De Volta Ao Passado escrita por Anna Evans


Capítulo 6
Capítulo 5 - A História de Malcolm Morgan.


Notas iniciais do capítulo

Então galera, venho aqui pedir desculpas pelo atraso, mas já havia mencionado que seria assim depois que as aulas voltassem. Realmente está complicado, mas vou ver aqui e tentar organizar meus horários para que eu tenha um dia certo para postar cada capítulo.
Espero que gostem desse!



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Estavam no carro de Malcolm a caminho de casa. Malcolm segurava o volante com firmeza enquanto seus olhos encaravam através do painel a sua frente como se esperasse que os carros a sua frente na pista o induzissem a começar a contar a história de forma segura, correta.

Sentado ao lado de Malcolm, Draco se permitia encarar a paisagem pela janela aberta ao seu lado. O vento via frio passando pelo seu rosto, bagunçando seus cabelos loiros enquanto ele buscava forças para digerir tudo o que havia escutado e também tudo o que ainda iria escutar.

— Sabe, garoto — Malcolm falou com a voz falhando de início — Eu não gosto nem de lembrar desse tempo, mas já que estamos nesta situação precária vou me esforçar aqui... Só não... Não pense mal de mim quando eu terminar de contar a história... Levei anos para me perdoar.

Draco olhou para Malcolm que ainda encarava com atenção a estrada a sua frente. Ele viu o quanto ele estava nervoso quando sua mão direita desceu do volante até o cambio do carro de forma trêmula, agarrando-se ali com necessidade.

— Assim como você eu fui da Sonserina também — Malcolm passou os olhos por Draco rapidamente — Estava no quarto ano se não me engano. Seus pais, Lucius e Narcisa eram meus amigos, estávamos sempre saindo juntos, implicando com alguns alunos ali, outros lá...

Draco sentiu um aperto no peito ao ouvir o nome de seus pais. O pensamento que viera a sua mente fora logo o da morte. Daí então a dor de cabeça começava a surgir latejando ao lado esquerdo levemente. Seus pais estavam mortos.

— Sabe — Malcolm continuou — Mesmo depois de tudo que fizeram a mim e por mim... Sinto muito pelo morte dos dois. Eu realmente desejava um final bem melhor do que este tanto para Narcisa quanto para Lucius.

Era um fato bem visível de que Malcolm parecia estar por dentro de todas as novidades. Não era a toa que aquela já era a terceira vez naquela mesma avenida que ele desviava em cima da hora, quase batendo no para-choque do carro a frente. Malcolm estava com os pensamentos distantes.

— Seu pai sempre teve um certo fascínio — Disse Malcolm girando o volante para a direita — Um certo interesse em Voldemort. No nosso tempo em Hogwarts eu podia ver seus olhos brilhando e sua mente funcionando a mil toda vez que o nome Tom Marvolo Riddle era mencionado. No ano anterior, a Grifinória havia ganho a taça das casas, o que era de se esperar já que Thiago Potter havia se tornado a estrela de Hogwarts... Mas naquele ano... Lembro-me que seu pai queria a taça a todo custo. Ele gritava e esbravejava com os outros alunos da Sonserina que seria uma vergonha perder a taça das casas mais uma vez... Que todos deveriam honrar a casa ao qual Tom Riddler pertenceu... Seja lá por onde ele andasse naquele tempo...

Draco não disse nada. Permaneceu olhando pela janela. A dor de cabeça se intensificando a cada frase de Malcolm.

— Lucius sempre foi obcecado por artes das trevas — Explicou Malcolm — E aquela combinação... Entre artes das trevas e Tom Riddle não me agradava em nada. Eu tentei faze-lo mudar de ideia... Deixar aquele assunto todo de lado... Mas ele nunca me ouviu... Lucius queria estar sempre com a razão.

— E pelo visto continuou assim até o último segundo de sua vida — Draco murmurou após um suspiro.

— Lucius era o meu melhor amigo, mas as diferenças eram bem visíveis, garoto. Seu pai sempre almejou o poder e a grandeza. E não importava o quanto ele exercesse tal poder, tal autoridade ou controle sobre as coisas... Ele sempre queria mais. E, eu... Um pirralho tolo... Tentei ajuda-lo e acabei me dando muito mal.

Draco observou Malcolm dirigir durante a pausa que ele havia feito antes de começar a falar novamente. O volante não conseguia mais conter o tremor em suas mãos e os seus olhos azuis estavam vidrados no painel do carro. Draco já não estava mais certo se ele era capaz de enxergar a rua a sua frente. E, por mais louco que tudo aquilo parecesse nenhum dos dois estava com medo de um acidente. O clima era pesado demais, sufocante e apreensivo para que seus pensamentos se voltassem para outra coisa que não se referisse a suas histórias passadas.

— Uma noite — Malcolm tornou a falar — Eu e seu pai saímos em silêncio da sala comunal, passando sorrateiramente pelas masmorras e indo direto para a biblioteca. Entramos na Ala proibida e ficamos até tarde lendo e relendo alguns daqueles enormes e pesados livros empoeirados cheios de conteúdo ocultos. Vimos feitiços que até então não haviam sido mencionados para nós em nossas aulas. E... a maioria deles... Feitiços terríveis. — Malcolm riu nervoso — Mal sabia eu que aquela seria minha última noite no castelo.

Draco não olhou para Malcolm ao perguntar.

— O que aconteceu no dia seguinte?

O homem ao volante deu de ombros.

— Seu pai como de costume, arrumou confusão com um grupinho da Lufa-Lufa. Eu o ajudei... Ora essa... Não vou dizer também que fui um santo, isso pode ter certeza de que eu não era, garoto! Eu adorava uma intriga aqui e outra ali. Sabia melhor do que ninguém deixar um aluno irritado com poucas palavras... Mas isso não vem ao caso. A questão é que depois da briga acabamos por parar no gabinete de Dumbledore, aquele velho sabia mesmo de tudo o que acontecia naquele castelo... Eu e seu pai ouvimos um belo sermão de que não me recordo mais, perdemos alguns pontos e...

— Porque exatamente você foi expulso? — Draco o interrompeu.

Malcolm deixou que o breve sorriso descontraído sumisse de seu rosto.

— Você não facilita, não é mesmo? — Malcolm suspirou girando o volante para que encostasse o carro em uma vaga na rua. Ainda não haviam chegado, mas mesmo assim ele havia parado o carro. Se debruçou sobre o volante, olhou ao redor. Seus olhos se prenderam a uma família que passava do outro lado da calçada.

Erguendo-se com os olhos marejados Malcolm balançou a cabeça como se quisesse espantar os pensamentos fragilizados dos quais ele havia evitado a ter novamente.

— Eu... — Ele respirou fundo — No quarto ano em Hogwarts, eu matei um aluno. Ameacei Dumbledore e... Quando saí da escola e vim visitar meus parentes aqui no mundo trouxa eu... Eu matei meu primo.

Draco olhou para o homem sentado ao seu lado completamente perplexo. Conhecia Malcolm a apenas três anos... Mas... Jamais passara pela sua cabeça que ele poderia ter feito tais coisas. Era um homem calmo, centrado e bondoso demais. Nunca abaixara a cabeça para os problemas nem nunca chorara por uma derrota... Mas agora estava ali... Se desabando em lágrimas com as mãos trêmulas completamente perdido e destroçado.

— Vamos lá Draco... Não me importo. Pode fazer a pergunta que eu sei que está aí na sua cabeça agora! Me pergunte que tipo de monstro eu sou... Não é isso que quer perguntar? — Sua voz era rouca.

Draco passou a mão pelos cabelos procurando palavras...

— Eu não... — Draco olhou para ele — Eu não queria e nem quero perguntar isso... Pelo menos não antes de saber o que te levou a matar um aluno... Teve um motivo, não é mesmo? Sempre tem.

— Naquele mesmo dia — Malcolm disse tentando controlar a própria voz — Após sairmos do gabinete de Dumbledore... Sua mãe foi atrás da gente. Começou a nos repreender por termos gerado tal confusão. E, se tinha uma coisa que tirava seu pai do sério era ser controlado. Assim que sua mãe começou a pedir para que ele agisse de forma mais decente ele a bateu. Um tapa tão forte que a fez cair no chão assustada. Sem saber o que fazer extendi a mão para ajudar Narcisa. Seu pai não gostou nada... Disse que eu estava tentando ser melhor do que ele em tudo. Agindo como o bom moço. Ele estava descontrolado naquele dia... Foi então que ele lançou o expelliarmus contra mim, mas estava com tanta raiva que acabou errando... Acertou um aluno da Grifinória que por sinal não ficou nada feliz. Um alvoroço começou, feitiços para lá e para cá... Tirei sua mãe dali e me apressei em voltar para impedir que Lucius aprontasse mais alguma coisa... Porém quando eu cheguei... Assim que pisei meus pés no pátio eu congelei...

Draco não estava tão surpreso assim, já havia visto seu pai bater em sua mãe algumas poucas vezes. Ele era uma pessoa descontrolada. Porém, apesar de não ser nenhuma novidade, aquela importuna sensação ruim só aumentava dentro de Draco.

— Lucius estava de pé apontando sua varinha para o mesmo garoto da Grifinória, que agora se contorcia no chão. E, como eu disse garoto... Na noite anterior havíamos passado horas na ala proibida e aquele feitiço que seu pai estava utilizando fora apenas um dos que nós aprendemos naquela noite em Hogwarts. Ele estava torturando o aluno com a maldição Cruciatus.

— Quem era o garoto? — Draco perguntou olhando pela janela. O tempo estava nublado, deixando a rua cada vez mais cinzenta.

— Não me recordo muito bem, aquela era a segunda vez que o via diretamente. A questão é que quando eu havia deixado sua mãe na sala comunal, enquanto eu voltava pelos corredores, cruzei com Thomas Malkavian, um aluno da Lufa-lufa que eu me recordava muito bem de estar no pátio quando tudo começou. Ele corria em direção oposta a minha. Sabe, no curto prazo em que nossos olhos se cruzaram eu sabia que o pior chegaria... Ele provavelmente corria para chamar Dubledore. Enquanto ao seu pai... Enquanto ele torturava o tal aluno, eu o implorei de todas as formas possíveis para que parasse, o sacudi e então ele me olhou... E, naquele momento pude perceber que ele estava tomado pelo ódio, cego.

— E o que aconteceu depois?

— Seu pai parou — Malcolm falou enquanto voltava a dirigir — Me abraçou pedindo desculpas... E...

— Pare o carro — Draco pediu — É melhor que eu dirija, você não está em condições para isso.

Malcolm expressava tudo em seus olhos azuis brilhantes pelas lágrimas... Medo, pavor, raiva e tristeza. Um terrível arrependimento, uma mágoa sufocada.

Assim que trocaram de lugar, Draco se pôs a dirigir enquanto esperava a continuação da história.

— Sabe, eu estava trêmulo quando seu pai me abraçou... E então eu o vi... Um garoto do quinto ano, também da Grifinória... Vinha com a varinha apontada para seu pai... Mais Lucius não podia ver, ainda estava me abraçando, de costas para o garoto. E... No instante que ele sussurrou aquelas palavras em meu ouvido... Eu agi por impulso...

— O que ele disse?

Malcolm passou as palmas da mão suadas pela calça jeans.

— Me desculpe Malcolm. Sei que sempre poderei contar com você... — Malcolm suspirou — Sabe... Após ele dizer isto... O feitiço surgiu na minha cabeça e eu o lancei... O aluno da Grifinória já estava prestes a atacar seu pai quando em vez de lançar o expelliarmus em sua direção, eu lancei a maldição da morte que naquele momento surgiu instantaneamente em minha mente...

— Você matou alguém só para salvar meu pai? — Draco apertou as mãos no volante — O garoto... Talvez ele não fosse fazer nada demais... Talvez fosse só...

— Eu sei! — Malcolm gritou socando o porta luvas do carro enquanto mais lágrimas desciam pelo seu rosto — Eu sei disso! Eu sei, droga! Mas eu não sei o que me aconteceu... Foi como se na noite anterior aquele livro... Aquelas palavras, os feitiços e suas consequências tivessem pesado em minha mente... E... Eu poderia pensar em diversas formas de desarmar aquele aluno, mas tudo que me veio a cabeça foi aquilo... E eu não pude fazer mais nada no segundo seguinte que eu me arrependi! Eu! Eu! Eu vi aquele garoto endurecer pálido no chão enquanto os olhos perdiam a vida! Eu causei aquilo tudo!

Malcolm passava a mão pelos cabelos grisalhos.

Draco tentou se concentrar na estrada, mas Malcolm o estava deixando aflito também.

— Calma. — Pediu ele — Continue a história.

— Enquanto — Malcolm buscou ar — Enquanto eu me mantinha petrificado tentando entender tudo que havia acontecido. Seu pai se posicionou ao meu lado com um sorriso no rosto. E, não demorou muito para que eu notasse a presença de Dumbledore. Ele havia acabado de chegar e atrás dele se mantinham os outros alunos que olhavam tudo apavorados. Ao mesmo tempo que Dumbledore se mostrava impressionado com a maldição que eu lançara ele se mostrava rigoroso... Sabe como é... Ele nunca aparenta que está com medo ou surpreso de forma concreta... Mas eu sabia que ele estava. Nossa... Como eu tremia... Quando o notei ali eu me assustei e a primeira coisa que fiz foi apontar a varinha para ele inutilmente.

Malcolm se endireitou no banco e Draco agradeceu mentalmente pro estarem chegando em casa.

— O seu pai... Diante de tudo aquilo... Ele se fez de vítima. Mentiu descaradamente dizendo que tentou me impedir o tempo inteiro e até encenou estar com medo de mim. Lucius tinha medo... E o medo o tornava o covarde que estava sendo. Um traídor. Eu também estava morrendo de medo... Tanto medo que eu não conseguia dizer nada... Não podia me defender. Todos me olhavam, uns choravam, outros gritavam coisas que prefiro não mencionar... Porém, o pior de tudo foi quando a sua mãe chegou...E com todas as palavras ela defendeu seu pai. Pois é... Ela defendeu o rapaz que até minutos atrás havia batido nela... No final das contas, fui culpado tanto pela morte daquele aluno, quanto a tortura que seu pai fizera... Dumbledore pediu minha varinha e a quebrou na minha frente. Pediu para que eu arrumasse minhas coisas e não voltasse para Hogwarts nunca mais... Fiquei mais uns dois anos pelo mundo mágico perambulando de um canto a outro. Tinha vergonha de mim mesmo... E então... Cansado de tudo aquilo... Eu sai do mundo mágico. Nunca mais vi meus pais... Soube que seu pai continuou em Hogwarts e nada lhe aconteceu. E eu... Quando vim para cá, com quase dezessete anos... Eu fui visitar minha tia trouxa... Passei uma semana com eles... Tempo suficiente para causar mais desgraças... Mas... Eu não quero falar sobre isso agora... Espero que entenda.

— Eu entendo — Draco falou já avistando a casa deles. — Sinto muito por isso, Malcolm. De verdade.

— Você não é como o seu pai, garoto — Malcolm riu fraco com os olhos vermelhos — No início quando o vi pela primeira vez naquela praça... Eu duvidei, mas resolvi arriscar... E olha só... Você realmente não é nada parecido com Lucius.

— Eu não diria isso... Talvez eu...

— Não — Malcolm negou — Você assumiu seus erros. Buscou mudança. Desejou a paz. Coisas que seu pai jamais faria... Acredite garoto. Você tem bom coração... Coisa que nem todo mundo tem.

Draco sorriu enquanto estacionava o carro.

— Sabe — Malcolm suspirou — Não tem um dia sequer que eu não tenha pensado em voltar ao mundo mágico.

— E o que impede você?

Malcolm olhou para Draco.

— O que é que impede você, Draco?

— Eu não posso...

— Nós dois não voltamos para lá porque temos medo... Queremos voltar... Mas temos medo de voltarmos a ser quem éramos... De não aguentarmos a verdade. As consequências. Ninguém pode carregar a dor sozinho... Ninguém. Nem o maior vilão, nem o maior herói. Nem o menor trouxa ou o maior bruxo... Somos pessoas, e pessoas não são cem por cento capazes de algo... E, é por isso que não queremos voltar... Quem em sã consciência que vai estar ao nosso lado? Podem até estar... Mas... Sempre vai haver ao menos um pouco de medo, receio e dúvida em relação a gente.

Draco encarou o painel do carro.

— E o que faremos? — Draco perguntou.

— Não posso te forçar a nada, garoto. — Malcolm retirou o cinto — Mas quer saber? Eu fui feliz no mundo mágico, apesar dos dias ruins, tive meus dias bons... E você também, tenho certeza. E, diferente de você... Eu fugi de lá já tem uns trinta anos... Assim como você eu vim para tentar esquecer, apagar, me tornar outra pessoa... Mas... Trinta anos se passaram e eu não esqueci, eu não mudei. Eu guardei. Guardei lembranças amargas e sombrias de um passado incerto... E... Uma lembrança não deve ser guardada... Deve ser solta, para se vivida sabe. Nada deve ser ocultado. Ou ela repassa adiante... No caso de boas lembranças, ou repassamos adiante, ou ela morre e ninguém sabe de sua existência enquanto a guardamos. Mas como aqui são lembranças ruins... Ou repassamos e encaramos os fatos... Ou elas nos matam aos poucos... Trinta anos Draco... É isso que quer para você? Quer passar o resto de sua vida sendo quem não é? Fingindo... Fingindo que nada aconteceu? Não vou te impedir de fazer isso... Pois foi essa a decisão que eu tomei, e se eu a fiz você também pode... Mas é um aviso de um grande amigo... Esse foi um dos maiores erros da minha vida. Um dos tantos é claro. E, pessoas como nós não suportam mais errar nessa vida.

Malcolm deu um tapa de leve no ombro de Draco e então saiu do carro.

— Nos vemos pela noite... Vou sair por aí — Malcolm falou antes de fechar a porta do carro.

Malcolm desapareceu pelas ruas desolado. Draco por outro lado, achou melhor ir para casa e descansar. Talvez por os pensamentos em ordem, tentar compreender algumas coisas.

Entrando em casa se deparou logo com o novo e já arrumado bar de Malcolm. Duas estantes grandes repletas de garrafas diversas. Um extenso balcão de madeira polida. Bancos e mesas espalhados pelo cômodo e as luzes que ele preferira pender nas paredes em pequenos lustres.

Desde que o conhecera, Draco sabia que aquele bar era o sonho de Malcolm. Mas agora, após ouvir a história, se perguntava se aquele sonho havia sido criado para ser realizado ali, ou no mundo mágico.

Com um suspirou pesado, Draco atravessou o bar e adentrou na porta dupla atrás do balcão. Subiu as escadas e se direcionou diretamente ao seu quarto. Um quarto simples com paredes brancas e alguns quadros com grandes molduras. E, como de costume, Draco entraria no quarto e sem se virar para trás chutaria a porta para que ela se fechasse atrás de si. Jogaria sua mochila em um canto qualquer e iria até a porta de vidro que dava passagem para a pequena varanda. Encararia a rua, observaria as folhas da árvore em frente a casa do vizinho cair pela calçada por uns bons dez minutos. E então voltaria para se jogar na cama para ler algum livro qualquer encontrado na cômoda ao lado.

Mas naquele dia não. Aquele dia era um novo dia, um dia extremamente diferente. E dias tão diferentes exigem ações diferentes. Tanto, que a primeira coisa que fez ao entrar no quarto foi fechar a porta atrás de si, mas não com o pé. Com a mão. De forma delicada a fechando e girando a chave. Em seguida não saiu do lugar, na verdade... Seus olhos cinzentos nem sequer encontraram a porta de vidro para a varanda. Seus olhos congelaram no grande baú de madeira rústica, largado e empoeirado no cantinho mais escuro do quarto.

Com o passar do tempo, Draco esquecera de sua presença ali. Mas hoje, lá estava ele, encarando-o com uma súbita vontade de abri-lo. E foi com este pensamento que Draco caminhou lentamente até o canto do quarto e se ajoelhou de frente para o grande baú.

Só de estar tão próximo e a pensar nas coisas que veria e lembraria quando o abrisse, Draco se encontrava próximo a um maldito frenesi.

— Então você quer voltar.

De início Draco se assustou com a voz, afinal, pensara estar sozinho, porém, não precisava virar-se para trás para descobrir quem falava com ele. Então, permaneceu encarando o tal baú que tanto o devastava.

— Chegou mesmo a acreditar que eu nunca mais pensei em voltar? — Draco perguntou — E, sabendo disso agora... Ainda vai me dizer o que veio dizer realmente? Ainda vai me insultar? Dizer que só penso em mim mesmo? Porque, se veio para isso realmente, pode ir embora... Já estou tão acostumado a ouvir estas coisas que já as gravei.

Um silêncio se fez após Draco falar. Ele se questionou se estaria sozinho novamente, mas então pode ouvir passos se aproximando de si. E então a silhueta de alguém surgiu ao seu lado, se ajoelhando também.

— Não seria má ideia, mas... — Hermione falou encarando os pequenos detalhes do baú — Não vim aqui para isso.

Draco a olhu pela primeira vez. Estava lutando para manter sua respiração estável e sua expressão neutra. Aquele momento ele queria, queria mais do que qualquer coisa ser o que disseram que ele era. Frio, calculista e vazio. Queria mesmo não se importar com as coisas a sua volta, com as pessoas e todo o resto. Queria não estar se sentindo arrasado, cansado e incapaz de fazer qualquer coisa.

— Então o que veio fazer aqui? — Ele perguntou num sussurro. E ela, como estava bem ao seu lado ouviu claramente.

Hermione deu um meio sorriso antes de olhar para Draco. Seus olhos castanhos claros analisavam o rapaz a sua frente. Como se buscasse alguma identificação... Alguma conexão com o passado.

— Eu vim fazer o que você não fez a três anos atrás.

Draco franziu a testa.

— Vim me despedir de você — Ela explicou vendo a confusão em seu rosto.

— Você queria que eu tivesse me despedido de você? — Draco pareceu surpreso.

Ela deu de ombros.

— Sabe — Ela começou a falar — A coisa que mas me irritava em você não era toda a sua arrogância... Na verdade, o que me deixava mesmo irritada era as vezes que você se fazia de desentendido...

Ela fez uma pausa vendo que ele a fitava sem desviar os olhos.

— Você sabia o que eu pensava... — Continuou ela falando baixo — Sabia que... Que eu merecia pelo menos um adeus.

Draco maneou a cabeça negativamente.

— Eu sabia sim... Eu sabia que você no quarto ano estava interessada em Victor Krum, como também sabia que você me achava um idiota... E claro — Draco riu fraco — Sabia claramente que você e o Weasley tinham algo a mais. O que foi claramente comprovado.

Hermione suspirou e quando ia falar algo ele a impediu segurando sua mão.

— E sabe o que mais eu sabia? — Draco perguntou vendo ela negar levemente com a cabeça — Eu sabia que mais uma vez... Eu havia feito a escolha errada. Naquele tempo eu jamais diria para você, mas... Agora... Agora eu não vou negar... Eu realmente estava apaixonado por você, de verdade. E aquilo me deixava louco. Me irritava ao extremo... Porque eu sabia demais... Eu sabia do Krum e sabia do Weasley... E acima de tudo, eu sabia de mim e de você.

Respirando fundo Hermione encarou o chão enquanto sentia Draco soltar sua mão. Ele estava sendo sincero. E ela não iria aguentar mais muito tempo ali ouvindo tudo aquilo. Ele a desconsertava de um jeito que ninguém mais conseguia. E aqueles olhos claros passando por ela, a examinando de forma intensa a deixavam sem muitas palavras.

— Volto para o mundo mágico amanhã. — Foi o que disse após alguns segundos. — Vim apenas para te avisar que vou embora, que não vou mais insistir para que volte comigo.

Ela se levantou deixando Draco encarando o baú mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

TENTAREI postar o próximo capítulo ainda este final de semana. Nada garantido, mas como já disse, vou tirar os dias exatos para as postagens aqui e depois deixo avisado.
Beijos.