De Volta Ao Passado escrita por Anna Evans


Capítulo 3
Capítulo 3 - Identidades Roubadas - Parte 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521168/chapter/3

Após ler o pergaminho Draco o jogou dentro da caixa assim como o pote de tinta que agora se encontrava vazio, a fechou e a segurou com firmeza. Não estava triste. Estava surpreso e irritado. Pansy fora direta em sua mensagem, cruel em algumas questões, mas fora direta.

Draco voltou para o pátio principal do campus. Eram umas sete da noite. Alguns estudantes já haviam terminado todas as suas aulas do dia e agora passeavam pelo campus. Pela a extensão do gramado, Draco pôde ver Elliot e Elizabeth abraçados próximos ao arco de entrada para os prédios principais. Ele não podia ter deixado de reparar o quanto ela estava estivera estranha aquele dia. Sempre ficara contente, sorrindo a toa na presença de Elliot, mas agora... Parecia desconfortável e, mesmo tão longe... Ela o olhava. Draco não entendia esse interesse repentino que ela adquirira em relação a ele.

Desviando o olhar, Draco continuou caminhando pelo pátio. Pensando no que acabara de ler. Tentando se acalmar... Mas isso era quase impossível, seja qual fosse a direção em que olhasse, via rostos estranhos, rostos conhecidos, porém, não avistava nenhuma pessoa que fosse como ele... Não encontrava ninguém que fosse capaz de fazer o que ele sabia fazer de olhos fechados. E, por fim, não via ninguém que fosse melhor do que ele. E, isso o deixava irritado pois dava a Pansy Parkinson, com suas duras palavras, toda a razão.

Ninguém ali tinha noção do impacto que seu sobrenome gerava, do medo, da aflição. Ninguém ali era capaz de imaginar de onde ele viera, o que ele havia visto, o que ele havia feito. E, mais uma vez... Pansy estava certa, e isso o deixou ainda com mais raiva. Ela estava certa em dizer que ninguém muda de repente.... Por mais que ele tivesse mudado, que pensasse e agisse de formas diferentes em diversas situações... Ele ainda era o mesmo. Ele ainda era Draco Malfoy, um ex-comensál da morte. Ainda era Draco Malfoy, o garoto solitário que fizera tantas escolhas erradas.

Sentou-se num banco de ferro vazio no centro do pátio, e, como da primeira vez que chegara ao mundo trouxa, naquela noite pavorosa três anos atrás, ele se viu encarando pessoas simples, vivendo satisfeitas naquele mundo simples. Sua cabeça latejava com todo aquele dia estressante. Foi então, naquela de ficar olhando tudo a sua volta que Draco parou os olhos naquele pequeno objeto jogado no meio do gramado.

E, como se não houvesse nada melhor para fazer, como se o objeto o chamasse, Draco levantou-se do banco e seguiu até ele que reluziu algumas vezes diante da luz dos postes externos. Agachando-se para pegá-lo Draco apreciou claramente a pequena garrafa de vidro. A segurou com firmeza nas mãos... Era um tanto pesada e robusta, mas ainda assim pequena.

Caminhou com ela sem rumo, segurando-a na mão direita e a caixa vermelha entre o braço esquerdo e as costelas. A examinou bem de perto enquanto seguia até o lixo para despejá-la, mas foi aí que algo o impediu. A garrafa estava vazia, mas agora ele tinha certeza que fora esvaziada a pouco tempo... Ainda tinha um cheiro forte vindo dela... Um cheiro forte extremamente familiar.

Sentiu uma mão passar por seu ombro e imediatamente escondeu a garrafa nas costas enquanto se virava para trás. Não deveria ter escondido e... Talvez, se ele tivesse encontrado aquela garrafa antes de ter lido a mensagem de Pansy, talvez ele não tivesse a escondido em seu bolso. E, mais uma vez a raiva lhe subiu a cabeça, pois mais uma vez, Pansy Parkinson estava certa ao dizer que ele não tinha o sangue tão puro quanto antes... Durante esses três anos ele não só travou uma batalha contra si próprio para esquecer seu passado como também bloqueou certos conhecimentos relacionados ao mundo mágico.

Se aquela garrafa significasse o que ele estava pensando... Ele fizera o trabalho muito bem. Pois sequer notara as coisas acontecendo diante de seus próprios olhos. Ele teria percebido imediatamente se ainda fosse o mesmo... Mas ele não era. Estava tão humano e tão normalizado que sequer notara o óbvio.

Assim que se virou encontrou Isabelle. Ela estava com as bochechas rosadas e a respiração ofegante.

— O que andou aprontando senhorita Cooper? — Draco arqueou uma sobrancelha para a amiga.

Ela revirou os olhos ao ouvir seu sobrenome.

— Nunca corri tanto — Falou pausadamente. — Sabe, eu sem querer...

Draco reprimiu um sorriso enquanto olhava para ela com as sobrancelhas unidas.

— Ok! Não foi sem querer... — Revelou — Eu quebrei aquela prateleira de perfumes importados do Tyler.

— Tyler Foster? O que estava fazendo no quarto dele essa hora?

— Isso não é da sua conta senhor “quero saber tudo”.

Draco balançou a cabeça após um suspiro e se viu encarando Elliot e Elizabeth novamente... Ainda estavam do outro lado, no mesmo lugar. Em seu breve momento de distração Isabelle pareceu notar a garrafa nas mãos de Draco e a puxou.

— Ah! — Ela esbravejou — Então quer dizer que o senhor anda afogando as mágoas na bebida? O que é? Vodka?

Isabelle aproximou a garrafa do nariz, mas logo a afastou com uma careta no rosto.

— Me devolve isso! — Draco tomou a garrafa.

— Nossa! Isso é forte! Cuidado para não ficar alucinado pelo campus... Se te pegam com isso...

— Isso não é bebida alcoólica, Isabelle! — Draco a interrompeu ao dizer.

— Então o que é?

Draco deu de ombros.

— Encontrei no chão.

— Geralmente pegamos escondidos os óculos 3D do cinema, os doces das festas de criança... Mas uma garrafa vazia? Que estava com sabe-se lá o que dentro? Por favor, Malfoy!

Draco revirou os olhos.

— Já terminou?

Isabelle sorriu e olhou mais a frente, na direção de Elliot.

— Elizabeth não perde tempo, não é mesmo?

— Como assim?

— Ela estava comigo lá no quarto do Tyler a uns dez minutos atrás e...

Draco franziu a testa.

— Não...

Isabelle o encarou com as sobrancelhas erguidas.

— Sim, ela estava lá! Não falava coisa com coisa... Algo sobre ter ficado trancada na sala de limpeza. Aposto que fez isso para se passar por vitima porque logo em seguida começou a dar em cima do Tyler! Acredite, conheço uma vadia quando vejo uma... E ela é!

— Isso é impossível — Falou Draco olhando para Elizabeth e Elliot.

— Ela ser uma vadia?

— Não Isabelle! — Draco a olhou — Ela estava comigo no estacionamento...

— Ela deu em cima de você também? — A garota apressou-se em perguntar.

Draco passou a mão pelos cabelos e encarou Isabelle sem muita paciência.

— Estou tentando dizer que seria impossível ela estar lá com vocês, se ela estava comigo no estacionamento.

Isabelle estreitou os olhos e encarou Isabelle do outro lado do pátio conversando com Elliot.

— Sei lá... Não gosto dela — Comentou — E você, como amigo do Elliot deveria abrir os olhos dele! Ela está usando aquele idiota, tenho quase certeza... Agora deixa eu ir dormir, tenho que acordar cedo amanhã, me preparar para os exames deste semestre que já estão chegando. Boa noite.

Dando um tapinha de leve no ombro de Draco Isabelle partiu.

Do outro lado do pátio, Elliot e Elizabeth pareciam se despedir... Mas pela expressão de Elliot algo não havia saído como planejado e ele seguira emburrado pelo campus, provavelmente para o quarto. Enquanto Elizabeth Draco a viu próxima a uma árvore enquanto ela seguia para o pátio dos alojamentos femininos... Ela estava o examinando antes de desaparecer de seu campo de visão.

Sem sono... Draco resolveu dar uma volta e pensar em tudo que havia feito naquele dia nada produtivo. A cabeça ainda doía levemente quando ele entrou no quarto ás onze da noite. Louis não estava por lá e Elliot já dormia.

Draco se sentou na cadeira de frente para a escrivaninha e pôs com cuidado a pequena garrafa ali de forma que ele pudesse analisá-la. E, ali mesmo, enfim pegou no sono.

De início, apenas se via a escuridão a sua frente. Um vazio neutro sem fim. De repente, bem acima pôde ver um pergaminho cair lentamente entre o espaço... Pairando por fim em uma reta amarronzada... Uma mesa antiga. Mais além... Surgindo aos poucos, uma garota aparece com vestes escuras com mínimas partes em verde. Pansy Parkinson encarava entristecida o pedaço de pergaminho repousado na mesa enquanto segurava uma pluma nas mãos, provavelmente pensando no que escrever.

Aleatoriamente, o ambiente frio das masmorras se materializou no campo vazio e escuro. E então podia-se notar pessoas como Blás Zabine e Dafne Greengrass perambulando pela tão conhecida sala comunal da Sonserina. Porém, o que chamava mais atenção naquela cena era Harry Potter e Ronald Weasley, ambos desconfortáveis sendo observados por Vicent Crabbe e Gregory Goyle que tinham sorrisos vitoriosos em seus rostos. Ao menos ali, naquela representação obscurecida do passado Goyle ainda estava vivo.

Com um sorriso zombeteiro Crabbe levantou a mão exibindo um pequeno frasco de vidro que acabara de tomar das mãos de Harry. A cor dos cabelos de Ronald Weasley se intensificaram e a cicatriz, antes desaparecida, surgiu lentamente na testa de Harry Potter. E então era óbvio o que estava pela metade no frasco nas mãos de Crabbe: A poção polissuco.

Foi aí que tudo se agitou. Harry apontou sua varinha lançando o feitiço incendio contra a cortina comprida da sala comunal que imediatamente tratou de ficar em chamas. No susto, Pansy esbarrara no pote de tinta ao seu lado, derramando tudo sobre o pergaminho que ainda sequer havia usado. Blásio e Dafne saíram correndo atrás de Harry e Ronald juntos de Pansy e Crabbe, porém Goyle, mais uma vez ficou para trás e acabou por morrer da mesma forma trágica.

Abrindo os olhos assustado, Draco levantou a cabeça num impulso. Havia dormido sobre a escrivaninha. Olhou ao redor e viu Elliot e Louis dormindo. Levantou-se e seguiu para o banheiro, onde tomou um banho frio para afastar-se daquele pesadelo. Após se vestir olhou para o pequeno relógio no alto da parede. Eram seis e vinte da manhã, sua primeira aula ocorreria só ás oito. Na dúvida do que fazer se viu encarando a pequena garrafa de vidro na escrivaninha.

Ele a pegou encarando-a fascinado... Havia tempos em que ele sequer chegara perto de algo relacionado ao mundo mágico. Porém, o que lhe intrigava era o fato de alguém que não deveria estar ali ter usado aquela poção polissuco. Alguém o estava observando sabe-se lá a quanto tempo e ele tinha quase certeza em quem esta pessoa estava transformada...

Pegou seu casaco no cabideiro próximo a porta e guardou a pequena garrafa sem eu bolso, calçou os sapatos e saiu para o campus. Algumas pessoas estavam espalhadas pela universidade. A grande maioria ainda devia estar dormindo. Sem interesse em conversar com qualquer pessoa seguiu para o prédio principal e então entrou no refeitório. Lá dentro apenas duas mesas estavam ocupadas... Ninguém que ele conhecesse... Alguns cozinheiros já caminhavam de um lado para o outro carregando alimentos... O café da manhã era servido ás oito e meia.

Sentou-se em uma mesa vazia e pelas frandes janelas ao seu lado observou a extensão do campus. Minutos depois, Draco pôde ver três garotas entrando sonolentas no refeitório... Megan, Lauren e... Elizabeth. A pessoa que ele estava procurando.

As três seguiram conversando direto para uma mesa próxima a saída. Draco não perdeu tempo algum. Atravessou o refeitório e parou diante delas.

— Bom dia, meninas — Ele sorriu para elas — Elizabeth... Será que poderíamos conversar?

As amigas de Elizabeth deram risinhos enquanto ela saia junto de Draco para conversarem fora do refeitório, no corredor do prédio.

— E então? — A loira se pronunciou primeiro. — O que quer falar comigo? Geralmente não nos falamos...

— Conversamos ontem...

Elizabeth pareceu extremamente confusa.

— Esbarrei em você lá fora no pátio e depois nos vimos no estacionamento — Draco a analisou enquanto falava.

— Claro que não? Qual é o seu problema? — Ela perguntou — Ontem foi um dia péssimo! Não falei com ninguém durante as aulas e depois delas as únicas pessoas com quem conversei foram Tyler, Isabelle, Lauren e Megan... Não falei com você!

— Isabelle me contou que você ficou presa na sala de limpeza — Draco falou — O que houve?

Elizabeth pareceu ficar irritada assim que Draco tocara no assunto.

— Aposto que foram aqueles idiotas do curso de engenharia! Estava andando pelo corredor após sair da aula... Não me lembro exatamente o que aconteceu, só sei que acordei na sala de limpeza, a porta estava trancada. Fiquei horas ali dentro esperando que alguém destrancasse... Meu azar foi que não haveria mais aula naquele andar.

— Ah — Draco olhou para o corredor quando a porta dupla mais a frente se abriu... Para a sua surpresa quem estava entrando agora era Elizabeth... A Elizabeth que conversara com ele ontem. A falsa Elizabeth.

Seja lá quem fosse assim que viu verdadeira loira conversando com Draco ao final do corredor se apressou em virar a esquerda.

— Acho que me enganei... Me desculpe — Draco começou a dar passos pelo corredor — Agora tenho que ir falar com outra pessoa, com licença.

Draco deixou Elizabeth sozinha e se pôs a ir atrás da dona ou dono do pequena garrafa que encontrara no pátio... A pessoa que estava o observando. Agora que tinha certeza de tudo aquilo, não iria deixar que ela ou ele fugisse assim tão fácil.

Virando a esquerda se deparou com um corredor vazio, mas não desistiu ali... Começou a correr por ele e virou a direita tendo um pequeno vislumbre da falsa Elizabeth entrando no banheiro feminino. Não seria aquilo que o iria impedir de descobrir a verdade.

Sem pensar duas vezes, Draco empurrou a porta do banheiro e entrou. Para sua sorte o banheiro feminino estava vazio... Com exceção dele e dela.

A falsa Elizabeth o encarava no canto do banheiro, próxima a pia.

— Acho que entrou no banheiro errado — Ela falou parada.

Draco balançou a cabeça sério.

— Engraçado, eu já acho o oposto.

Os dois se olharam por um tempo e então Draco fechou a porta atrás de si... A trancando com a chave pendurada ao lado. Feito isso ele voltou-se para a loira. Seu rosto estava levemente apavorado agora.

— Quando você quiser... — Ele falou.

— Não sei do que está falando. — Ela falou baixo dando mais um passo para trás.

Draco riu sem vontade. Foi em direção a ela e então retirou a pequena garrafa de vidro de dentro do casaco. Agitou a garrafa diante dos olhos dela que no exato momento começavam a mudar de cor. O efeito da poção estava acabando... E, agora não tinha como a pessoa fugir.

Apressada ela pôs as mãos na bolsa pendurada em seu ombro a procura de algo. Retirou uma outra garrafa, idêntica a que estava nas mãos de Draco, porém cheia. A levou até a boca, mas antes que pudesse beber Draco foi mais ágil e a tomou de suas mãos. Jogando a garrafa no chão, derramando toda a poção polissuco pelos ladrilhos do banheiro.

Com os traços do rosto se alterando, os cabelos mudando de cor. A pessoa a sua frente se desesperou sem saber o que fazer. Num ato rápido empurrou Draco tolamente, apenas recebendo tempo suficiente para se trancar em uma das cabines sanitárias.

Draco bateu na porta com força.

— Isso não vai adiantar! — Draco gritou irritado socando a porta — Podemos ficar aqui o dia todo... Só irei sair quando você der as caras!

Não houveram respostas. E por um bom tempo Draco caminhou pelo banheiro. Com a porta de saída ainda trancada, Draco pôde ouvir muitas garotas reclamarem do lado de fora por não conseguirem entrar no banheiro, mas ele não se importou. Estava perdendo sua primeira aula do dia, mas também não se importava... A única coisa na qual ele se interessava era em descobrir quem estava dentro daquela cabine... Quem o havia procurado, o observado por sabe-se lá quanto tempo.

Então um clique metálico ecoou pelo banheiro, alertando a ele de que a porta da cabine havia sido destrancada. Ele levanta os olhos cauteloso, ansioso para ver alguém sair dali... E então, lentamente a porta se abre e uma das pessoas que ele menos esperava rever para bem a sua frente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A continuação do capítulo será postada nesta terça-feira. Espero que estejam gostando! Nos vemos na parte dois.