A Estrada escrita por Lucas P Martins


Capítulo 20
A Poderosa Chefona


Notas iniciais do capítulo

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!

Agora que chamei sua atenção, sejam bem-vindos de volta! Muito obrigado pelos 1200 acessos. Tem história que tem mais, evidentemente, mas só de me darem isso já me sinto mais agradecido. Não tenho palavras.

Hoje o negócio é longo então não perde tempo aqui, vamos lá?



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Lucas narrando

Mãe? O que seria isso? Se sequer tive um pai durante toda essa vida, agora há uma mulher armada completamente desconhecida querendo me convencer de que eu havia nascido de algum lugar. Pensei ter sido qualquer coisa, menos filho de alguém, cujo o único alicerce que deveria ser morre deixando uma simples carta dizendo tudo, menos o que está acontecendo, o que me traz a Itália só para ver a única coisa que eu lutei ferrenhamente morrer por com um tiro na emergência de um hospital. Talvez seja hora do Vesúvio entrar em erupção outra vez. E quem sabe me levar junto.

– Como assim mãe? Você enlouqueceu... Laura... Nicole... por Deus o que está acontecendo? - Pergunto, confuso

– Não te culpo, mio ragazzo, sei que você está inseguro, confuso e tentando entender o que estaria acontecendo por aqui, mas por favor, confie em sua mãe. Eu sou a única que pode te proteger e proteger a sua ragazza agora. Por favor, deixe-me conversar com você. - Ela amansa a voz. Parece mãe mesmo quando tenta se desculpar de algo que fez errado... não sei. Esse é um tipo de som que nunca havia ouvido.

Eu nunca tinha ouvido uma voz de mãe. Eu nunca havia tido uma mãe até aquele minuto. Até aquele momento... até aquele momento, minha vida era de um jeito e sem saber, ela estava se encaminhando para outro jeito que eu nem imaginava que estava acontecendo.

Eu só tinha um objetivo: Sair vivo. De preferência com a minha mulher ao meu lado.

***

Algumas horas depois...

Saímos do hospital. Eram quase dez horas da manhã e eu nem havia dado conta de que as horas haviam passado tão rápido. Entramos num carro vigiado por dois homens, também tão armados quanto minha "mãe". Que nome estranho a mim. Mãe. Algo que nunca havia escolhido ter, e que nem imaginava que teria depois tanto tempo e que agora, talvez, ela estivesse disposta a me proteger atirando e matando quem estivesse disposto a me ferir, tanto a mim, quanto a minha mulher. Ou foi pelo menos isso que posso ter jurado ouvir, estava norteado demais para escutar o que Nicole tinha para me falar.

Eu só tinha um único pensamento, Sabrina, minha mulher, minha vida, agora estava em uma cama de hospital e eu não podia fazer nada, pelo menos naquele instante, eu não podia fazer nada. Seguimos por Nápoles até que o grande centro desaparecesse. Um aclive e tínhamos uma vista linda da cidade, banhada ao mediterrâneo e ativa com o Vesúvio um pouco mais ao fundo. Os meus pensamentos ficavam no hospital, ficavam com o amor da minha vida que respira junto comigo por aparelhos. Não poderia me impedir de pensar o quanto eu estava mergulhado em um sofrimento eterno, um sofrimento constante, que reverbera, destrói, deixa uma macula maior do que talvez eu merecesse.

De repente. Mudam-se os ares. As montanhas se revelam, logo noto que haviam se passado quatro horas de viagem. Me sentia entorpecido. Definhava junto com a minha mulher. Definhava minuto após minuto. Esses mesmos minutos, finalmente revelaram um galpão no meio da estrada. Parecia abandonado.

– Venha, Lucas. Há muito a explicar.

– Onde estamos?

– Na nossa base. Que por sinal, não pode ser dita a ninguém que existe. É aqui que, depois do golpe, ficamos refugiados. Não tínhamos pra onde ir.

– Golpe? Mas do que você está falando.

– Entre, mio ragazzo, nós temos muito a explicar a ti.

O português “italianizado” confundia os sentidos. Ela parecia nervosa. Tinha realmente muito a me explicar. Ela me devia isso. Por incrível que pareça.

Entramos no galpão que logo teve as gigantes portas fechadas na mesma velocidade em que foram abertas. O Lugar cinzento, com algumas goteiras e escuro, tinha, por incrível que pareça, mais armamentos que qualquer delegacia de polícia, ou favela de traficantes, tinha. Haviam estandes de treinamento, uma agradável cozinha, sacos de pancadas e outros acessórios para treinos de artes marciais ou físicos. Uma dúzia de homens e mulheres aguardavam com dada ansiedade... até que alguém não se segura...

– (Don Lucas! Que bom que está vivo!)

– (Cale-se, Conselheiro Maurizio, ele sequer sabe o que está acontecendo!)

– Do que ele me chamou? – Finalmente me manifesto, apenas para ver armas serem apontadas para a minha cabeça. Resolvo então, falar em inglês.

– (Com licença, o que está acontecendo aqui? Quem são vocês? Que lugar é esse?)

– (Oh, não deve se lembrar. Eu sou Maurizio. Sou conselheiro de Nicole, no caso, nostra Don. Você está olhando para tudo o que sobrou da família Marchelleti. Éramos os mais poderosos até... tudo acontecer...)

– (Espera um minuto, meu pai... era um criminoso? Um mafioso?)

As armas são erguidas. Finalmente a carta do meu pai fazia sentido. Ele não teve coragem de entregar sua verdadeira vocação: A máfia. Parece que eles não haviam gostado muito da definição que eu acabei lhes dando.

– (Nós não somos o crime. Nós somos a justiça quando as vias normais falham. Nós somos a lei quando a lei que todos conhecem, falha. Você deve conhecer aquela lenda, do homem que rouba dos bandidos de cima para dar aos pobres e carentes. Damos ao povo alguém para respeitar e chamar quando as coisas ficarem ruins. Você nos conhece como “criminosos” por que fomos condicionados a esse termo por quem está fora e não conhece os assuntos da família.) – Maurizio completa seu discurso, arrancando aplausos dos que assistiam. Me convenço. Possivelmente havia entrado na pior roubada de minha vida, mas ao mesmo tempo me questionava se eu tinha alguma opção...

Continuo sem ter opções. Muito menos vida. Sem saída.

– (Bem, vocês me parecem homens de ideais. Interessante) – Começo a falar enquanto andava pelo QG. Parecia tudo estritamente e rigidamente organizado, armas separadas por calibre em estandes de madeira dispostos lado a lado. Mesa, cozinha, me pareciam realmente que eram um crime organizado.

Minha mãe chega perto. Trocamos um olhar e ela por fim me diz:

– Filho. Sua ragazza está em perigo. Precisamos conversar.

Em dado momento, finalmente me toquei de algo crasso que eu havia sequer percebido.

***

Encaminhamos para a sala onde minha mãe comandava toda aquela máfia. A porta é fechada, ela me olha, suspira e quem resolve quebrar o silêncio assassino que havia tomado aquela sala durante os primeiros minutos sou eu.

– Eu não deveria existir, não é? – Digo.

– Eu vou ser franca com você: Não. Em nenhum momento. Segundo os planos da nossa adversária, você deveria ter morrido naquele acidente que matou seu amigo. Sua prima errou feio, muito feio. Mas teve sorte em morrer. Possivelmente nossa adversária não pensaria duas vezes em fazê-la sofrer de todas as maneiras possíveis...

O chão some... Jonas sem saber acabou morrendo no meu lugar.

– Pri...Prima? Quer dizer que a pessoa que eu encontrei n..no cemitério...

– Era sua tia. Por minha parte. A família do seu pai está bem longe daqui. Segura de que, caso ele errasse em algum momento e os expusesse, nunca seriam encontrados. A minha família sequer sabia que eu estava aqui e nossa adversária pagou rios de dinheiro a quem estava lá para perseguir e silenciar você antes de chegar na idade que você deve estar agora. A idade do voto.

– Idade do voto? Que voto?

– É o voto que nos da máfia fazemos para entrarmos. Abandonar tudo o que conhecemos e mergulhar de cabeça nesse mundo. Eles estavam sem comando, destruídos, haviam sido arrasados pelos nossos adversários e eu só tinha uma chance pra te salvar. Confesso, não gostaria de ter feito isso ou de ter matado quem eu tive que matar pra salvar você. Mas, eu não tinha opção. Tinha que entrar nesse mundo que eu nunca gostei, mas que aprendi a respeitar e depois a amar. Pois só tinha essa maneira. – Faz uma pausa. Tenta engolir o choro. Tenta mostrar a mesma força que deve ter usada pra reconstruir o status do grupo do meu pai. E por “reconstruir” pode-se colocar: “Matar e destruir tudo o que se impôs em seu caminho”. – Só tinha essa maneira pra te salvar. Mas, você, mesmo sem saber, me deu mais tempo pra que esse objetivo se cumpra.

– Quer dizer que... a morte do Jonas, meu amigo, tem muito mais em jogo do que um simples acidente causado por uma louca... que na verdade nem é tão louca assim?

– Bem que seu pai disse que você era bem inteligente. – Ela esboça um sorriso. Olho em seus olhos e no instante em que ela se refere ao meu pai se vê um brilho indistinguível em seu olhar. Seu amor por ele é reconhecível e nunca acabou. Nem mesmo ao saber quando ele morreu.

– A morte do meu pai tem alguma coisa a ver com isso?

– Não. Depois de muito investigarmos, conseguimos descobrir que, por incrível que pareça, foi uma fatalidade. Diferente do seu acidente, o acidente do seu pai foi literalmente um acidente, mas veio na hora certa. A carta que ele me falou que deixaria para que você começasse a nos descobrir caiu em sua mão na hora certa. Além do mais, seu pai era um homem atormentado. Precisava descansar. – O sorriso fica ainda maior enquanto minha mãe se aproxima da janela.

– Entendo.

Há uma pausa. A verdade não parecia ter tanto peso como dizem que ela tem. Pelo menos nesse caso, as mentiras me trouxeram vivo até aqui. Até esse momento, nada havia sido pior.

– Quem é nossa adversária, afinal?

– Luiza. Sua madrasta. – Responde sem pausas. Sem titubeios. – Ela tenta até hoje nos destruir, mas não consegue. Ainda estamos vivos. A espera de... – Finalmente uma pausa. Um titubeio. – A Espera de uma chance de darmos um fim nela e colocar você no meu lugar...

– No seu lugar? Quer dizer que quem herda isso tudo sou eu? Eu sou o filhinho da máfia! – Minha voz começa a ganhar volume, estava começando a ficar exaltado.

– Só tem uma maneira de salvar sua ragazza! Naquele hospital ela ainda corre perigo. Pra ser mais sincera, em qualquer lugar do mundo ela corre perigo. A família Franco está em todos os lugares. Se espalhou e as cegas, envia informações pra cá. Para retomarmos o controle e salvarmos ela e todas as pessoas que você ama, e eu sei que há pessoas no Brasil com as quais você se preocupa, precisamos cortar o controle dos Franco e por fim...

– Matá-los. – Completo. A Imagem de Mariana me vem à mente. Ela consegue ser bem convincente, mas nada poderia me fazer mudar de ideia. Não iria fazer ninguém sangrar para que eu pudesse sair vivo daquela situação. – Eu não concordo. Não acho que essa seja a última solução para todos os nossos problemas!

– Não há como concordar, nem discordar. É isso, ou o único sangue derramado aqui é o nosso.

– Chega. – Interrompo pela última vez.

Me ergo. A deixo falando sozinha e saio as ruas sem impedimento algum. Parece que eles não estão muito a fim de me impedir, ou estão esperando que algo aconteça que me convença a voltar ao esconderijo. Vou pelas ruas, e elas os metros viram quilômetros. Tomo finalmente um taxi e alguns minutos depois, estou de volta ao hospital.

Após alguns minutos e uma pequena lábia em inglês e estou de volta ao quarto daquela UTI que abrigava a minha mulher. Observando o corpo que, há poucas horas atrás estava sorrindo e se divertindo ao meu lado e agora estava ali. Será que sairia bem? Será que sairia com sequelas?

Muitas perguntas. Nenhuma resposta.

Preciso espairecer.

Saio do hospital e ando uns metros até uma daquelas enormes praças que vemos em filmes ambientados na Itália. Com sua infinidade de casas antigas enfileiradas por algumas vielas e ruas adjacentes, e pombos vagando pelo local, revoando e pousando em uma daquelas fontes gigantes. Uma praça igual podia ser encontrada depois daquele hospital.

Andar não melhorava a situação. Parecia até piorar. Estou me cansando de descrever toda a minha situação que vocês já devem imaginar qual é, então vamos direto ao que interessa.

A Praça logo foi ficando vazia. Haviam pessoas, mas ao olharem para algo que estava atrás de mim, saiam correndo em um pinote digno de cavalos quarto de milha.

Dava para entender o motivo da correria. Os mesmos homens de terno que me atacaram na noite anterior estavam de volta e dessa vez estavam dispostos a terminar o que começaram. E dessa vez, não estavam dispostos a errar.

Bem, nem eles, nem eu.

Chega de conversas. Chega de desculpas.

Corro contra os tiros até acertar um direto bem no meio do nariz do primeiro de cinco. Não poderia ficar ali admirando meus feitos por muito tempo, eu estava tomando rajadas de metralhadoras. Deslizo pelo capô e saio correndo, tinha que evitar o hospital e mais importante, evitar não aparecer morto lá dentro.

Eu precisava da polícia, mesmo sabendo que nesses casos, talvez eles não estivessem preparados pra me ajudar.

Preciso pensar rápido. As rajadas estavam ficando mais certeiras e mais próximas de mim. Não ia demorar pra me acertarem pra matar. Um policial armado se encaminhava a próximo de onde eu estava.

Não havia mais leis. Só as minhas regras.

Tiro o policial de ação. Podia ser quem fosse, pai de família, funcionário da máfia, não interessava. Eu precisava da arma deles. Ela me dava poderes, ela me enchia de raiva. Viro e atiro, mesmo sem mira, ou controle, ou conhecimento de quantas balas ainda me restaram. Me escorrego para um ponto pra que finalmente eu possa atirar com mais clareza.

Eram cinco. Um havia sido nocauteado por mim. Quatro estavam próximos e torrando munições como se não houvesse amanhã. Controlo a respiração e atiro no mais distante que é jogado alguns centímetros atrás com o impacto.

Restavam três. Era o jogo de “resta um” mais perigoso que se pode brincar.

Arranjo um jeito de sair da vista deles. Escondido em um beco, espero que eles passem. Aquele clássico jeito. Escondido nas sobras, pulo encima do que estava mais distante, arrastando-o para a outra viela.

A raiva já havia tomado conta do meu ser. A Adrenalina de arrastá-lo até a uma escada Magirus e acertar a sua cabeça na borda com tudo, uma, duas, três, nove vezes, vezes quanto fossem necessárias pra que ele cuspisse todo o sangue tivesse em seu corpo.

Restam dois.

Saio do beco e resolvo peitá-los cara a cara. Eles me vêm banhado em sangue. Banhado do sangue da família deles.

Não deu pra saber se um deles tremeu, calei os dois com cinco tiros no cara da direita.

Você deve estar se perguntando, de onde eu sei atirar, correr, saltar, fazer todas essas maluquices dos últimos momentos.... Enfim. Vou resolver esse furo nessa história com uma frase: Nunca há como medir o que um homem faz em estado de completa fúria.

Um, dois, três, cinco, nove, esgoto a munição nas duas pernas e em qualquer lugar que possa fazer com que ele não ande pelo resto de sua vida. Mas o suficiente pra deixa-lo viver.

Piso, chuto, bato. O faço cuspir sangue e então faço um breve aviso:

– (Diga a sua Don, que eu vou matá-la. E vou fazer com que todos os seus colegas, irmãos, seja como for, paguem pelo que fizeram a minha noiva. E dessa vez, não vai ter mais nenhum engano. Ao fim do próximo ano, estarão todos mortos, entendeu?!)

***

Cinco horas mais tarde

A porta do galpão se abre. Junto com ele se abrem os sorrisos dos homens que passariam a ser meus colegas ao verem meu sobretudo e todas as minhas roupas encharcadas com o sangue dos Franco em minhas mãos.

– Mãe. Eu aceito.


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Notas finais do capítulo

Bem, eu peço uma licensa pra falar não mais como autor, mas sim como um entusiasta de automobilismo e fã de Fórmula 1 (Essa coisa de tiozão mesmo. Os carrinhos correndo, sabe?)

No sábado dia 19 desse mês, um dos filhos mais promissores dessa categoria morreu aos 26 anos. O Francês Jules Bianchi, após irônicos nove meses em coma profundo e vegetativo.

Eu teria o maior prazer em explicar tudo sobre esse promissor prospecto que nos deixou, mas eu vou deixar para profissionais, então segue um link para um dos melhores sites de F1 do Brasil. Vídeo curto, mas que vai deixá-los bem informados. O Zelda é o que segue: http://www.podcastf1brasil.com.br/video-a-historia-de-jules-bianchi/


Dedicado a memória de Jules Bianchi. #JB17.

No mais, "The Show Must Go On!"

Grande abraço,

Dr. Lucas



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