O despertar do Apocalipse escrita por AHSfan


Capítulo 9
Não perca a razão -


Notas iniciais do capítulo

Olá amados, como vão?
Esse capítulo vou dedicar a todos que me ajudaram nessa caminhada até aqui. Todos vocês que me dão seus feedbacks, que leem e se dedicam a me incentivarem e constroem essa fic comigo. Obrigada Glauco e ao Thiago - vocês me dão uma força enorme e eu admiro-os por me suportarem. Minhas queridas Fran Carvalho, Heidi Akatsuki, Lynn Fernandes e Nêmesis, obrigada por continuarem aqui, firmes. Tempo passa vem e vai, mas vocês permaneceram e eu sou extremamente grata pela fidelidade de vocês.
Sim, espero ansiosamente pelos comentários e pensamentos de vocês leitores.
Boa leitura!
Ps: Esse capítulo tá sem dreamcast, pq o link que eu tinha não está mais funcionando :(



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“A você foi dada uma escolha entre Guerra e Desonra. Você escolheu desonra e terá guerra.”

— Winston Churchill depois do acordo de Munich.

MAGDALENA NORTHUP

10 de Janeiro de 2014, quatro da manhã – Bronx.

Ela estava encostada no parapeito do terraço, apoiando seus cotovelos magros na bancada do prédio. Seus olhos escuros piscaram cansados e ela inspirou profundamente, enchendo de ar o torso que vestia a camisa cinza. Lena observou silenciosamente as profanas luzes artificiais que concorriam com a escuridão do céu de Nova York. Ela pôs uma mecha de cabelo crespo atrás da orelha, o reflexo de um hábito adquirido. Em seguida Lena tocou no bolso de sua calça jeans acinzentada e puxou seu isqueiro prateado ao lado do cigarro antigo, aquele que ela guardara para momentos como este. Lena pôs o cigarro entre os dedos e ascendeu-o, dando um longo trago, tentando relaxar mesmo ciente de que não conseguiria. Ela tornara-se uma pessoa deveras metódica com o passar do tempo e como consequência era condenada a estar em constante alerta, em constante vigia e em constante desconfiança.

Mas ela deveria saber que não poderia controlar tudo, não é?

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ATLAS YOUNGBLOOD

10 de Janeiro de 2014, três e quarenta e cinco da tarde.

O garoto de acinzentados olhos castanhos estava sentado confortavelmente no saguão do Lenox Hill Hospital. Atlas ouviu quando a senhora de voz amena e pele oliva deu as más notícias para Stella.

“Sinto muito senhorita Lancaster, mas Sam está em tratamento intensivo agora e não poderá receber visitas até amanhã. A senhorita gostaria que eu remarcasse sua vinda para outro dia da semana?”

Stella repuxou os lábios até formar um biquinho e então acenou concordando. Ele viu a cena toda de longe e suspirou sentindo-se triste pela amiga e por Sam. No passado Atlas desconfiara que por um momento no ensino fundamental a garota das madeixas azuis e o músico negro poderiam ter tido algo, mas a doença degenerativa de Sam fora implacável, separando-os antes que qualquer relacionamento amoroso pudesse prevalecer. Ele verdadeiramente sentia muito pela situação. Atlas pressentiu que aquela noite de domingo terminaria em algum bar ou balada no que dependesse de Stella, mas se isso a ajudasse de alguma forma, ele estaria feliz em acompanha-la.

Após alguns minutos conversando com a recepcionista Stella retornou para perto do melhor amigo com o rosto um pouco tristonho e disse:

“Não poderemos vê-lo hoje... Você se importa de vir comigo na terça?”

“Claro que não, sem problemas... Sam está bem?” Atlas questionou levantando-se e pondo a mochila preta nos ombros. Ele estava vestido com uma calça jeans escura e uma camisa de mangas curtas, pois milagrosamente a primavera dava seus primeiros sinais de vida, derretendo a neve espalhada pela multicultural megalópole cinza.

“Eu não sei...” Stella respondeu distraída.

Os dois jovens estavam se dirigindo a saída, cada um submerso em seus próprios mares de reflexões e pensamentos. Um silêncio atípico se estabilizava entre os dois que raramente ficavam calados quando estavam juntos. Atlas viu Kyubey andando com o canto do olho ao lado de Stella e só então se lembrou da presença do animal, misterioso animal. Qual era a origem dele afinal? Atlas se perguntou franzindo o cenho.

“Puta que pariu...” A tensão na voz de Stella era palpável e ela imediatamente parou de caminhar.

“O que foi?”

Simultaneamente ele sentiu a vibração atingi-lo, similar a sensação de levar um choque, seus músculos se contraído diante da descarga elétrica. Atlas virou a cabeça lentamente para a direita e viu o objeto preso em um dos pilares do prédio do hospital, aninhado entre os tijolos. Uma pequena semente da angústia se encontrava ali, parecendo uma miniatura de buraco negro, atraindo toda a energia para seu núcleo e devorando-a.

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STELLA LANCASTER

“Está prestes a nascer!” Kyubey exclamou com algo próximo a urgência na voz.

“Não... Justo aqui, não pode ser!”

Stella sentiu um nó se formar em sua garganta enquanto falava. Seus olhos piscaram repetidamente relutando em acreditar. Porque justo agora? Ela se indagou com raiva. Stella pensou em pedir que Atlas ligasse para Maya, mas o hospital proibia que os visitantes trouxessem qualquer aparelho eletrônico e depois de anos ele já tinha internalizado essa norma assim como ela. Ou seja, não havia nenhuma chance dos dois ligarem para a líder de torcida, Stella percebeu frustrada.

O labirinto vai surgir a qualquer momento... Precisamos sair daqui antes que a corrosão da energia mágica se expanda ocupando essa dimensão.”

“Não!” A determinação contida na palavra surpreendeu a todos. Stella bateu firmemente um dos pés no chão, em frustração. Ela não permitiria que Sam e todos os outros pacientes fossem expostos aquele perigo, afinal se uma bruxa nascesse ali seria catastrófico. Fechando os olhos com força Stella falou:

“Se nós formos embora agora, se fugirmos, vamos perder a trilha do labirinto, não é?! E se a bruxa atacar alguém?!”

“É muito perigoso Stella! Quando o labirinto abrir todos seremos tragados e vocês não poderão se defender, muito menos sair a não ser que assinem o contrato comigo!”

“Então eu ficarei sozinha se for preciso, não importa! Essa bruxa maldita não irá sugar a vida das pessoas nesse hospital!” Os olhos azuis cristalinos de Stella se voltaram para seu melhor amigo e ela teve uma nova ideia, prosseguindo com a voz firme:

“Atlas! Pegue minhas chaves do carro, procure por Maya na casa dela, na escola, arranje um telefone público, sei lá! Vocês precisam encontra-la e eu ficarei aqui até que retornem.”

Antes que o garoto pudesse responder, entretanto, Stella viu na expressão corporal e facial dele que o melhor amigo iria negar a proposta, preferindo permanecer ao lado dela. Porém não havia tempo para pensar e Stella estava pronta para rebater quaisquer argumentos até que Kyubey interrompeu a possível discussão dizendo:

“Vá na frente Atlas! Eu ficarei com Stella também, assim quando Maya chegar servirei de rastreador para que ela nos encontre usando telepatia.”

“Genial! Obrigada Kyubey. E aí Atlas, o que me diz?”

Atlas olhou de Kyubey para Stella e enfim concordou, pegando as chaves e correndo até o estacionamento do hospital, como se a vida dele próprio dependesse disso. Stella o observou até que o carro do ano seguinte saísse disparando pelas ruas e não pudesse mais ser visto. Ela então pegou Kyubey nos braços e olhou corajosamente para a semente da angústia diante de si.

Stella sabia que Atlas e Maya viriam a tempo.

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ATLAS YOUNGBLOOD

A velocidade do carro de Stella era inebriante, Atlas nunca tinha dirigido tão velozmente em toda sua vida. Ele adoraria aproveitar melhor a potencia do automóvel, mas o momento não favorecia em nada – na verdade as mãos de Atlas estavam com nós brancos de tanta força que o jovem aplicava ao volante.

Ele agradecia mentalmente por domingo ser um dia tão incomum em Nova York. O transito normalmente enfurecido e inflamado da pressa nova yorkina dava lugar a ruas mais desertas e pedestres ocasionais, o que facilitou imensamente a procura do jovem.

Ao lado dele, no banco do passageiro estava Maya, vestida com o uniforme vermelho e amarelo das líderes de torcida da Dalton School. Por sorte, Atlas fora ágil em recordar-se que a garota loira tinha comentado no dia anterior que estaria no treino extra para o campeonato nacional de Animação de Torcida.

“Lenox Hill Hospital, huh?” Ela comentou com a suavidade habitual na voz.

“Sim, como Sam está internado lá Stella está subindo pelas paredes de preocupação. Quase literalmente.” Atlas respondeu tentando descontrair sua própria tensão. Maya sorriu um pouco e sua voz soou nostálgica quando ela tornou a falar.

“A avó de uma das minhas amigas, do internato feminino, deu baixa no Lenox Hill um pouco antes da minha expulsão.”

“Talvez você devesse tentar visita-la quando... Essa loucura toda acabar.”

Maya olhou melancolicamente pra si mesma pelo reflexo do retrovisor.

“Pode não ser uma boa ideia... Nós perdemos o contato desde que eu voltei pra Nova York e provavelmente a avó dela não está mais aqui.”

Ao avistar o prédio principal do hospital de longe, Atlas sentiu seu corpo relaxar um pouco ao perceber que as coisas estavam finalmente entrando nos trilhos, como ele próprio gostava de pensar. Pouco tempo depois ele estacionou e retirando o cinto, olhou nos olhos castanhos e cálidos de Maya.

“Você gostava dela?” Atlas perguntou com cuidado e observou Maya corar pela primeira vez desde que tinham se conhecido.

“Não sei. Ela era especial, sabe? Nós fazíamos economia domestica na mesma turma e teve uma vez que...” Sem delongas Maya notou a forma como seu coração aqueceu ao relembrar da garota latina e confessou:

“Sim, eu gostava.”

“Eu não sou o cara mais experiente em termos de relacionamentos amorosos, mas me parece que valeria a pena você procurar por ela.”

“Quem sabe...” Maya respondeu sonhadoramente.

Ambos desceram do carro e caminharam velozes até o local onde Atlas tinha visto Stella e Kyubey pela última vez. Não tinha mais ninguém lá.

Essa percepção enviou calafrios à coluna de Atlas, prestes a surtar com o sumiço da amiga. Maya, porém, pôs uma mão tranquilizadora no ombro dele e fechando os olhos começou a se utilizar de telepatia.

“Kyubey, qual é a situação?” Maya ecoou seus pensamentos até a outra dupla.

“A semente da angústia ainda não se desenvolveu completamente na bruxa, mas nós acabamos ficando presos em uma parte bem profunda do labirinto. Tente não usar muita magia para chegar até aqui, assim retardaremos o nascimento.”

“Vocês estão bem?” Atlas questionou angustiado.

“Sim! Eu estava praticamente dormindo de tédio.” Stella respondeu de volta a seu humor habitual.

Tomem cuidado e não saiam de onde estão!” A garota loira disse por fim.

Maya esticou a mão direita e seu anel com a pedra âmbar transformou-se em sua joia da alma, para em seguida tomar a forma de um rifle prata com detalhes dourados. Ela apoiou a arma em seus braços com cuidado e fechou um dos olhos para atirar.

“Hoje nós vamos adentrar em um labirinto já formado, assim como eu fiz no dia em que conheci você e Stella. Está pronto?” Maya questionou virando o rosto para o garoto de cabelos castanhos.

“Sem dúvidas.” Ele respondeu confiante.

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MAYA HARRISON

O labirinto estava diferente, Maya notou com um pequeno sobressalto. Quer dizer, todos os labirintos eram diferentes entre si, mas aquele superava tudo que jovem magi tinha visto desde que começara a caçar bruxas no ano anterior. Maya olhou atentamente ao seu redor para tentar descobrir o que havia mudado. O ambiente em que se encontravam lembrava um filme de terror ambientado em um centro hospitalar. Um largo corredor se estendia diante dos dois jovens e nas paredes, cuja decoração pueril estava desgastada, lia-se toda a sorte de coisas escritas com uma caligrafia deveras infantil. Maya identificou algumas palavras. “Lobotomia”, “Involuntário” e “Por quê?”

Assim que ela terminou de ler, porém, luzes do teto começaram a piscar dementes, dificultando a visão. Simultaneamente a temperatura esfriou de tal forma que era possível ver o ar se condensar ao sair da boca dos jovens. Não havia mais o que fazer a não ser andar em frente pelo chão manchado de sangue velho e mofado, onde diversos instrumentos como seringas, gazes e pequenas tesouras encontravam-se dispostos aleatoriamente, em um convite sombrio. Apesar de estar razoavelmente impressionada Maya preferiu não transparecer sua estranheza, para evitar assustar o amigo. Ela caminhou com a mesma postura firme de antes.

“Apesar de achar a ideia um pouco arriscada, Atlas, fico feliz que vocês tenham decidido se dividir, assim a bruxa ficou impossibilitada de escapar.”

“Agradeça a Stella, ela foi quem pensou nisso tudo. Eu invejo a inteligência dela ás vezes.” Replicou o garoto de ombros largos fazendo Maya soltar uma pequena risada.

“Agradecerei sim, não se preocupe.” A jovem loira afirmou virando-se e então sua expressão facial alterou-se até virar uma máscara de desconfiança.

“Achei que tivesse dito que não gostaria mais de vê-la.” Maya disse cruzando os braços sobre o peito.

“Nem tudo acontece como gostaríamos.” Lena rebateu com indiferença. Atlas também deu meia volta até ver a garota negra parada a poucos metros de distancia. Lena estava vestida com uma camisa de botões cinza e um par de calças jeans escuros. Em seu braço direito, o pequeno escudo cinza com uma única pedra ametista chamou a atenção de Atlas.

“O que você quer agora?” Maya indagou erguendo uma bonita sobrancelha.

“Quero caçar essa bruxa. Sozinha. Lógico que garantirei também a segurança de Stella e até mesmo protegerei Kyubey. Só peço que vocês dois se retirem.”

Atlas entreabriu os lábios em surpresa. Lena pedindo algo? Ele pensou intrigado. Maya concordou com a cabeça e então deu dois passos em direção a jovem negra. Ela olhou para Lena de cima a baixo e disse enfim:

“E espera que nós lavemos nossas mãos, apesar de tudo que me disse ontem?”

O jovem humano olhou de Maya para Lena confuso. Como assim ontem?

“Maya... Eu sinto muito por ontem está bem?” Magdalena inspirou profundamente uma vez e olhou dentro dos olhos da líder de torcida.

“Por favor, só... Me deixe lidar com a bruxa de hoje.”

“Eu que sinto muito, Magdalena.” Maya rapidamente ergueu a mão do anel dourado em direção a Lena. “Não posso por minha confiança em você.”

Ao terminar de falar estas palavras, Maya invocou sua magia e inúmeras fitas douradas de diversas larguras surgiram do anel, atando-se ao corpo esbelto de Lena, envolvendo-a como se fosse uma múmia.

“O que você está fazendo?!” Lena exclamou parecendo verdadeiramente surpresa, pega fora de guarda. Ela tentou se mover, mas as fitas douradas a apertaram ainda mais o que retirou o ar de seus pulmões de uma só vez, fazendo-a arquejar.

“Não quero machucá-la, é claro. Entretanto, quanto mais você lutar, mais as fitas irão aperta-la e não posso garantir que ficará bem se esse for o caso.”

Atlas olhou nervoso para Lena e finalmente reuniu coragem, intervindo.

“Maya, espere, por que não vamos todos juntos e...”.

“Isso é um erro!” Lena gritou e seus olhos adquiriram um ar extremamente atroz e violento, transformando seu belo e anguloso rosto.

“Quando terminamos com a bruxa voltarei para liberta-la, Atlas. Não se preocupe” Maya sorriu gentilmente e abriu a boca para dizer algo mais, porém foi interrompida pela voz grave de Lena.

“Essa bruxa não é como as outras, Maya, essa bruxa é...”

E então uma última fita dourada se enrolou ao redor dos lábios de Lena, prevenindo-a de falar.

“Vamos.” Maya disse dando as costas.

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Atlas vinha calado o percurso inteiro, o que deixou Maya insegura quanto a sua decisão de deixar Lena para trás. Agora, eles caminhavam por uma sala que parecia demasiadamente com um necrotério, armários prateados frios para corpos encontravam-se em uma parede e na outra estavam macas enferrujadas espalhadas com lençóis manchados de sangue. Algumas das macas até tinham certo volume embaixo dos lençóis, volumes esses que se assemelhavam horrivelmente ao tamanho de corpos humanos. Para ter certeza que não se tratava de nenhum paciente, Maya decidiu que deveria investigar melhor. A mão bronzeada da líder de torcida se esticou até a ponta do lençol e ela o puxou de uma vez só, revelando enfim uma pilha de dentes. Animais e humanos, limpos e podres. Dentes e mais dentes de diferentes tamanhos caíram da pilha na maca.

“Você está bem?” Maya indagou notando que Atlas parecia ter empalidecido.

“Si- Sim. Eu apenas estava pensando no meu pedido.”

“É? E você já decidiu o que quer?” Ela perguntou colocando o pano ensanguentado de volta e seguindo em frente.

“Talvez você considere meu desejo estúpido, mas conversei com Kyubey sobre isso e ele disse que seria possível, então estou disposto a tentar.”

“O que quer dizer?” Maya replicou.

“Nunca fui bom nos estudos, digo, realmente bom como Stella. Tampouco me tornei atlético como Simon ou artístico como Sam. A verdade é que não possuo nenhum talento extraordinário, sabe? Durante toda minha vida quis ser útil para as pessoas de alguma forma, aprender algo no qual eu fosse realmente bom e contribuir com esse talento, mas eu nunca descobri minha vocação.”

“Entendo.” Maya respondeu parando diante de uma bifurcação. No lado direito estava uma larga ponte com vários esqueletos sustentados por barras de metal, como os utilizados nas aulas de biologia. Já do lado esquerdo via-se um corredor com prateleiras de remédios e pílulas. Ela contemplou as duas possibilidades diante de si e decidiu seguir pelo caminho dos esqueletos.

“Até que a conheci Maya” Atlas continuou falando com sua voz máscula, porém gentil. “Quando você nos salvou aquele dia no Yelp Club, ou quando ajudou à mulher executiva, eu realmente percebi o que estive procurando todo esse tempo. Você é um super herói, Maya. E eu honestamente quero aprender a ser como você, por isso meu desejo será me tornar um jovem magi!”

Maya parou de caminhar repentinamente. O garoto ruivo tinha dito algo parecido, não?

Você me inspira a ser melhor, Maya.”

É, essas tinham sido as palavras exatas, mas olhe só onde tudo terminou. Maya balançou a cabeça negativamente e sentiu lágrimas quentes se acumularem no canto dos olhos castanhos.

“Não será nada fácil, Atlas” Maya suspirou determinada a alerta-lo como talvez devesse ter feito desde o começo. “Ser um jovem magi é uma responsabilidade para sempre. Você não terá mais tempo para ver seus amigos da escola, nem pra sair ao cinema ou tirar um dia de folga pra si. Caçar bruxas será sua missão de vida e não há como voltar atrás.”

“É só um motivo para admirá-la ainda mais.” Ele disse determinado, mas percebeu que a dor no rosto de Maya era um oceano incontido de tristeza e ele a deixou desabafar.

“Não. Você não entende. A solitude que envolve ser um jovem magi é vazia demais, Atlas. Eu não mereço admiração. Sou uma garota assustada e solitária que não tem com quem conversar no intervalo entre as aulas. Finjo que sou uma mentora forte e sábia na frente de você e de Stella, mas não passo da garota órfã que está destinada a morrer sozinha...”

“Isso não é verdade!” Atlas virou a garota loira na sua direção e segurou-a pelos ombros, inclinando a cabeça para baixo para poder fita-la.

“Você não está mais só, Maya! Stella e eu estamos ao seu lado e não sairemos até que você peça o contrário. Somos seus amigos. Se não vivermos juntos, vamos morrer sozinhos.”

Maya olhou bem para o garoto de cabelos castanhos, sentindo uma única lágrima quente escorrer de seu olho direito. Logo ela riu entre soluços.

“Me diga que você não acabou de citar Jack Shepard pra mim!” Maya riu mais um pouco enquanto Atlas perdia um pouco da compostura ao ser descoberto.

“O- O que vale é a mensagem! Não iremos deixa-la, se você assim permitir.”

“Permito e peço que não me deixem. Eu sou bem carente pra uma mentora, não é?” Maya sorriu um riso tão genuíno e verdadeiro que sentiu músculos de seu rosto sendo alongados, como se tivessem inutilizados por tempo demais.

Não preciso mais temer nada. Está ouvindo isso Kevin? Eu não estou mais só. Uma chama ardente e inflamada de esperança se fez no coração da garota.

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ATLAS YOUNGBLOOD

A voz de Kyubey irrompeu pelos pensamentos dos dois jovens.

“Maya depressa! A semente da angústia está se mexendo e a bruxa está prestes a nascer, venha o mais rápido possível!”

“Okay! Hoje serei rápida, pois se trata de um dia especial.” Maya respondeu telepaticamente.

Ela abriu suas mãos e seu corpo foi imediatamente tomado de uma luz dourada. Simultaneamente a isso, vários esqueletos começaram a tremer e Atlas engoliu em seco ao prever o que viria a seguir.

O primeiro esqueleto se separou da estrutura de metal com um som oco, como se ossos tivessem sido quebrados. A mandíbula se soltou e emitiu um urro inumano. Então Atlas observou atemorizado quando aproximadamente mais sete outros esqueletos fizeram o mesmo movimento, soltando-se e vindo na direção dos dois jovens, cercando-os.

“Não saia daí” A jovem loira disse enquanto uma barreira de fitas douradas surgiu protegendo Atlas.

Maya sorriu confiantemente. Ela pôs as duas mãos em seu torso e simultaneamente retirou de si mesma dois fuzis de caça. Atlas observou também que atrás da jovem magi uma pequena fileira de luzes douradas se converteu em fuzis do mesmo modelo prata com as pontas fincadas no piso. A líder de torcida flexionou os joelhos e começou a andar adiante. Ela não iria mais recuar. Maya ergueu o rosto atirando nos dois esqueletos mais próximos, desintegrando-os. Ela então desviou rapidamente para direita ao ouvir um assovio veloz passar perto de sua cabeça. Os esqueletos estavam atirando seus ossos na direção dela. Maya rodopiou uma única vez e descartou as armas utilizadas anteriormente, pegando duas outras que estavam atrás dela. Praticamente sem olhar, ela efetuou novos disparos com maestria, seus movimentos sutis e leves como os de uma bailarina. Então ela tomou o esqueleto mais próximo de si pela mão, como se estivessem dançando. A jovem magi utilizou-o como escudo contra a enxurrada de ossos que vinha em sua direção. Maya riu-se da cena meio cômica e retirando de si mais dois fuzis resolveu agir logo, lembrando-se da promessa de ser rápida.

Atlas observou boquiaberto quando ela - com apenas um olhar - prendeu todos os outros esqueletos com dezenas de fitas amarelas impedindo-os de mover-se. Então a garota loira chutou o esqueleto que estava utilizando para se proteger e virando-se efetuou mais sete disparos até eliminar todos os inimigos.

“Vamos!” Ela comentou estendendo a mão para Atlas que aceitou sem hesitar. Os dois começaram a correr, passando por pilhas de dentes, injeções do tamanho de uma pessoa e mais palavras aleatórias escritas nas paredes. Eles aceleraram o passo até chegar ao final da ponte onde se erguia uma enorme porta dupla, como as de um hospital.

Acima da porta em uma placa iluminada lia-se “UTI – Não perturbe”

“Faça as honras, futuro jovem magi.” Maya sugeriu soltando a mão de Atlas e guiando-o para que ele abrisse as portas.

“Eu acho que nunca a vi tão feliz.” O garoto comentou enquanto empurrava os pesados trincos.

“Eu também não me via contente assim há muito tempo” Ela respondeu sorrindo, ciente da sinceridade contida em cada palavra.

Quando as portas finalmente cederam à força que Atlas estava aplicando, a dupla entrou no novo espaço onde logo avistaram Stella e Kyubey escondidos. A sala redonda tinha suas paredes cobertas, repletas de raios-X de diversas partes do corpo: braços, torsos, pernas e dedos eram ampliados e iluminados por uma fraca luz fluorescente. Havia também diversos dentes e alicates de dois metros de altura espalhados, enquanto no centro da sala encontrava-se a semente de angústia, concentrando energia negativa em si.

“Desculpem a demora” Maya falou aproximando-se da garota de cabelos azuis que estava agachada – com Kyubey nos braços - atrás de um enorme jarro. Atlas observou o curioso objeto com mais atenção. Ele sentiu ânsia de vômito quando percebeu que o jarro continha em seu viscoso líquido verde um doentio e amarelo olho gigantesco.

“Bem a tempo, Maya! A bruxa irá surgir agora.”

“Está bem, vamos acabar com isso.” Atlas viu quando a líder de torcida andou destemida até a semente de angústia que estava enraizada no piso. Contudo, antes que alguém pudesse sequer piscar a semente se envolveu em uma massa de energia obscura – semelhante a um miasma - e uma pequena tempestade de vento surgiu, deixando os jovens temporariamente cegos. Quando a ventania acabou, Atlas notou a nova forma da semente de angústia. Uma mesa muito alta se fez, com quatro cadeiras, cada uma delas ocupada por uma boneca de porcelana. As bonecas eram em sua maioria brancas, com exceção de uma negra. Elas tinham olhos delicadamente desenhados - que brilhavam perigosamente vermelhos - e diferentes cores de cabelo: azul, loiro, castanho e preto.

“Eu tenho que admitir que você ganha pontos por criatividade, bruxa.” Maya disse estendendo a palma de suas mãos diante de si e emitindo uma dourada luz até que inúmeros fuzis de caça se materializassem atrás dela. O amigo de ombros largos, que estava um pouco mais atrás, sorriu animado com a cena. Maya tornava a caça às bruxas uma arte merecedora de apreciação.

“Multiplo Fucile!”

Sem demorar-se a garota loira fechou as mãos com força e inúmeros disparos foram efetivados, destruindo as bonecas com facilidade, despedaçando a porcelana pelos ares. Nem mesmo o som estridente e invasivo dos disparos irritava Atlas, distraído demais pela beleza do instante. Ele voltou sua atenção novamente para a batalha e percebeu que todas as bonecas estavam quebradas com exceção de uma delas, que permanecia intacta. Atlas notou que ela deveria ser o receptáculo onde se encontrava o coração da bruxa.

A boneca loira girou o pescoço e virou seu rosto para Maya. Em resposta, a garota loira apenas invocou suas fitas amarelas e prendeu a bruxa, impedindo-a de mover-se.

“Peguei você.” Maya falou tranquilamente enquanto concentrava o máximo de energia mágica possível embaixo de seus pés, até ficar na frente e da mesma altura que a boneca. O enorme canhão prata e dourado, abaixo do tênis all star branco da garota loira, era a evidência que seus poderes estavam em potência máxima. Maya enfim executou o golpe de misericórdia gritando:

“Tiro Finale!”

Mais uma vez Atlas teve a chance de assistir atentamente o canhão emitir um único tiro de energia dourada, tão poderosa que iluminou o local todo, envolvendo a boneca de porcelana com seu poder âmbar. Maya já tinha até aterrissado no chão no momento em que a bruxa ainda estava sendo desintegrada pela luz. Ela sorria contente para seus amigos que a tinham como uma verdadeira heroína. Stella até mesmo já havia se levantado para ir ao encontro de Maya e talvez tenha sido por esse momento de distração que apenas Atlas foi capaz de obervar onde residia o verdadeiro perigo. Ele arregalou os olhos castanhos ao ver o que se dava atrás de Maya, onde a pele de porcelana da bruxa havia sido parcialmente destruída e dentro dela havia outra boneca. Uma que era de pano com olhos de botões pretos e sorriso deformado, como se fruto de uma cirurgia que deu errado. A boneca de pano tinha no lugar de um dos braços, um longo e frio objeto de metal.

Um bisturi, a palavra saltou no cérebro de Atlas.

“Maya cuidado! Saia daí!”

O garoto começou a gritar em desespero, a plenos pulmões. Entretanto, seu aviso foi tardio. Enquanto a garota loira franzia as sobrancelhas sem entender o desespero do amigo, a bruxa aproximou-se dela em um único movimento cruel e passou seu braço cortante e afiado por dentro do pescoço da jovem magi. Maya sentiu uma pontada de dor e debilmente tentou erguer o braço trêmulo para tocar seu pescoço, porém seu corpo não obedeceu tal comando. Em silêncio um filete de rubis, dois, três, sete escorreram simultaneamente.

Atlas nunca saberia ao certo o que tocou o solo primeiro, se foi o corpo ou a cabeça de Maya, que rolou pelo chão até os pés de Stella.


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Notas finais do capítulo

"Love is patient, love is kind"
"O amor é paciente, o amor é gentil"
Bem, a Maya ganhou muitos fãs em um curtíssimo espaço de tempo. Fiquei surpresa mesmo com a paixão que vocês sentem por ela e confesso que a garota fez seu caminho até o meu coração também. Estou pensando em escrever um spin-off dela, só dela, porque acredito que a nossa loirinha é muito carismática e se muita gente quiser eu posso postar o capítulo dela no final da fic ou separado mesmo, como uma one-shot.
Quando construí a personalidade da Maya, duas músicas foram fundamentais e elas estão com seus links logo abaixo, caso alguém se interesse e queira chorar mesmo:
https://www.youtube.com/watch?v=NhqH-r7Xj0E
https://www.youtube.com/watch?v=hlVBg7_08n0
Por favor, se vc leu até aqui bravo guerreiro deixe um comentário e me diga o que achou!