O Colar do Parvo escrita por Marko Koell


Capítulo 34
O encontro


Notas iniciais do capítulo

..... Bora ler mais um....



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Nós saímos do Museu às seis horas e ponto e seguimos para o hotel. Durante o caminho eu percebi que todos estavam saindo para ir á barzinhos, boates, casas de shows.

– Essa cidade é bem movimenta, em Kau? – eu disse.

– Eu acho que é movimenta até demais. A cidade teve um surto de nascimento, tem muitos jovens, logo a cidade rejuvenesceu.

– Legal!

– Hoje vamos tomar um banho e vamos a um desses lugares e curtir a noite. Eu sei que não temos muito tempo, mas ficar engajado em algo pode nos levar a loucura. É sempre bom respirar, antes de começar tudo de novo. – disse Marcelo.

Ao chegar ao hotel, eu subi para o meu quarto e tomei um longo banho. Obvio que pensando em Matheus, no que ele estava fazendo naquele momento. Pensei em algum momento em ir à loja de celular e comprar um, o mais rápido possível. Eu precisava falar com ele.

Ao sair do hotel eu vi um telefone público, e perguntei a Kau e Marcelo se eu poderia chamar um amigo. Eles disseram que tudo bem, sabendo exatamente de quem eu estava falando.

– Só tome cuidado para não falar nada sobre o Colar do Parvo. – me alertou Marcelo – Ele esta com você?

– Sim, debaixo da blusa, bem protegido e pesado. – eu disse sorrindo.

Peguei o papel que aquele garçom havia me dado e liguei pra ele.

– Boa noite, com quem eu falo?

–­ Eduardo! Mas não precisa dizer teu nome, sei que é o garoto de hoje, de manhã. O menino do hotel.

Nossa, lembra mesmo de mim! – eu disse rindo.

Jamais esqueceria sua voz!

Está bem, vamos parar com esse mel? Meus tios resolveram sair hoje, e eu não conheço a cidade, então eu pensei, talvez você pudesse me fazer companhia.

– Ok, eu prometo parar. E seria uma honra. Onde estarão?

­- Num bar chamado Encanto, conhece?

Eu conheço sim, vocês já estão indo pra lá?

Sim!

Combinei de encontrar com Eduardo na frente deste bar. Entramos no táxi e chegamos ao tal bar Encanto. Que realmente era um encanto de tão lindo. Todo feito de madeira, com musica ambiente, mesas por todos os lados. De um lado havia os mais velhos e do outro, próximo à esquina, havia os mais novos. Todos curtiam a noite. Com paqueras e beijos rolando a solto.

Pegamos uma mesa e sentamos. Kauvirno pediu cerveja.

– Aceita? – perguntou ele.

– Sim, eu já estou com dezoito anos...

– Só tome cuidado, não beba em demasia! – disse Marcelo.

Veio então um pequeno barril com cerveja, e três copos. Kauvirno nos serviu e então brindamos.

– Que nossas expectativas em relação as nossas buscas se tornem mais claras a cada dia! – disse ele, um casal do lado pareceu confuso com o que ele havia dito.

As pessoas, eu digo, os bruxos, não sabiam dos Vigilantes, que tinha sido criada para protegê-los de pessoas como os Soberanus. No entanto todos sabiam das antigas historias de Átimos, mas não sabiam que ele estava vivo.

Vendo aquelas pessoas ali, brincando, bebendo e cantarolando eu percebi que viviam quase que num mundo de faz de conta. Eles não tinham idéia que eu, estava ali no meio deles, com o Colar do Parvo que para muitos era um mito, e que os Soberanus haviam voltado e estavam a minha caça, inclusive matando outros bruxos.

– Não se preocupe com a segurança da cidade, existem barreiras por todos os lados ninguém consegue entrar. E para entrar e sair da cidade é preciso de autorização, ninguém de estranho entra em Assis! – disse Marcelo, quase como lendo minha mente.

Era inevitável sentir medo de que algo acontecesse. Os Soberanus estavam à solta, e por dois anos ficaram escondidos e voltaram com força. Eu tinha medo, mas também coragem suficiente para enfrentá-los, caso eles entrassem na cidade.

Eu temia isso. E a sensação que eu tinha era que algo estranho fosse acontece. O colar ficou mais pesado e imagens de muitas casas pegando fogo não paravam de surgir na minha mente.

– Kayo, esta ficando bêbado demais, garoto! – disse Kauvirno, rindo. Estava alto já. Assim como Marcelo.

– O primeiro porre do garoto... deixa ele pra lá... ele não ira morrer!

Foi um misto de sensações estranhas. Eu me sentia forte, com mais coragem, sentia como se qualquer tipo de inibição sumisse de meu corpo. Eu sentia que podia voar, tudo girava e eu achava graça de tudo. Eu não aguentava mais rir das palhaças que Kauvirno fazia. Eu estava bêbado, e por incrível que pareça, uma coisa que eu sempre abominei, estava me deixando feliz. Eu já não pensava mais em Matheus.

– Ei, moço! Não acha que vai passar mal assim? – eu ouvi alguém dizendo nos meus ouvidos.

Ao me virar minha boca se encontrou com a de Eduardo, e eu simplesmente o beijei, freneticamente. Kauvirno e Marcelo, riram, mais logo perceberam que eu estava de pé e já agarrava o pobre Eduardo. Marcelo levantou e nos separou. Eu estava extrapolando, e com toda certeza, Eduardo estava gostando.

– Acalma-se menino, não esqueça que você tem um compromisso! – disse ele.

Eu olhei para o Eduardo, que estava ali, parado na minha frente, me olhando com cara de bobo, talvez espantado por eu ter feito aquilo, ou talvez esperando que eu fizesse de novo. Eu olhei para os lados e vi que ninguém estava se importando com aquilo. Era normal.

– Desculpa, Eduardo! – eu disse – Tudo bem? – eu fui até ele e o abracei.

– Depois dessa recepção eu tenho certeza de que ficarei! – disse ele no meu ouvido. Eu fiquei completamente sem graça.

– Bem, esses são meus tios – Kauvirno me olhou sem entender nada – Kauvirno e Marcelo...

– São casados? – perguntou Eduardo, e eu comecei a rir feito um idiota.

– Não, somos irmãos. – disse Marcelo.

– Por favor, rapaz. Eu vejo que você é de boa índole, não faça nada abusando da situação de Kayo. – disse Kauvirno – Ele nunca bebeu, e ainda por cima tem um namorado que ama muito.

– Para Kau, não me recrimine... – eu disse. Minha cabeça estava rodando.

– Entende, não é Eduardo. Esse é seu nome?

– Sim, senhor Kauvirno. Fique tranquilo. Vou dar um passeio com ele, prometo não fazer nada de errado.

Saímos dali, passando pelo grupo de jovens rebeldes que me chamaram de cachaceiro, mas fora isso não falaram mais nada. Eu estava abraçado com Eduardo e não dizia nada. Ele me segurava com força, tentando evitar que eu caísse no chão. Sentamos num banco perto de uma pequena praça, e ele foi até um trailer que tinha próximo comprar um refrigerante.

– Beba, espero que faça bem! – disse ele, sentando ao meu lado.

– Eu queria minha tia aqui... ela saberia alguma poção pra eu melhorar...

– Infelizmente poções para deixar de estar bêbado não existem, apenas para a cura da ressaca. – disse ele rindo.

– Você ri de tudo, não é?

– É que você faz as coisas parecerem engraçadas, não sei dizer!

– Você me lembra do Matheus! – eu disse, com certeza ele ficou sem graça.

– Eu espero que isso seja bom.

– Sim, é! Ele é lindo... eu amo ele...

– Que bom! Ele é um cara de sorte.

– Eu não sei... ele não merece o que eu fiz com ele...

– Não se preocupa, será meu segredo... já que amanha provavelmente você não se lembrara de nada. Primeira bebedeira, não é?

– É... é até legal... mas eu estou com ânsia.

– Isso é normal! O que estão comemorando?

Essa foi uma pergunta que eu não sabia ao certo responder.

– Eu acho que o meu aniversário! – eu disse, quase caindo do banco. Eu estava tonto demais.

– É hoje, então? Meus parabéns! – disse Eduardo.

– Obrigado!

Eu encostei a cabeça no ombro dele e minha visão foi ficando embaçada. Cada vez mais embaçada. Até que eu adormeci.

Lembro de um sonho, em que eu via Matheus vindo até mim e dizendo que me amava. E ele me perguntava o porquê que eu tinha traído ele. Provavelmente a culpa de ter beijado Eduardo, sabendo que o coitado sentia algo por mim. Naquele momento lembrei de Nathan, que também disse que me amava, e algo explodiu dentro de mim, perguntando: Porque não o beijou também?

Aquilo era horrível, eu estava me sentindo, literalmente um qualquer, que ficava por ficar, isso para não dizer outra coisa. Eu tinha que tomar cuidado com o que eu iria me chamar. Se tratava de mim.

Ao abrir os olhos eu me vi num quarto todo azul celeste, com uma cama de solteiro alta, ao qual eu estava deitado. Eu estava coberto com edredom azul marinho e confortáveis travesseiros. O quarto não era família, logo pensei que eu provavelmente estava sonhando. Havia uma cômoda de mogno no canto, com uma TV, do lado uma mesinha de mogno também com um computador. Eu levantei com uma terrível dor de cabeça e fui até a porta. Ao abri-la me deparei com um corredor curto, tinha duas outras portas ali. Uma delas estava aberta, era o banheiro. A outra estava trancada. Caminhei pelo corredor e cheguei a sala. Tinha uma lareira ali, dois sofás grandes e no meio dela um garoto dormindo. Eu fui até e vi que era Eduardo. Delicadamente eu o acordei.

– Desculpa, te acordar! – eu disse.

– Não se preocupe!

A incerteza que algo talvez pudesse ter acontecido entre a gente, logo acabou.

– Não rolou nada, antes que você pergunte. – disse ele sorrindo.

O Eduardo era realmente um cara muito legal. Era também bonito, e muito atraente. Ao levantar do chão ele estava apenas de samba-canção, e exibia seu belo corpo escultural.

– Eu vou preparar alguma coisa pra você tomar... senão logo vai vomitar as tripas, pelo menos o que sobrou delas. – continuou ele rindo.

– Eu vomitei? – eu o indaguei.

– Nem me faça lembrar!

Ele não fazia muito o tipo sofredor. Imaginei ele rindo na morte dos pais, pra se ter uma ideia. Ele ria tanto, que me fazia rir das besteiras que eu fiz durante a noite.


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