O resto da semana havia se arrastado. Draco estava ignorando as ligações de Malcolm, fingindo estar bem na frente de seus amigos, criando forças para comparecer e entender todas as suas aulas e lutando ao máximo para não perder de vez a paciência com Pansy e Hermione que ainda estavam por lá, se infiltrando como falsas alunas, sendo amigas de seus amigos e o pressionando a todo momento para que voltasse ao mundo mágico.

Naquela tarde de Sábado já terminava de arrumar sua mochila. Havia combinado de passar o final de semana com seus amigos por qualquer lugar. Talvez fosse bom para amenizar a preocupação que o estava dominando.

Ainda estava no seu alojamento da universidade. Louis e Elliot também terminavam de arrumar suas coisas. Elliot permanecia na dele o tempo todo enquanto Louis era o único a falar animado.

— Que tal se formos a praia hoje? — Perguntou ele dobrando suas roupas — O mar é bom para acalmar e vocês dois andam muito estressados ultimamente...

Elliot bufou enquanto perdia a paciência e jogava as roupas dentro da mochila de qualquer forma.

Ele e Draco haviam se desentendido. Toda aquela história com Elizabeth o havia deixado irritado, afinal, ele era afim dela e os dois pareciam ter alguma coisa. Draco queria poder dizer a ele que na verdade, naquele dia, Elizabeth não era realmente a Elizabeth e sim Hermione... Mas isso é claro, levariam a muitas questões complicadas, se ele acreditasse na história.

Porém, depois de todo aquele mal entendido parecia que a verdadeira Elizabeth havia se interessado de fato em Draco. O que deixou Elliot enciumado na mesma hora e desde então, toda vez que Elizabeth se sentavam com eles para as refeições, logo que ia embora Elliot sempre jogava seu sarcasmo para Draco e então a briga era inevitável já que paciência era o que estava faltando para os dois nos últimos dias.

— Eu já não tenho tanta certeza se quero mesmo sair este final de semana — Draco se sentou em sua cama — Estou pensando seriamente em falar com Isabelle que não vou mais...

Louis ia protestar, mas a porta do quarto se abriu e logo em seguida ela entrou.

— O que estavam falando de mim? — Isabelle se aproximou arrastando uma mala de viagem executiva.

— Aonde você pensa que vai com essa mala? — Draco quis saber.

— Vamos ficar fora o final de semana — Ela deu de ombros — Como não decidimos para onde vamos ainda resolvi por todo tipo de roupa aqui na mala.

— Era sobre isso que eu queria falar com você — Draco chamou a atenção de Isabelle — Eu não vou m...

Draco parou de falar ao ver Pansy entrar no quarto seguida de Hermione. As duas pararam bem atrás de Isabelle.

— Ah! — Exclamou — Aí estão vocês... Pensei que não iriam mais.

— O que elas estão fazendo aqui, Isabelle? — Draco a encarou como se aquilo fosse uma piada.

Pansy revirou os olhos indo se sentar numa cadeira próxima a porta.

— Bom dia para você também, Malfoy!

Louis passou a mão pelos cabelos escuros com uma careta.

— Não sabia que vocês dois se conheciam.

Draco olhou para ele arqueando uma sobrancelha.

— Sabe, eu e a Pansy estamos... — Ele ficou vermelho — Estamos saindo juntos... Você sabe.

Draco riu sem vontade.

— Eu não acredito nisso... — Draco balançou a cabeça parando em Hermione... Ela ainda estava ao lado de Isabelle — E você?

— Isabelle me convidou — Hermione deu de ombros como se não fosse nada demais.

Draco suspirou.

— Certo, certo — Isabelle falou apressada — Termina de dizer o que estava falando, Draco... Daí vamos logo ao que interessa...

Elliot riu fechando a mochila com certa dificuldade.

— Ele estava prestes a dizer que não ir...

— Só queria deixar claro que eu não vou ficar tomando conta de Elliot desta vez... — Draco olhou para ele que o encarava confuso — Se ele se embebedar de novo vai ficar na rua.

Isabelle caminhou até Louis pegando seu celular.

— Acho digno — Foi tudo o que respondeu para Draco. — Meninas, vão mesmo?

Pansy se levantou com um sorriso sínico no rosto.

— Eu não perderia esse passeio por nada, pode ter certeza.

Isabelle sorriu satisfeita enquanto Draco pegava a mochila irritado. Em seguida Isabelle chamou Elliot e Louis para decidirem pelo sistema de GPS onde iriam primeiro, Pansy os acompanhou.

— Pensei que você não fosse querer ir — Hermione falou de frente para Draco.

— Então me conhece melhor do que pensei.

— Por que mudou de ideia? — Hermione estreitou os olhos enquanto ele se levantava e ficava mais alto que a mesma — Isso tudo é medo de me deixar a sós com os seus amigos?

— Ah, não tenha duvidas — Ele respondeu baixo.

— Ok! Vamos logo! — Isabelle voltou-se para Draco e Hermione — Vamos visitar o Museu Madame Tussauds.

— Ainda acho perca de tempo... — Elliot suspirou abrindo a porta — Aquelas estátuas são estranhas...

— Mas você chama de estranhas porque já as viu — Protestou Louis já com a mochila nas costas — Eu nunca fui lá...

No final de tudo haviam se resolvido e não iriam mais ao museu, preferiram ir ao aquário que ficava próximo a roda gigante London Eye e o Rio Tâmisa.

Durante todo o percurso até a estação de trem Isabelle e Elliot ficaram discutindo sobre as diversidades de peixes no aquário enquanto Pansy se viu presa entre os braços de Louis. Havia feito uma escolha ruim e Draco achava as consequências merecidas. Já por outro lado, Hermione permaneceu ao seu lado o tempo inteiro enquanto eles andavam mais atrás.

— Não pode contar nada a eles — Draco falou prestando atenção na rua.

— E por que não? — Hermione perguntou indiferente.

Draco suspirou pondo as mãos nos bolsos da calça.

— Não sente vontade de voltar? — Perguntou Hermione o olhando pacientemente.

Draco deu de ombros.

— As vezes... — Respondeu — As vezes isso passa pela minha cabeça, mas logo se dissipa... Não devo voltar.

— Eu realmente não te entendo — Hermione balançou a cabeça.

— Claro que não entende — Draco parou encarando Hermione — Você, ao contrário de mim tem uma fama muito boa no mundo mágico, tenho certeza... E, sabe porque? Porque você fez escolhas certas, foi uma boa pessoa... Acredito que ainda seja.

Hermione o observou.

— Agora quanto a mim — Draco continuou — Só de pensar em voltar a dor retorna... Aquele mal estar no peito esquerdo e aquela leve dor de cabeça. Sei que você também viu coisas terríveis naquele tempo... Mas nada chega aos pés do que eu vi durante o tempo em que fui um comensal da morte... Sabe, essas lembranças me invadem toda vez que penso em voltar... Daí eu torno a lembrar de quem eu fui... E a vontade some por completo.

Draco fechou os olhos com força antes de voltar a andar. Hermione o acompanhou.

— E por que você insiste em lembrar apenas das coisas ruins? — Ela quis saber — E quanto aos bons momentos?

Draco sorriu fraco encarando o chão pelo qual passava.

— Não pense que esqueci destes momentos... Mas acredite... Quando você vive em um pesadelo é quase impossível reparar nas coisas boas que estão em meio ao caos a sua volta. Os meus bons momentos se encontram ocultos... Debaixo de tudo aquilo que me dominou e me pôs para baixo...

— É uma pena — hermione disse sincera e Draco sorriu.

— Mas... — Draco falou — O que está acontecendo por lá de tão importante que te trouxe até meu encontro?

Hermione soltou um suspiro trêmulo, pareceu incomodada só de pensar.

— O mundo mágico está devastado mais uma vez...

— Isso eu sei, mas o que...

— Vingança — Ela disse simplesmente.

Draco olhou para frente vendo seus amigos juntos de Pansy.

— Mas é claro — Hermione acentuou a voz — Também vim por sua causa.

Draco a encarou surpreso.

— Não pensei que logo você fosse embora daquele jeito — Ela continuou.

— E me ver derrotado desta forma te deixa feliz, não é mesmo? — Draco perguntou querendo entender.

— Claro que não — Ela respondeu ofendida.

— Eu sei que sim — Draco olhou rapidamente para ela — Eu tive o que merecia... Mas agora eu procuro lutar por algo maior...

— E o que seria?

— Uma vida — Draco falou dando de ombros como se aquilo fosse óbvio — Uma vida diferente... Quero dizer, estas pessoas — Draco apontou com o queixo para Elliot, Isabelle e Louis — Eles me ajudaram a esquecer o passado, me ajudaram a amenizar a dor e a entender coisas das quais nunca havia feito questão sequer de notar. A três anos atrás eu poderia estar lá em Hogwarts desprezando o mundo trouxa... Desprezando os nascidos trouxas como você... Sendo ignorante com tudo e com todos simplesmente por medo... Mas... Aqui, vivendo em torno de tudo que um dia eu desprezei eu me reencontrei... Eu renasci.

Hermione o escutou com calma. Até aquele momento ela talvez ainda esperasse ver o Draco de Hogwarts, mas agora ela notara o quanto havia sido injusta em não ter visto antes o quanto ele havia mudado... Era evidente em sua voz a intensidade da sinceridade que ele usava para falar sobre tudo aquilo. Era uma boa mudança, mas que também poderia trazer resultados ruins... Ainda não entendia ao certo.

Pansy assim que teve a chance se separou de Louis e voltou caminhando na direção dos dois.

— Já não aguento mais esse lugar — Falou ela com a cara fechada — Quando é que você vai voltar com a gente?

Draco suspirou.

— Nunca — Foi tudo o que respondeu — Se fosse você já teria ido embora... Está perdendo seu tempo correndo atrás de mim.

Draco seguiu caminhando mais rápido, mas Pansy o puxou pela blusa.

— Escuta aqui, Malfoy! — Ela fez com que ele a olhasse — Isso aqui não é um joguinho idiota! Eu não pretendo parar em Azkaban por causa dos seus medos, entendeu?

Pansy o empurrou irritada e ele uniu as sobrancelhas confuso olhando dela para Hermione.

— Azkaban? — Ele perguntou baixo — O que é que vocês estão escondendo tanto?

Hermione o encarou séria parada ao lado de Pansy que ainda estava visivelmente irritada.

— Não estamos brincando com você... As coisas realmente estão indo de mal a pior a cada dia... E continuará assim se você não voltar com a gente.

Hermione passou por Draco na calçada e Pansy ficou de frente a ele.

— Eu não duvido de você quando me diz que está diferente — Ela falou suspirando — Apenas acho que mudou demais... Trocou o velho pelo novo.

— O que você está dizendo?

— Lá em Hogwarts você também tinha amigos, Draco — Ela respondeu — Claro, cada amizade tem sua forma e intensidade, mas continua sendo uma amizade independente dos fatos... Porém, você se esqueceu dessa parte, não é mesmo? Se esqueceu de mim, de Crabbe e Goy...

— Cala a boca! — Draco gritou — Para de jogar tudo em cima de mim! Você sabe que eu nunca tive a intenção de...

— Mas foi o que você fez! — Ela rebateu.

Quando as pessoas começaram a olhar para os dois Draco procurou seus amigos... Por sorte eles não tinham escutado.

Pansy balançou a cabeça e em seguida seguiu até Hermione que já estava ao lado de Isabelle.

Draco fechou as mãos em punhos com força tentando se controlar e então seguiu ao encontro dos outros.

Estavam os seis agora adentrando a cabine do trem. Draco se sentou ao lado da janela se sentindo completamente desconfortável em dividir a cabine com eles. Era como se ali ele ficasse transparente para que todos pudessem enxergar o que se passava em sua cabeça.

Daí então se viu preocupado... Curioso com o que realmente acontecia no mundo mágico agora. Ainda mais preocupado com seus amigos já que estavam todos juntos, Pansy ou Hermione poderiam contar-lhes sobre tudo a qualquer momento... E daí o que ele faria?

Sentando ao seu lado Hermione riu baixo.

— O que foi?

Draco observou Elliot fechar a cabine e se sentar ao lado de Hermione.

— Eu odiava encontrar você no expresso para Hogwarts — Respondeu baixo para que só Draco ouvisse — Agora estou sentada na mesma cabine e bem ao seu lado... É tudo uma grande irônia.

Draco deu um meio sorriso achando graça daquele pequeno fato também. Ele e Hermione estavam longe de serem amigos. Ele quando mais novo realmente era um tanto irritante, mas isso não quer dizer que ela e seus amigos não o tirassem do sério também.

— É — Ele suspirou olhando para ela ao seu lado — Quem diria que eu veria você novamente.

Hermione pareceu surpresa.

— Então você queria me ver?

Draco ficou sério... Que tipo de pergunta era aquela? Mas vendo a confusão em seus olhos ele ignorou. Ela realmente estava mais bonita do que a última vez que a vira em Hogwarts. Ronald Weasley deveria ficar se gabando o tempo inteiro pelo fato dela ama-lo.

Sem querer responder a pergunta Draco sorriu torto e virou-se para encarar a janela novamente. E então lá estava o Draco Malfoy que Hermione conhecera... Ele sempre fora misterioso quanto a seus pensamentos. Hermione sempre vira aquilo como um charme pessoal, mas agora estava lhe afetando mais do que achava que fosse possível. Se sentiu grata por ele ter virado para o outro lado.

— Foi um belo soco aquele — Draco falou ainda virado para a janela.

— Do que está falando? — Hermione perguntou rápido demais.

Draco riu balançando a cabeça e então voltou a olha-la. Seus olhos claros pareciam se divertir com o que viam.

— Nada — Falou ele — Estava apenas me lembrando do nosso terceiro ano, quando você me acertou.

— Ah, você ficou apavorado, como poderia me esquecer? — Ela riu.

— Não fiquei tanto... — Protestou Draco.

Ela deu de ombros.

— Me senti bem melhor após aquilo... Acho que só não te bati outra vez por causa dos seus olhos.

Draco parou de sorrir inclinando levemente uma sobrancelha.

— Como assim?

— Tenho que admitir que sempre gostei deles — Ela deu de ombros.

Draco riu sendo atrapalhado por Isabelle.

— Olha só! Você rindo? Pensei que não faria isso nunca mais.

Draco balançou a cabeça. Isabelle... Exagerada como sempre.

— Ah, aposto que vocês já se conhecem a um bom tempo, não é? — Louis perguntou com o braço em torno de Pansy que odiava cada segundo dentro daquele trem. — Quer dizer... Vocês já tiveram alguma coisa tipo...

— Não — Draco se apressou em dizer começando a ficar incomodado.

— Ah, mas eu posso ver... — Isabelle comentou.

— Ah claro... — Draco suspirou desanimado — E o que você vê Isabelle?

— Eu posso ver como você olha para ela!

Draco cruzou os braços e voltou a olhar a janela.

— Vocês se conhecem a um bom tempo, não é? — Elliot perguntou ao lado de Hermione — Podem contar... Isso aqui está um tédio só... Talvez a história seja interessante.

Draco gelou.

— Ah — Pansy sorriu animada — Chegamos numa parte interessante! Vamos lá, Hermione! Conte como conheceu o Draco... Aposto que é uma história mágica.

Draco encarou Pansy como se quisesse a jogar para fora do trem ali mesmo. Ela adorava situações como aquela.

— Acho que quem deveria contar é o Draco — Hermione respondeu um tanto desconfortável.

Draco viu todos o olhando esperando alguma resposta. Estava tão irritado com Pansy que o olhava com seu sorriso cínico que não pensara em nada para dizer.

— Nos conhecemos em um trem quando tínhamos onze anos.

— Nossa — Louis riu — Então vocês se conhecem a bastante tempo... Agora você está quase com vinte e um.

— E para onde estava indo o trem? — Parkinson jogou lenha na fogueira.

Draco olhou para Pansy trincando os dentes, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa Hermione tomou sua frente fazendo com que seu coração parasse por alguns segundos.

— Estávamos indo para o mesmo lugar — Falou ela — Foi a primeira vez que visitamos o BigBen...

Sentindo os ombros relaxarem Draco olhou para Hermione... Aquela fora a chance dela dizer toda a verdade, mas ela não o fez.

— Ué... — Elliot arfou — Pensei que você tivesse dito que nunca tinha visitado o BigBen Draco...

Draco olhou para Elliot... Ele estava certo.

— É... Eu tinha me esquecido... Já faz tanto tempo...

— Bom, vamos indo — Isabelle se levantou — Estamos chegando.

Pansy se levantou em seguida, apesar de estar mais surpresa do que Draco quanto a atitude de Hermione ela se encontrava extremamente irritada.

Após todos saírem da cabine Draco puxou Hermione antes que ela saísse do trem.

— Não sei porque fez aquilo — Ele falou — Mas obrigado.

Ela olhou para a mão dele em seu braço e suspirou.

— Aquela não era a hora certa... — Falou ela — Mas não pense que desisti, muito pelo contrário.

Ela se soltou dele.

— Também sei tomar as rédeas, Granger — Draco falou — Só porque eu mudei não quer dizer que troquei de personalidade.

Ele desceu na frente dela.

Estavam os seis reunidos na fila para o aquário enquanto separavam o dinheiro de entrada de cada um. Pansy olhava tudo com repugnância.

— Que estranho...

— O que? — Louis perguntou a ela — Com as notas em mãos.

— Nada.

— Bom, fique tranquila que eu vou pagar a sua entrada. — Ele piscou para ela. Pansy sorriu contra sua vontade.

— Isabelle, não vou entrar com vocês... Já visitei o aquário várias vezes e pretendo fazer outra coisa com meu dinheiro — Falou Draco enquanto se mantinha ao lado dela na fila.

Ela estava prestes a discutir com ele quando Hermione se aproximou dos dois.

— Eu vou ficar com ele... Também já estive aqui diversas vezes...

Isabelle olhou de Draco para Hermione então sorriu.

— Entendi — Disse lentamente fazendo com que Draco revirasse os olhos.

— Eu acho que vou ficar com vocês — Pansy disse por fim ao lado de Louis.

— Ah não! — Louis a segurou — Você vai ficar comigo.

Hermione pareceu completamente satisfeita com o desespero de Pansy. Por um breve momento Draco se questionou se seria bom deixa-la com seus amigos... Mas tinha quase certeza de que ela não diria nada, então se despediu deles e seguiu pelas ruas com Hermione o seguindo.

Após alguns minutos andando em silêncio Draco perguntou:

— O que quer falar? Sei que me acompanhou para me contar algo...

Hermione suspirou diminuindo os passos para encarar Draco. Ela pôs as mãos no bolso do sobretudo e puxou um pergaminho.

— Isso é para você... — Ela disse estendendo-o para ele.

Draco a olhou sério antes de pegar o pergaminho. Assim que seus olhos bateram na caligrafia desenhada ali ele abaixou o bilhete e tornou a encarar Hermione com uma expressão desconcertada.

— Quando ela soube que eu viria atrás de você — Hermione falou — Pediu para que eu lhe entregasse isto.

— E meu pai? — Draco perguntou começando a se esvair de seu corpo.

Hermione começava a se sentir mal pela reação do rapaz a sua frente.

— Apenas leia...

Draco suspirou trêmulo voltando-se para o pergaminho.

Querido Draco, não sei como ou onde está, espero que esteja bem e rodeado por pessoas tão maravilhosas quanto você. Escrevo para você para lhe pedir desculpas, jamais quis que as coisas terminassem de tal forma. Jamais quis a separação de nossa família, na verdade, era pela união dela que eu fiz tudo o que fiz. Errei nisso e peço desculpas por tê-lo envolvido numa história tão ruim que não lhe pertencia, meu amor.

As coisas mudaram drásticamente durante esses três anos. E eu queria lhe dizer que a sua dor eu sinto também. Desde o dia em que o perdi de meus braços, meu filho. Sei como deve estar sendo difícil para você, pois assim está sendo para mim também.

Nesses últimos dias pude ouvir muitos comentários em relação a você e confesso estar realmente surpresa, infeliz com toda a situação, mas no fundo muito bem por saber que você esteja tendo uma segunda chance, pois você merece. Mas quero que também fique claro que agora você sendo o homem que deverá tomar suas próprias decisões, sei que fará o que achar certo, confio em você.

Acredito que estas palavras sejam nossa despedida, então peço a você que me perdoe por tudo. Pelos caminhos que o fiz seguir, pela vida que lhe proporcionei... Peço que não deixe de sentir raiva de mim. Eu mereço sua raiva, apenas quero que compreenda que eu te amo e que se pudesse lutaria ao seu lado até o fim, mas as vezes alguns fins chegam antes e outros depois.

Se cuide, estarei o observando de uma forma distante, porém melhor.

Com amor,

Narcisa Malfoy.

Draco sentiu sua visão embaçar pelas lágrimas. Sua respiração estava descompassada, as mãos trêmulas e as pernas fracas. Ainda encarava o bilhete de sua mãe querendo lê-lo mais uma vez, mas não encontrava forças para isso.

— Sinto muito — Hermione falou baixo tocando seu ombro com delicadeza — Eu não consegui falar com seu pai antes de...

— Onde minha mãe está agora? — Draco perguntou com a voz falhando.

Hermione se sentia cada vez pior. Não queria ser ela a pessoa a enche-lo de notícias ruins.

— Ela... Ela está morta Draco.

Draco levantou a cabeça para encara-la. As lágrimas descendo por seu rosto contra sua vontade.

— E o meu pai? — Ele perguntou mesmo sem querer saber a resposta.

Hermione não sabia o que falar...

— Ele recebeu o beijo do dementador — Falou por fim.

Draco amassou o pergaminho com uma mão e a outra repousou sobre seus cabelos loiros enquanto se sentia completamente desnorteado. Andou de um lado para o outro sem saber o que fazer.

— As coisas estão acontecendo de uma vez... — Hermione parou atrás dele — Por isso precisamos que volte... Precisamos estar juntos para trazer a paz novamente.

— Eles morreram por minha culpa — Draco virou-se para Hermione completamente perturbado.

Hermione uniu as sobrancelhas se sentindo mal.

— Sabe que não foi culpa sua.

— Eu os abandonei... Eu afastei todos de mim... Mas era porque... Eu estava com medo... Estava com tanto medo... — Ele passou a mão pelo rosto.

— Agora não é o melhor momento para discutirmos isso...

— Porque mataram ela? — Draco perguntou ainda chorando — Ela nunca quis fazer mal a ninguém... Ela...

Draco se apoiou na parede de um edifício.

— Draco — Hermione foi até ele segurando seu rosto para que os dois pudessem se olhar — Pare de se culpar... A morte deles não foi sua culpa...

— Você não entende — Ele quase não conseguia falar — Não entende como dói saber a verdade...

Hermione suspirou o abraçando enquanto ele chorava. Apesar de não ter nada relacionado a ele Hermione se sentia tão mal quanto Draco só de vê-lo naquele estado. Odiava dar notícias ruins... Mas não havia outro jeito.

Ele a abraçou de volta e ela se sentiu aliviada por ele não querer fugir como faria a alguns anos atrás.

Ficaram ali por um bom tempo até Draco se recompor um pouco. Não poderia transparecer na frente de seus amigos, logo eles estariam de volta. Porém, quem apareceu ali Draco não esperava.

Draco se afastou de Hermione e encarou o homem a sua frente.

— Malcolm? O que faz aqui?

Malcolm o olhou... Ele geralmente o dava um sorriso aberto e soltava uma básica piada sobre algo... Mas desta vez Malcolm tinha os olhos azuis tão vazios quanto sua expressão.

— Estava te procurando — Falou rouco com sua voz grave.

Draco estreitou os olhos.

— Você está bem? Aconteceu algum...

Malcolm o interrompeu.

— Eu fui chamado — Ele falou erguendo as sobrancelhas como se nem mesmo ele acreditasse no que falava.

Draco permaneceu sustentando o olhar de forma confusa.

— Fui chamado para retornar a Hogwarts... — Ele explicou quase sem forças.

Draco arregalou os olhos descrente.

— Mas... — Draco procurou as palavras certas já que havia tanta coisa embaralhada em sua mente — Você foi banido do mundo mágico como... Como sabia que eu estava aqui?

Malcolm olhou para Hermione e Draco se permitiu soltar um longo suspiro.

— Estou tão surpreso quanto você, garoto. — Malcolm falou observando a movimentação na rua sem grande interesse. — Já faz trinta anos que não piso meus pés lá... Eles realmente me baniram.

Draco olhou Malcolm e em seguida parou em Hermione.

— Porque não me conta a história completa de uma vez por todas?

— Não tenho permissão... Desculpe — Ela pediu.

— Me disseram que eu deveria voltar urgentemente — Malcolm voltou a falar — Disseram que uma nova varinha estaria a minha espera quando eu chegasse ao castelo.

— Só isso?

O rosto de Malcolm se tornou sombrio.

— Na carta dizia que você deveria retornar comigo... — Falou.

— Você sabe porque não quero voltar lá! — Draco falou alterado — Eu já te contei toda a história...

— Eu sei garoto, eu sei... Mas desta vez não temos escolhas.

— Como assim? — Draco arqueou uma sobrancelha.

— As consequências finais serão jogadas para todos os lados — Hermione explicou — Tanto para o mundo mágico quanto para o mundo trouxa... Ou vocês retornam para lá e lutam em uma guerra a procura da vitória ou além do mundo mágico ser destruído... Este aqui será devastado... Não se sabe ao certo qual fim levará os dois mundos... Mas nada de bom virá...

Draco tentou absorver tudo.

— Não posso voltar... Não consigo — Disse baixo.

— Lembre-se do que dizia a carta que sua mãe o escreveu — Forçou Hermione — Narcisa disse que você estava tendo uma segunda chance...

— E o que isso quer dizer?

— Sabe garoto.... — Malcolm pegou o ombro de Draco — Se passaram trinta anos desde que coisas terríveis me aconteceram em Hogwarts... Trinta anos e eu ainda não me esqueci... Não me esqueci dos olhares de ódio que recebi. Trinta anos e eu não esqueci do sangue escorrendo entre minhas mãos...

Draco olhou para Malcolm com tristeza...

— Mas eu pensei que você tivesse esquecido que... — Draco o encarou.

— Eu fui tolo ao pensar que esqueceria... Mais tolo ainda ao permitir que você fizesse o mesmo — Malcolm falou — Sabe, existem coisas que perdoamos, mas que não esquecemos... Sim, eu me perdoei pelo que eu fiz... Mas eu não consigo... É impossível esquecer.

Draco encarou o chão.

— Essa segunda chance a qual Narcisa se refere é justamente é a chance que você tem de se afastar destes pensamentos sombrios, é a sua chance de se perdoar. A chance para que você enfrente tudo e todos que te assombram e por fim não tenha mais medo deles... Talvez devessemos ir e...

— Eu não sei — Draco falou.

— Vocês ainda tem três dias para se decidirem. — Hermione falou por fim apontando para o outro lado da rua. Os amigos de Draco já saiam do aquário.

— Direi a eles que você estava se sentindo mal e foi para casa... Depois ligue para eles. Vocês dois precisam conversar.

Hermione seguiu em direção aos seus amigos e então Draco se voltou para Malcolm que já o encarava.

— Quando nos encontramos pela primeira vez — Draco falou — Você me disse que haviam perguntas que jamais deveriam ser feitas...

Malcolm esperou.

— Concordo com você... — Draco continuou — Algumas perguntas não devem ser feitas, simplesmente porque nem precisam ser perguntadas para serem respondidas... Então acho melhor você começar a me contar o que aconteceu de tão grave que o fez ser banido do mundo mágico.

Malcolm soltou um longo suspiro.