A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos


Capítulo 9
Um novo ano que chega: 2010!


Notas iniciais do capítulo

Recomendo ouvir "Patience" do Guns N' Roses.

E Berg ainda não tirou a Valentina da cabeça, mesmo ela tendo ido embora. Será que um dia ela volta? ;(



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Diário do Berg

O final de 2009, ano sofrido, foi um dos fins de ano mais felizes da minha vida. Foi diferente passar o réveillon junto com os meus amigos, Rafa e Ludi, na Praia do Futuro, curtir um luau, pular as sete ondas e ver os fogos de artifício no céu estrelado à meia noite do dia primeiro de janeiro de 2010 e tudo escondido da Dona Hilda. Minha mãe achava que eu estivesse em um acampamento da igreja.

— Faltam dez minutos pra 2010, galera!

Estava um clima muito bom. Pessoas sentadas em volta a uma fogueira e um cara arriscando algumas notas no violão.

— Toca “Patience”, do Guns! – sugeriu Rafa.

Como o pedido da galera é uma ordem, o cantor logo tratou de cantar Patience. Rafa tentou colocar o braço em volta da cintura de Ludi, que estava do seu lado, mas ela imediatamente se levantou e foi para o meu lado. Pousou a cabeça no meu ombro e piscou o olho, como um sinal, perguntando se eu tinha visto o que o Rafa tentara fazer.

“Shed a tear cause I'm missing you
I'm still alright to smile
Girl, I think about you every day now
Was a time when I wasn't sure
But you set my mind at easy
There is no doubt you're in my heart now…”

— Contagem regressiva pra 2010! — gritou um hippie.

— Dez!

Tomara que esse ano seja o melhor de todos...

— Nove!

Que eu cumpra tudo o que prometi...

— Oito!

Que todos os meus sonhos se tornem realidade...

Sete!

Que todos os meus amigos sejam abençoados...

Seis!

Que nada de mal me aconteça. É pedir muito?

Cinco!

Valentina...

— Quatro!

Valentina...

— Três... Dois...

Valentina!

— Feliz 2010!

Depois da típica comemoração de ano novo (abraços de amigos, e de hippies que ali residiam eu acho), fomos pular as sete ondas.

A parte ruim daquilo tudo foi somente a gripe que eu peguei, pois durante a comemoração e o pulo das sete ondas, Rafa, Ludi e eu caímos dentro do mar. Mas enfim, foi muito divertido e aquilo eu não vou esquecer jamais. E que venha 2010!

💜

No começo do ano letivo a diretora da escola, como de costume, chamava os alunos destaque do ano passado para frente de todo mundo, lá no pátio para entrega de medalhas. Só que naquele ano tinha uma coisa diferente: discurso.

Parecia que a diretora, a Denise, ela leu minha mente. Eu odiava falar em público mais do que a morte ou qualquer outro inimigo meu.

Porém eu tinha de aceitar por que, dizia a diretora, o governo estava premiando com livros os melhores alunos. Eu tinha que fazer esse maldito discurso, principalmente quando soube que os livros que o governo daria eram de ótimos autores. Por isso fui tentar preparar o tal discurso e abrindo um espaçozinho na minha estante.

Minha espinha falante não falava mais. Nem quando ela não devia. Pensei em pedir ajuda a ela para elaborar uma fala legal, já que Mutante era campeã mundial no quesito tagarelice.

— Mutante você tá viva? — perguntei, olhando para o espelho.

Não sei se era mesmo coisa da minha cabeça, mas eu vi que ela se mexera.

— Ta com raiva de mim? Nem me desejou feliz ano novo!

Você disse que eu sou inútil. Isso me magoou geral.

Mas isso foi no São João do ano passado!

É né? Desde aquele dia que você não fala comigo. Agora de certa ta precisando da minha ajuda.

Foi mal, não devia ter te tratado daquele jeito. Mas você tem que me ajudar.

Eu sabia!

Escrevi vários discursos com a ajuda da minha amiga espinha tagarela, mas o resultado de todos não me satisfazia. Chegou o maldito dia e eu nem sabia o que falar.

Pôxa... Fazia exatamente um ano que eu entrei ali. Era primeiro dia de aula novamente, e eu me lembrei de tudo o que acontecera naquele dia, desde a banda Enverso tocando na rádio às ameaças do John Lennon... Uma coisa em comum entre o primeiro dia de aula de 2009 com o de 2010 era o frio na barriga que eu estava sentindo, porém agora por que eu teria que falar em público e não tinha palavras.

— Mutante você vai me ajudar. — cochichei.

É o jeito... — respondeu ela.

Ludi e Rafa me desejaram boa sorte. Aquilo foi uma ajuda e tanto. Eu sabia que pelo menos duas pessoas não ririam de mim se acontecesse um futuro mico.

— Vamos chamar agora os alunos do 9º ano B. Teríamos três lugares, mas as notas foram vergonhosas. Vergonhosas! — frisou a diretora. — Muitos alunos passaram com um seis se arrastando! Onde vocês estão, gente?...(vamos adiantar a história, pois se eu fosse copiar o sermão todo aqui, daria boas páginas)... Sendo assim, chamo a medalha de prata, Madalena Feitosa.

Uma salva de palmas acompanhou a subida de Madalena ao pódio nerd. Ela pegou a medalha, deu um abraço na diretora e outro na professora de Português que ali estava. Sorriu, acenou como uma miss e se posicionou no pódio em frente à plateia com as mãos para trás.

— E ainda no 9º B, o aluno destaque da turma, Lindemberg Araújo!

Foi uma vergonha, ninguém bateu palmas. Ludi até começou, acompanhada do Rafa, que gritavam e assoviavam:

— Berg, Berg, Berg! Fiiiiuuu!!!

Até a diretora ficou chocada. Parecia um complô: todos de bico calado, só faltavam os grilos cricrilando. Sem esperar mais que alguém me ovacionasse, a diretora prosseguiu:

— Parabéns, Lindemberg...

— Berg... — interrompi, pois não curto muito meu nome, prefiro a abreviação.

— Então, Berg. Parabéns por ter se destacado. Espero que usufrua do seu prêmio. Você fez por merecer... — disse a diretora.

E quem quer um prêmio desses? Só o dente de lata mesmo! — gritou John, lá do pátio.

Se acontecesse um milagre de tu ganhar John, tu iria usar as páginas dos livros pra servir de papel pro teu baseado! — Ludi comprou a briga.—

A galera vaiou muito o John. Depois ele balbuciou algumas palavras sobre a sexualidade de Ludi, mas não fizeram efeito.

— Será que eu vou ter que deixar todo mundo de pé aqui no pátio cantando o Hino Nacional até às cinco e quarenta da tarde? Por que se for é só continuar, Sr. John Lennon e Srta. Ludmila Torres!

Mais uma vez silêncio. A diretora continuou:

— Berg, agora você pode falar o que você quiser. O microfone é seu!

Ótimo o microfone era meu. Eu poderia levar ele pra um buraco e me enfiar nele? Por que porra, eu não tinha preparado discurso algum! Até a tagarela da Mutante calou o bico e me deixou na mão. Para ela eu tinha planos para mais tarde...

Acho que deu esquizofrenia no nerd. — disse alguém.

Não havia mais escapatória. O frio da barriga se espalhou pelo meu corpo todo e eu não conseguia me mexer. Eu não conseguia pronunciar nenhuma palavra. Eu estava frito! Quer dizer, congelado.

Algo me fez olhar para os lados. Madalena ainda em sua pose de “Miss Nerd 2010” fazia uma cara emburrada de segundo lugar. Ela parecia com raiva, mixada com inveja.

Fala alguma coisa, seu idiota! Eu quero ir pra casa, hoje tem Malhação!

Não conseguia fazer nada a não ser olhar para Madalena e pedir a sua ajuda. Outra opção era fingir um desmaio, mas não sou tão bom ator. Algumas pessoas estavam me filmando, inclusive o John.

— Madalena me ajuda! — falei baixinho, num momento de desespero.

Toma!

Ela me deu uma rasteira que eu caí no chão. As pessoas riam de mim como se estivessem assistindo a um show de piadas. Riram muito, muito mesmo. Até depois que eu me levantei eles riram. Como no impulso, para todas as câmeras de celulares que ali estavam eu falei:

— Ave Maria ao quadrado!

E eles riram muito, muito mais. Eu estava perdido.

Eu ali naquele chão e as pessoas todas rindo de mim, e do "Ave Maria ao quadrado" que eu falei, não sabia o que fazer: se eu corria, se eu ficava parado...

Eu permaneci do mesmo jeito que estava tentando entender o porquê de tanto ódio de mim por parte daquelas pessoas. Até que uma mão, angelical, tocou minhas costas, e uma voz, suave, que eu escutei poucas vezes, mas que conhecia bem, disse:

— Vem, Berg. Eu te ajudo. Não liga pra eles.

Por um impulso, olhei para o rosto daquela que me estendera a mão. Era ela, minha heroína, protagonista dos meus sonhos, aquela por quem eu sempre senti que conhecia, mesmo tendo trocado apenas algumas singelas palavras com ela.

— Está todo mundo rindo de você. É melhor a gente sair daqui, e rápido.

A única coisa que eu consegui dizer foi:

— Ob... Obrigado.

Queria que alguém me beliscasse para eu ter certeza de que aquela garota era mesmo a Valentina (não faltariam candidatos). Enfim, eu estendi a mão para ela e ela me puxou. Guiando-me e ultrapassando a multidão, Valentina me levou até a parte de trás da igreja (que ficava dentro do colégio, uma obra arquitetônica louca) e pediu para que eu me sentasse em um tijolo que ali estava.

— Como você tá? — Ela perguntou.

Fui fraco, confesso. As palavras continuavam sumindo a medida que eu tentava colocá-las para fora da minha boca. Lembrei-me da careta que Madalena fazia enquanto ria de mim e dos celulares me filmando. Dos professores colocando a mão na boca para não demonstrarem que estava achando graça daquilo tudo. Fraco, fraco sim. Desatei a chorar.

Não sei se foi por pena, mas Valentina me abraçou. Parecia que o pior dia da minha vida estava começando a também ser o melhor. Minha vida sempre foi complicada, aquilo tudo pra mim era normal.

— Não fica assim. Eu tô aqui. — disse ela.

Como assim “tô aqui?”. Será que ela sabia que eu sempre quis tê-la por perto? Parei de questionar, fechei meus olhos e pousei minha cabeça no seu ombro. Eu queria que aquele momento nunca acabasse. Nunca, nunca mesmo. Mas acabou.

— Ele tá ali, Rafa!

Vi que era Ludi que estava apontando pra mim. Certamente estavam me procurando.

— Como é que você ta, cara? — perguntou Rafa. Nesse meio tempo, Valentina já havia me tirado dos seus braços.

— Ta tudo de boa. Ela me ajudou.

— Meu nome é Valentina. — disse ela.

— Prazer, Ludmila e Rafael. Ludi e Rafa. Obrigado por ter ajudado o nosso amigo.

— Não foi nada.

— Você ficou em choque Berg (cara, me espantei quando Valentina disse meu nome!)

Foi mas forte do que eu. Abracei Ludi e comecei a colocar para fora mais das lágrimas que eu prendia junto com minhas mágoas, que eu cultivei por tanto tempo:

— Não aguento mais, vou desistir de tudo! Não sei vocês, mas pra mim não dá mais... Todos me odeiam! Será que eu tenho que mudar? Ser um moleque como eles?!

Valentina abaixou-se perto de mim e disse:

— Olha Berg, eu sei que esse é o seu nome porque você é muito conhecido aqui na escola porque você age como você mesmo: Uma pessoa inteligente, simples, ingênua... Eu odeio injustiças e por isso eu te ajudei. E sempre vou ajudar porque admiro pessoas assim. — ela estendeu a mão — prazer, Valentina. Quero muito ser sua amiga. E você aceita ser meu amigo?

Minha consciência responderia: "Que amigo o quê?! Eu quero ser o seu homem e ficar do seu lado pelo resto dos nossos dias. Dias esses que serão muitos. Quero ter filhos com você e te fazer a mulher mais feliz desse mundo!”. Mas eu respondi:

— Claro que sim... Obrigado por tudo.

E ela me deu outro abraço.


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Notas finais do capítulo

Gente! *---*



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