A Estrada escrita por Lucas P Martins


Capítulo 19
O Filho Pródigo


Notas iniciais do capítulo

Mano do céu, que saudade que eu estava de vocês. De ficar aqui programando, mancomunando e revisando a continuidade tudo para deixar a história do jeitinho que você gosta.

Chega de conversa. Vamos ao que realmente te trouxe aqui hoje!



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Lucas narrando

As horas passavam. Todas elas. O meu pânico se resume a mãos cheias de sangue e dores de hematomas que agora não importavam mais. O Hematoma maior ainda poderia ser aberto. Bastava que minha noiva não resistisse a um tiro de raspão que tomou nessa brincadeira toda.

Que erro eu cometi pra sofrer tanto? Seria eu estando pagando pela minha traição, mesmo sabendo que eu já havia sido perdoado? O que teria feito eu para que nada do que eu fizesse para ser feliz persistisse, ou durasse tempo suficiente para que eu pudesse aproveitar...

Seria aquele o fim? Não, a noite estava longa demais. Temia pela vida da minha mulher e nada que qualquer pessoa dissesse me consolaria se eu a perdesse. Eu me dispunha até a sujar minhas mãos de sangue se algo acontecesse a minha amada...

As horas passam. Nenhuma informação. Nada. Podia sentir na alma as dores da minha mulher, mesmo ela estando sedada. As dores de uma cirurgia, mesmo tendo sido de raspão... não sei explicar. Era algo empírico demais pra se explicar. Uma conexão que só o amor havia construído entre eu e Sabrina. É sempre complicado explicar as coisas que só o coração sabe dizer. E mesmo que o coração tivesse o dom da fala, talvez nunca se explicaria...

***

Algumas horas mais tarde

Estou espalhado no corredor daquele hospital

Ora, em pé. Ora, sentado.

Ora, com os olhos marejados. Ora, dormindo, vencido pelo cansaço físico. Vencido pela dor da espera. Vencido pela dor de aguardar por uma resposta que não parecia vir. Vencido pela indecisão e pela incerteza de não saber que a mulher pela qual você faria tudo, pode não estar mais viva algumas salas a frente.

Os ponteiros pareciam soar mais forte, as baladas iam e vinham, levavam com elas os segundos, os minutos e as horas e traziam com ele um amanhecer cheio de incertezas. Traziam com ele, talvez uma pontinha de esperança.

Vou ao terraço, tomar um ar, espairecer, tomar de volta pra mim todas as certezas que haviam ido embora nos becos e nas vielas da bela Nápoles. Vou ao encontro do sol esperando que, se eu tivesse a tornar a acreditar em Deus, esperava que ele me abençoasse de alguma forma. Qualquer forma! Qualquer forma que me fosse trazer alguma esperança que seja.

Alguns segundos de silêncio. O bastante para ouvir a mesma porta do terraço se fechar com alguma força. Eu já não estava sozinho, mas preferi disfarçar. Eu não sabia quem poderia estar atrás de mim, eu não sabia se atrás de mim poderia estar alguém que me levasse para o mesmo centro cirúrgico onde estava a minha mulher. Não há o que arriscar...

Alguém pigarreia...

Ragatzzo, quer colocar um casaco? - Uma voz muito mais velha soa ao meu lado. Na faixa dos seus 38, 42 anos... algo parecido.

– Nápoles, uma cidade mediterrânea, e você quer que eu coloque um casaco? - Respondo, ainda sem olhar pra trás.

A moça se aproxima, encosta-se ao pé do meu ouvido e diz:

– Não seja estúpido! Não é pelo frio, é pelas marcas de sangue! - Exclama, embora falando um pouco baixo em meus ouvidos.

– Marcas de sangue? Quem é você?

– Vire-se e descubra. - A mulher me desafia.

Desafiado, me viro. Dou de cara com uma mulher, acreditem, na mesma altura em que eu estou. Os mesmos 1.79cm. A mesma cor de pele, um pouco branca com algumas tonalidades mais fortes. O olhar verde esmeralda com pigmentos de verde claro me encarando com um misto de certeza e medo. Encontro nela uma semelhança. Um espelho. Um estranho espelho que parecia que eu deveria conhecer de algum lugar. Ela me intrigava. Despertava respeito, parecia em algum momento ter enfrentado coisas até piores do que eu talvez tenha enfrentado...

Olho para o fundo da jaqueta, há um coldre que guardava uma pistola semiautomática... Ergo o olhar de volta em seus olhos...

– Quero imaginar como você entrou armada nesse hospital. - Desvio o assunto

Ela puxa a sua arma. Do apoio de mãos até a ponta do cano havia um peculiar desenho de um ramo com várias flores pintadas em branco. Pareciam ter sido feitas a mão, com muito muito cuidado. Pareciam se desgastar com o tempo e o uso. Mãos muito quentes haviam tocado aquela arma.

– Ora, cazzo. Enquanto eu portar esta bambina aqui, você terá pelo menos o mínimo de segurança possível. Você está perdido, ragazzo. Desde que pisou nessa terra, você está perdido e vai precisar se adequar se quiser sobreviver. Dovranno essere forti, mio ragazzo, per la sua ragazza e per te stesso. (Terá que ser forte, meu rapaz, pela sua mulher e por si mesmo.) – Dizia ela com visível dificuldade de manter-se falando em português. Mas, comunicando-se das duas formas, falava de forma forte. Falava como uma chefe, como alguém que era capaz de comandar.

Adequar-me a que? Como sabe falar a minha língua? E porque raios você a misturou com o Italiano? - Pergunto. Sinto-me surpreso com palavras de força... Entendia um pouco de italiano. Mas não o suficiente para dialogar com alguém que eu sequer conhecia e que já estava me mostrando uma arma e dizendo para que eu me adapte a uma situação em que eu não sabia o que estava acontecendo, nem muito menos o que eu ia enfrentar logo em seguida.

– Tudo ao seu tempo, bambino. Precisamos descer. Não podemos levantar a menor sombra de suspeita. Você não quer morrer agora, não é? E outra, sua ragazza deve ter saído da cirurgia a essa altura del calcio.

Um lance de escadas e logo estávamos no elevador que nos levava novamente a sala de espera. Esperávamos, os dois, com uma certa aflição por notícias de Sabrina. A mulher, ainda que me fizesse companhia, tinha no olhar a mesma tensão que existia em mim naquele instante. Contemplo-a de cima a baixo. Parecia uma mulher jovem, bem jovem mesmo para a idade que aparentava ter. Ela estava de sobretudo o que escondia muitas coisas, principalmente o coldre com a maldita arma Se tinha os mesmos medos que eu. Não poderia sequer imaginar. Era imensurável pensar o tamanho da situação em que eu estava metido.

Independente de quem fosse. Eu só queria uma coisa. Minha noiva viva!

***

– Fique aqui! - A mulher me diz.

Ela levanta-se. Parecia buscar alguém. Não chamava por nomes, nem levantava suspeitas. Procurava fazer tudo de forma macia e tranquila sem chamar atenção. Até encontrar um dos doutores do hospital. Ela abre o sobretudo e o doutor olha fixamente pra mim. Sua expressão muda. Era uma espécie de pânico misturada com sombras de alívio e esperança. Havia algo em mim que cruzava a vida daquelas duas pessoas.

A mulher fecha o sobretudo e o doutor começa a se mover de forma rápida e apressada em direção ao centro cirúrgico onde Sabrina estava. Cruza um pouco seu olhar com o meu. Como se confiasse a mim um segredo indecifrável e que não poderia cair em mãos erradas.

Aquela noite, que já havia se tornado dia, estava ficando longa demais para o meu gosto.

O Médico, leva alguns minutos e então a porta do centro cirúrgico se abria revelando minha noiva, minha amada mulher, completamente entubada e respirando com ajuda de aparelhos. A visão me trazia pavor, desespero, bagunçava meus sentidos de uma forma inexplicável. Confundia-me. Uma hora ela sorria feliz ao meu lado, numa outra... ela estava naquela situação...

Queria gritar... Mas faltava a voz. E toda minha voz que havia sumido, se derramou em uma única e sutil lágrima.

A mulher, da mesma maneira que sorrateiramente, havia se aproximado de mim no terraço, agora o fazia de forma menos ameaçadora. Soluçava. De certa forma, havia sido atingida pela minha tristeza. Encosta enfim, sua mão em meu ombro. Lentamente me acaricia. Tenta me amparar em uma hora tão dificultosa.... Parece complicado (e é.) Mas ela tenta me amparar... Pelo menos, tenta.

O homem finalmente sai e puxa a mulher para uma conversa. Sento e observo os dois. Passam-se alguns segundos e a mulher volta com um sorriso no rosto...

Una buona notizia, il mio ragazzo (uma boa notícia, meu rapaz). Sua ragazza está fora de perigo. Está em coma induzido, mas está fora de perigo. - Diz ela com alegria. - Vamos, precisamos sair daqui!

– E para onde nós vamos? - Respondo cansado...

– Para o que deveria ser a nostra casa se não fossem as maledetas circu... circu....

– Circunstancias? - Completo.

– Isso, ragazzo. Vamos sair... Mas antes... piacere, O meu nome fora da minha casa é Laura Zaccherini. Pelo menos do lado de fora da casa...

– Laura? Quer dizer que...

– Sim, o meu nome verdadeiro é Nicole Marchelleti e io sou sua verdadeira mãe.


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Notas finais do capítulo

Glossário com gostinho de pizza:

Cazzo: É... uma palavra forte meu querido.
Ragazzo/a: Moço/a
piacere: prazer

Dito isso. Obrigado pelo suporte e nos vemos na próxima!

Grande abraço,

Dr. Lucas



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