O Colar do Parvo escrita por Marko Koell


Capítulo 58
O retorno da morta-viva


Notas iniciais do capítulo

Bem. Como estou postando as vesperas do Natal, um feliz para você!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521498/chapter/58

Continuamos caminhando pelas ruelas da floresta, de terra batida. Passamos por toda a extensão da grande lagoa, onde crianças brincavam e outras, curiosas vinham até mim me desejar uma boa estadia, logo depois voltavam para a lagoa onde saltavam e mergulhavam como eximias nadadoras.

Aquele lugar era lindo, no entanto é difícil descrever em palavras sua beleza natural. Alias, aquele lugar beirava a insanidade, de tão esplendoroso que era. Chegamos a algumas casas feitas com as madeiras das árvores. Tinha desde casas grandes a mais pequenas, logo pensei que naquele mundo tão irreal, algo de real pudesse existir, e como se lê-se meu pensamento Halmer virou-se e disse:

– Não! Não existem ricos ou pobres, apenas ricos e pobres de espíritos. Não vivemos dessa maneira aqui em nossas terras.

Eu assenti com a cabeça, entendendo que se talvez em meu mundo as coisas fossem vistas dessa maneira, as coisas poderiam ser diferentes. Os casebres ou mansões mais adiante eram todas brancas, devido à madeira dali, obviamente retirada daquelas árvores, serem de cores claras ou ate mesmo branca como o mármore.

– Halmer, eu ainda não entendo. Você diz sobre rico e pobre... e como pode haver casas tão grandes e outras tão singelas?

– Depende da família de cada elfo. Se a família é grande ele constrói uma casa grande, se a família é pequena, não há a necessidade de morar em um lugar grande. É como eu disse, vivemos de acordo com o que temos, e não de acordo com o que almejamos. Isso nos diferencia dos humanos. Veja ali a frente é minha casa.

Subindo agora uma rua, e passando entre as casas e algumas lojas, se assim eu podia as chamar, me deparei com uma casa linda e imponente, com colunas por todos os lados.

– Essa casa lembra tanto construções romanas!

– Nossa historia vai além disso!

– O que quer dizer?

Halmer sorriu, suavemente, e logo eu entendi os motivos. Antes ele havia me dito que foram eles que ensinaram a magia para os humanos, o que garantia que não fossem eles que tivessem ensinado os humanos a dar seus primeiros passos?

A frente dessa casa, tinha uma roseira, de rosas vermelhas que ainda estavam para brotar, um caminho levava ate a porta central da casa. Subimos alguns lances da escadinha e ele abriu a porta.

A casa de Halmer não era grande, nem por fora, muito menos por dentro. Como ele havia dito que cada casa dependia da necessidade de cada elfo, eu logo me perguntei se ele teria uma grande família.

A entrada da casa, tinha duas escadas, que levavam ao segundo andar. Havia quadros por todos os lados, todos eram desenhos muito realistas de elfos e elfas, e até mesmo crianças, nada além disso.

– Essas fotos, são meus familiares. Crianças, jovens, adultos e velhos. Toda uma linhagem de puro sangue ao qual foi partindo conforme o tempo.

– Vocês não são imortais?

– Nada é imortal. Nosso envelhecimento é mais lento, no entanto, nascemos, crescemos e morremos.

– Eu ainda não consigo tirar os olhos de você. – eu disse timidamente.

– Logo passara. Venha por aqui.

Seguimos por um corredor, até chegarmos a uma sala, com sofás luxuosos e vermelhos, uma grande lareira acesa, uma mesa no centro com frutas e bebidas. Havia almofadas de cor creme em volta da mesa.

– Sente-se! – disse Halmer, indicando com a mão.

Eu sentei em cima de uma das almofadas e cruzei as pernas. Eu estava com fome, e aquele banquete a minha frente, indicava que seria um belo café da manhã. E eu ainda não conseguia tirar os olhos de Halmer.

– Bem, vejamos... vejamos! Um visitante hã? – disse uma voz altiva e alegre as minhas contas. Eu levantei e vi o nobre senhor. Talvez fosse ele o pai de Halmer, mas o velho não tinha beleza, pelo menos não a jovial como Halmer, mas tinha uma postura de lord, e além disso, tinha um charme descomunal.

– Bom dia, senhor! – eu disse, estendendo minha mão ele.

– Eu nunca entendi o motivo pelo qual os humanos dão suas mãos para se cumprimentar. Alias não me lembro nem mesmo quem foi o primeiro que inventou isso... deveriam se louvar, isso sim. Cada ser nesse mundo é único, e ser louvado é mais do que uma educação, é sinal de respeito.

– Por favor, senhor, se fizer isso eu me sentiria mal. – eu disse encabulado.

– Com toda certeza que iria, então venha garoto... – o velho veio até mim e estendeu a mão. E eu o cumprimentei.

– Pai, esse é Kayo. Kayo este é meu pai, Haldrer.

– Muito prazer, senhor Haldrer...

– O prazer é todo meu, tenha certeza. Sente-se, o pessoal logo irá descer, e vamos comer algo.

Haldrer indicou uma das almofadas e eu sentei novamente. Assim fez o velho e logo depois Halmer.

– Bem, Kayo, diga de onde é? O que fazes aqui? Para onde quer ir? Eu amo historias.

– Ele é um historiador, Kayo, talvez o único que tem a capacidade aqui, de recordar de detalhes há muito esquecidos.

– Parece que o garoto esta sobre o feitiço... Lindha? Lindha? Onde você esta?

– Acalme-se Haldrer, estou chegando.

Era uma linda e estonteante mulher. Aparentava já uma certa idade, talvez se fosse uma humana, teria seus 40 anos. Vestia um belo vestido de cetim azul claro, e seus cabelos eram longos e negros como a noite, seus olhos verdes eram mais lindos do que esmeralda.

– Não sabia que teríamos visita. Porque não disse que traria um amigo logo pela manha Halmer?

– Eu achei ele fora da floresta...

– Deve estar cansado então, com fome talvez? –disse ela, me olhando, com preocupação.

– Ambos! – eu disse.

– Lindha, o menino esta encantado, traga algo para ele beber. Parece um bobo lunático sedento por sangue.

– Halder! – disse Lindha, com espanto – Vai assustador o garoto! Eu já volto.

Ela saiu e enquanto não voltava Haldrer perguntou novamente o que me trazia até ali.

E eu, não conseguia falar, parecia que aquele encanto estava piorando cada vez mais. Eu sentia como se meu corpo não respondesse mais as minhas ordens. Eu queria apenas ficar olhando para os dois, e vez em outra eu virava a cabeça em busca de Lindha. Minha respiração tava tão lenta e eu quase não os ouvia.

– Ele esta muito tempo do meu lado... ainda bem que não terá danos... ele ficara bem?

Senti um gosto amargo na boca e logo depois minha visão pareceu melhorar, lentamente.

– Que gosto horrível!

– Ervas! Melhor não saber o que são. – disse Lindha, sutilmente.

– Esta se sentindo melhor, Kayo? – disse Halmer.

– Sim... pelo menos a sensação já acabou.

– É o que acontece quando estamos em um lugar puro. Não, não somos santos, porém enxergamos além. – disse Haldrer.

– Podemos comer então!

Após a senhora Lindha se sentar, começamos a apreciar as frutas e a tomar os sucos, em copos de cristal. Uma musica ao fundo insistia em soar pelos cantos da casa, tornando aquele ambiente aconchegante.

Certamente que a paixão que eu sentia por eles era algo causado pelo tal feitiço que Halmer havia comentando antes, e mesmo sabendo que naquele momento eu não estava mas sobre nenhum tipo de maldição, eu ainda os contemplava, pela beleza indiscutível.

– Enquanto comemos, conte-nos sua historia, como bem lembrou meu filho, sou um historiador... ouvir e delatar são as coisas que eu mais amo em toda em minha vida.

– Eu não sei nem mesmo por onde começar.

– Comece pelo meio. O melhor sempre esta no meio, pois é no meio das historias que tudo se cria. O melhor sempre esta no meio delas, já que é através dela que chegamos a um final.

– Mas sem o começo a historia não faria sentido.

– Tecnicamente sim, mas somos elfos.

– Sim, vocês são...

– Desculpe interromper, Kayo, mas por eu ser um elfo, eu consigo ver certas coisas.

– Como o que, por exemplo?

– Essa corrente em seu pescoço não é uma corrente comum... fora criada exclusivamente para um propósito, e se eu estiver certo, o propósito é levar um coração negro preso na boca de uma serpente... posso estar enganado... mas...

– Não está. Este é o Colar do Parvo!

Houve um silencio na mesa. Lindha olhou para Haldrer, que parecia me avaliar, enquanto mastigava um pedaço da maça que tinha acabado de morder. Halmer me olhou e arrumou a franja de seu cabelo, colocando-a atrás da orelha.

– Uma longa e inacreditável historia, no entanto longa o suficiente para ser contada, e muito mais ainda para ser explicada.

– Eu tento entender isso até hoje.

– A melhor coisa, é não entender, pois tentar entender traz dúvidas, e dúvidas gera o atraso. É preciso saber aceitar, apenas assim, conforme o tempo passa, as coisas vão ganhando sua forma...

Houve uma batida na porta, forte e ininterrupta.

– Mas o que será, logo cedo? – disse Haldrer.

Lindha levantou e foi até a porta e logo um homem pequeno e ofegante, de cabelos escuros surgiu na porta da sala.

– Senhor Haldrer... sinto incomodá-lo tão cedo, ainda mais por ter uma visita... mas precisamos do senhor imediatamente.

– Mas o que houve rapaz?

– Senhor, apenas venha.

O rapaz saiu correndo, quase dando um encontrão com Lindha, que parecia tão perdida quanto os outros ali dentro.

– Esta uma verdadeira desordem lá fora... todos estão indo para o salão principal na torre sul. – disse ela.

– O que esta acontecendo pai? – perguntou Halmer a Haldrer, que ainda parecia anestesiado.

– Receio que ela tenha sentido.

– Ela? Impossível.

– Meu filho, como elfo, quando irá aprender que tudo é possível. Ela disse que o sentiria, e ontem disse que estava perto.

– Desculpa, senhor, mas o que esta acontecendo?

– Venha Kayo, você irá entender. – disse Haldrer.

Saímos da casa e Haldrer que deu alguns assobios estranhos, mas muito harmonioso.

– Os irmãos de Nelai. – disse Halmer. Junto de Nelai, vieram mais três cavalos, tão belos como ele.

O que os diferenciava era a pelugem, um mais escuro, outro mais claro e um de um tom acinzentado. Este ficou com a senhora Lindha. O mais escuro ficou com o senhor Haldrer e o outro comigo. Montamos e saímos cavalgando por toda aquela floresta.

Muitos eram os cavalos que também iam à mesma direção que nós, no entanto quando eu percebi, nós estávamos indo para outro caminho. Eu pude ver ao longe uma torre gigante e branca, mas nada, além disso, e daquela multidão indo até ela.

– Não é para lá que vamos? – eu perguntei, em minha ignorância.

– Não! É uma reunião forjada. Os outros não sabem que ela está aqui.

– Ela? De quem estão falando?

– Tenha paciência, meu caro. – disse Lindha.

Fizemos um caminho completamente diferente então, seguindo a esquerda da tal torre, descemos uma colina e chegamos num casebre, esse de madeira também, mas diferente, a madeira era vermelha. Tinha alguns elfos ali, cerca de cinco jovens e másculos, que faziam a segurança da porta. Quando desmontamos dos cavalos, aquele homezinho que havia ido à casa de Halmer surgiu por detrás da porta.

– Vamos, vamos, entre. E façam silencio! – disse o rapaz.

Haldrer foi primeiro, logo depois Lindha, eu e Halmer. A casinha era pequena, e tinha apenas um cômodo. Havia uma mesinha com quatro cadeiras do lado da janela. Em cima dessa mesa, havia três tocos de velas acesas, que davam ao lugar um aspecto sombrio.

– Senhora? – disse Haldrer, calmamente.

– Haldrer? É você? – diz uma voz feminina. Pareceu-me familiar.

– Sim, minha senhora. Minha esposa esta aqui também, assim como meu filho e um visitante.

– Visitante? Haldrer, eu estou feia!

– Não, senhora! É uma condição injusta ao qual submeteram-na, todos então temos que entender.

– Isso não foi feito por mal...

– Minha senhora, seja qual a intenção for, foi feito!

– Haldrer, você é meu amigo há anos. Por favor, tente entender.

Haldrer pareceu bastante perturbado com aquela voz que vinha de algum lugar de dentro daquela sala. Lindha se afastou e ficou, mas perto da porta, e Halmer se aproximou de mim.

– Senhor, ela disse que estava sentindo algo. Algo forte e poderoso. – disse o rapaz.

– Algo, como o que? – eu disse, colocando a mão na boca logo após. Eu sempre abria minha boca, nos momentos mais inoportunos.

– Essa voz! – disse a mulher – Eu reconheço essa voz.

– Bela? – eu disse!

Uma figura sombria e reprimida, se arrastando do chão surgiu na luz, saindo de um ponto escuro da sala. Seu corpo estava menos pútrido do que era antes, mas o cheiro não negava sua origem.

– Vocês se conhecem? – perguntou Lindha.

– Ele me trouxe a vida!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Colar do Parvo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.