O Colar do Parvo escrita por Marko Koell


Capítulo 59
A Ligação de Sangue


Notas iniciais do capítulo

Dedido este capitulo a Ciel Phantomhive, pois hoje é seu aniversário..... Parabens *__*



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Haldrer me olhou nesse momento com extrema repulsa. Eu pude sentir em seus olhos o horror por ter feito aquilo. Lindha pareceu inconformada, enquanto Halmer ainda permanecia do meu lado, olhando Bela, no chão.

– Eu não fiz isso por mal...

– Não se trata de fazer por bem ou por mal, você o fez. É pecado, traz desgraças e azar. – disse Haldrer.

– Eu sei senhor Haldrer, no entanto era preciso, e se eu tenho que carregar essa desgraça, para buscar informações sobre o que eu procuro, assim eu farei.

O pai de Halmer começou a andar de um lado a outro da sala, ainda preocupado, sibilando algo. Provavelmente tentando entender o que estava acontecendo.

– Haldrer, meu amigo. Ele não teve culpa, e não carregara peso algum. – disse Bela.

– Sim! – disse ele – Sua alma não se desprendeu do corpo.

– Exatamente. Ele fez o que estava predestinado a fazer, e eu não o culpo por isso.

– Não me culpa?

– Quando um bruxo traz de volta alguém que já faleceu, o falecido o culpa por ter atrapalhado seu descanso. Certamente nem todos descansam, mas o fato de trazê-los de volta, é algo maior do que o purgatório que já enfrentam do outro lado. Esse ódio faz com que o bruxo que o acordou, seja fadado ao azar e a miséria de espírito. O falecido, ao retornar, então se torna escravo do bruxo justamente por isso. É como um amuleto, só que ao inverso.

– Então quer dizer que quando algum bruxo acorda alguém que já faleceu, ele não tem esse como escravo, e sim o falecido tem o bruxo?

– Digamos que sim. O bruxo acredita estar fazendo algo de bom, e, no entanto, jamais se livrara de seu escravo. – disse Haldrer seriamente.

– O feitiço contra o feiticeiro. – disse levemente Halmer.

– Mas ninguém sabe disso? – eu perguntei.

– Não é algo que queremos que saibam. Todos sabem que é pecado, logo esperávamos que muitos simplesmente não o fizessem. – disse Haldrer.

– Então eu sou escravo de Bela?

– Não. Ela não o culpou por ter a trazido de volta. – disse ele.

– Meu garoto, você me deu um presente, porque eu o culparia?

Nesse momento eu retirei o colar do pescoço e ele brilhava levemente. Bela pareceu fazer força para se sentar.

– O coração de meu amado, que nunca me perdoou.

– Ele sabe que não foi culpa sua, Bela.

– Ele jamais soube.

– Bela, confie em mim. Ele não a culpa. Estranho, mas eu consigo sentir Adamastor aqui, agora mais do que antes. Ele vive!

Bela pareceu extremamente comovida com aquilo. Pareceu secar os olhos, mas nenhuma lagrima saiu dali.

– Eu sonho com o dia em que estarei ao lado de meu amado. Meu doce amado Adamastor.

Ela se deitou novamente e pareceu adormecer.

Haldrer pediu que eu e Halmer saíssemos. Lá ficou ele, Lindha e o homezinho que havia nos chamado.

– Tem sorte dela não ter o culpado. Ser escravo de um morto-vivo não é algo que compense.

– Eu não fiz por mal, e ela sabe disso. Eu precisava ganhar a confiança do Parvo, seria difícil se eu não a trouxesse novamente.

Sentamos ao lado dos elfos guardas e ficamos calados, esperando que algum deles saísse e nos dissessem o que estava acontecendo.

Depois de um longo tempo, Haldrer saiu com Lindha do casebre.

– Bem, Kayo, vamos para casa. Temos muito o que conversar.

Montamos nos cavalos e seguimos até a casa de Halmer. Era quase hora do almoço, mas nenhum de nós sentíamos fome. Eu acabei tomando um copo de suco de laranja, e Halmer me acompanhou. Fomos para a mesma sala onde tomamos café da manhã, as frutas ainda estavam lá. Sentamos.

– Bela chegou aqui há algum tempo atrás. Por sorte, fui eu a achá-la. Muitos são os elfos que ao ver um morto-vivo os matam novamente. No entanto, Bela, no passado sempre foi minha amiga, e vê-la dessa forma, foi algo que me chocou muito.

“Eu não vou negar, fiquei com raiva de quem fez isso com ela, no entanto você apareceu e ela sempre dizia que logo receberia uma visita. E hoje você esta aqui. E ali naquela sala, eu senti ódio de você. Mas passou. Bela me explicou o que esta acontecendo. Da forma dela, mas eu consegui entender quais são as suas idéias.

No entanto, eu devo lhe assegurar, Átimos é astuto e sabe o que faz e aonde ferir. Tenha sempre cautela quando ouvir alguém soar esse nome, pois ele traz perigo. Um bruxo sem coração, e que perdeu sua alma, ou seja, sua essência há centenas de anos atrás. Certamente ouvi historia sobre ele, e com toda certeza você poderá me dizer qual delas é real ou não. Mas hoje não será esse dia. Nós sentimos muito o que esteja acontecendo em seu mundo. Talvez se eles acreditassem mais no significado da magia e não se iludissem tanto, por temer algo maior do que eles, o mundo de vocês poderia ser salvo. O povo de Gaya não entrara na guerra, apesar de sofrer muito com esses não-mágicos. E nós elfos há muito perdemos nossos extintos de guerreiros,e somos apenas estudiosos do assunto.

Soube do A LIMINE, um grupo forte criado há anos para combater Átimos, mas eu te pergunto, Kayo. Essa ordem segue propósitos próprios ou alguma teoria conjunta? Eu pergunto isso porque por vezes fazemos algo que achamos certo, e no entanto simplesmente prejudicamos outros. Não estou punindo sua ordem, no entanto é algo que deve ser avaliado.

Eu sei que a ordem foi algo proposto pelo Ancestral, mas ele se foi há anos. Hoje nada mais é do que uma carcaça que dita ordens sem saber o real motivo delas. Então tenha cuidado. O coração é um grande aliado na escolha do bem e do mal, ser bonzinho demais nem sempre o ajudará a se manter vivo.”

Conversar com Haldrer era maravilhoso, já que ele participava das mesmas idéias que eu. Eu nunca acreditei no A LIMINE, alias, eu nunca acreditei na forma como ela agia, e talvez hoje, o fato do A LIMINE simplesmente não existir mais, me fez acreditar que kauvirno começou a mudar seus conceitos.

Já estava quase anoitecendo e eu ainda não me cansava de perguntar e ouvir as respostas de Haldrer. Seu filho sempre sentado do meu lado, ouvindo as historias como se fosse a primeira vez. Sua mãe, Lindha, ora e outra nos trazia suco e bolachas, ou ate mesmo bolo de laranja.

– Esse bolo esta uma delicia Lindha, além de belos e sábios, são excelentes cozinheiros. – eu disse.

Entre um pedaço e outro de bolo a saudade de Matheus começou a bater no peito. Estariam todos preocupados pelo meu sumiço? Sim, talvez dois deles não. E como será que estaria Kauvirno? Será que ele estaria bem?

– Veja, Kayo. Alguns espíritos não conseguem se desprender desse mundo, o que é uma grande tolice, pois o outro lado é muito melhor. No entanto outros nem sempre vão há lugares tão bons assim. O que acontece entre você e Júnior, provavelmente, é o que chamamos de Ligação de Sangue. Ele, infelizmente, faleceu por obra mágica, obra essa que foi conjurada para ferir a você. No entanto entre todos ali, naquele acidente, Júnior era o mais próximo. Esse Laço de Sangue une você a ele, é como se fosse algo fraternal. Do outro lado ele pode guiar e te aconselhar, ele vê o além e pode sim te alertar sobre algumas coisas que você deve fazer, agir ou pensar.

– Então quer dizer que por ele ter morrido por minha culpa, ele me protege. É isso?

– Sim, meu anjo. E enquanto você estiver em perigo ele continuara lhe guiando.

Lindha era outra. Quando falava parecia que sua voz nos enfeitiçava, levando a gente até as nuvens.

– Mas eu pensava que era o Colar que me ajudava a ver ele.

– O Colar do Parvo pode ser considerado poderoso, mas existem magias tão antigas que nem mesmo ele poderia conjurar. – disse Halmer.

– Mas sempre que eu pedia ao Colar, Júnior aparecia.

– Tem certeza disso? – indagou Haldrer.

Tentando relembrar no passado, Haldrer tinha razão. Nem sempre Júnior aparecia para mim quando eu pedia ao Colar, muitas foram as vezes que nem o vento soprava.

Então, Júnior estava, de certa forma, preso a mim. Por correr perigo ele me ajuda, talvez não da forma como ele queria. Na realidade, ao contar aos elfos que ele havia me dito que ajudava pessoas como ele em vida, eles ficaram, felizes.

– Que maravilha, um sinal de que ele esta evoluindo. – disse Lindha.

– Júnior gostava muito de ajudar as pessoas, mas então apareceu aquela menina e acabou com ele. O destruiu, e pior ainda foi quando aquele Arthur apareceu. Eu só não o amaldiçôo porque hoje eu sei que isso pega. Eu tinha ele como um irmão... como um irmão.

No começo da noite, eu fui até o quarto de Halmer, tomar um banho. Ele me deu uma túnica verde clara, que até que ficou bonita em mim.

– Ficou perfeito em você, se quiser pode até levar para sua casa... eu não uso há uns duzentos anos.

– Tecido resistente esse. – eu disse rindo.

Ao descer, Haldrer e Lindha jogavam xadrez, enquanto eu sentei no chão e minha sede por perguntas ainda era grande.

– Sacie sua sede, não tenha medo. – disse ele, atento no jogo.

– Sabe, tem algumas coisas que eu sei, que eu não comentei ainda com ninguém. É sobre Átimos.

– Sinta-se a vontade para dizer... estou prestando atenção.

– O senhor por acaso sabia que ele foi apaixonado por Edvan Taurino?

Haldrer pareceu me olhar por esguelha.

– Pelo o que eu entendi, Edvan fazia parte da ordem, e a traiu, onde a maldição o afetou.

– Maldição? – perguntou Halmer.

– Sim. Kau me contou que quando se entrava na ordem eles faziam um ritual, um pacto de vida. Caso você fosse contar algo sobre a localização do A LIMINE, você meio que ficaria louco, eu nunca entendi ao certo isso. Mas parece que isso afetou Edvan. Ele acabou falando sobre o Colar, e logo depois morreu. Átimos então começou sua saga pelo Colar, alias, ele continuou o que seu pai já estava fazendo. Eis que um dia ele da de cara com a Taça do Erudito, e através dela, ele tem em mãos a poção da Eterna Vida, e conseguiu prever algumas coisas. Uma dessas previsões se tratava do Guardião do Colar do Parvo, que indicava quem e quando seria. Ele se deixou capturar pela ordem, foi morto e anos depois ele foi trazido pelo filho, Étimos.

Haldrer olhou para mim, incrédulo.

– O filho trouxe o pai a vida?

– Sim, e Átimos pediu uma prova, e Étimos deu de seu sangue para o pai provar.

– Terrível! – disse ele.

– Isso seria um presente também?

– Pior, uma maldição. Étimos sabia muito bem o que estava fazendo quando deu o sangue ao teu pai. O sangue é um instrumento no campo de magia negra, que pode-se de tudo, no entanto usar do sangue é algo que pode acarretar riscos. Provavelmente Átimos em sua sabedoria, sabia disso. No entanto Étimos, provavelmente poderia saber o que lhe cabia.

“Ao se dar o sangue para outro, esse outro continua vivendo normalmente, tem suas ações, idéias e princípios, no entanto quando o doador o faz de formas negativas, e reclama por teu sangue, o outro pode sim, ser um eterno escravo. Não cabe a regra de trazer um morto vivo, pior foi que Étimos alem de fazer isso, alem, doou seu sangue ao pai. Em seu mundo é natural fazer isso, mas é algo para o bem. O sangue pode salvar vidas, assim como destruir.”

– Então eu fiz um favor a Átimos.

– Qual? – perguntou Haldrer.

– Eu matei Étimos!

– Um peso terrível em suas costas, mas devera ser avaliado no futuro, Étimos, não deve ter sido muito bom em sua vida, veja o que tentou fazer com o pai.

– Xeque-mate! – disse Lindha.

Haldrer olhou para o jogo sem acreditar.

– Lindha você roubou!

– Fácil dizer quando se perde. Prove! – disse ela rindo.

– Haldrer, então é possível que Átimos não saiba disso? Ou, qual é o anti-feitiço para essa maldição?

– Infelizmente não existe. Claro existem poções que amenizam o efeito, mas a pessoa acaba louca, perturbada! Se trazer de volta um morto-vivo é pecado, e doar o sangue emanado com magia negra também o é, imagine a junção de ambos.

– Mas pode ser que Étimos não tenha feito magia negra.

– Não acho essa teoria provável. O Colar do Parvo é algo de extremo valor, e pelo que você me contou, Étimos jamais encontraria o Guardião do Colar sozinho.

– Sim, ele não teria como trazer Edvan para me seguir, pois não sabia a localização de seu tumulo, apenas o pai.

– Exatamente.

Ali não tinha relógio, mas eu percebi que era tarde, no quarto de Halmer, após sua mãe, arrumar uma cama com lençóis e cobertores, eu me deitei. Era bom deitar em algo macio como aquilo. Halmer ficou lendo um livro, e eu apenas pensativo.

– Pensando em seu amor?

– Sempre.

– O amor é estranho, nos machuca, mas ao mesmo tempo nos da força. Difícil entender esse sentimento.

– Sim! Eu não queria ter falado as coisas que eu falei para a mãe dele. Mas eu não entendo o porque ninguém faz nada. Me julgam como se eu fosse culpado de tudo, e isso me deixa mal e ninguém percebe.

– Não é porque ninguém percebe, Kayo. Você não quer ver de outra maneira.

– É fácil para você falar Halmer, se estivesse em meu mundo e se relacionasse com outro homem, você seria punido por uma vida inteira. E para os outros isso não é amor, é libertinagem...

– Você se importa com o que as pessoas menos evoluídas dizem? Eu não me importaria. Eu sou julgado por ser um elfo, e, no entanto, julgando ou não, eu ainda serei.

– Vocês são lindos, e sábios.

– Mas fomos nós os causadores de toda essa desgraça que acontece em seu mundo.

– Não deve se culpar Halmer, existem pessoas boas e pessoas más, não podemos escolher o certo e o errado, só saberemos o que realmente é, quando acontecer.


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