De Volta Ao Passado escrita por Anna Evans


Capítulo 7
Capítulo 6 - Mudança de Planos


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos, até que tentei postar esse capítulo ontem, mas nem foi possível. Mas aqui está ele, menor do que os outros, mas ainda assim um capítulo. Espero que gostem!



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Rapidamente Draco se viu de pé. Apressando seu rosto a se virar para que seus olhos pudessem ve-la antes que ela desaparecesse. Para a sua sorte, ela ainda estava lá. Parada de pé olhando a porta de vidro entreaberta para a pequena varanda. O dia estava chegando ao fim naquele céu cinzento.

Draco lentamente tocou em seu ombro, fazendo com que ela o olhasse novamente. Era incrível como ela ainda estava a mesma. E, seus olhos castanhos passeavam pelos olhos dele. Talvez até dizendo muito mais do que qualquer palavra poderia dizer... Mas ele precisava falar, e então, antes de puxar a manga da blusa que vestia Draco suspirou nervoso.

Ele ergueu o antebraço direito de forma que ela pudesse ver o que ele via todos os dias. Uma marca ainda mais clara do que sua pele pálida. Uma cicatriz mediana em seu braço. A cicatriz que ali ficou ao decorrer do tempo em que a marca negra sumia de seu braço.

Hermione olhou da cicatriz para os olhos de Draco. Ele não precisava explicar para que ela entendesse o que era aquilo. Ele não precisava dizer o quanto ver aquilo todos os dias o irritava, pois ele estava quase certo que ela já sabia disso. Apenas pela maneira como ela o encarava agora... Talvez fosse pena e, se realmente fosse ele não se importava.

— As vezes — Draco falou abaixando o braço — Quando eu estou tomando banho, me vestindo ou até mesmo... — Ele deu de ombros balançando a cabeça — Não sei... Quando estou escrevendo. As vezes eu paro... Tiro uns minutos destes momentos para pensar na pequena hipótese de retornar ao mundo mágico, sabe?

Hermione o observava calada.

— Daí, como em um filme... Recebo aquele choque de realidade — Draco continuou dando um sorriso fraco e breve — Tudo isso porque meus olhos, por incrível que pareça, toda vez que penso nisso, meus olhos param nesta cicatriz. E então é engraçado como eu deixo as lembranças boas se dissiparem e daí em diante só lembro das coisas ruins... As coisas terríveis das quais participei lá no mundo mágico.

Hermione passou o peso do corpo de uma perna para outra antes de falar.

— Não deve ter acontecido mais coisas ruins do que boas...

Draco deu um passo a frente, ficando bem próximo de Hermione com a cabeça levemente inclinada por ele ser mais alto.

— Você sabia — Ele sussurrou sério de forma que se o momento fosse outro aquilo soaria como ameaça — Que mandaram eu matar você... Matar você e os seus amigos, com exceção do Potter, é claro, este Voldemort queria para si... Mas não diminui o fato.

Hermione balançou a cabeça prendendo seu olhar naquele par de olhos frios como o mar congelado a sua frente.

— Mas você não matou. — Ela disse quase tão baixo quanto Draco.

— Só não matei porque não tive coragem... Isso não quer di...

Ela o interrompeu.

— Isso quer dizer que você não queria fazer aquilo... Quer dizer que você não queria fazer mal a ninguém... Não daquela forma.

Ele analisou o rosto dela com atenção.

— Isso não vem ao caso — Falou ele por fim — O que eu queria não importava... Apenas o que eu fazia que era importante. E eu fiz muita coisa errada. E... Graças a isso... Hoje eu não consigo sentir mais nada. Não consigo mais desejar algo porque tenho medo que meu desejo se torne uma obsessão. Não consigo produzir um sonho pela noite, porque logo o medo que eu carrego comigo o transforma em pesadelo. Daí então eu tenho medo de viver cem por cento... Porque eu acredito que em algum momento eu vá libertar a maldade que eu sei que ainda tenho em mim.

Hermione desviou o olhar quando percebeu que estava começando a ficar comovida demais com o que ele falava. Deu a volta por trás de Draco e respirou fundo para que pudesse falar sem que a voz falhasse.

— Até o quarto ano em Hogwarts eu tinha uma visão certa sobre você, Malfoy. — Falou voltando a ficar de frente para ele — Um garoto mimado e arrogante que eu desejava que nunca aparecesse na minha frente mais uma vez. Porém... — Hermione estreitou os olhos lembrando — No quarto ano, no baile de inverno essa minha visão mudou. Se lembra daquele dia?

Draco reprimiu os lábios. Era óbvio que ele se recordava. E ele não precisou dizer nenhuma palavra para que Hermione tornasse a falar.

— Na noite do baile enquanto eu descia para encontrar com Krum eu te vi... Sabe... Por mais idiota que parecesse e por mais que eu quisesse afastar aquilo de mim... Eu olhava para você e desejava que você me chamasse para dançar, mas é claro que isso não aconteceu.

Draco riu fraco fechando os olhos por poucos segundos.

— Eu queria te chamar para dançar, mas eu era da Sonserina e você era...

— E eu era apenas uma sangue-ruim da Grifinória.

— Aí é que está... Você não entende, mas eu tinha que honrar o nome da família e...

— Pra que me dar explicações agora? Você nunca se importou com isso.

— Escute — Ele a fitou — Quando eu disse que fiz muita coisa errada te chamar de sangue-ruim também se inclui ao termo.

Draco suspirou puxando a mão dela. Igualando, comparando-a com a dele enquanto elas se mantinham unidas pendida no ar entre os dois.

— Sou exatamente como você — Ele falou olhando para suas mãos — O sangue que corre em nossas veias é diferente sim, porque, eu tenho um sangue amargo. Eu sou um cara amargo. E, você não é nada disso... Na verdade você é completamente o oposto. Me desculpe.

— Você só precisa entender que não é necessário encarar as coisas sozinho. — Ela falou fitando os olhos dele — Sei o quanto deve estar sendo difícil para você, mas é assim que funciona. Enquanto estivermos vivos sempre teremos algo pelo qual lutar, algo que nos faça enlouquecer, perder a razão e até nos arrepender, mas algo que principalmente nos deixa orgulhosos no final.

— Nunca me senti orgulhoso — Draco soltou sua mão.

— Claro que não... — Ela disse chamando sua atenção — Ainda não chegou no final da sua luta. A história ainda não foi concluída.

Draco encarou o chão por um tempo antes de suspirar e voltar a encarar Hermione com as sobrancelhas unidas.

— E... — Ele hesitou — E se eu voltar com você... Se eu voltar para o mundo mágico? Você me promete que essa história será concluída? Que eu chegarei ao fim dessa luta? Que eu sentirei orgulho pelas minhas escolhas?

Hermione encolheu os ombros entristecendo imediatamente.

— Não posso te prometer isso.

Ele sentiu os olhos arderem.

— Então... O que me garante?

Hermione se viu ficando cada vez pior. Ele estava com os olhos brilhando esperando uma resposta que ela não podia dar.

— Nada.

Ele sorriu de forma triste encarando o chão novamente.

Ela ficou parada observando, seguindo Draco com os olhos enquanto o mesmo caminhava de um lado para o outro lenta e desajeitadamente enquanto passava a mão pelos cabelos loiros cuidadosamente cortados.

Por fim, ele parou. Hermione não sabia distinguir se ele havia se jogado no chão por fraqueza ou por vontade própria, mas lá estava ele caído de joelhos de frente para o grande baú de madeira do mesmo jeito que estava quando ela chegara ali.

Draco fixou os olhos na fechadura prateada do baú. Três anos atrás Malcolm Morgan o oferecera para que ele guardasse suas coisas ali. E, Draco fez bom uso daquele baú. Colocou tudo, exatamente tudo que viera com ele do mundo mágico ali dentro. Era como um guardador de lembranças. Draco queria guardá-las, porque... Gostava de acreditar que quando ele morresse, aquelas coisas guardadas ali morreriam junto. E daí o mundo esqueceria dele, e, assim ele ficaria mais aliviado.

— Pensei que jamais fosse querer ou precisar abrir este baú novamente. — Draco falou ainda hipnotizado — Por isso joguei a chave no rio Tâmisa no mesmo dia que tranquei minhas coisas aqui.

Hermione se aproximou confusa.

— Isso quer dizer que você vai...

Draco balançou assentiu com a cabeça para logo em seguida pedir para que ela destrancasse o baú para ele. Ainda em dúvida, ela sentou ao seu lado e o fitou por mais alguns minutos antes de acenar a varinha destrancando aquele baú pela primeira vez em três anos.

Com a mão direita Draco levantou a pesada tampa de madeira rústica do baú. E então, sua mão hesitou pendida no ar por um breve momento, antes que ele a pusesse lá dentro em busca de qualquer coisa. Sentiu sua mão tocar algo maleável e macio. Agarrou com força levantando o braço e deixando então que seus olhos encontrassem em suas mãos suas vestes.

Foi de imediato. A partir do momento que as colocou sobre o colo pode se ver retrocedendo na história, voltando lá atrás no seu primeiro ano em Hogwarts, quando o chapéu seletor muito mal pairou em sua cabeça e já foi gritando Sonserina. Lembrava-se do orgulho e da felicidade naquele momento, mas agora... Daria tudo para voltar até aquele dia e dizer para aquele garotinho inocente de doze anos que um dia, mais tardar, as trevas chegariam e ele faria parte delas.

Hermione que se manteve atenta a qualquer tipo de movimento de Draco apertou sua mão com aflição. Ela não estava gostando nem um pouco de vê-lo daquela maneira. Ele a encarou assim que sentiu sua mão sobre a dele e então suspirou com sua respiração trêmula e descompassada esquecendo as vestes sobre seu colo e pondo mais uma vez a mão dentro do baú.

Erguendo a mão para fora Draco observou o jornal em suas mãos. O Profeta Diário tinha logo na primeira página muitos nomes conhecidos, mas o destaque ia inteiramente para a foto bem no centro. Uma descontraída foto de Dumbledore ajeitando seus óculos de meia-lua enquanto sorria para a foto.

Draco engoliu em seco. A matéria tratava sobre a morte de Dumbledore. Draco se recusou a ler, mas era impossível não se lembrar do dia na torre de astronomia quando tentara matar o diretor de Hogwarts.

— Draco... — Hermione o chamou com preocupação enquanto puxava o jornal de suas mãos — Deixa que eu esvazio isso. Acho que nem mesmo você é obrigado a ver tudo que tem aí. Isso pode levar muito tempo...

Sem dizer mais nada, o rapaz se levantou travadamente. Seguiu em direção a cama e lá se sentou encarando a porta de vidro para a varanda noturna sem uma expressão fixa.

Hermione por sua vez tratou de pegar somente as coisas que julgava serem mais importantes e então fechou o baú mais uma vez e seguiu até Draco.

— Você está bem?

Draco abriu a boca para falar, mas não conseguiu. Não conseguiu ou não sabia como explicar realmente como estava. Então suspirou virando-se para olhar Hermione que mantinha-se de pé a sua frente.

— Acho melhor você ir dormir — Ela falou levemente — Amanhã eu entrego suas coisas daí você me diz o que decidiu... Se vai voltar ou não.

— Não! — Ele se apressou — Eu já me decidi... Eu, eu vou ir... Vou voltar com você, mas eu só preciso... Só preciso de um tempo para digerir tudo isso porque eu... Eu não... — Draco balançou a cabeça, as palavras pareciam fugir dele — Eu não sei como lidar com tudo isso... Eu realmente não sei como ou o que fazer e isso dificulta ainda mais as coisas, entende? Mas eu vou voltar, prometo.

As lágrimas caíam pelo seu rosto com facilidade talvez até imperceptíveis por ele que estava tão fora de si no momento. Mas Hermione via tudo, pior ainda... Ele estava quase transmitindo para ela toda aquela sensação de tristeza e vazio.

Então, quando o abraçou ali naquele momento e sentiu que ele a segurava com força ela chorou junto. Nem mesmo ele merecia tanto sofrimento.

O abraço se prolongou por alguns bons minutos. Draco poderia rir de si mesmo se a situação não fosse tão drástica. Riria de si por ter mudado de ideia... Por ter aceitado voltar ao mundo mágico com Pansy Parkinson e Hermione Granger enquanto carregava Malcolm Morgan, consigo. E, durante aquele abraço, após chorar tudo o que tinha para chorar, ele começou a se questionar, a pensar nas pessoas que conheceu por lá... Se perguntando o que estava acontecendo realmente. Se preocupando. E era este tipo de desconcerto que Hermione Granger causava nele. Ela tinha aquela aura tão simples e boa que as vezes ele por estar em sua presença se sentia menos errado na vida. Daí então pensou em seus pais... Não se despedira de ninguém, muito menos dos próprios pais, agora estavam todos os dois mortos. Não poderia sequer pedir desculpas por qualquer coisa.

Com um leve rangido, a porta do quarto se abriu fazendo com que Draco soltasse Hermione para olhar ao lado. No arco da porta estava Malcolm encostado desajeitadamente com seus olhos vermelhos e uma expressão amarga.

Draco suspirou levantando-se da cama junto de Hermione.

— Ele não bebia assim já tinha um ano — Draco comentou com Hermione.

— Vai saber o que fazer?

— Não — Draco respondeu com a voz rouca enquanto virava-se para ela — Mas ele está no mesmo barco que eu... Vou conversar com ele e... Não sei... Ver como as coisas ficam... Mas pode contar comigo dessa vez. Eu vou mesmo.

Hermione sorriu. O fitou por uns segundos e em seguida se aproximou selando rapidamente os lábios dos dois. E, antes que Draco pudesse reagir de qualquer forma, ela se afastou, e antes que ele dissesse ou sequer pensasse em qualquer coisa, ela aparatou bem na sua frente desaparecendo do quarto.

Apesar de um importuno sorriso querer brincar em seus lábios ele voltou para a realidade quando se deparou com Malcolm o encarando. O homem jogou-se desajeitadamente no chão e lá mesmo ficou sentado.

Draco o observou estendendo a mão para que ele se levantasse.

— Desculpe Malcolm, mas acho que houve uma pequena mudança nos planos... Será que ainda sabe voar em uma vassoura? — Draco perguntou estreitando os olhos.

Malcolm riu de forma engraçada enquanto segurava na mão de Draco para poder levantar.

— É tentando que se descobre garoto! — Ele respondeu com uma voz desengonçada extremamente divertida.

Eles estavam brincando entre si... Mas ainda havia em suas expressões o vestígio da seriedade daquele assunto, mas aquela não era a hora para abordar aquele tema.

— Vou buscar umas coisas lá embaixo... Já tem trinta anos que eu joguei em algum canto por aí, mas eu vou achar!

Draco assentiu vendo Malcolm atravessar o quarto e sumir de seu campo de visão. Então ele se direcionou a varanda. Precisava de bastante tempo para pensar direito em tudo o que havia acontecido nos últimos dias.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, pra semana tentarei trazer o próximo capítulo melhor e maior.
XOXO