O Colar do Parvo escrita por Marko Koell


Capítulo 35
Novos amigos




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Era domingo, o dia estava ensolarado e logo eu perguntei para Eduardo se o sol era algum tipo de feitiço, assim como era na casa de Kauvirno. Ele disse que não, que Assis era simplesmente iluminada.

Tomamos um café bem forte, que Eduardo fez pra que eu acordasse. Ele garantiu que não sabia fazer poção para diminuir a ressaca. Mais uma vez então eu chamei pela minha tia.

Ele era uma pessoa realmente muito agradável.

– Você estava muito bêbado, então seus tios chegaram até a praça e viram você dormindo. Eu garanti que assim que você acordasse eu o levaria para o hotel, no entanto depois eu me lembrei que eu trabalhava lá, e ficaria mal para o meu lado chegar com um hospede.

“Seu tio Kauvirno me deixou o telefone do quarto, e então eu liguei para ele e perguntei se você poderia dormir em casa. Ele disse que não haveria problema algum. Quando chegamos aqui você correu até o banheiro, e só saiu de lá uma hora depois. Eu estava muito preocupado, mas você cantarolava pra me dizer que estava bem. Você só parava de cantar na hora que provavelmente estava vomitando. Foi horrível. Você é muito desafinado.”

– Então eu sou desafinado?

Nós rimos muito durante todo o dia. Eu liguei para Kauvirno e ele disse para eu me cuidar, que qualquer coisa ele e Marcelo estariam no museu. Eduardo alem de boa companhia era uma exímio cozinheiro. Fez uma macarronada que me lembrou muito a de minha avó. Saudades dela.

– E qual segredo você guarda, kayo? – ele me perguntou já de tarde, enquanto tomávamos sorvete de baunilha.

– Eu não guardo segredo algum!

– Algum deve guardar, você me disse várias vezes durante a noite que tinha algo que não poderia me contar.

– Eu estava bêbado, Eduardo. Qualquer coisa que eu tenha dito tem que ser considerado, uma loucura.

Ele investia muito para saber o que era. Provavelmente eu tinha vontade de falar algo sobre o Colar do Parvo. Talvez a prova disso, fora eu chegar a casa dele e me trancar no banheiro. Ele disse que eu não queria tomar banho na frente dele, logicamente eu não poderia senão ele veria o colar.

– Meus pais estão viajando. Foram para a Escócia.

– Nossa, tão longe!

– Sim, ganharam na verdade um prêmio do rádio daqui da cidade. Vão passar uma semana lá, eles foram ante ontem. Acho que estão felizes, pelo menos não ligaram ainda para dizer.

– Será que não aconteceu alguma coisa?

– Não! Notícias ruins sempre chegam antes do que as boas.

A casa dele era muito simples. Nada de tão maravilhoso. Não era do tipo que tinha muitas condições financeiras. Quase não tinha nada na geladeira, quando ele perguntou-me se eu queria jantar lá.

– Nossa, vou ficar devendo essa. Meus pais não me deixaram dinheiro, e eu não posso fazer vales no hotel. – ele disse envergonhado.

Eu sempre tive uma vida boa, e aquilo mexeu comigo. Ele ali parado na cozinha pensando no que iria fazer pra se desculpar por ter acabado a comida. Ele só tinha o macarrão, o molho, e o sorvete.

– E como você iria fazer pra se alimentar? – eu perguntei, sem acreditar que tinha dito aquilo.

Ele me olhou, e sacudiu os ombros.

– Eu não faço idéia. – ele começou a rir.

– Depois diz que eu sou palhaço! – eu comentei – Vem, você cuidou de mim, me deu um almoço maravilhoso e me fez companhia. Deixa-me retribuir.

Saímos e fomos até o supermercado, onde comprar mais macarrão, arroz, feijão. Carnes, verduras e legumes. Compramos biscoitos, salgadinhos, iorgutes. Ele chegou até a chorar.

– Você deve achar que eu passo fome. – ele disse.

– Para com isso Eduardo, qual o problema de eu fazer compras pra você?

Ele estava muito envergonhado. No entanto eu consegui convencer ele que aquilo não era humilhação alguma. Eu o considerava meu amigo, e eu sou do tipo de pessoa que faria tudo para ajudar uma pessoa que eu gostasse.

Levamos tudo pra casa, e arrumas as coisas em seus devidos lugares. Eu acabei fazendo arroz e bife, enquanto ele fritava batata e ao mesmo tempo preparava a salada de alface. A melhor refeição do mundo.

Após o jantar combinamos de ir a uma praça onde os amigos dele estavam.

– Veja Kayo, não conte pra ninguém que estava faltando comida em casa. Eles são prestativos demais, e eu não quero abusar de ninguém. E quando meus pais chegarem eu vou pedir uma grana a eles e te devolvo o que você gastou hoje.

Eu nem preciso dizer que discuti feio com ele, por ele ter dito aquilo. Era estranho, parecia que nos conhecíamos há muito tempo.

Saímos da casa dele e fomos até a praça, lá ele sentou no banco e disse que ali estaria, esperando por mim e por seus amigos. Eu fui até o hotel que não era longe de sua casa. Tomei um delicioso banho e me troquei. Fui ate os quartos de Marcelo e Kauvirno e eles ainda não tinham chegado. Isso já era quase sete horas da noite.

– Voltei! – eu disse a ele, quando estava atravessando a rua para ir até a praça, nesse momento já tinha duas pessoas com ele. Uma mulher e outro homem. Ambos lindos.

– Oi Kayo! – disse ele todo alegre – Pessoal, esse é o Kayo, o garoto que eu estava falando a vocês. Kayo este é Mario, e esta é Sara.

Mario era lindo. Mais uma vez devo dizer que todos dessa cidade eram belos. Ele era do meu tamanho, não tinha músculos, era magro. Mas tinha estilo. Um cabelo todo transado, cheio de pontas roxas. Ele tinha as unhas pintadas de preto e vestia correntes por todo o corpo. Era até excitante de ver. Ele veio até mim e me abraçou e me deu um beijo no rosto, perguntando como eu estava. A voz dele era grossa, e fazia com que os pelos da nuca se arrepiassem.

Já Sara, era toda meiga, com jeans colado e uma blusinha cor de rosa. Seu cabelo era loiro e ondulado era muito chamativo. Ela era linda, e seus olhos verdes me chamaram a atenção. Ela me cumprimentou com um beijo no rosto.

– Eu tenho a sensação que te conheço de algum lugar. – eu disse a ela

– Você fez aniversário, não fez? – disse ela.

– Sim!

– Eu sou amiga da Aline, não lembra dela? Era namorada do Matheus!

Era tudo o que eu precisava. Naquele momento me veio à mente o rosto da menina loira, há dois anos, na casa de Matheus. Aline entrava junto comigo e eu vi uma menina loira me olhando. Essa menina então era Sara.

– Você é bruxa também? – eu perguntei.

– Sim, sou! – ela disse – Pensei que soubesse!

– Acredite eu nem sabia ao menos que eu era.

– Mas me fale, eu nunca mais vi Aline, nunca mais vi o Matheus. Nem a família de ambos. Alias nem mesmo a sua, e você. Vocês sumiram. – disse ela. Maria e Eduardo estavam prestando o máximo de atenção.

– Eu não sei da Aline, não. E quanto ao Matheus, bem... nós estamos juntos! – eu disse sem jeito. Não por falar que Matheus e eu estávamos juntos, e sim por falar que não sabia da Aline, sendo que eu sabia que Leda se transformara nela.

– Sério? – disse ela espantada – Nossa, confesso que se fosse naquela cidade e eu não fosse bruxa ficaria horrorizada por saber que aquele deus grego curte homem. Ainda bem que não sou assim. – disse ela rindo – E vocês estão bem? Onde estão morando?

– Sara, não acha que é muita pergunta? – disse o Eduardo, rispidamente. Naquele momento eu senti que ele estava com ciúmes.

Fomos mais para o centro da praça, onde tinha mais pessoas. Todas bebendo e sua grande maioria adolescentes. Eu conheci mais umas quinze pessoas, e comecei a beber novamente. Eu estava começando a gostar daquilo,porque beber me fazia esquecer de Matheus. Mais uma vez lembrei-me de comprar o celular para falar com ele. Eu não poderia mais esquecer.


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