Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 31
IV - Capítulo 29: A caminho de Hogwarts




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Parte IV

{Sobre a loucura, o amor e a guerra}

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Capítulo 29: A caminho de Hogwarts

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Voldemort retornou, porém a maioria da comunidade bruxa não acreditava que isso fosse real. Preferiam acreditar na ilusão que criaram: Voldemort era apenas uma lembrança ruim de uma época em que o mundo quase fora engolido pelas trevas.

Naquele que seria o seu quinto ano em Hogwarts, Harry subiu ao trem, sentindo a raiva remexer-se, desconfortável, em seu âmago. Eram poucos os que acreditavam que ele não apenas vira aquele-que-não-deve-ser-nomeado, mas também lutara contra ele e sobrevivera por uma mera questão de sorte. Sorte esta que estava se esgotando. Entre os que não confiavam na sua palavra, estava praticamente todo o Ministério.

Harry pensava que, enquanto as pessoas estavam fazendo desculpas sobre o Lorde das Trevas estar morto e sepultado, o próprio estava vagando livremente pelo mundo, disseminando o seu ódio, recrutando bruxos para a sua causa, matando inocentes, tornando pequenas crianças órfãs de pai e de mãe.

Rony puxou a porta de um compartimento e o chamou para dentro. Hermione vinha logo atrás, acariciando o Bichano em seus braços. Ela andava olhando em volta, parecendo cuidadosa, até mesmo receosa de que começasse a escutar uma melodia que existia somente na sua cabeça.

Os garotos entraram e sentaram-se, porém Hermione parou na entrada, o seu corpo virado de lado. No momento em que o virara, o seu corpo parara, subitamente, e virara-se na direção dele.

Draco também interrompera o seu caminho. Ele estava no extremo oposto, na divisão entre aquele vagão e o próximo, onde os membros da Sonserina costumavam ficar. Os olhares deles ficaram presos um no outro por um instante infinito que não durara mais que vinte e cinco segundos. Desviaram o olhar ao mesmo e tempo e retornaram, cada um, ao seu caminho.

Hermione sentou-se na frente dos amigos, abraçando o seu gato peludo forte contra o peito, até ele começar a miar alto e a arranhá-la. Ela diminuiu a pressão, mas não o soltou. As unhas dele cortaram a pele das suas mãos e dos seus braços, formando pequenas luas escarlates.

Harry verbalizava o quão chateado estava, por causa da recusa do Ministério em fazer algo para descobrir se aquele-que-não-deve-ser-nomeado estava realmente vivo ou não. Rony murmurava e balançava a cabeça, concordando com o amigo. Hermione estava calada, algo que não combinava com a sua personalidade, e não demorou muito para que os amigos percebessem. Quando eles a encararam com mudas perguntas nos olhos, ela inventou uma desculpa para se retirar do compartimento e vagar sem rum pelo trem.

Eles sabiam que ela precisava de privacidade, por isso não a seguiram.

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Não foi por acaso que Hermione encontrou, no meio do caminho, Blaise. Ele sorriu largamente quando a viu e caminhou mais rápido para alcançá-la.

– Eu estava a procurando – disse ele, conseguindo o feitio de alargar ainda mais os lábios. – Queria perguntar se você não gostaria de sentar-se comigo.

Hermione franziu as sobrancelhas, incrédula de que ele a estivesse convidando para algo que não envolvesse entrar, furtivamente, por uma passagem secreta para deter o novo vilão que gerava caos no castelo.

– Eu adoraria – respondeu, também sorrindo. Não sentia disposição para conversar, mas também não queria voltar ao compartimento em que deixara os amigos com suas dúvidas sobre ela nem queria ficar sozinha com os seus pensamentos.

Então, ela o seguiu.

Ao perceber que se encaminhavam para a parte onde os alunos da Sonserina sentavam-se ao redor de mesas, conversando e comendo, como passageiros da primeira classe; estancou. Blaise deu mais alguns passos antes de perceber que não era acompanhado.

Ele virou-se, erguendo as sobrancelhas.

– Eu duvido que eles me deixem entrar por aquela porta e sair viva – disse Hermione.

Blaise andou na direção dela e segurou-lhe a mão, apertando-a na sua.

– Eu não deixarei ninguém machucá-la, Hermione.

Ela sorriu de forma envergonhada, abaixando os olhos para as mãos entrelaçadas deles. Novamente, ele a deixou sem palavras e confusa sobre o porquê de ser sempre gentil com ela. Ergueu os olhos e encarou os dele, tentando procurar as respostas dentro deles. Os olhos de Blaise eram calorosos, dois glóbulos inundados pelo breu brilhando como se existisse luz escondida pela escuridão, mas isso era tudo o que eles deixavam transparecer.

– Se você não se sentir confortável para entrar naquele vagão, nós podemos procurar algum compartimento livre nesse ou nos outros – falou Blaise, massageando as costas da mão dela com o seu polegar. – Porém, eu duvido que ainda exista algum livre – deu de ombros.

Isso era verdade.

– Tudo bem – suspirou ela. – Eu posso fazer isso. Eu não tenho medo deles.

O sorriso dele reapareceu, e ele a puxou para o vagão à frente. Hermione respirou fundo três vezes e deu dois passos para dentro dele. Todos os olhos se viraram para ela, alguns gélidos, outros irados. A única face que ela viu, no entanto, foi a de Draco.

Num primeiro momento, ele a olhou de forma confusa, como se estivesse processando a razão para tentar encaixar uma peça de quebra-cabeça que claramente não cabia no espaço em que a pressionava. Em seguida, olhou ao redor, como incerto de que fosse o único a ver o fantasma dela. Ao compreender que não estava louco, voltou a olhar para ela, reparando, pela primeira vez, no aperto que Blaise mantinha na sua mão. Ele olhou de Blaise para Hermione, o seu olhar se tornou tão gélido, que seria capaz de queimá-la, da mesma forma que um bloco de gelo faz com a pele desprotegia no inverno.

Blaise a levou até uma mesa desocupada no fundo do vagão e soltou a sua mão. Hermione fez o possível para parecer firme e fingir que os olhares das víboras ao seu redor não a afetavam. Sentou-se à frente dele e sorriu largamente, dissimuladamente.

– Você quer comer alguma coisa? – perguntou ele.

– Não, obrigada – disse ela, pensando que, certamente, colocariam veneno na sua comida.

– Bem, eu estou! Vou pegar algo para comer, espere por mim, por favor!

Hermione agarrou, desesperada, a sua mão, impedindo que se erguesse, partisse e a deixasse sozinha ali, em meio a tantos sonserinos.

– Você não pode pedir daqui? – perguntou ela.

– Sim, basta balançar esse sino – indicou um sino amarrado a uma corda na parede, entre duas mesas. – Eu prefiro me levantar e pegar a minha própria comida do que chamar algum elfo para me servir – deu de ombros.

Hermione não conseguiu impedir o sorriso que se formou em seus lábios.

– Eu entendo – disse ela, seu âmago inflando-se de respeito por ele.

– Serei rápido – falou ele, levantando-se e partindo na direção de uma porta próxima à mesa em que estavam sentados.

Durante os longos minutos em que Blaise esteve ausente, Hermione respirou com dificuldade e manteve os olhos nos machucados em suas mãos. Quando escutou passos, ergueu-os, esperando encontrar o rosto familiar de Blaise, não o de Draco Malfoy.

O loiro sentou-se no banco à sua frente, encarando-a com tanto desprezo, que não cabia dentro dele; precisava verbalizá-lo, jogá-lo para fora de alguma forma.

– O que você está fazendo aqui? Esse lugar não é para gente imunda como você! – falou Draco, com a voz afiada e frívola.

– Blaise convidou-me – disse com mais segurança e calma do que realmente sentia. Até arriscou dar de ombros, mas o movimento não se completou da forma pretendida; os ombros oscilaram para baixo e ali ficaram encolhidos, como as mãos entre as coxas.

– Meu pai estava certo, Zabini não honra o sangue em suas veias – disse com mais ódio na voz do que Hermione jamais tivera o desprazer de ouvir.

Irritada com o típico preconceito estúpido dele, Hermione ignorou o medo que percorria as suas próprias veias e aproximou-se dele, encarando-o com a mesma intensidade.

– Você não tem direito de falar sobre ele dessa forma! Blaise é um homem melhor do que você jamais será!

– Eu não estou interessado em ser um bom homem – disse ele, aproximando dela, encarando-a com olhos semicerrados repletos de fúria.

Hermione não piscou nem se afastou, ela não daria tal satisfação a ele. O mundo ao redor parecia não mais existir, era um espaço vazio de som e de cor. Aos poucos, a expressão do olhar dele se suavizou, uma mudança que parecereu levar eras para ocorrer, até que ele a olhasse de forma curiosa e se aproximasse mais dela, sentando-se na extremidade do banco. O nariz dele encostou no dela, e Hermione arfou, surpresa. O olhar dele caiu para os lábios dela.

Hermione pensou que ele a beijaria, mas isso era absurdo, tão absurdo, que Draco se levantou e se afastou, sem olhar para trás. Ela o viu partir, confusa.

Um ou dois minutos depois, Blaise retornou segurando um prato com bolo de chocolate recheado com amoras. Se ele percebeu que havia algo de errado com ela, não fez menção de questioná-la. Ele começou uma confortável conversa sobre as aulas e sobre o que ela mais gostava no mundo trouxa. Ele disse que esperava ter a oportunidade de conhecê-lo, um dia.

Apesar do desconforto latente no âmago, ela conversou respondeu animadamente a todas as perguntas dele.

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Hermione retornou ao compartimento onde Harry e Rony permaneciam sentados. Rony dormia, a boca entreaberta, a cabeça pendendo para um lado, os braços largados ao lado do corpo. Harry, no entanto, tinha uma expressão séria e preocupada, os pensamentos sobre o retorno do Lorde das Trevas assombravam o seu âmago. Se dormia, tinha pesadelos. Se se mantinha acordado, via-se preso em outro tipo de pesadelo, muito pior que aquele.

Ela sentou-se de frente a ele e segurou as suas mãos nas dela, apertando-as, e sorriu para ele.

– Onde você estava? – perguntou Harry, olhando para a paisagem que passava como um borrão pela janela.

– Você não acreditaria se eu contasse. – Ela contou a Harry que Blaise a convidara para se sentar com ele no vagão da Sonserina, esquecendo-se de mencionar sobre Draco, o que não foi necessariamente um acaso. – Eu acho que ele gosta de mim – deu de ombros.

– Ele é um sonserino – falou Harry, como se isso fosse o bastante para explicar o motivo pelo qual ela deveria manter-se afastada dele.

– Eu sei, mas ele é diferente. Ele me perguntou sobre os costumes dos trouxas, os locais em que eu gostava de visitar em Londres, onde ele poderia encontrar os melhores sanduiches às três horas da manhã – riu-se, lembrando da seriedade com que Blaise falara sobre isso. – E ele também defende os elfos, acredita que eles deveriam ser livres e não mais submetidos ao capricho dos bruxos – sorriu largamente.

– Acho que você deveria ser mais cautelosa ao estar próxima dele. Eu nunca conheci um sonserino que tivesse boas intenções.

Pela primeira vez, Hermione não sabia o que responder.


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Notas finais do capítulo

Comunicado importante: Gente, vou logo avisando que meus capítulos vão ficar beeeeeem grandinhos a partir do 30. Quando digo "grande", digo capítulo de 3.000-10.000. Sem falar que a carga emocional vai aumentar drasticamente. Então, se preparem :D
The best is to come!
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Beijão para todos! :*