O Colar do Parvo escrita por Marko Koell


Capítulo 65
Ceifadores




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521498/chapter/65

Nós ficamos ali por mais algum tempo até que Kauvirno pudesse se recuperar um pouco mais. Até parecia que ele se sentia bem em dizer que o que eu tinha feito era inadmissível.

– Elfos! Eu não acredito.

– Kau, por favor, eu não vou repetir a você a importância deles.

– Eles não são importantes... eles são seres cruéis que causaram morte no passado, por inveja de nós.

– Inveja? E porque eles teriam inveja de nós? Nós não somos nada perto deles, e porque eles fariam algo assim? Kau, Haldrer me contou a historia, a verdadeira historia. Aquela que vocês não quiseram ouvir. Os bruxos puniram todos os elfos, por conta de alguns, e veja hoje, por conta disso, qualquer ser da floresta não participa dessa guerra. Gaya não permite, pois vocês, bruxos sábios e honrosos, se demonimam, auto-suficientes.

Eu creio que ao dizer aquilo, tanto Kauvirno quanto Marcelo ficaram pensativos.

– Ou acham mesmo que ela gosta de ver seus filhos se destruindo até a morte? Porque acham que Gayon sempre disse que não poderia participar dessa guerra? Vocês aceitam eles e não aceitam os elfos, sendo que, basicamente, são as mesmas coisas. Vocês são ridículos com essa forma precária de pensamento.

– Passar esse tempo com eles, te deixou maluco. – satirizou Kauvirno – No entanto, vendo por esse lado, até que se faz sentido. Por mais que meus instintos dizem que não, talvez é chegada a hora de me deparar com eles. Diga Kayo, sabe chegar ate a terra deles?

Eu expliquei como eu havia chegado nas terras dos elfos, e que, sendo assim, eu não saberia o caminho. Mas que eu havia dito a Halmer dizer ao seu pai Haldrer que desse uma maneira de me procurar.

– Podemos perguntar a Gayon? – eu disse.

– Ou quem sabe trazê-los até aqui, seria mais seguro. – disse Marcelo, Kauvirno concordou.

Logo eu chamei por Gayon, e não tardou ate que ele aparecesse atrás de uma arvore, com sua forma dura de andar.

– Eu agradeço por ter vindo, Gayon. – eu o cumprimentei.

– O que desejas, Kayo. Em que eu posso ajudar?

– Nós precisamos chegar até as terras dos elfos, no entanto chegamos a conclusão que aqui seria um lugar mais seguro.

– E qual elfo você deseja que eu traga ate aqui? - perguntou ele.

– Haldrer, e provavelmente seu filho Halmer, vira também.

– Eu farei isso o mais rápido que eu puder, mas Kayo, seus amigos estão ciente que são elfos?

– Sim, não iram fazer nada. Pode confiar em mim.

Gayon havia me perguntado isso, pois como elfos e bruxos não se davam bem, principalmente depois do acontecimento da tal lenda, quando um bruxo via um elfo eles o atacavam, condenando a morte. O elfo jamais revidava o que fez ao longo do tempo, os bruxos acharem, que eles realmente eram mais fortes.

Depois de longas duas horas, Gayon retornou, atrás dele duas figuras já conhecidas minha. O primeiro era Haldrer que segurava um livro, e logo atrás dele Halmer, seu filho.

– Estão aqui, Haldrer e seu filho Halmer, peço desculpas pela demora, sendo que Haldrer ainda não havia encontrado o que desejava. Eu estarei perto, quando precisar me chamem. – disse ele ao elfos, ao se virar.

– Venham, não se acanhem. Marcelo, Kau, esses são meus novos amigos, Haldrer e Halmer.

Os elfos, timidamente os cumprimentaram, quanto a Marcelo e Kauvirno não pareceram satisfeito com aquilo.

– Enfim... Haldrer achou algo?

– Sim, sim! – disse ele abrindo o livro, virando-se de costas aos dois – Veja, há trezentos anos uma legião de bruxos chamados Ceifadores, sim... eles caçavam elfos e os matavam. Pois bem, parece que eles tinham guardado em segredo uma arma, ao qual tinham medo de tocar. Como a historia não foi escrito por um bruxo da época, e sim por um elfo viajante que ouviu tal historia, não sabemos ao certo que tipo de arma era essa, no entanto, uma das falas de um dos bruxos, me faz acreditar que se tratava da tal Espada que você e seus amigos procuram. Veja, “e ela era brilhante como o sol, e sua luz parecia cegar. Lembra o que disse sobre o brilho da espada?

– Eu me lembro sim. Mas nesse livro fala algo mais?

– Na verdade, não muita coisa, o elfo que a escreveu apenas disse, que teve que fugir, pois os Ceifadores o acharam, e começaram a persegui-lo.

– Então quer dizer que precisamos saber mais sobre esses Ceifadores.

– Ajudaria!

– Kauvirno, você sabe de alguma coisa?

– Ceifadores era uma seita de bruxos que caçavam os elfos, por eles terem sido tão ridículos ao ponto de acreditar que podiam nos superar.

– Veja bem como fala, senhor mago, pois do mundo que você conhece, eu já estou cansado de viver. – disse Haldrer.

– Esta me ameaçando, elfo? – disse Kauvirno levantando.

– Acalme-se Kau.

– Calem a boca os dois! Gente, eu preciso da ajuda de ambos para saber onde esta a espada, será que da pra vocês se concentrarem um pouco aqui? Vamos deixar essa briga de lado...

– Impossível lidar com elfos, Kayo.

– Impossível é lhe dar com pessoas ignorantes Kauvirno. Agora será que você pode continuar?

– Conta-se uma historia de que eles veneram um deus, veneravam uma estatua que ninguém ao certo sabia o que significava. Era extremamente impossível invadir suas reuniões, ou ate mesmo se juntar a essa ordem, que era apenas para familiares.

– E o que aconteceu com ela?

– Ninguém sabe, muitos foram os que disseram que a Corte os caçou, pois naquela época achava que os elfos já tinham pagado pelos erros cometidos no passado.

– Bem, vamos deixar claro uma coisa, os elfos não cometeram erros, e por mais que alguns deles fizeram algumas desgraças no passado, quem vem errando desde então, são vocês, bruxos.

Eu percebi que seria impossível continuar tentando convencer que os elfos, pelos menos aqueles das terras de Haldrer, eram seres iluminados, e não como o tal elfo rei de antigamente. Era como dizer a uma criança que chocolate é ruim, mesmo ela sabendo que era bom.

– O que sugeri que façamos? – perguntou Marcelo.

– Eu não tenho idéia. – eu disse.

– Bem, Kayo, se é apenas isso vou chamar por Gayon e pedir para voltar.

– Sim, Haldrer, alias, você poderia me fazer um favor?

– Certamente.

Haldrer chamou por Gayon que logo surgiu, e eu pedi um imenso favor a ele. Quando todos se viraram e sumiram por dentro de um tronco de uma arvore eu voltei ate Marcelo e Kauvirno.

– O que pediu a ele?

– Eu pedi para Gayon levá-los ate a casa de praia, e levar todos para as terras do elfos.

– Esta louco? – indagou Kauvirno.

– É o certo Kau, e uma forma de me redimir pelo o que eu fiz. Aquele lugar é lindo, não existe tanta beleza no mundo como aquele lugar. Inspira paz, e tranqüilidade, tudo o que eles precisam.

– Deveria ter perguntando antes a mim, se eu participaria dessa idéia.

– Lógico que diria que não, mas venhamos que é o melhor a se fazer.

Nós tínhamos que tomar algumas providencias e rápido. Tínhamos os nomes Ceifadores na mão, no entanto não sabíamos onde eles se encontravam no passado. Eis que depois de muita cogitação, Marcelo gritou, dizendo que tinha uma idéia.

– Vamos voltar ao vale negro, tenho certeza que lá devamos encontrar alguém que saiba de alguma coisa.

– Mas Marcelo, eles são loucos, não vão se lembrar.

– Kauvirno, não subestime a memória de um louco, já esqueceu que eles são capazes sim de relembrar de fatos do passado? É que soam um tanto quanto engraçado. Talvez Mariano deva saber de alguma coisa, a família dele, não era uma família puro-sangue?

– Pelo o que eu me lembro sim. Mas podemos tentar.

Nós então íamos nos preparar para sair. Marcelo abriu um portal, enquanto Kauvirno tirava seu casaco para cobrir a taça.

– Vou levá-la, talvez tenhamos que usar seus poderes! – disse ele.

Atravessamos o portal e caímos naquela mesma cidadezinha de antes, aquela em que bruxos condenados por terem trazidos morto-vivos, viviam. Caminhando aqui e ali ainda se via o céu nublado, só que mais escuro e o frio estava mais intenso. Ainda haviam bruxos andando de um lado a outro com os seus olhares perdidos. Logo chegamos ate o bar onde Mariano trabalhava, e provavelmente morava. Antes de entrar, aquele homem da garrafa vazia estava saindo do bar, completamente bêbado. Logo iria voltar.

Havia um pouco mais de bruxos lá dentro agora. Marcelo foi ate Mariano e o cumprimentou.

– Ola meu amigo! – disse ele.

– Marcelo é você? Que bom revê-lo, quanto tempo!

– Sim, faz um pouco!

– E o que deseja me dar hoje?

– Na realidade eu preciso de uma informação, teria como deixar seu bar um minuto e vir lá fora comigo?

– Sair? Oras caro Marcelo, não posso sair. Estou fadado a ficar.

– Vamos respirar um ar fresco, homem. Sou seu amigo não?

– Sim, você é!

– Então venha!

Lentamente Mariano saiu atrás do balcão e foi ate próximo de Marcelo, segurando sua mão. O pobre homem estava com medo.

– Quando ele foi capturado, a Corte o designou para ficar no bar, desde então ele não sai, a menos que seja convidado, o que nunca acontece. Ele sente medo do mundo de fora, tem medo de encontrar com sua filha. – disse Kauvirno – Vamos até lá.

Saímos do estabelecimento e Marcelo e Mariano estavam na beirada da calçada. Mariano parecia incomodado com o fato de estar ali fora, e ficava com os olhares perdidos de um lado a outro, como se procurasse algo, ou temesse que algo surgisse.

– Do lado de fora, eles se encontram, e seus medos se transformam-se em castigo, o único lugar que se pode conversar com louco é aqui, na rua. De certa forma a Corte não é tão maléfica assim com seus condenados. – disse Kauvirno.

– Mariano, meu amigo, se lembra de mim? – perguntou Marcelo.

Mariano ainda olhava de um lado a outro com extrema preocupação.

– Claro meu amigo, eu sempre me lembrarei de você. – disse ele – No entanto eu tenho medo.

– Não tenha, apenas ouça minhas palavras, e confie em mim.

– O que precisa?

– Você é um puro-sangue, de uma linhagem antiga de bruxos, talvez conheça o nome, Ceifador.

Mariano pareceu mais pertubado nesse momento, começando a chorar.

– Ela esta aqui! – disse ele – Ela esta me olhando.

– Mariano, ela não esta aqui, foi separada de você, ouça minha palavras e confie em mim. Diga-me, o que sabe da palavra Ceifador? Quem eram e onde eles se encontravam.

– Eu não sei, eu era novo demais quando meus pais contavam essas historia. – ele deu dois passos para trás – Meu amigo, me ajude, ela me observa....

– Mariano, não tem nada aqui. Me conte o que sabe...

– Matadores de elfos, isso é o que eles eram.

– Sim, e o que mais?

– Eu não sei... historia de ancestrais meus... guerra... luta... sangue... um cemitério.

– E o que mais, me diga?

Mariano se agachou, e abraçou os joelhos, chorando muito, chegava ate a soluçar.

– Isso é horrível. – eu comentei.

– Uma estatua do soldado cultuada, um bruxo Elemental, apenas os ceifadores conheciam... nada mais sei! Eu quero entrar amigo, eu preciso entrar... não peça tanto de mim, eu já sofro por demais pelo o que eu fiz. Oh! Ela me observa, ela esta chegando!

– Kauvirno? – chamou Marcelo.

– Mariano, apenas diga algo sobre a Espada do Soldado Derrotado.

– Cemitério... bruxo Elemental... eles não me falavam mais nada... apenas isso eu sei, deixe-me entrar, não faça isso comigo Marcelo. Eu te imploro.

Marcelo assentiu com a cabeça, e levantou Mariano, levando-o para dentro. O homem da garrafa vazia os acompanhou e algum tempo depois, saiu de lá junto com Marcelo, torto de tão bêbado.

– Uma estatua de um bruxo Elemental. Eu jamais soube de alguma criada. – disse Marcelo a Kauvirno.

– Devemos ir, a noite se aproxima e o Vale Negro, não é um lugar bom para se estar. Vamos ate a saída. – disse Kauvirno.

Seguimos rapidamente até a praça central, onde lá Marcelo abriu um portal. Estávamos indo até a casa de praia, e lá ao chegar vimos que não havia ninguém.

– Gayon deve ter convencido a todos a ir ate as terras do elfos. O que faremos, iremos lá também? – perguntou Marcelo.

– Lógico que vamos!

– Kayo, tem certeza que ira me por nessa situação?

– Kauvirno, vocês é que tem problemas com elfos, não eles com vocês. Nem irão notar sua presença.

Antes de chamarmos por Gayon, eu pedi licença a eles e fui até o alto da colina, recolhi alguns ramos de rosas que tinha próximo dali e deixei em cima da lapide onde Carla havia sido enterrada.

– Eu peço desculpas por ter sido tão cruel, espero que esteja em paz. – eu disse.

Desci ate a praia, e chamei por Gayon, que logo surgiu mais adiante, entre as arvores. Demos as mãos e então atravessamos um tronco, onde chegamos na floresta que dava acesso a terras dos elfos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Colar do Parvo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.