"E essa vontade de você, aumenta mais e mais a cada dia — Oclenes"

Passaram-se cerca de três meses, meu cabelo estava desbotado, várias mechas de loiro manifestavam-se da raiz as pontas.

Eu e Spencer estávamos bem. O que eu posso comentar é que os santinhos são definitivamente os melhores na cama.

***

Acordei completamente atrasada em uma segunda-feira, após estudar o final de semana inteiro com Spencer e por esse motivo gastei alguns minutos a mais do que o habitual para levantar-me.

Corri para tomar um banho, peguei uma roupa qualquer e fui para a escola correndo.

***

           –Taylor! Chegou atrasada hoje hein...

—Cheguei sim, Alexia. O que você quer?

—Não me chame de Alexia, sabe que eu detesto. Eu queria que você fizesse a prova de matemática para mim hoje. Igual antigamente lembra? Quando as amigas trocavam as provas...

—E por que eu faria isso? –perguntei pegando meu material para o próximo horário no armário.

—Porque eu sei de um segredo seu. Um que envolve você e suas dormidas com o professor de história. O que os alunos iriam dizer? O que os professores iriam pensar? E principalmente: o que o colegiado iria fazer? Espera, acho que isso nós sabemos...

—Ok, ok. O mesmo esquema de antigamente. –falei.

—Ótimo. Tchau.

Senti meu rosto ficar quente.

—Nervosinha... –Josh disse entre tossidas de mentira.

—É a Alex! Ela está me fazendo chantagem, Josh.

—Sinto muito. Ela sabe muitas coisas de você não é? O pior inimigo é aquele que um dia chamamos de amigo justamente por isso. Ela sabe seus podres, afinal.

—Bom, você está certo. Contudo, isso não vai ficar assim. É só esse ano acabar e eu não me importarei com o que essa louca gritar para os quatro cantos do mundo.

Josh apenas passou os braços em minhas costas e abaixou a cabeça, suspirando.

—Não se preocupe, Josh. Vamos para a aula? –forcei um sorriso amigável.

—Claro. Você sabe como eu amo história. –ele disse sarcástico revirando os olhos.

—Pois eu aprecio e muito. –respondi mordendo o lábio inferior e segurei para não rir. Adorava "piadinhas" que só eu entendia.

Spencer olhou para mim e Josh entrando na sala.

—Bom dia, Senhorita Linehan e Senhor Adams.

—Bom dia, Spencer. –falei.

—É senhor Kutcher para você. –ele respondeu revirando os olhos. Ele me falava isso todo santo dia.

—Chamo como quiser, Spencer. –falei e lancei um sorrisinho para ele, que riu discretamente e balançou a cabeça em falsa descrença.

A aula passou como todas as outras de história: Josh dormia e eu prestava atenção comentando uma coisa ou outra sobre a matéria.

Depois foi aula de física. Minha vez de dormir e de Josh prestar atenção. Geralmente eu prestava atenção em todas as aulas, mas estava com sono e ficar acordada enquanto o professor passava um slide sobre a vida de Albert Eisten foi impossível.

Passei o almoço com Josh como de costume. No quarto horário fui para a aula de inglês. No quinto horário aula de geografia e no sexto fiz a prova de matemática, a minha e a da Alex, como havíamos “combinado”.

***

—Alex ficou fazendo chantagem comigo hoje, acredita pai? Quantos anos ela tem, afinal de contas? –desabafei enquanto lavava as vasilhas do jantar.

—Eu te avisei que isso iria acontecer, querida. –meu pai lia na mesa da cozinha, bem atrás de mim.

—Eu sei, mas mesmo assim. –enxuguei as mãos molhadas em um pano próximo, pensativa.

—Mande-a para um lugar que você sabe muito bem qual é.

—Em pensamento eu mandei, pai. Para esse e muitos outros lugares. Vadia... Quer saber, pai? Vou dormir... É o melhor que eu posso fazer nesse momento. Boa noite e durma bem. –eu disse depositando um beijo em sua bochecha.

—Boa noite, querida. Sonhe com os anjos.

Tomei um banho, coloquei uma roupa antiga e fui dormir.

“-Alex. Cadê você? Alex!

Estava escuro, estávamos na floresta e de novo eu não sabia onde Alex estava.

—Alex! –gritei alto, mas apenas ouvi silêncio na floresta que ainda dormia.

Andei mais um pouco e algo grande caiu em cima de mim. Olhei para trás e era o corpo de Alex. Seu sangue escorria em meu cabelo e sua boca estava machucada e aberta. A ruiva estava pálida e sem vida alguma.”

Acordei quase sentindo ainda o peso de seu corpo. Sentei na cama e respirei fundo. Resolvi levantar e andar pela casa... Fazendo barulhos nas tábuas iguais a uma alma penada. Algumas horas depois deitei no sofá para dormir um pouco. Quando acordei eram mais de dez horas da manhã e um cheiro delicioso de bacon vinha da cozinha.

—Você perdeu a aula. –meu pai falou.

—Eu sei.

Ele assentiu e me serviu de bacon, ovos e suco de laranja. De saudável na refeição só havia o suco de laranja, mas não dei muita importância.

***

—Oi, Josh! Teve algum dever hoje?

—Oi, Linehan... Teve sim. De química e matemática. –Josh me respondeu do outro lado da linha.

—Passa aí. –pedi.

Josh passou os deveres e logo depois a campainha tocou.

Apesar de apreensiva, fora impossível não sorrir.

—Spencer. Vindo aqui de dia é arriscado, já te falei.

—Eu sei, mas fiquei preocupado. Não foi hoje por quê?

—Sonhei com a Alex... Perdi a hora.

—Foi dormir de novo e não conseguiu acordar, é?

—Isso.

Spencer suspirou. Ele odiava tanto quanto eu esses pesadelos tais pesadelos sem nexo.

—Ah é, percebi que você está bem amiga do Josh...

—O que é isso, Spencer? Ciúmes?

—Não, claro que não! Só fiz um comentário.

—Hm, sei... Ando bem amiga dele sim, ele é um menino bom.

—Entendo.

—Para de ciúmes, seu bobo! –falei o beijando.

—Ok, ok. Eu tenho que ir agora... Corrigir a prova do segundo ano. Alunos burros...

Ri.

—Tudo bem então. Vai lá.

Spencer me deu um beijo rápido e foi embora. Estava meio sem opção então fui para meu serviço e por lá fiz meus deveres.

***

—Muito obrigada pelo B+ em matemática, Taylor.

—Como se eu tivesse opção...

—É claro que não tem. Mas de qualquer forma obrigada. Estou sendo educada, por que você não aproveita, hein?

—De nada. –respondi, seca.

Dois dias depois que fiz a prova para nós duas Alex me disse aquilo. Ela tinha ficado com B+, mas eu havia ficado com A. Se nossas notas ficassem muito iguais acabariam percebendo. Ou não. De qualquer forma, fazer a prova para alguém como ela já era um desaforo enorme. Não deixaria tirar mais que eu, de jeito nenhum.

As aulas passaram como sempre. Algumas interessantes –vocês sabem muito bem qual aula é interessante– e outras chatas. Estava saindo da escola quando Alex apareceu atrás de mim.

—Você sabia que ganhamos pontos caso façamos os deveres que nos dão? É tão sensacional!

—Claro que eu sei. –falei.

—Que bom! Então você deve fazer suas lições, não é?

—É. –respondi, já entendendo.

—Ótimo. Se faz as suas pode muito bem fazer as minhas. –ela disse me entregando uma folha com contas de física e um pedaço de folha de caderno escrito “lição para amanhã: Fazer um resumo sobre o capítulo 7 e 8 de história.”

—Além de fazer prova para você terei que fazer dever também? Eu trabalho, você sabe. O que você faz mesmo hein?

—Sei e daí? Se não fizer já sabe. Aluna que “dorme” com o professor de história.

Dei as costas e continuei meu caminho.

***

Já era tarde e eu ainda estava passando o meu dever para a folha que eu havia pegado para ser o dever de Alex. Eu acabei mudando algumas coisas, pois os professores conhecem seus alunos, portanto sabem qual é o grau de inteligência da Alex. Ou seja, mais trabalho para mim que tive que pensar em cada palavra e afins.

Acordei com a cara em cima dos livros. Tão confortável...

—Que ótimo. –resmunguei.

Mais uma vez corri para chegar à escola. Acabei trombando com Spencer no caminho:

—Ai! Taylor, que cara é essa?

—Eu dormi tarde, estava fazendo os meus deveres e o da Alex. Esforçando para ser burra em um dever, nunca imaginei que faria isso...

—Como assim?

—Esforçando para ser burra? Ah, você sabe como a Alex é inteligente então tive que disfarçar para os professores não desconfiarem de que outra pessoa faça os deveres para ela.

—Isso eu já havia entendido. Eu quero saber que história é essa de você fazer os deveres para a Senhorita Carter?

Parecia que às vezes o Spencer esquecia que não era necessário formalidades comigo. Ignorei isso ao máximo, respirei fundo e respondi:

—Estou sendo vítima de chantagem, é isso.

—Por causa da gente? –Spencer perguntou fazendo gestos com as mãos nos indicando.

—Sim. E estou ficando nervosa com isso, já! Quando ela finalmente conseguir me irritar não responderei pelo meus atos.

Ele abriu a boca, formando um “O” quase perfeito.