella fechou os olhos com força, passou as mãos pelos fios azuis, suspirou desanimada, desvencilhou-se dos lençóis de mil fios egípcios, e dirigiu-se ao banheiro do pai onde sabia que encontraria a única coisa capaz de aliviar a dor: uma caixa de Ritrovil.

Em seu caminho silencioso até lá Stella não notou estar sendo seguida e quando se encarou diante do espelho do pai tomou um enorme susto ao ver outro rosto muito semelhante ao seu, pairando a seu lado.

“O que está acontecendo, Stella?” Simon falou com o olhar sério e preocupado.

“Não sei do que você está falando.” Stella disse empurrando os comprimidos pra dentro do bolso do roupão antes que Simon pudesse vê-los.

“Em primeiro lugar, somos irmãos gêmeos, e eu sei quando você não está bem.” Enquanto Simon falava, Stella tentava desviar-se dele, mas o garoto, da mesma altura de Atlas, facilmente se impôs no caminho dela, impedindo-a de ir a qualquer lugar.

“Em segundo lugar, você e Atlas estão muito estranhos ultimamente, quase como se não fôssemos mais amigos. Vocês estão se afastando mais do que quando estavam namorando.”

Nesse momento Stella revirou os olhos em deboche, desesperada para sair logo dali e tomar os comprimidos que acabariam com sua dor física.

“Em terceiro lugar, você está no banheiro do papai em busca do Rivotril dele. Ou seja: algo realmente não está bem. O que tá acontecendo?”Simon indagou cruzando os braços e fazendo um biquinho deveras semelhante ao a própria Stella faria.

O garoto de cabelos quase loiros estava determinado a conseguir alguma resposta e Stella logo percebeu que não sairia dali a não ser que dissesse algo. Então ela observou o irmão gêmeo mais de perto.

Simon era alto, com braços fortes graças à prática frequente de esportes, branco e de traços europeus, com nariz afilado e rosados lábios finos. Para Stella ele sempre parecera com uma versão masculina de si própria, apenas mais alta, arrogante e classista. Por um minuto, que transcorreu meio lentamente, Stella cogitou contar a verdade para o irmão, mencionando Kyubey, a função de ser um jovem magi, revelando toda verdade sobre as bruxas relatando os milagres que eram concedidos ao assinar o contrato.

Ele é meu irmão, merece saber, Stella concluiu. Porém, enquanto entreabria os lábios para começar confessar o que sabia, a garota de cabelos azuis escutou o conselho de Maya ecoar em seu cérebro, como uma lembrança antiga.

“Eu quis dizer que você deve avaliar bem quais são suas intenções para com esse desejo, Stella. Somente assim não se arrependerá de fazê-lo”

As mãos de Stella começaram a tremer. Naquele dia Maya parecera genuinamente preocupada com o bem-estar dela e de Atlas. Então, ao sentir seus olhos arderem com lágrimas, Stella entendeu por fim o porquê que não deveria, nunca, envolver mais ninguém no mundo cruel de magia o qual ela própria havia se inserido no dia em que decidira seguir Atlas pelo Yelp Club.

Isso colocaria as pessoas que eu amo em perigo também, ela pensou.

“E então? Vai me dizer a verdade?” Simon perguntou olhando-a nos olhos.

“É o termino com Atlas.” Stella mentiu. Ela fez o que fazia de melhor, desde que tinha cinco anos de idade e, mais uma vez empurrou toda a dor, medo, e tristeza para um lugar sombrio em sua mente, engolindo-os como se fossem pílulas de Rivotril.

“Eu achei que fosse você que tivesse terminado com ele.” Simon comentou desconfiado.

“Sim, mas... Está sendo mais difícil do que pensei. Eu ainda não sei como me sinto em relação ao Atlas, nós sempre fomos somos melhores amigos e as coisas estão meio confusas agora. Então, pra entender melhor o que sinto por ele tenho tentado mantê-lo só pra mim... Não está sendo fácil mudar a natureza da nossa relação.”

Após algum tempo observando a irmã em silêncio, Simon concordou como se estivesse convencido e até mesmo aliviado. Ele acreditava ter compreendido o que a irmã estava sentindo e descoberto afinal, qual o motivo dele próprio estar tão inquieto. Simon sorriu e até teve a decência de pedir desculpas pelo interrogatório. Os dois conversaram mais algumas amenidades sobre a escola e ele disse que daria uma carona para a irmã até a Dalton School.

Quando Stella finalmente encontrou-se só, ela quase se sentiu mal por mentir de uma forma tão natural para o irmão, ainda mais usando Atlas como desculpa. Mas esse breve período de culpa se foi, pois antes de pensar qualquer nova coisa desagradável, Stella tomou o Ritrovil em suas mãos pequenas e levou alguns comprimidos até a boca, engolindo-os a seco.

Ela acreditou verdadeiramente que as coisas não poderiam ficar piores.

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ATLAS YOUNGBLOOD

A primeira e a segunda aula passaram com uma velocidade assustadora. Naquele momento os alunos do terceiro ano B estavam no pequeno intervalo para a terceira aula que seria de História Contemporânea com a professora Clark. Notar isso trouxe de volta ao garoto uma memória do primeiro dia de aula de 2014, que poderia ter acontecido há vinte anos. Atlas estava adentrando a escola ao lado de Stella, Simon e Hannah. A vida era normal e sua maior preocupação era terminar com Stella. O garoto então olhou para sua mão direita que ainda estava unida a de Magdalena, os dedos dela encaixando-se nos dele como se fossem feitos para estarem entrelaçados. Atlas podia sentir seus colegas de sala encarando-o. Cada olhar perplexo lançado na direção dos dois era sentido pelo jovem, mas de alguma maneira ele não se sentia realmente atingido.

Era como se a fortaleza de Lena tivesse sido expandida para Atlas e os dois estavam agora sob a mesma proteção emocional. Só existia Magdalena diante dos olhos turbulentos de Atlas. Era tal qual estivessem a sós.

“Sejam rápidos, por favor. Da próxima vez terei que reporta-los a diretoria, hein?”

A voz da professora Clark reverberou pela sala, junto a sua figura esguia, de fenótipo asiático e com curtos cabelos lisos. Atrás dela, aparentando nenhum constrangimento, estavam Simon e Stella. Os gêmeos Lancaster caminharam até seus lugares de costume e Stella olhou rapidamente para Atlas antes de sentar. Tão logo, a voz da professora Clark preencheu a sala.

“Hoje quero retomar a discussão sobre a Revolução Industrial e os impactos subsequentes que...”

Pelos próximos 40 minutos o coração do jovem foi poupado da dor que se agarrara a ele desde o dia anterior e assim Atlas foi capaz de prestar atenção na aula, sem ignorar o toque abrasador de Lena. De repente, cerca quinze minutos antes do intervalo, Atlas notou um pequeno bilhete ser jogado em sua mesa. Com a outra mão livre ele abriu o bilhete e leu-o silenciosamente para si mesmo. Trava-se de uma caligrafia bela e inclinada, escrita com bastante precisão. Era de Lena.

Sairei no intervalo.

Tenho algumas coisas para acertar, antes do enterro.

Convença Stella a ir com você. Encontrem-me no local de Maya.

M.N

Atlas mal teve tempo de piscar e o som estridente do sinal do intervalo tocou, ressoando como um sino em seus ouvidos. Lena retirou seus dedos dos de Atlas, antes mesmo que a professora Clark tivesse posto todos os papéis e pastas dentro de sua maleta.

O garoto começou a sentir-se vazio e infeliz novamente. Ele perguntou-se mais uma vez porque Lena exercia tanto poder assim sobre ele. Como ela parecia ter a capacidade de amenizar cada fraqueza em Atlas e torná-lo alguém melhor, quando na verdade eles mal se conheciam?

Em meio a seus devaneios, Atlas travou seu olhar em Lena que com sua típica elegância e frieza se locomoveu até a porta, sem olhar para trás nenhuma vez. E foi somente nesse instante que Atlas percebeu que não poderia evitar a sensação de perda ao ser deixado para trás. Ele não iria mais questionar a legitimidade de seus sentimentos por Magdalena. Atlas estava de pé, pronto para sair da sala também. Ele iria segui-la.

“Precisamos conversar.” O sussurro de Stella pegou-o de surpresa e o momento para ir-se com Lena estava perdido.

“Como?” Atlas perguntou ainda distraído.

“Precisamos conversar Atlas. Por favor.”

Imediatamente, o garoto virou o rosto para fitar Stella de frente e só então ele notou o quanto as pupilas dela estavam dilatadas e o quão vermelhos estavam seus olhos. Atlas apenas balançou a cabeça em um gesto de concordância e então permitiu que ela o segurasse pela mão, levando-o em direção ao telhado. Aquele local sempre seria o lugar deles na Dalton School, Atlas percebeu com um misto de nostalgia e tristeza e algo parecido com saudades. Os bancos do terraço estavam com o aspecto úmido de neve derretida e o resto do telhado também se encontrava no mesmo estado, como se algo estivesse sendo lentamente renovado. O céu impunha-se limpo e uma brisa idealmente fria soprou no rosto dos dois jovens, refrescando-lhes.

“Parece que estivemos aqui em outra vida, não é?” Atlas comentou desejando poder beber uma cerveja.

“Sim” Stella comentou retirando um cigarro de maconha do bolso. Atlas havia se esquecido das várias vezes em que acompanhou Stella para fumar a erva no telhado, quando os dois ainda namoravam. Ele a ajudou a ascender o cigarro com as mãos, protegendo as chamas do isqueiro contra o vento frio.

“É como se, com exceção de você e de Lena, eu estivesse cercado por estranhos. Pessoas com as quais nunca troquei mais de duas palavras.”

Stella deu um fraco sorriso em resposta e respirou profundamente antes de responder.

“Ninguém sabe, Atlas. É por isso que nos sentimos tão estranhos, como se não pertencêssemos mais a esse lugar, apesar de ser a mesma escola de sempre e os mesmos amigos de ontem. Simon, Hannah, a professora Clark, seus pais, meus pais... Eles não entendem, estão alienados. E é melhor que permaneçam assim. Nós nunca poderemos compartilhar nada com eles.”

Atlas franziu as sobrancelhas preocupado, mas Stella apenas empurrou gentilmente o cigarro contra os lábios do amigo, para silencia-lo. No mesmo instante, Kyubey se fez presente, saltando de um telhado para outro até alcançar o local onde os jovens estavam. Stella encarou Kyubey por um minuto antes de prosseguir dizendo:

“É verdade, não tente negar. Nossas vidas foram completamente transformadas no dia em que conhecemos Kyubey... Apenas não tínhamos percebido antes. Só entendemos depois que Maya...”

Stella calou-se engolindo em seco. Um silêncio desconfortável se seguiu enquanto Atlas tragava e sentia seu pulmão encher-se do ar quente advindo do cigarro. Stella derramou uma rápida lágrima que escorreu quente por seu rosto.

“Atlas, você ainda quer? Se tornar um jovem magi?”

Nesse momento Kyubey aproximou-se dos dois, como a fazer um apelo silencioso, fixando seus olhos escarlates no rosto do rapaz. Atlas abaixou a cabeça incapaz de fornecer qualquer resposta para tal pergunta. Então Stella segurou a mão dele e disse com a voz falha:

“Eu sei... N-Não posso culpá-lo.”

O lábio inferior de Atlas tremeu quando ele finalmente reuniu forças para falar.

“Eu sou fraco, Stella. Estou com medo e sei que é covardia minha voltar atrás agora, mas... Quando penso na forma cruel que ela se foi, eu simplesmente não consigo. Eu não que-“ Atlas perdeu a voz no final da frase, enfim sentindo a brisa do cigarro acertá-lo, deixando seus pensamentos nebulosos.

“É uma pena, realmente.” Kyubey disse manifestando-se na conversa, usando magia para comunicar-se, trazendo sua voz inumana até Atlas e Stella.

“Afinal, nem todos os jovens magi têm um viés humanista assim como Maya e eu tenho certeza que esse é o tipo de atuação que vocês teriam. O território de Nova York já está sendo tomado por outros iuvenis magi com preocupações bem diferentes”.

“Pessoas que só se importam em pôr as mãos nas sementes de angústia assim como Magdalena, não é?” Stella comentou com certa ojeriza na voz.

“Stella...” Atlas apertou a mão dela, prevenindo-a de fazer novas críticas a Lena.

“Bem, não posso negar que a maioria dos jovens magi caça pensando em si e, portanto buscando recompensas. Entretanto, Stella, acredito que os únicos capazes de julgar alguém nessa posição são outros jovens magi que compartilham do mesmo destino.”

Stella imediatamente retraiu-se ao ouvir as palavras de Kyubey, como se tivesse levado um tapa. Atlas pôde ver as diferentes emoções cruzando o rosto da amiga até que ela se acalmasse novamente.

“Foi divertido ficar com vocês, mas agora que não tem interesse em tornarem-se jovens magis, devem me dar licença, pois preciso ir à busca de outros que precisem de mim.” Kyubey começou a caminhar lentamente por entre a neve e somente então Atlas notou que o misterioso animal albino de três olhos, não deixava pegadas por onde ia andando. Era como se ele não existisse.

“Kyubey, eu... Sinto muito.” Atlas disse constrangido.

“Acredite, Atlas Youngblood, eu que sinto.”

E fácil assim, Kyubey, simplesmente desapareceu em pleno ar, como se levado pelo próprio vento.

11 de Janeiro de 2014 – Central Park, 7 horas da noite.

Stella e Atlas caminhavam lado a lado, como fizeram inúmeras vezes desde que se conheceram. Sempre lado a lado, sorrindo com uma bebida em mãos ou fazendo piadas, mas independente de onde ou como, sempre acompanhados um do outro. Porém, nesse dia a caminhada dos melhores amigos demonstrava um ritmo atípico, singular e obsoleto.

Stella usava um vestido de longas mangas compridas, liso, em formato de lápis com apenas um cinto azul marcando a cintura. Os cabelos azuis dela estavam presos em um coque médio e Stella segurava delicadamente um buque de margaridas, em suas mãos. Atlas, que estava ao lado dela, vestia uma camisa escura de botões e com mangas compridas. A calça preta era destoada apenas pelos sapatos sociais marrons que faziam um som irritante ao tocar o concreto do parque.

É a mesma roupa que utilizei para ir ao enterro do vovô, Atlas notou enquanto inconscientemente tocava no relógio de pulso herdado do senhor Peter, seu avô. O relógio batizado de Midnight Sun marcava muito mais que a hora, segundo a mãe de Atlas. A senhora Rebeca explicara certa vez, que ao vir para os Estados Unidos, o primeiro emprego do avô fora como relojoeiro. E mesmo anos depois de ter se aposentado ele ainda trabalhou incessantemente naquele projeto, o tal de Midnight Sun.

“Esse relógio acompanha a rotação dos planetas ao redor do Sol, Atlas.” Confessara a mãe alguns meses depois do falecimento do senhor Peter. “Papai gostava de observar as estrelas, sabe? Nos dias em que eu estava muito ocupada indo trabalhar, ele apenas sentava diante de uma janela e ficava parado, observando. Quando fiquei grávida, ele disse que meu filho ou filha, primogênito, deveria ter o universo em suas mãos e os céus constantemente diante de seus olhos.”

Atlas inspirou com força, sentindo-se perigosamente perto de chorar mais uma vez. Havia muito tempo que ele não pensava no falecimento do avô e muitas coisas daquele dia estavam enterradas no mar do esquecimento de sua mente, até virem à tona hoje.

“É porque hoje também se trata de uma despedida.” Atlas concluiu consigo mesmo. Despedir-se de Maya era uma necessidade e ele estava ali para poder dar seu último adeus à garota que tanto o inspirou, a jovem magi que havia sacrificado sua vida para que outros pudessem viver sem temer a ameaça das Bruxas.

“Está frio, não é?” Stella comentou com lágrimas líquidas em seus olhos azuis cristalinos. Ela apertou o buque de margaridas em suas mãos e parou de caminhar por um momento. Antes que a amiga desistisse de ir adiante, Atlas conseguiu pensar em uma resposta que a faria dar os passos restantes.

“Maya ainda assim estaria vestindo o uniforme de animadora de torcida, com a saia rodada e tudo.” Ele respondeu com a voz embriagada de saudade. Stella deu uma risada, engasgada com lágrimas salgadas.

Em pouco tempo, os dois riram até ficarem sem fôlego, riram até expulsarem todo o medo de ir adiante, mas não havia alegria em seus corações. Assim, ele e Stella caminharam até encontrarem a pequena cerca de metal que separava o pavimento do Central Park da densa floresta de árvores altas que estavam secas graças ao inverno, mas que também se mostravam um pouco propensas a restaurar seus galhos verdes graças à primavera.

“Bem vindos.” Magdalena falou com a poderosa e grave voz, denotando um tom respeitoso e formal. Para o enterro, Lena estava vestindo um longo casaco cinza com botões grandes e calça jeans escuras. Atlas trancou seu olhar no dela por um segundo, permitindo-se ficar perdido nos mistérios de Lena. Ela encarou-o de volta com alguma compaixão, mas rapidamente desviou o olhar indicando, com uma das mãos, duas cadeiras brancas.

Atlas e Stella sentaram-se.

A clareira visitada anteriormente pelos jovens estava exatamente como Atlas se lembrava desde a última vez que estivera lá. O espaço pequeno era rodeado de árvores com alguma neve resistindo, ainda acumulada nos cantos. Ao longe se podiam ouvir os sons dos adultos, jovens e crianças caminhando, pedalando conversando e sorrindo. Vivendo.

“Relembrar, celebrar e despedir. Esses são os verbos que nos unem no dia de hoje.” Enquanto Lena falava, Atlas percebeu que pequenos pontos ametistas, semelhantes a vaga-lumes, iam se acumulando atrás dela.

“Estamos aqui para homenagear Maya Harrison, nascida em 5 junho de 1996, filha de Erick Harrison e Dana Harrison.” Assim que Lena juntou os lábios, Atlas viu os vaga-lumes ametistas unirem-se, em um grande clarão cor lavanda, revelando assim o corpo de Maya. A garota loira estava deitada em um caixão de madeira vermelha, que era baixo o suficiente para que parte do perfil de Maya ficasse visível. A pele da garota loira tinha uma coloração natural e seu rosto sustentava uma expressão pacífica, como se Maya estivesse apenas dormindo. Só então Atlas percebeu que Magdalena havia utilizado da sua própria magia para manter Maya ali, conservando o corpo da líder de torcida.

“Maya era uma das melhores estudantes da Dalton School, ocupando o quarto lugar na classificação geral feita no inicio do ano. Ela tinha uma bolsa de esportes e atuava como líder de torcida para tal. Entretanto, todos aqui presentes sabemos que a verdadeira vocação de Maya estava além dessas atividades humanas. Maya foi uma jovem magi. Ela faleceu em serviço e eu a respeito por sua coragem e força. Fique em paz, Maya Harrison.”

Ao terminar sua fala, Lena virou-se e pôs uma fita amarela entre as mãos de Maya. Sem nenhum aviso prévio e de supetão, Stella levantou-se e levou o buque de margaridas até o corpo de Maya. Entre as densas lágrimas que se acumulavam em seu rosto, Stella precisou respirar algumas vezes, inalando o ar com força, antes de conseguir falar.

“Ma-Maya é uma amiga fantástica. Ela n-nos emprestou seu sorriso, sua gentileza, sua empatia e sua coragem, apesar de seus medos. Desde o dia em que nos conhecemos, Maya sempre nos protegeu, ela... Nos salvou desde o primeiro instante e Maya é... A única jovem magi que realmente vivia de acordo com o propósito de proteger aqueles que desconhecem o mundo da magia.”

Nesse instante, Atlas levantou-se até a amiga e a abraçou com força, até que ela finalmente conseguisse falar as palavras finais.

“Maya, sim, foi uma legitima defensora da justiça!” Stella completou enxugando os pequenos oceanos que escorriam de seus olhos. Assim, restava somente o pronunciamento de Atlas e antes de começar a falar ele tocou mais uma vez no relógio herdado pelo avô, movimento este que atraiu a atenção de Lena imediatamente. Os dois trocaram mais um olhar cheio de palavras não ditas, como se o uso dos sons feitos pelas cordas vocais não se fizessem necessários.

Novamente, Lena emprestava sua força para Atlas.

“Eu... Não tenho as palavras bonitas de Stella, Maya, mas prometo que... Direi algo honesto e espero que você escute, onde quer que esteja...” Pondo as mãos no bolso da camisa, Atlas retirou um desenho amassado em uma folha de caderno simples. O desenho mostrava a jovem loira em seu uniforme de líder de torcida, com uma fita amarela em uma das mãos e uma espingarda dourada na outra. Maya sorria irradiando o próprio sol e Atlas pôs do desenho dela próximo as margaridas de Stella e a fita de Lena.

“Ho-hoje eu gostaria de dizer o quanto você faz falta, enquanto amiga, ouvinte e mentora. Queria que você pudesse ver o fim do inverno e o começo dessa primavera, porque a transição de estações é sempre algo... Muito inspirador, assim como você. E-Eu sempre quero lembrar da sua bondade e... Generosidade. Descanse em paz, Maya.”

Alguns minutos de silêncio transcorreram sem que nenhum dos três jovens emitisse um som que fosse. Esta ausência de som foi quebrada pela voz tremula de Stella dizendo:

“Eu preciso ir. Preciso ir embora. Isso é demais pra mim...” O rosto dela tinha empalidecido e ao acompanhar o olhar infeliz da melhor amiga, Atlas finalmente entendeu o motivo. Lena estava parada há alguma distancia, de pé com uma pá em mãos e ela já havia começado a cavar o que seria o túmulo de Maya.

“Stella espere!” Entretanto, antes que Atlas pudesse se virar completamente na direção de Stella, ela já estava correndo por entre as árvores e saindo da clareira. Nesse instante o coração de Atlas palpitou com dúvida e ele encontrou-se dividido sem saber para onde ir: se acompanhava Stella ou permanecia com Lena até o final do enterro.

“Vá atrás dela.” Lena disse parando de cavar para poder ficar face a face com Atlas.

“Ma-mas você vai ficar aqui só, Lena. Ninguém deveria enterrar o corpo de um amigo sozinho.” Ao escutar isso, Magdalena curvou os lábios, gentilmente, no que seria um sorriso muito bonito, se não fosse tão melancólico.

“Não seria a primeira vez, Atlas. Vá atrás de Stella, ela precisa de você.”

Apertando os punhos em um aperto doloroso Atlas começou a correr na direção de Stella, mas em um súbito pensamento, deu meia volta e gritou:

“Lena, eu vou vê-la?”

“Como?” Magdalena perguntou parecendo genuinamente confusa.

Atlas atreveu-se a sentir um fragmento de felicidade ao finalmente conseguir inverter os papéis um pouco.

“Prometa, que eu irei vê-la de novo! Que você não vai desaparecer, como um sonho, que ficará aqui, que a verei na escola... Prometa.”

“Isso é importante pra você?” Lena indagou ascendendo um cigarro.

“Sim. É importante.” Atlas respondeu ansioso.

“Então eu prometo. Nós nos veremos de novo, Atlas Youngblood. Agora vá!”

Atlas acenou com a cabeça, virou-se e correu por entre as árvores do central park, esticando as pernas, alongando os músculos, puxando o ar frio da noite em seus pulmões, expulsando-o pela boca e enfim sentindo-se vivo.

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MAGDALENA NORTHUP

Central Park – Uma hora da manhã – 12 de janeiro de 2014

Aquele era o centésimo cigarro do dia. Não que importasse, mas Magdalena gostava de manter tudo sob controle. Ela sabia exatamente quantos passos dera desde que amanhecera, quantos segundos tinham se passado desde vira Atlas pela última vez e quantas árvores rodeavam a clareira na qual ela se encontrava... Lena sabia até mesmo quantas vezes tinha inspirado até então.

Obsessiva, ela pensou enquanto exalava a fumaça do cigarro pelo nariz.

Quando me tornei tão obsessiva? Magdalena indagou-se olhando para as estrelas, poucas estrelas, no céu de Nova York.

De repente, um galho foi quebrado muito próximo do lugar onde Magdalena estava sentada. Ela inclinou a cabeça na direção do som, esperando. Quando mais nada aconteceu ela sabia que era sua deixa para intervir. Então levantando-se elegantemente, Lena caminhou até o lado direito da clareira.

“Eu sabia que você viria, cedo ou tarde.” Ela disse anunciando a chegada do garoto ruivo que finalmente decidira sair dentre as árvores.

O jovem vestia uma calça jeans azul e um moletom vermelho escuro, contrastando com a pele branca, manchada por pequenas sardas ao redor dos olhos. Nos lábios ele trazia um sorriso irônico.

“Parece que nos encontramos, enfim. Kyubey também andou lhe dando algumas informações sobre mim, huh?”

“Não preciso de Kyubey.” Lena replicou seca. “Venho observando-o há algum tempo, Kevin MacNeil.”

Nesse instante a expressão de Kevin transformou-se. Ele pareceu verdadeiramente surpreso por um instante.

“O que? Você não esperava que ao vir observar a cidade, em segredo e uma vez por mês, alguém viesse a notá-lo?”

Kevin levantou as sobrancelhas e então abriu um largo sorriso de caninos afiados. Ele estava feliz como um moleque descoberto ao fazer travessuras.

“Ay, Aye! Você me conhece! Que honra!” Ele riu mais um pouco enquanto Lena encarava-o em silencio.

“Então sabe que não tenho a menor intenção de dividir esse território com você e não leve pro lado pessoal, gracinha. Eu prefiro atuar só.”

“Isso não vai acontecer, Kevin.”

O garoto gargalhou, ecoando seu timbre gutural pelo vento. Logo, Kevin começou a andar na direção de Lena, confiante como um Don Juan. Ele pôs uma mão no rosto de Magdalena, acariciando o lado com o polegar.

“Ay, Aye... Entenda gracinha, eu não tô pedindo, na verdade tô sendo bem misericordioso dando-lhe uma chance de ir embora.”

Essa foi a vez de Lena sorrir, um riso de canto de boca. Meio debochado.

“É muito gentil da sua parte vir visitar o lugar favorito de Maya, após a morte dela. Vocês trabalharam juntos, não é? ”

Antes que alguém pudesse piscar ou mover um dedo que fosse, Kevin havia transformado sua jóia da alma em uma lança chinesa do tamanho dele. O garoto a empunhava contra o coração de Lena, mas para sua surpresa e indignação, a garota negra empunhava diante do peito um pequeno escudo com a pedra ametista no meio, concentrando sua magia.

“Assunto delicado?” Lena indagou ascendendo um novo cigarro com a mão livre.

“Cala a boca vadia!” Kevin respondeu raivoso e deu um salto para trás, rapidamente pondo-se de pé e preparando-se para uma nova investida.

Dessa vez eu vou te eliminar, gracinha! Ele pensou em fúria.

“Não faria isso se estivesse em seu lugar, Kevin MacNeil.” Magdalena falou calmamente, como se estivesse explicando algo a uma criança.

“Levará cerca de cinco segundos para que você se aproxime e desfira um novo golpe. Eu, por outro lado, precisarei apenas de um segundo e meio para ativar os três explosivos C-4 que estão espalhados aqui.”

Kevin franziu as sobrancelhas, desconfiado. Ele olhou ao redor com mais atenção, sem deixar jamais a posição de defesa em que se encontrava. Até que o jovem ruivo finalmente percebeu pequenos pontos brilhantes envoltos em fios e cobertos por terra. Por fim Kevin fitou Lena mais uma vez.

“Tsc... Parabenizo-a pela estratégia, você quase me pegou nessa, gracinha. Porém, nós dois morreríamos e você não ousaria.”

“Não queira testar a extensão da magia em meu escudo Kevin. Você ficaria desapontado, provavelmente.”

Kevin respirou fundo uma única vez, pensando em várias respostas sagazes ao que Magdalena tinha dito. Quando seu cérebro pareceu falhar em dizer algo espirituoso ele se rendeu e perguntou:

“Okay, o que você quer?”

“Não se trata do que eu quero, entende? Se trata do porque eu preciso de você. Vivo.”

Kevin abaixou a lança de metal, afiada e com o cabo vermelho. Ele sorriu sentindo que estava prestes a encontrar algum desafio e que seus dias de tédio estavam, graças a Deus, acabando.

“Vamos lá, gracinha. Do que se trata? Se for sexo, eu aviso logo que-”

“Você já ouviu falar da Walpurgis Night?” Lena o cortou.

“Walpurguis Natch? Como na lenda?” Kevin perguntou sendo levado a uma lembrança deveras antiga, do dia em que conhecera Maya.

“Sim.” Magdalena replicou trazendo-o de volta a realidade.

“Ay, aye!” O ruivo riu novamente exibindo os dentes brancos e ascendendo um cigarro. “Você definitivamente tem minha atenção, Magdalena.”

“Ótimo. Eu sabia que nos daríamos bem, Kevin.”

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Fanart LINDO da Srta.Heidi

Muito obrigada pelo carinho e paciência com a postagem do capítulo!


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Notas finais do capítulo

E aí?? Gostaram? Estão ansiosos para saber o que RAIOS é Walpurgis night? Ou estão com mais vontade de ver mais cenas Lenatlas? Sim, acabei de batizar o nome deles de casal hahahaha Enfim, próximo capítulo, semana que vem, se Deus quiser :D
Muito obrigada por lerem e comentarem!

Um enorme abraço em cada um de vocês!