Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 25
III - Capítulo 23: Sobre o sonho na neve


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, o especial de Natal ^^
Espero que gostem!



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Parte III

{Uma valsa que resultou em uma queda}

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Capítulo 23: Sobre o sonho na neve

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Hermione despediu-se de Blaise e seguiu o seu caminho para o Salão Comunal da Grifinória, o que não esperava é que houvesse certo loiro no caminho, encostado na parede, com os braços cruzados e a feição carrancuda, como um estorvo.

Ela parou, abruptamente, no topo da escada em espiral. O motivo não foi exatamente a presença do sonserino, mas o estado em que ele se manifestava. Draco era uma mistura de roxo e de vermelho, não da forma encantadora que o fora no sonho da noite passada, mas de uma forma horrenda, como se tivessem tentado asfixiá-lo repetidas vezes, apenas por prazer em vê-lo contorcendo-se, babando sangue e saliva e implorando que o deixassem viver. Rosto, pescoço, parte descoberta das mãos, ele todo estava recoberto por crostas de sangue envelhecido, rasgos, borrões de cor escura e inchaços. Ela quase sentia pena dele.

Quase.

– Você parece surpresa, Granger – disse Draco, usando o seu sarcasmo como escudo. Ele sabia que sua aparência estava terrível; se o pai o visse, faria um favor a ele mesmo e o trancaria no porão por tempo indeterminado. Draco não estava acostumado a perder nem a aparentar menos que deslumbrante, por isso odiava Zabini pelo que fizera ao seu corpo e ao seu ego. E ele não estava certo sobre qual dos dois levaria mais tempo para se curar.

– Sua aparência finalmente condiz com a sua personalidade, Malfoy – retrucou Hermione, após se recuperar da melhor visão que tivera do garoto mais patético de Hogwarts.

– Estou certo de que você e os seus amigos odiosos estão tendo um ótimo dia, não?

– Certamente teremos um maravilhoso mês!

Seguiu o seu caminho ao longo do corredor, mas antes que pudesse ir longe o bastante do Malfoy, este apertou o seu braço e a fez se virar, rapidamente, rodopiando em um semicírculo que a desequilibrou e que confundiu os seus sentidos. Ela deu um passo vacilante para frente, para ele.

Draco a largou, e ela deu outro passo para frente, retomando a sua compostura. No momento em que ela levantou os olhos para encará-lo, ele desviou os seus, parecendo, subitamente, mais vermelho do que antes. Dessa vez, contudo, não era uma vermelhidão grotesca, mas uma coloração sutil e delicada que fez a sua tez se acender e parecer menos adoentada.

– Granger – disse ele, sem sarcasmo, sem raiva, sem humor. O nome dela nos lábios dele era apenas uma palavra, como chão, vento ou mar; fora feita apenas para ser dita, não sentida. – Você teve alguma visão estranha na noite passada?

Era incrível o número de vezes que uma pessoa poderia ficar surpresa num único dia.

O sangue congelou em suas veias, e ela pode jurar sentir uma gota de suor gelado descendo vagarosamente sua espinha.

Lembrou-se do sonho que tivera, ele era feito de sons e de cores. Lembrou-se dos risos, das máquinas funcionando, um carrossel cheio de crianças felizes, o rangido rouco da montanha-russa subindo para, em seguida, despencar, e os gritos de júbilo – não de medo. Lembrou-se da voz do Draco do sonho, leve, divertida, da sensação de inquietação quando o tinha longe e da ansiedade dolorosa quando o tinha perto. No sonho, ele a beijara, e ela pensara que fosse se dissolver antes que tivesse a boca dele acariciando a sua.

Engoliu em seco.

– Não – respondeu ela, balançando a sua cabeça em sinal negativo. – Por quê? Você viu algo...

– Eu a vi... – sussurrou ele, enquanto fazia os seus olhos passearem por todos os lugares, exceto pela figura da garota à sua frente. – Você estava se escondendo na neve... E eu estava a perseguindo...

Hermione cruzou os braços, séria.

– Não é o que você está pensando, Granger. Eu não estava tentando torturá-la ou machucá-la de qualquer forma que esta sua mente perversa é capaz de imaginar, nós estávamos... – Draco abriu e fechou a boca várias vezes, até que finalmente conseguiu cuspir a palavra. – Brincando.

– Por que você está me contando isso?

– Eu quero entender o que está acontecendo! – disse ele, como se isso já não fosse óbvio o suficiente. – O único jeito de isso acontecer é se nós nos ajudarmos. Eu não gosto dessa ideia tanto quanto você, mas...

– Nada está acontecendo – falou ela, pisando forte no chão para descontar a sua irritação em alguma coisa. – Foi apenas um sonho, Malfoy!

Dessa vez, Draco foi quem ficou surpreso.

– Por que eu sonharia com você?

– Deve ter sido um efeito gerado pelo seu subconsciente após o que aconteceu no baile – deu de ombros. – Eu não sei. Talvez seja um desejo reprimido...

– Não seja ridícula! – disse ele, jogando uma de suas mãos no ar, num movimento que deixava nítido que ele nunca escutara nada tão absurdo em toda a sua vida. – Você é sempre tão brilhante desta forma, ou hoje está especialmente se esforçando para merecer o título de A Bruxa Mais Inteligente da sua Geração? – revirou os olhos. – Eu jamais, em sã inconsciência, sonharia em beijar um ser tão repugnante quanto você!

– Você me beijou no sonho? – Hermione praticamente gritou.

Ela sentia raiva e nervosismo e algo a mais que ainda não compreendia, mas que sabia não ser uma sensação boa.

– Mais vezes do que julguei ser possível fazer antes de vomitar as minhas tripas para fora. – O único motivo para ter confessado isso, era por que a estava atingindo de uma maneira angustiosa.

Ela o empurrou com as duas mãos para trás, enfurecida com algo que fugia do conhecimento dela.

– Nem ao menos sonhe em tocar em mim novamente, Malfoy, ou eu mesma irei me certificar que você andará por aí com um par a menos de dedos!

Draco engoliu em seco, mas não perderia jamais a oportunidade de implicar com a garota.

– Sempre soube que você não era uma moça comportada, Granger! – Ele fez menção de agarrá-la pelos pulsos, porém ela afastou-se, lançando um olhar gélido na direção dele.

– Você acha que a sua cara não pode ficar mais desfigurada que isso, Malfoy?

Antes que Draco pudesse desafiá-la, uma voz ecoou do outro lado do corredor. Victor Krum chamava por Hermione.

Ela deu as costas para o sonserino, dizendo para si mesma que precisava se acalmar e pedir desculpas a Victor por ter desaparecido do Baile. Porém, falar era tão mais simples do que fazer...

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Naquela noite, quando Hermione adentrou pelo quadro da Mulher Gorda, Harry e Rony a esperavam, cabisbaixos. Eles pediram perdão pelas coisas feias que lhe falaram, disseram que foram movidos pelo sangue quente, a raiva consumira-lhes a razão ao escutar que a amiga estaria relacionada não apenas com um, mas com dois sonserinos, sendo que um deles era ninguém menos que Draco Malfoy, o ser mais desprezível e baixo que já pisara em Hogwarts.

Hermione suspirou, massageando a sua cabeça que latejava como se uma bomba tivesse sido depositada dentro dela. Tanto ocorrera em apenas um dia, que ela se sentia nauseada e cansada, como se já tivesse vivido uma década inteira em poucas horas.

– Nós nunca mais faremos isso novamente – disse Harry. – Você nos desculpa por sermos idiotas?

Ela sorriu fraco e assentiu. Os garotos a abraçaram forte e começaram a contar o quão satisfatório foi ver o rosto de Draco todo machucado.

– Eu acho que deveríamos começar a respeitar o Zabini, o garoto fez uma obra de arte na cara do Malfoy – disse Rony, rindo-se.

Hermione não riu. A última coisa que ela gostaria de fazer naquele dia era falar sobre Draco, por isso se despediu dos amigos, usando a sua dor de cabeça para validar a sua indisposição, e subiu as escadas aos dormitórios, pedindo a todos os deuses dos quais já ouvira falar que tivesse um sono sem sonhos.

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Draco revirou-se na cama, esfregando, com força, o rosto, na esperança de que isso fosse o bastante para retirar de si a sensação do sonho que tivera.

No sonho, ele estava mais velho, alto, com uma barba encobrindo a lateral das suas bochechas. Pessoalmente, ele se achou ridículo.

Ele não era o único circulando árvores, enquanto grãos de neve despencavam do céu. Os seus dedos perseguiam um pequeno menino que deveria ter quatro anos. Ele estava coberta por grossas camadas de roupas e tinha as bochechas e o nariz enrubescidos, seu cabelo era loiro, como o deu Draco, e os seus olhos eram os de Hermione.

O menino ria alto, dando voltas e mais voltas ao redor da mesma árvore. Draco fingia que não conseguia o alcançar. Dessa vez, ele deu um pulo para frente e o surpreendeu, segurando-o nos braços e o rodopiando no ar.

Draco deitou-se na neve, colocando o seu filho sentado ao seu lado, e fechou os olhos. Por um momento, escutou somente a vibração do vento ao se arrastar entre as árvores nuas. Então, de perto, o riso agudo de uma criança. Um minuto depois, surgiu o mais tênue dos sons – pressão amassando a neve. Se fosse qualquer outra pessoa, não teria escutado; mas ele era um homem que vivia em tempos de guerra.

Movido pelo instinto, sentou-se e olhou em volta, tenso. Ao ver quem se aproximava, sorriu.

Hermione também sorriu. Ela andou calmamente, como se o mundo não estivesse na iminência de ser destruído por uma terrível guerra entre os bruxos, sentou-se ao seu lado e beijou-o com a mesma lentidão. Os lábios dela eram macios e mornos, e fizeram um ardor acender-se no peito do homem. Era uma dor boa, fazia-o querer puxar a mão dela para massagear a região que incomodava.

Quando se separaram, a dor cresceu, o corpo dele aclamava pelo toque dela.

– Mamãe – disse o menino, puxando o tecido do casaco de Hermione. – Vem brincar comigo.

Ela virou-se e sorriu para o seu filho, um daqueles sorrisos enormes e cheios de dentes.

– Que tal brincarmos de guerra de neve? – perguntou ela ao filho, que assentiu apressadamente.

O filho assentiu, animado.

Antes de se erguer, Hermione inclinou-se na direção de Draco e o beijou tão lento quanto possível. Ela afastou-se, mas ele se apoiou no chão com os cotovelos e distribuiu uma série de beijos úmidos no rosto dela, sentindo, por último, o gosto da risada dela na boca.

Então, estavam correndo em meio a alvura do inverno, circundando o esqueleto das árvores, soltando baforadas de ar que formavam fumaçinhas, deixando pegadas na neve, sem temer que fossem seguidos. Aquele era o momento deles, e imaginar que alguém os surgiria para complementá-lo seria uma blasfêmia. Por isso, Draco perseguia Hermione, com um dedo fingindo-a puxar pelo casaco. Ela ria, e logo à frente dela, havia o pequeno menino dos dois, parecendo mais feliz do que Draco fora em toda a sua infância.

Ele não poderia evitar o pensamento-sentimento de que gostaria de viver para sempre naquele momento.

O sonho havia desvanecido nessa parte, porque o Draco real, feito de carne e ossos – não de pensamentos estranhos –, acordara-se. Ele passara as horas seguintes encarando o teto de pedra do quarto, tentando entender o que o levaria a ter um sonho tão absurdo quanto aquele.

Desde tal dia, os resquícios do sonho o acompanhavam, surgindo em meio aos seus pensamentos sem nenhum prenúncio da sua chegada. Quando percebia, já estava se lembrando, novamente, da neve caindo e da sensação de ardor no peito. Nos segundos mais improváveis, ele até chegava a se perguntar como seria a beijar de verdade. Então, dizia a si mesmo que ela era uma sangue-ruim e que jamais corromperia a si mesmo com o gosto dela.


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Notas finais do capítulo

Mil desculpas por demorar a postar e a responder todos os maravilhosos comentários, mas eu estava aproveitando as minhas férias (e comendo muito) kkkkk
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Gostaria de fazer um pedido: Por favor, me indiquem boas e LONGAS fanfics de Draco/Hermione. Estou procurando alguma coisa para ler há semanas, mas não encontro nada de que gosto :/
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Feliz Natal atrasado :X e um maravilhoso Ano Novo para todos!
Beijão!



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