Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 44
IV - Capítulo 42: Polêmicas à parte


Notas iniciais do capítulo

Ok, eu jamais vou entender o motivo que levou tanta gente a odiar o capítulo passado... Mas, se vc provavelmente também odeia o Blaise com a Hermione, vai amar esse capítulo. Fique atento aos DETALHES!



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Parte IV

{Sobre a loucura, o amor e a guerra}

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Capítulo 42: Polêmicas à parte

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O namoro entre Hermione e Blaise estava rendendo grandes polêmicas entre os alunos, os professores, os jornalistas e a comunidade bruxa de forma geral. A notícia foi destacada nos grandes jornais de circulação como um feito notável, para o bem ou para o mal. Diante disto, os sonserinos que defendiam os antigos ideais de sangue puro faziam questão de ensinar lições para o seu desorientado colega de Casa. Eles o importunavam a todo instante, lembrando-o da missão sagrada de manter a integridade de suas famílias, da história e do legado de seus antecedentes e de salvar a verdadeira magia que estava sendo contaminada pelos trouxas que se misturavam ao seu povo.

Quando as palavras mostraram-se em vão, eles apelaram para a violência, e Dolores fingia não saber o que estava acontecendo na escola.

Certa tarde, três alunos do sexto ano barraram o caminho de Blaise; o corredor, antes barulhento com o trânsito de alunos, tornou-se quieto e vazio.

– Você acha que pode fazer o que quiser sem sofrer com as consequências, Zabini? – argumentou um deles, o mais alto, com a cabeleira preta e lisa.

– Vamos dar uma lição para este traidor do sangue – cuspiu outro, um pouco mais baixo, de pele, cabelos e olhos escuros. – Uma lição que seus pais deveriam ter lhe ensinado há muito tempo!

O terceiro se limitou a oferecer um sorriso de escárnio a Blaise e a avançar com a varinha erguida, gritando um feitiço de paralisação, o qual foi prontamente rebatido por Blaise.

Os dois sonserinos que falaram antes deram um passo para frente e, ao mesmo tempo, lançaram feitiços que tinham o objetivo de machucar o seu oponente. Novamente, Blaise os rebateu, sem nem ao menos mostrar esforço para fazê-lo. Os três encararam-se, surpresos, e Blaise aproveitou o momento de distração para atacá-los. Eles nem ao menos viram o que aconteceu, antes que uma luz sombria os atingisse e os empurrasse ao chão.

Eles se debateram, mas nenhum som saía de suas bocas escancaradas, pois Blaise fora esperto o bastante para lançar um feitiço de silêncio sobre eles. Blaise ficou aos pés deles, observando-os de cima, um sorriso delirante em sua feição.

Os jovens no chão pareciam sentir muita dor, seus membros tremiam compulsivamente, e seus olhos davam voltas e mais voltas, como se tentassem escavar um caminho até seus cérebros. Mesmo quando pararam de tremer e ficaram quietos, seus rostos estavam distorcidos em caretas de agonia e suas peles estavam roxas e vermelhas em certas regiões, onde bateram com força demais contra o piso de pedra.

Eles encararam Blaise com temor, arrastando-se para longe.

Antes de deixá-los fugir como lagartixas, Blaise ajoelhou-se entre eles e sussurrou um segredo.

– Se contarem para qualquer um sobre isto, eu os encontrarei e os matarei. E não mexam com a Hermione. Estamos entendidos?

Eles acenaram com dificuldade.

– Bons garotos – disse Blaise, rindo e dando leves tapas nas bochechas inchadas de um deles.

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Se para Blaise a situação estava difícil, os colegas de Hermione não pareciam se importar muito com a escolha da amiga, exceto, claro, Harry.

Surpreendentemente, Rony mostrou-se o maior defensor de Blaise, repetindo várias vezes que o rapaz era bastante agradável e divertido, apesar de ser impossível imaginar um sonserino com tantas qualidades quanto este. Blaise era, como ele gostava de dizer, um grande engano em meio àquele ninho de cobras. Como ele fora parar ali? Ora, o fato de que isso ocorrera era a prova final de que o Chapéu Seletor merecia uma aposentadoria numa clínica de recuperação para dependentes de drogas ilícitas. Todos riam quando ele falava isso, exceto, claro, Harry, que se mostrava bastante obtuso sobre tudo o que estava acontecendo.

– Eu ainda não confio nele, Mione – murmurava Harry, mal-humorado. – Ele parece ser bom demais para um sonserino. Talvez, ele queria usar você para nos espionar e entregar informações para os Comensais.

– Harry, pare de ser um idiota! – gritava Hermione, indignada.

Ela queria contar a história dos pais de Blaise para calar as dúvidas do amigo, mas o namorado confiara a ela, e somente a ela, aquele segredo, por isso não poderia traí-lo ao compartilhar aquilo com outros, mesmo que quisesse esfregar a verdade na cara de certas pessoas.

Naquele dia, ao sentar-se em seu lugar à mesa da Grifinória, ela respirou fundo, bem fundo, esperando o discurso típico de Harry.

Para a sua surpresa, nem Harry nem Gina apareceram para o café da manhã. Rony estava incomodado, olhando furtivamente para os lados, como se esperasse encontrá-los num canto afastado, armando uma conspiração sem ele. Hermione fazia o melhor para não rir, mas era impossível suprimir o sorriso largo no rosto. Até que ela viu Draco.

Ele estava sentando à mesa da Sonserina, em meio a vários garotos que conversavam e riam alto. Ele era o único calado, sério.

Ela sustentou o olhar dele, apesar de sentir vontade de se esconder debaixo da mesa. Ele parecia tão sombrio, encarando-a daquela distância, naquela sua postura real, que o fazia parecer, de fato, pertencente a uma casta acima do resto da trivial humanidade.

Draco desviou o olhar primeiro, voltando-se na direção de algum sonserino que ela não conhecia. Hermione, no entanto, continuou a observar os seus movimentos, o jeito como a boca dele se movia quando falava, sorrindo de lado, irônico, as mãos de dedos longos que puxavam o cabelo para trás, como ele fazia sempre que estava preocupado ou nervoso. E havia ainda um traço de tensão na expressão dele, um aperto atípico nos lábios, a rigidez no queixo, o sutil percurso que os olhos dele faziam, procurando algo ao redor do Salão, como se estivesse entediado e, então, ele a encarava novamente, por um segundo apenas, mas isto era o bastante para fazer o estômago de Hermione revirar-se. Não, não era bem isso. Não parecia que seu estômago estava se revirando, mas que todo o seu organismo estava vibrando, arrepiando-se.

– Hermione, você já terminou? – perguntou Rony, segurando na mão dela.

Ela quase pulou para fora do banco, e o seu esqueleto para fora da pele, tamanho foi o susto.

– Eu a assustei?

– Não – mentiu. – Eu estava só pensando, aí fiquei surpresa quando você me chamou, sabe... – Engoliu o resto do seu suco e limpou a boca com o guardanapo. – Vamos, eu ainda tenho que pegar alguns livros na Biblioteca.

Ela se levantou e seguiu Rony para fora do Salão. Na porta, ela olhou uma última vez na direção da mesa da Sonserina. E Draco olhou de volta.

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Draco não tinha a menor vontade de passar a próxima hora preso numa sala de aula apertada e úmida, com um professor de voz rouca, passos penosos e nariz avermelhado, com uma específica grifinória sentada ao lado de um dos Weasley, a duas cadeiras de distância, o que era demasiadamente próximo.

Ele estava agitado demais para ficar sentado, fingindo que se importava o bastante para prestar atenção. Por isso, ao invés de seguir o trajeto para a sua próxima aula, ele fez o caminho contrário, jogando a mochila por cima dos ombros.

Apesar da aparência casual – mastigando uma maçã verde, andando de forma preguiçosa –, os alunos que o viam rapidamente recuperavam a postura esperada deles, ajeitavam a farda, falavam mais baixo, sentavam direito, até mesmo saiam do seu caminho, indo esconder-se por trás de uma árvore ou de uma escultura; se pudessem, certamente se fundiriam à parede.

Parte dele adorava que os outros alunos o respeitassem com seus olhos de camundongos, de tal forma que bastava ele entrar num cômodo para que todos se voltassem em sua direção, esperando que ele fizesse um movimento sutil, indicando que poderiam voltar a se mover, ou que poderiam, igualmente, perecer à sua vontade. Parte dele, também detestava isso. Queria os velhos dias de novo, quando ele era apenas mais um, e todos conversavam com ele abertamente, sem medir as palavras, sem o receio de que fossem torturados.

Essa era a mesma parte responsável por ter o deixado tão irritado quando soube sobre o novo casal famoso de Hogwarts. Entre todas as pessoas, ele jamais esperava que Hermione cairia de amor pelo Zabini. Qual era o problema dela? Estava cega e burra, enfim? Não era lógico que alguém como ele não iria querer qualquer coisa de alguém como ela?

Contudo, tinha que se lembrar, por menos que gostasse, que Zabini não era muito diferente dela – um amante dessas baboseiras de direitos iguais, com ideais de um mundo sem a distinção entre aqueles de sangue-puro e o restante.

Lucius não acreditava nisso nem os pais de Zabini, pelo pouco que sabia. O que acontecera, então, em meio aos anos, para que Zabini tivesse adquirido consciência própria através de uma nova forma de pensamento? E por que o mesmo não acontecera com ele, Draco? Por que haveriam eles de serem tão diferentes, quando tiveram a mesma criação?

E Hermione saberia sobre a família dele? Saberia que a mãe dele foi assassinada por um auror durante uma batalha? Saberia que os pais e os avós e os tios dele eram todos Comensais leais ao Lord? Se soubesse, como poderia aceitar os sentimentos dele? E como poderia acusá-lo, ele, Draco, de ser um aprendiz de Comensais, de esconder o próprio Lord debaixo do teto de sua casa, quando o homem que namorava não tinha um passado melhor?

Por que o Zabini?

Esta era a real questão.

Adentrou ao castelo e seguiu o primeiro corredor que encontrou, girando numa curva à direita. A maçã foi abandonada no jardim, minutos no passado. O passado, contudo, continuava lerdo, típico de gente que está imerso em pensamentos, deixando o corpo controlar a si mesmo. Os seus ouvidos capturaram o som alto de lamúrias e os pés o seguiram.

Draco despertou de seus devaneios ao escutar o grito vindo do seu lado.

– Calem-se, seus idiotas!

Virou-se na direção do som, confuso, pois não sabia onde estava nem se lembrava de como chegara até ali. De qualquer forma, isso era apenas o começo de seus problemas. À sua frente, estava três sonserinos que não pareciam muito mais velhos do que ele, e todos os três pareciam exaustos, os rostos e os braços machucados, com cicatrizes finas nas mãos.

– Vocês se meteram em alguma briga? – perguntou Draco, meramente curioso.

No momento, não tinha interesse por brigas estúpidas, mas ainda precisava fingir que cumpria com suas obrigações.

– Não! – responderam os três ao mesmo tempo.

Draco limitou-se a erguer uma sobrancelha e apontar para a marca roxa na bochecha do jovem do meio, o mais alto dos três.

– Qual o seu nome?

– William, senhor!

O primeiro impulso de Draco foi mandar que ele não o chamasse de senhor, pois não era velho nem nada. Contudo, não queria gastar saliva com isso.

– William, conte-me a verdade, ou terei que acrescentar que é um mentiroso sem escrúpulos que traí a sua própria Casa no relatório sobre o seu comportamento inadequado que enviarei à Umbridge. – Olhando de relance para os outros dois, ele completou, sorrindo de lado: – Todo nós sabemos sobre o cuidado especial com que ela trata mentirosos e traidores.

Eles engoliram em seco e entreolharam-se. William foi o primeiro a recuperar-se, tornando-se vermelho da cor da cólera.

– Não somos traidores! – falou ele, firmemente. – Mas planejávamos ensinar uma lição a um traidor do sangue! Você mais do que qualquer outro deveria entender que temos a missão de manter os antigos costumes, quando a magia era algo exclusiva dos bruxos. Agora, qualquer um pensa que pode usá-la como quiser!

Draco balançou a cabeça, compreendendo a situação.

– Vocês bateram no Zabini.

Os três entreolharam-se, novamente; algo que não passou despercebido pelo loiro.

– Ou o Zabini bateu em vocês?

William começou a falar, mas foi silenciado por seu amigo.

– Não conte a ele, Zabini irá nos matar! – falou o jovem, desesperado.

O terceiro concordou, acenando veemente.

– Zabini não poderia ter machucado a todos vocês ao mesmo tempo! – sentenciou Draco. – São três contra um!

– Ele não nos bateu, ele fez outra coisa... – William sussurrou, olhando furtivamente para trás, como se temesse que o sujeito do assunto se materializasse no ar e o atacasse.

– O quê? – pediu Draco, pela primeira vez, sentindo-se curioso. – Ele os azarou?

– Não... – começou a falar os dois outros sonserinos.

– Sim – falou William. – Mas não foi um daqueles feitiços inocentes que usamos para brincar com os novatos. Foi um feitiço sombrio...

– Pare, William! – implorou um de seus amigos, que parecia agoniado a ponto de arrancar seus próprios cabelos.

– Eu não ficarei aqui para levar a culpa junto com você, seu louco suicida! – afirmou o outro, correndo rápido para o mais longe dali que poderia ir sem abandonar o perímetro do castelo.

– O que o sem graça do Zabini poderia ter feito para deixá-los tão assustados? – inquiriu Draco, encarando com descrença a cena à sua frente.

– Eu não sei qual o feitiço ele usou, mas... Nunca pensei que tamanha dor fosse capaz de existir, e era ainda pior do que isso, senti como se uma parte de minha alma tivesse morrido...

– Suspeito que não estamos falando da mesma pessoa...

– Você precisa dizer isso a Dolores e fazê-la puni-lo da pior forma, até mesmo mandá-lo para Askaban se for possível! Você tem que nos vingar, Draco, porque ele fez muito mais do que nos torturar, ele manchou a honra da nossa Casa, do nosso sangue, mais de uma vez. Não podemos permitir que isso continue a acontecer, ou outros pensarão que estes são tempos mais amistosos e libertinos, em que trouxas e bruxos de sangue-puro podem se misturar!

Foi a vez de Draco engolir em seco e retrair-se. Apesar da tensão que sentia, a sua voz saiu firme quando falou:

– Verei o que posso fazer.

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Hermione havia planejado o jantar perfeito – ela, Blaise, a vastidão do lago, as cores do pôr do sol, uma pequena ceia com um pouco de vinho que ele arranjara em algum lugar do castelo. Apesar da fadiga e da irritação natural que lhe acometera o âmago permanentemente por causa dos pesadelos, ela se sentia feliz e sofisticada, provando daquela quentura que lhe descia pela garganta, acomodando-se no estômago, fazendo sua mente se iluminar.

Suspirou.

A mão de Blaise estava sobre a sua, acariciando-a com o polegar.

Era exatamente disso, daquele momento a sós, que precisava.

– Granger! – gritou uma voz saída de um de seus piores pesadelos. – Zabini! Que fim de tarde formidável!

Ela girou a cabeça, fitando o intruso com um de seus raros, porém cada vez mais frequentes, olhares gélidos.

– O que você quer... Malfoy? – falou ela entre os dentes.

O que ocorreu, contudo, foi que ela própria conseguiu escutar a hesitação em sua voz antes de dizer o nome dele. “Draco” era o que seus lábios tinham formado.

Ele sorriu de lado, de forma irônica, analisando a cena daquele estúpido casal de perdedores em frente a um lago sem graça de águas permanentemente geladas.

– Isto que vejo no seu copo é vinho, Granger? – disse ele, naquele tom irritante de brincadeira em que, obviamente, ela era o centro da piada infâmia.

Sem cerimônia, ele lhe tomou o copo das mãos e bebeu um gole de seu conteúdo.

– E um dos baratos! – murmurou, sorvendo outro gole, só para ter certeza. – Tenho certeza que com todo o seu dinheiro, você poderia tê-la comprado algo melhor, Zabini. O quê? Não quer gastar dinheiro com alguém como ela? Compreensível – balançou a cabeça, concordando consigo mesmo.

Blaise fez um movimento como se estivesse se preparando para se erguer e dar-lhe uma boa bofetada na cara. Todavia, Hermione segurou o seu braço, mantendo-o no lugar.

– Eu não me precipitaria, se fosse você. – Draco sorriu de lado, cruelmente. – Levante-se, temos que conversar.

Ele começou a andar pela beira das águas do lago, para próximo da floresta onde alunos eram proibidos de adentrar.

Hermione olhou para o namorado, preocupada.

– Aconteceu alguma coisa? – pediu ela.

Ele negou.

– Ele só deve querer me lembrar sobre aquelas mesmas besteiras sobre sangues-puros de sempre, como aqueles outros idiotas.

Ergueu-se e, sem olhar para trás, seguiu o loiro.

– Certamente, você tem uma ideia clara sobre o assunto a que vim tratar – disse Draco, repuxando as folhas de um galho baixo, mostrando-se apenas parcialmente interessado na conversa.

– Sobre os três babacas que vieram me lembrar, nesta manhã, que eu sou um puro sangue de uma das sagradas Vinte e Oito Família e que Hermione está muito abaixo do meu suposto nível de status social. Ah, e sobre o que fiz a eles! – admitiu Blaise, realizando o feito de conseguir parecer ainda mais enfadado com aquele distúrbio.

– Eles vieram se queixar para mim, exigiram que eu o levasse a Dolores para ser castigado.

Draco fingiu um bocejo e olhou para o horizonte ao longe, que estava pintado de azul escuro, roxo e laranja; sua expressão era de alguém que acabara de se levantar de um sono de duzentos anos para constatar que o mundo permanecia exatamente igual ao que fora – terrivelmente monótono, porque não havia mais o que se ver nem para onde ir. O mundo era um casulo apertado e abafado que lhe prendia. E ele já estava cansando de sonhar sobre o que haveria lá fora.

Então, voltou-se, preguiçoso, na direção do outro sonserino.

– O que você decidiu fazer sobre isso? – perguntou Blaise.

– Isso depende... Qual a sua versão da história?

– Você acreditaria nas minhas palavras?

– Um dia – suspirou –, essas perguntas terão que levar a algum lugar, que será o mais próximo da verdade que conhecerei.

Blaise encarou-o como se, naquele momento, o considerasse uma criatura muito engraçada.

– Você acordou se sentindo existencialista, não é...

Se Draco possuía um comentário maldoso para contrariá-lo, não se manifestou. Por isso, Blaise começou o seu curto relato.

– Havia três deles, que estavam impedindo a minha passagem no corredor. Eram todos do sexto ano, acho, mas tenho certeza quando digo que são todos uns completos desvairados estúpidos! Eles queriam me ensinar uma lição, acusando-me de ser um traidor do sangue, porém fui eu que os ensinei algo, a se calarem antes de defecarem pela boca!

Draco o encarou, apenas parcialmente surpreso por tê-lo escutado falar daquela forma tão... Amarga.

– Você os atacou de verdade – falou Draco, sem tom de acusação. – Eles estavam machucados. Como Inspetor Mestre, tenho o dever de encaminhá-lo para que Dolores escolha qual a melhor punição para este caso. E você não cometeu apenas um crime ao olho dela, deles e da Sonserina, você não apenas usou feitiços de ataque que estão proibidos em Hogwarts contra seus companheiros de Casa, com também cometeu o pior de todos os crimes aos olhos deles, está namorando uma sangue-ruim amiga do Potter. E somente isto já é sacrilégio! Dolores irá torturá-lo lentamente, fará seu sangue jorrar aos montes e, então, fechará as feridas apenas para reabri-las novamente. Posso vê-la fazendo isso por dias e dias, sem jamais se entediar.

A mandíbula de Blaise estava apertada. Dentes pressionados contra dentes, tensos, fortes, irados.

– Se quer me ver de joelhos implorando perdão, saiba que não me arrependo do que fiz – grasniu ele, entre os dentes. – Eu não poderia jamais permitir que eles a machucassem! Precisava fazê-los desistir da ideia antes mesmo que tentassem...

– Eles estavam apavorados! – disse Draco, exaltando-se. Seus olhos alargados fitavam o jovem à sua frente com descrença. – Que feitiço você usou?

– Eu fiz o que precisava ser feito para protegê-la!

– Que feitiço você usou, Zabini?

Blaise o encarou, calado. Aquele era o fim da conversa para ambos.

– Você irá me entregar, Malfoy?

– Eles disseram que sentiram uma parte de suas almas morrerem...

– Você irá me entregar?

– Não – disse Draco, sorrindo, subitamente.

Seu sorriso pertencia ao cúmplice de um crime, não para alguém com quem estivesse pronto para combater no lado oposto do front.

Sem outra palavra, Blaise virou-se e fez o caminho de volta para onde deixara uma preocupada Hermione para trás.

Draco o observou partir, ainda sorrindo. E se sorria era por puro contentamento, porque, no fim, eram ambos, ele e Zabini, feitos do mesmo material, seriam eles sempre, em primeiro lugar, filhos de Comensais da Morte.

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Draco nem se deu ao trabalho de se levantar; com um movimento da varinha, abriu a porta. Hermione adentrou ao cômodo pisando pesadamente, porque, na verdade, já estava cansada da discussão que ainda nem chegara a ser realizada.

– Eu sei que você é, principalmente, um bastardo mimado e ingrato, mas poderia deixar Blaise em paz? Já não basta tudo o que ele tem que aguentar, você também precisa aporrinhá-lo?! – reclamou Hermione, andando de um lado ao outro do quarto, com os braços cruzados. Sua expressão não denunciava irritação, ela estava cansada, apenas. Cansada de todas as brigas e desentendimentos. Seria tão mais simples se todos pudessem facilmente aceitar suas diferenças e convivessem pacificamente com este fato.

O loiro ergueu os olhos do livro que lia sem muita atenção.

– Não se faça de desentendido! – falou ela, mas sem conseguir proferir o tom de injúria que pretendia.

Então, ele compreendeu onde jazia a confusão. Ela pensava que ele havia ido importunar o seu estúpido namorado com mais da mesma conversa sobre puros sangues e amigas do garoto que não deveria ter sobrevivido. Agora, por que ela pensava assim? Seria de se esperar algo do tipo vindo de Draco, obviamente. Mas, só para ter certeza, perguntaria.

– O que Zabini a disse?

– Que você é um grande babaca, não que eu precisasse de alguém para me afirmar isso!

Draco sorriu de lado, e isto, finalmente, conseguiu roubar alguma emoção mais forte de Hermione.

Ela o esmurrou no braço esquerdo, com força para deixar vermelho. Draco encolheu-se, murmurando que não precisava de toda essa brutalidade, que ele não poderia esperar menos de alguém que confraternizava com pobretões e lunáticos. Subitamente, colocou-se de pé na frente dela, voltando a sorrir vitorioso.

– Deixe-me destruir suas frágeis ilusões sobre o seu querido namorado: Ele está mentindo – falou Draco. Com a mesma rapidez com que se levantara, voltou a se sentar, fingindo voltar a sua atenção para o livro.

A verdade era que ele estava bem ciente da tensão crescente no canto da boca dela.

Ela o esmurrou novamente no braço, agora, parecendo mais histérica.

– Eu sei o que você está fazendo! O mesmo que toda aquela peste da Sonserina! Vocês querem nos separar, nos destruir, porque são incapazes de ver felicidade sem querer transformá-la num inferno particular!

Massageando o braço, ele olhou para cima.

– Não, Hermione, eu não perderia meu precioso tempo com vocês dois – falou ele.

– Você não tem o direito de me chamar pelo primeiro nome! – gritou ela, realmente irada. Ela ergueu a mão para bater nele novamente, porém ele a segurou no ar, quando esta estava a centímetros de sua bochecha.

– Você deveria ter visto o que ele fez a três alunos do sexto ano que se atreveram a ameaçá-la – falou, seu olhos brilhando de algo que não era ódio, mas que poderia muito bem ser orgulho.

– Pare de mentir para mim! – Ela tentou se libertar do aperto dele, mas terminou por bater a perna numa mesinha, que caiu de lado fazendo um estrondo horrível, o vidro rompendo-se em centenas de pedacinhos brilhantes.

– Acredite no que quiser, Granger! – disse ele em tom gélido. – Mas não se esqueça jamais que na minha Casa não há valentes nem decentes heróis. Somos, todos, cobras que nunca conseguem satisfazer a sua fome.

Ele a largou, e ela perdeu a firmeza nos pés, cambaleando até encontrar outro suporte, que foi uma das colunas da larga cama dele.

– Ele é diferente – murmurou ela, fracamente.

– Sim, ele é mais dissimulado que a maioria de nós – riu-se o loiro. Porém, até isto necessitava de grande esforço.

Ela parecia tão abatida, e tudo o que ele conseguia pensar era que não deveria pensar na vontade de ir até onde ela estava e segurá-la em seus braços, enquanto sussurrava uma promessa.

– Acredite no que quiser... Granger.

Ele voltou a sua atenção para o livro, usando toda a sua rígida disciplina para não a observar sair do quarto, fechando a porta quietamente atrás de si.

Ele deveria se erguer para patrulhar os corredores do castelo, fazer o seu dever básico como Prefeito, mas não se sentia disposto. Por isso, ficou sentado ali, observando as chamas arderem até se consumirem em seu fogo por completo.


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Notas finais do capítulo

Realmente espero que tenham gostado desse capítulo!
Agora, estou oficialmente de férias (som de fogos de artifício ao fundo), o que significa que postarei com maior frequência, toda semana, talvez mais de uma vez por semana õ/
Desejo boas férias para todo mundo! E não deixem de aproveitar a melhor coisa da melhor época do ano - as comidas de São João.

Beijão!



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