O Colar do Parvo escrita por Marko Koell


Capítulo 54
Saudação de Hayanna




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Gayon se aproximou de mim, com seu jeito leve de andar apesar do corpo parecer de madeira, com aquela sensação que fosse trincar a qualquer movimento brusco que fizesse. Todos estavam encantados, alias, maravilhados em ver tal criatura das matas surgir diante de seus olhos. Seus soldados no circulavam agora, nos protegendo.

– Obrigado por ter vindo, Gayon. – eu disse. Ele me olhou com aqueles belos olhos amarelos.

– Estávamos observando desde quando eles entraram a floresta ao norte da casa de Kauvirno, não pudemos fazer nada, pois são seres das florestas. Os Lobos nasceram aqui, essa é sua morada, e nenhuma criatura é expulsa das terras de Gaya.

– Mas eles estavam nos caçando... e não eram para se alimentar...

– Minha bela, - disse Gayon olhando para Camila – quem somos nós para julgar qualquer ser? O que fazem, ou a quem seguem é um problema deles, e se preferem arriscar suas vidas seguindo aqueles a quem não se deve, não é algo que nos interessa. Infelizmente não temos um lugar onde possamos levá-los, pois vivemos em um lugar onde a matéria não consegue entrar, no entanto podemos escoltá-los até um lugar seguro, caso seja de vossa vontade.

– Mas para onde ir? – perguntou Mario.

– Vamos para o Campo de Hayanna, Kauvirno e Marcelo estão lá. – disse Tereza.

– Que assim seja, segurem as mãos um dos outros, a viagem já é conhecida por Kayo, ela não será nada agradável.

Como pedido por Gayon todos demos as mãos, e eu segurei a de Gayon, que nos conduziu ate uma enorme arvore ao qual fomos entrando no tronco. A sensação já não me afetou da mesma maneira que a primeira vez, no entanto ao sairmos dela, eu olhei para trás e vi todos debruçados, com ânsias ou náuseas. Minha mãe estava sendo amparada por meu pai, Tereza e Camila, as mais velhas de todo o grupo pareceram não dar tanta importância aquilo. Minha tia Carol ajudava os pais de Sara. Os outros já estavam melhorando. Matheus se mostrou forte, e ao mesmo tempo encantado com tudo aquilo. Estávamos parados diante de um vasto vale, onde, descampado, a luz da lua reinava com extrema delicadeza.

Aquele lugar eu já conhecia, era o vale que de repente acabava e ali estava, escondido por magia o campo de Hayanna que sempre surgia aos mágicos com o brilho do sol.

– Eu já ouvi historias sobre Hayanna e seu campo de treinamento que muito fora usado para lutas entre magos... mas, eu ainda me lembro que ela apenas surge pela manhã. Ficaremos a noite toda ao relento? – perguntou a mãe de Eduardo.

– Não se preocupem com isso, simplesmente sigam ate sua porta principal e peçam autorização. – disse Gayon – Hayanna nunca nega abrigo aqueles que realmente necessitam.

– Mais uma vez eu agradeço e em nome de todos, Gayon. – eu disse cumprimentando sua mão.

– Nobre gesto o seu, o de agradecimento, no entanto não deve fazê-lo, pois nada fiz. E sinto em não poder fazer. Infelizmente muito são os seres mágicos que não pertencem a essa guerra, e nós, Espíritos das Terras, também não pertencemos. Mas quando a ajuda se faz necessária, qualquer um pode, e deve, estender sua mão aquele que precisa dela. Agora eu devo ir, e cuidar para que eles não sigam seus rastros... fiquem em paz!

Todos se despediram de Gayon e ele sumiu na floresta que estava a nossa frente, junto com seus soldados.

Tornamos a olhar ao vale, em que a lua ainda iluminava, graciosa como só ela. Tínhamos que caminhar, e como eu já sabia o caminho, sabia que o caminho não seria tão curto.

Fomos conversando, sempre atentos a qualquer barulho ou movimento estranho. Tereza ora ou outra, se transformava em águia e vasculhava no céu alguma coisa suspeita.

– Fiquem atentos, pois existem perigos tanto no céu como na terra. A cautela é sempre bem vinda em momentos como esse. – dizia o pai de Sara.

Todos estávamos próximos um aos outros, primeiramente nos aquecendo da brisa gelada que soprava, e segundo por conta de uma magia de proteção criada por Camila e minha mãe, para que não fossemos notados.

– Pode ajudar, mas não é certeza! – disse o pai de Eduardo, este caminhava do meu lado, atento em tudo o que estava acontecendo.

A conversa era como eles conseguiram nos achar. Será que Melissa estava por detrás disso? Minha intuição dizia que sim, fora que o Colar parecia concordar comigo, ficando levemente pesado cada vez que esse pensamento vinha em minha cabeça. No entanto não poderíamos saber, já que Melissa queria o Colar, e não me matar. Conversamos também de quem seria aquela voz na floresta. Jovens Tolos, disse ela. Aquela voz me era familiar, talvez fosse à de Antonius, irmão mais velho de Melissa.

Caminhando mais um pouco, Tereza pousou a nossa frente, graciosamente, e se transformara em sua forma humana.

– Precisamos andar mais rápido, eu já consegui ver o fim do vale. – disse ela, ofegante.

– Viu com seus olhos humanos ou de águia? – sorria Camila.

Mais um pouco chegamos ao fim do vale. Sabíamos, pois a trilha levava apenas ate ali, e dali a frente nada mais. Ali era o Campo de Hayanna e tínhamos que pedir permissão para entrar.

– Kayo, nunca viemos aqui, nem todos tem essa oportunidade. No entanto ela já te conhece, será mais fácil. – disse minha mãe.

Eu dei uns passos e parei, olhei para o céu, estrelado e com aquela bela lua cheia que parecia poder ser pega com a mão.

– Hayanna, minha senhora. Sou eu Kayo Taurino! – eu disse firmemente.

Um uivo assustador vindo do vento trouxe claramente sua magnífica voz.

– Sim! Eu estava a sua espera, meu jovem rapaz. – disse ela – E vejo que não veio sozinho.

– Não. Eles são meus amigos, e minha família, - eu disse olhando rapidamente aos meus pais, e a Matheus.

– Logicamente que o terno Matheus esta presente. Tantos jovens nessa causa... lamentável eu não estar viva para poder simplesmente massacrar Átimos, assim como eu já fiz um dia.

– E quem não deseja a essa altura do campeonato? – sussurrou Mario.

– Vamos entrando... não tenham medo. Como dita a lenda, o campo, o meu campo só surge ao nascer do sol, mas se caminharem sentiram seus muros ganharem forma, e logo seus olhos irão se adaptar a magia desse magnífico lugar.

Fizemos o que Hayanna pedira, caminhando começamos a sentir algo tomar forma, algo grande e sólido, não demorou até que víssemos os grandes muros do Campo de Hayanna. Logo o imenso portão de rocha estava a nossa frente, ainda quase que invisível à luz do luar. Ali surgiu timidamente um rosto, muito bonito e com cabelos longos, desenhado na rocha, como se tivesse sido esculpido.

– Aos antigos, um olá. Aos novos um caloroso, bem vindo! – disse ela, antes de seu rosto sumir novamente, e logo depois o portão se abrir diante de nós.

Entramos e eu logo percebi que todos ficaram encantados, mesmo o Campo não sendo da maneira como era antes, pelo menos eu imaginava como ele seria no tempo em que Hayanna era viva, o Campo ainda sim era esplendoroso, era como o Coliseu, mas de uma forma diferente, de uma forma mágica, como se todo o campo pudesse simplesmente mudar de lugar.

Ali a frente algumas árvores, e mais adiante portões, numa dessas subia-se ate as salas, onde eu sempre dormia, quando via com Kauvirno. Logo ali, entre a parede de rocha, várias janelas, e uma delas com uma luz. Logo abaixo dela vinham Kauvirno e Marcelo, correndo como loucos.

– O que aconteceu ? O que houve? – gritava Kauvirno.

– Ele vai surtar, nós vamos falar com ele. – disse meu pai.

Junto com minha mãe, e os outros adultos, meu pai contou a Kauvirno o que tinha acontecido. Ele pareceu estarrecido com o que foi dito. Ele amava demais aquela casa, provavelmente uma casa herdada de seus pais. Ele chorou mais logo se conteve, quando Marcelo deu um forte abraço e disse que aquilo não ficaria barato.

Ele veio ate mim, e aos outros e nos perguntou se estávamos bem. Perguntou também do colar, e eu disse que estava seguro.

– Vocês devem estar cansados e famintos... vamos entrar e amanha de manhã veremos que vamos fazer.

Todos entramos e fomos para o quarto que estava com a luz acesa. Aquele era grande e tinha algumas camas, um grande guarda-roupa de madeira. Ao centro havia uma grande mesa redonda, cheia de folhas e livros.

– Não pensávamos receber vocês, não temos comida. – disse Kauvirno desconcertado.

– Não se preocupe com isso, kau... nós vamos caçar algo... seja alguma fruta ou algo do tipo. – disse minha mãe.

Marcelo convidou os rapazes para ir até fora do campo, tentar caçar alguma lebre, ou algo que fosse feito de carne, já que muitos ali fizeram cara feia ao que minha mãe disse, sobre comer frutas. Todos os pais foram, e as mães ficaram ali, conosco e Kauvirno, que ainda parecia em choque. Eu decidi chamar os meninos para fora, para conhecer e ver melhor o campo, já que durante a noite ele parecia mais mágico do que era de dia. Era hora de ter uma conversa entre adultos ali, e eu percebi que era exatamente isso o que eles esperavam. Eu tive a leve sensação que ao fechar a porta do quarto, Kauvirno começou a chorar compulsivamente.

Lá fora, nós deitamos na grama rala do campo e ficamos admirando o céu estrelado e a lua quase sumia, indicando que não tardaria para clarear. Eu deitado sobre o peito de Matheus que ainda, nada dizia, percebi logo sua respiração acalmar. Ele estava dormindo. Eu conjurei meu soldado de fogo e pedi a ele que ficasse por perto aquecendo-o. Logo não era apenas ele, mas Nathan e Mario e Sara e Adrian. Fui a um canto distante deles, onde estava Eduardo, que ainda olhava extasiado por todo o campo.

– O que esta pensando? – eu perguntei a ele.

– Talvez se eu disser você ficaria bravo, ou não me entenderia.

– Tente dizer, depois aceite minha opinião.

– Será que iremos sobreviver? Veja, a brigada brasileira e portuguesa estação sob ataque, os ingleses não virão. Somos poucos comparado a tantos deles. E temos Átimos que esta domado por uma fúria incontrolável. Tanto ódio... e pensar que há alguns dias eu era apenas um singelo garçom de um hotel.

– A minha vida também mudou drasticamente. Em um momento eu perco meus amigos, quase enlouqueço. Em outro me encontro com Matheus e percebo que o amo, e que esse amor é recíproco. E de repente descubro coisas que me fazem perguntar o porque de ser eu. Hoje eu simplesmente sei que existe um propósito, e eu estou engajado em terminá-lo, para que outro se inicie. Vai ser complicado, tudo o que esta para acontecer, no entanto, se nos mantivermos firmes e acreditando um nos outros, seremos capazes de vencer. Se não a eles, a vencer a nossos medos, o que realmente importa.


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