Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 8
II - Capítulo 6: Enquanto isso, no trem


Notas iniciais do capítulo

Eu gosto de pensar que essa é a minha versão do começo do 3° filme :D



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Parte Dois

{Os olhos azuis sobre os castanhos}

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Capítulo 6: Enquanto isso, no trem

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Dentro do trem que partiria à Hogwarts, Harry narrava aos amigos a sua versão do acidente com tia Petúnia. A sua intenção, naquele fim de tarde, apesar de não ser das mais puras, era clara: azarar a mulher rançosa que transformava sua existência em algo tão desagradável, que, por vezes, ele quase considerava deixar os nojentos Malfoys começarem uma campanha de purificação do mundo. Quase. Era apenas um pensamento tolo e egoísta, que chegava à borda da sua consciência toda vez que a tal mulher chamava-lhe o nome, olhava-o de soslaio com desprezo e esboçava comentários cruéis sobre os seus pais.

Não foi culpa dele ela se transformar numa espécie horripilante de balão humanoide com pernas, braços e uma garganta potente. O seu poder, simplesmente, fugiu-lhe do controle. Aquela não seria a primeira nem muito menos a última vez que isso aconteceria.

– Eu não queria inchá-la. Eu queria... – considerou por um momento. O que realmente gostaria de fazer, se pudesse? – Perdi o controle...

Se havia de fato crime no ato, Rony o descartou.

– Brilhante – afirmou o ruivo.

Hermione, que procurava alguma cabine vazia para sentar-se com os amigos, não se deu ao trabalho de virar-se e de lançar um olhar reprovador ao garoto; preferia usar o seu tom de voz para deixar transparecer a sua opinião sobre aquele comentário infeliz.

– Honestamente, Rony, isto não é engraçado. Harry teve sorte de não ser expulso.

– Eu tive sorte de não ser preso – completou o próprio Harry.

Caso Rony tivesse espírito sofisticado, teria se dignado à ação de revirar os olhos. Contudo, o seu espírito era simplório e bravio, o que acarretou numa repetição irritante da frase que viria a ser o seu bordão naquele ano.

– Ainda acho que foi brilhante!

Porque, de certa forma, o era.

Foram necessários mais alguns passos para que Hermione gritasse para que os amigos andassem mais depressa, porque encontrara um vagão vazio. Ou quase.

No canto, encostando contra a janela, um homem dormia, ou assim fazia os outros pensarem, com um grosso paletó jogado sobre a sua face; o próprio sujeito parecia ser um boneco de pano esquecido sobre o banco, com suas pernas longas em posição folgada e com os seus braços soltos ao lado do corpo.

– Quem vocês acham que é? – perguntou Rony.

Hermione ergueu os olhos do gato felpudo em seu colo e procurou algum sinal de identificação gráfica nos pertences do homem.

– R. J. Lupin – disse ela, categoricamente.

– Você sabe de tudo? – Rony bufou, arregalando os olhos a Harry. – Como ela sabe de tudo?

Hermione, que não tinha um espírito simplório, revirou os olhos.

– Está escrito na sua mala, Ronald – apontou.

Rony observou a mala pela primeira vez – era pequena e compacta, em couro, com as iniciais em prateado desgastado pelo tempo ou pelo uso excessivo. Sentindo-se contrariado, preferiu permanecer calado e emburrado.

Harry abriu a boca para manifestar algo que precisava ser expelido para fora de si imediatamente, pois, a cada minuto que permanecia trancado, isso corroia o seu âmago, a sua consciência e a sua paciência.

Nesse momento exato, Bichano agitou-se nervoso no colo de Hermione, e esta moveu a cabeça na direção da porta, depois para trás, como se tentasse achar a melhor localização para escutar a conversa dos outros.

– De onde esta música está vindo? – perguntou ela.

Harry e Rony se entreolharam, confusos.

– Não há música alguma, Hermione – disse Harry.

Hermione fez uma careta, balançou a cabeça e retornou a sua atenção ao delicado trabalho de afagar o Bichano.

– Deve ser só coisa da minha cabeça – murmurou ela.

Tão logo Hermione calou-se, Harry proferiu as palavras entaladas na garganta, antes que mais alguém começasse a escutar ruídos inexistentes e roubasse, com isso, o seu precioso momento de expurgo emocional.

– Vocês acham que ele está dormindo?

– Parece que ele está. Por quê? – falou Hermione.

Harry ergueu-se num salto.

– Tenho que contar algo a vocês – disse ele, enquanto fechava a porta, isolando a cabine do restante do trem.

Mesmo com os sons de ferro percorrendo o trilho e de coversas e risos estridentes abafados pela porta fechada e da voz de Harry dominando o pequeno espaço, Hermione ainda conseguia escutar a comunhão de instrumentos exóticos formando uma bela canção. Se prestasse atenção, poderia até escutar a voz de um homem cantar.

I once had a girl,

Or should I say

She once had me

.

Draco fingia dormir, sentado desleixado, ocupando todo um banco. Estava terrivelmente entediado, um sentimento poderoso capaz de consumir mesmo o mais vibrante dos espíritos.

Os seus aliados mais íntimos, sentados à sua frente, não detinham tal título pelas suas notáveis astúcias e capacidades mentais avançadas. Exatamente por isso eram valiosos e insubstituíveis. Eles eram o tipo de gente que Draco precisava: fariam qualquer coisa pelo seu líder, não importava o quão absurdo e imoral fosse o pedido, eles não pensariam uma vez sequer. Eram máquinas preparadas à execução. Encontrar lacaios tão devotos e motores quanto aqueles era bastante raro.

Essas mesmas características, no entanto, tornavam inevitável, a eles, manterem uma conversa interessante que estimulasse o cérebro de uma lesma. Logo, imagine como Draco Malfoy se sentia.

Mas era uma tortura necessária.

Draco fingia-se de amigo para dominá-los, e, vez por outra, quando sentia ser mais que indispensável, fazia um agrado a eles, comprava alguns doces, ria de suas tentativas de formular uma piada e usava elevada carga de ironia para camuflar um comentário maldoso direcionado a eles.

A toda a população bruxa – e trouxa, se soubessem da existência do sujeito em questão –, Draco Malfoy era um garoto cruel, sem escrúpulos, narcisista, atrevido e incapaz de sentir empatia por outro ser que não fosse ele mesmo. Contudo, o que ninguém sabia, além do próprio Draco e da sua mãe, era que o garoto era capaz de fortes sentimentos de apego e de gratidão. O problema era que a sua percepção frívola do mundo, ensinada periodicamente pelo pai, fazia com que ele deturpasse o sentimento e agisse de uma forma que não cabia a ele. Onde existia amor, ele via direito de posse; onde existiam laços e dor, ele via fraqueza ridícula.

O que ele precisava era de alguém que o ensinasse a compreender a essência dos seus sentimentos e que o fizesse perder o medo desesperador de se permitir sentir algo que não fosse orgulho soberbo.

Porém ninguém, no momento, nem no futuro próximo, poderia mudar Draco Malfoy, pelo simples motivo de que ele não desejava mudar.

A verdadeira mudança não parte dos outros, mas de si mesmo.

Alguém deveria ter dito isso ao garoto.


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Notas finais do capítulo

Voltando à história do Draco, da Mione & Cia. Agora, começa um novo ciclo. Eles estão no terceiro ano de Hogwarts e, como todos sabem, as trevas estão se aproximando.... E outras coisas também....

Espero que tenham gostado. Um dia, prometo, esta história fará sentido! Até lá, deixem comentários dizendo o que estão achando.

Beijão para todos! :*



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