As Crônicas da Nova Era escrita por T R Moreschi


Capítulo 2
Maus Presságios




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A floresta estava calma e Joannie andava sem nenhum rumo e sem chegar em lugar algum. Joannie estava perdida - o que era muito ruim pra alguém com 8 anos - mas ela tentou se acalmar. Aquele era um lugar que ela não conhecia e nunca se lembrava de estar, de repente se iniciou uma escuridão imensa, um frio que chegava a tocar no coração e penetrar na alma. Joannie cada vez mais se sentia triste, desanimada, e com uma súbita sonolência, então caminhando depressa, passando por toda aquela floresta, em um ritmo rápido e quase correndo, tentou escapar. Até que se viu em meio a uma grande árvore: uma pulchreira, que brilhava no meio das outras arvores escuras, bem em cima, um galho segurava um único fruto, uma pulchra - um fruto que segundo os antigos Corvilianos trazia sorte. Joannie parou para admirá-la, ela brilhava tanto ou até mais do que a própria árvore em que nascera, naquele momento Joannie começou a se sentir feliz, mas de uma hora pra outra sentiu uma coisa á sugando, uma força a fazia vir ao chão, algo estava puxando Joannie, que tentava quase sem forças resistir. Do chão que estava sobre seus pés, surgiu então um enorme buraco e Joannie foi cada vez mais ao fundo sendo sugada por uma estranha força. Dentro daquela imensidão surgiu um mar de larva, um fogo flamejante pareceu inundar todo o buraco, e em um curto período pode se ouvir Joannie caindo no mar de fogo.
– AAAHHHHHHHHH !!!!!!!!!!!
Com um enorme grito, Joannie acordou do que parecia ser o pior dos seus pesadelos.
– MINHA FFIIILLHHAAAAA !!! VOCÊ ESTÁ BEEEMMMMMM ???????
Ouviu se o grito. O governador Lucius Barnnyns, saiu correndo de seu escritório em desespero, atravessou todo o salão principal de sua mansão, entrou mais que depressa na cabine do elevador de vidro. Colocou sua mão, no que parecia ser um espelho ao lado da porta, e num tom bem claro ordenou:
– Para o quarto de Joannie ! Rápido !!!
Mais que depressa o elevador tratou de subir a longa mansão, como foi ordenado, no quinto andar ele parou. As portas da cabine se abriram, e de lá saiu o governador mais que depressa. Correu pelos corredores, e em uma longa e extensa parede ele parou a encarando-a, em uma reta vertical, na cor azul o governador deslizou seu polegar, e em instantes uma parte da parede se abriu formando assim uma porta que levava ao quarto de Joannie.
– O que houve, minha filha ? Você está bem ? - perguntou o governador cruzando o quarto mais que depressa.
– Estou pai, só tive um sonho.
– Um sonho ? Então você me interrompe numa importante reunião, assusta a todos nós nessa casa, e grita pra quase toda Córvus ouvir, por causa de um sonho ?
– Desculpa, não foi minha intenção - ela respondeu - Mas é que este foi mais assustador que os anteriores.
– Que tolice Joannie, sonhos são sonhos - rebateu ele estressado - todos sonhamos, isso é normal.
– Pode ser normal pra você...
– Já chega ! Vou voltar pra minha reunião, já me atrasou demais com suas besteiras. Ah, e vou chamar a sra. Abélie, pra trazer seu lanche.
– Não. Preciso falar com o Mestre Patheron, por favor, chame ele.
– Por que está me pedindo isso ? - o governador pergunta - Mestre Patheron é um homem muito ocupado, não ousaria incomodá-lo.
– Por favor, pai! É muito importante - apela Joannie.
– Se for pra te deixar quieta, traria até o planeta vermelho (sol). Mas fique sabendo que ainda assim mandarei depois a sra. Abélie.
O governador se retirou e a porta se fechou mais uma vez, formando a parede. Ele, então entrou de volta no elevador, desceu pra voltar pra sua reunião - que ficava no seu escritório no quinto andar -, mas antes foi ao segundo andar e ordenou a um dos criados que chamasse mestre Ronan para sua filha, e pedisse desculpas pelo incomodo. Logo depois mandou pessoalmente a sra. Abélie servir o lanche da manhã a sua filha, assim que terminasse a tal conversa com o mestre. E finalmente entrou de volta na reunião.
O criado, então desceu ao térreo, não pelo elevador, mas por uma longa escada - em que os degraus eram soltos no ar e se moviam de baixo pra cima, adivinhando quando alguém espera subir ou descer. O criado saiu da mansão, correu alguns minutos pelo longo jardim, e de longe avistou uma cabana bem velhinha, pequena e feita de madeira, sem nenhuma tecnologia (ao contrário da mansão do governador), a eletricidade da casa era a base de velas e castiçais, e um único lustre antigo. Ele então bateu a porta, e pode se ouvir uma grave voz num tom de autoridade, dizendo:
– Sim!
A porta se abriu e dela apareceu a figura de um ancião, ele era alto, tinha um pequeno gorro azul na cabeça, um nariz pontudo, e se vestia de túnicas - uma roupa atiquada para a época.
– Ah... S-s-sen-hor, o governador o chamou, parece que Joannie quer falar com você.
–Oh, está bem, já chego lá.
– Ah, e mais uma coisa - o criado se lembrou - O governador pede desculpas pelo incomodo.
– Que é isso, nunca é um incomodo - o mestre deu um sorrisinho de sabedoria - E obrigado por informar.
O mestre, então deu um aceno de "até logo", e a porta se fechou sozinha. Diferente do governador ou do criado, o mestre não precisou pegar o elevador ou a escada pra chegar no quinto andar da mansão, ele simplesmente pegou um longo cajado, com uma pedra cinza em cima, e com a ponta dele deu uma leve batida no chão, misteriosamente o mestre desapareceu de sua cabana, aparecendo em menos de um segundo no quarto de Joannie.
– Me chamou, minha jovem - perguntou ele se dirigindo a Joannie.
– Chamei sim, mestre. Desejo ouvir suas palavras de sabedoria.
– O que se trata ? Conte me tudo ?
O mestre então pôs um banquinho, do lado da cama e se sentou pra ouvir.
– Bom, essa noite, quando estava dormindo...
– Ah, um sonho - o mestre interrompeu - Então se trata de um sonho.
– Tava mais pra pesadelo - desabafou Joannie.
– Um sonho, menina - corrige o mestre - Não existem pesadelos, só sonhos, bons ou ruins, mas sonhos. E graças ao estudo da somnilogia, hoje podemos decifrá-los todos.
– Pois bem, era assim, de uma hora pra outra eu me vi em uma floresta...
– Uma floresta, hum, interessante !
– Mas esta era uma floresta fria e escura, uma floresta que eu nunca vira antes, e eu me sentia triste como se não houvesse mais felicidade.
– Certo.
– Então, de repente, avistei uma pulchreira, que tinha uma única pulchra que brilhava no galho, e me senti mais feliz, mas alguma coisa começou a me puxar, e de repente apareceu um buraco, e dentro do buraco um monte de fogo, sabe... Como se fosse um mar, mas de fogo. E então a força que me puxava acabou me derrubando no fogo, e aí eu acordei.
– Isso não pode ser um bom presságio. Bom, pra começar, uma floresta grande como a que você disse, significa: estar perdido, mas como esta era escura e fria seria como solidão.
– Solidão ?
– Isso mesmo. E outra coisa, você disse que não conhecia a floresta, isso é impossível, minha jovem.
– Impossível ? Porque ?
– Ora, não sonhamos com coisas desconhecidas, tudo que há num sonho, desde o cenário, até os objetos e as pessoas, nos já vimos alguma vez, mesmo que não nos lembremos, pode até ter sido em uma outra vida.
– Então quer dizer que eu conheço a floresta, só não me lembro ?
– Exatamente. Bom, continuando, não é novidade que uma pulchra significa sorte, mas esta estava na árvore, então isso seria apoio ou até esperança. Um buraco se for muito grande significa desespero, e o fogo é o pior dos quatro elementos, não importa a quantidade ou a forma como se apresente, sempre significa: dor. Então juntando tudo, você passará por um grande perigo, que poderá custar sua vida, mas como a pulchreira indicou você terá um apoio e haverá esperança.
– Nossa, como estou com medo - Joannie comentou.
– Ah, o medo ! Você sentiu isso no seu sonho ?
– E muito.
– É ótimo saber disso - o mestre abriu um sorriso.
– Ótimo, porque ? O medo não é uma coisa boa, torna a gente fraca, quase não tive coragem de diser que senti medo.
– Não, minha jovem - o mestre corrigiu - O medo nos torna mais humanos, é uma sensação humana. A coragem não está em não ter medo, mas sim em ter medo e assumi-lo.
– Nossa ! - ela disse chocada, com tantas palavras de sabedoria.
– Agora eu preciso ir, já deu minha hora - o mestre saiu do banquinho e se posicionou no centro do quarto - Até logo, minha jovem. E não se preocupe, você vai ficar bem, tem minha palavra.
– Ah, mestre ! - Joannie o chamou.
– Sim !
– Obrigado.
– Não me agradeça. Só estou cumprindo com minhas obrigações nessa mansão.
Ele acenou, e novamente bateu a ponta do seu cajado no chão e desapareceu completamente. Menos de um minuto depois as portas se abriram, e a sra. Abélie apareceu com uma bandeja na mão, dizendo:
– Criança, aqui está seu lanche.


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