A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos


Capítulo 10
Meus amigos, minha vida


Notas iniciais do capítulo

Digo que a partir daqui começa a parte mais tensa da fic.
Valentina e Berg estão amigos, será que pode haver algo mais entre eles?
Aliás, quem é Valentina? Vocês não acham ela muito misteriosa?



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Diário do Berg

Por mais que eu não gostasse daquela escola e das pessoas me sacaneando, eu continuaria lá apenas por esses motivos: meus verdadeiros amigos, e a Valentina. Meu Deus! Ela voltou... Como eu esperei por aquele momento! Aquele gesto que ela fez, de me abraçar, me confortar mexeu muito com a minha pobre cabeça, que naqueles tempos andava cheia de problemas.

Antes de ela voltar, quantas vezes eu pedira pros meus pais me tirarem daquela escola! Mas agora eu nem queria saber. Se fosse pra ficar perto dela, eu apanharia o que fosse preciso. Não é sadomasoquismo, é só um amor platônico.

Mutante, que achava que era minha maior confidente, estava começando a ficar pra trás. Eu gostava até de conversar com aquela espinha, virava noites e noites conversando com ela, mas quando Valentina me deu o número do telefone dela, só Dona Hilda pra me tirar do celular.

De início eu hesitava em ligar pra ela. Aliás, eu sempre penso duas, três, quatro vezes antes de falar com alguém, pois eu tenho um certo receio de incomodar. Odeio ser chamado de chato. Tô enrolando muito,mas estou prestes a contar um dos momentos mais dramáticos da história até aqui.

Sinto saudades da Mutante. Daquele jeito meio itálico de ela falar, até nem ligava mais da sua ponta branca estampada no meu rosto. Até já a considerava parte de mim.

— Berg, que espinha horrível. Espreme isso! — disse Ludi.

Como já vos disse, Ludi era daquelas amigas que a-do-ra-vam espremer espinhas de todos as sua volta. Parece nojento. Mas foi como um piscar de olhos. Seus polegares entre ela, Mutante. A coitada não teve nem a oportunidade de gritar por socorro.

— Sua assassina! — gritei. — Eu não te permiti fazer isso.

— Qual é Berg? Era só uma espinha. Que nojo, cara, tava fazendo uma criação? — brincou Rafa.

— Não é da conta de vocês.

Fiquei super, hiper, mega triste. Era como se uma amiga minha houvesse morrido. Adeus, Mutante. RIP. Fiquei uns dias sem falar com a Ludi, porém deu na minha telha de que ela era inocente na história. Ela não sabia que eu tinha um grande apreço por aquela espinha! Foi a primeira vez que eu lidei com a morte. Foi uma maneira meio torta, mas foi.

💜

Enquanto eu sofria pela “morte” da minha amiga espinha, todos me zoavam mais ainda. Ludi, Rafa e Valentina me diziam para eu não ligar, pois com o tempo eles esqueceriam o episódio do tombo em público. Meu ódio pela Madalena tornava-se mais mortal a medida que eu passava por ela e ela ria de mim como se não esquecesse que fora ela quem havia me proporcionado aquela queda, digna de um mico premiado.

E é aí que eu fui premiado mesmo! Com mais pessoas zoando minha queda e meu bordão (“Ave Maria ao quadrado”) cada vez mais.

― Berg, sua comunidade, "Ave Maria" no Orkut tá bombando! ― disse Rafa.

― Não! Como assim? Apaga isso!

― “Como assim” o quê? Você vai ficar famoso agora, amigo! Só tenho uma noticia meio ruim...

― O que é que pode ser pior do que tudo isso hein Rafa?

― Todo esse sucesso da comu, foi porque filmaram sua queda e colocaram no Youtube. Cara tu ta se tornando um hit da internet. Tem neguinho fazendo até funk com a tua fala. As popozudas vão todas rebolar e ir até o chão. Já to vendo. Adeus Créu, adeus Rebolation. Falou dança do quadrado!

― Isso não tem graça Rafael. Tenta excluir essa comunidade, senão...

― Senão...

Pensei um pouco. Meu sangue ferveu, porém fiquei gelado. Mil palpitações. Coração a mil. Foi tudo por culpa dela. Madalena, a louca!

Eu fiquei furioso. Corri, saí do pátio deixando Rafa sozinho e entrei na sala. Vi a Madalena sentada, fofocando, como se nada tivesse acontecido:

― Levanta aí!

― O quê?

― Levanta aí porra! (quando eu fico com raiva eu falo tudo o que vem à minha cabeça)

Quando ela levantou, meio assustado, peguei-a pelo braço e a puxei até uma parte deserta do pátio. O professor ainda não estava na sala. Chegando lá eu despejei naquela garota tudo o que estava preso.

― Você viu o que aconteceu? Tudo por sua culpa!

― Minha culpa? Olha onde pisa garoto, assim você não cai. Como na premiação. Seu mosca morta!

― Garoto? Ele morreu beleza? Aqui quem fala é um homem, que de hoje em diante não vai deixar ninguém, mas ninguém mesmo, passar por cima de mim. Entendeu bem? Eu te fiz uma pergunta. Você entendeu?!

― Tá... Tá certo. Entendi ― Ela ficou mais seria.

― Ótimo, porque se acontecer de novo, eu conto seu segredinho pra todo mundo.

― Haha! Que segredo? Você nem sabe da minha vida!

― Que você toma remédio pra controlar suas loucuras. Mas acho que você não tá tomando mais. É melhor voltar, viu. Tchau.

Quando eu saí ela continuou parada, meio que perplexa. Acho que a Madalena não esperava que eu soubesse daquilo.

Contei para os meus amigos o que havia acontecido. Quase que eles não acreditaram.

— Não acredito que você ameaçou espalhar o segredo dela, Berg! — disse Ludi.

— Nem eu. Que coragem toda foi essa Berg? — perguntou Rafa.

— Não sei. Mas tudo o que eu disse foi verdade. Sou outra pessoa agora.

— Você não seria capaz disso, Berg. — Valentina falou. — você é uma pessoa de coração bom, bem diferente dela. Eu falo isso com certeza pelo pouco que te conheço.

— Você tem razão Valentina. Mas de hoje em diante, seja o que acontecer eu vou erguer a cabeça e não vou dar valor para o que as pessoas falam de mim.

— É assim que se fala, Berg!

Outro abraço coletivo. Desde esse tempo eu comecei a ver quão importante são os verdadeiros amigos na nossa vida. Cara, eu amava aqueles três! E a Valentina eu amava ainda mais, claro. Só não tinha coragem de falar isso a ela.

💜

Diário da Madalena

Berg é um idiota mesmo. Ele achava que eu ia deixar aquela ameaça por aquilo mesmo. Que eu ira abaixar minha cabeça. Que eu deixaria que ele gritasse comigo e eu obedeceria. Jamais! Nunca obedeci nem meus pais. De uma forma direita não.

Ele que me aguardasse. Lindemberg Araújo teria uma surpresinha.

💜

Diário do Berg

E eis que Rafael me aparece com outra novidade:

—Berg, hakearam meu Orkut!

Bom, como a comunidade era apenas do Rafa e ele era o único mediador, ficou impossível excluí-la. Com o sucesso do meu vídeo na internet, cada vez mais entravam pessoas na comunidade e chegou um momento que estava estourando 500 pessoas na comunidade. Já o vídeo tinha mais de 5.000 acessos, tudo isso com pouco mais de três dias após o incidente.

Agora, quem havia hakeado o Orkut do Rafa? Bom, naquele tempo qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento saberia como hakear um Orkut. Basicamente se o e-mail da pessoa em questão não estivesse confirmado (como foi no caso do Rafa) era mel na chupeta tomar o Orkut.

— Só pode ter sido a Madalena, cara. Essa guria não vai me deixar em paz.

— Esquece ela, Berg. Foi mal, cara. Não sabia que ia dar essa repercussão toda. Mas cara, a gente tem que saber quem foi que postou no YouTube. Se a gente souber quem foi que postou talvez dê pra convencer a pessoa a tirar. Tu consegue? — Rafa perguntou.

Rafa e eu fomos à Lan House que havia perto da escola assim que acabou a aula. Naquela noite teria culto e a mãe da Ludi a obrigara a acompanhar à igreja, pois era um culto especial com o tema pais e filhos. Dona Hilda também de certa me obrigaria a ir. Enfim, por causa disso, Ludi teria de estar em casa cedo. Valentina foi nos acompanhando até a Lan, mas foi logo saindo, pois dizia ela que tinha um compromisso.

— Ah, é fácil descobrir quem postou o vídeo. Só um minuto. Haaa já imaginava.

— Quem foi, Berg?

— Olha só a foto da conta dele.

— O John? Pensei que ele fosse burro.

— Ô, Rafa, colocar um vídeo no YouTube é fácil. Só que ele foi burro o bastante pra não ter feito uma conta falsa. Agora ele vai se dar mal.

— E agora, o que você vai fazer?

— Vou processar esse "valentão". Eu vou acabar com ele. John vai pagar por tudo o que ele me fez.

— Berg esse cara quase te matou, você parou no hospital e tudo. Lá também que a Madalena tentou te matar! Tu ta ficando doido moleque?

No momento em que eu iria responder, ainda na lan house, um rapaz passou, apontou pra mim e disse algo do tipo “não é aquele guri do Ave Maria?”. Não escutei direito porque ele estava longe. Virei a cabeça pro computador e fingi mexer em algo só pra disfarçar e finalmente respondi ao Rafa:

— Vou falar com os meus pais e pedir pra dar um jeito de contratar um advogado. Quando eles virem o vídeo, vão concordar.

A ideia de processar o John não parava de martelar na minha cabeça. Danos morais! Minha imagem estava sendo exposta para o mundo, e meu mico agora já estava em nível internacional. Ave Maria ao quadrado!... Eu não queria mais dizer isso!Precisava me controlar, mas parecia mais forte do que eu. Eu queria conseguir o mínimo de respeito daquele pessoal, mas o que eu consegui foi apenas mais gente me achando com cara de palhaço. Quanto mais eu prestava atenção, mais pessoas estavam vendo o vídeo e participando da comunidade. Sério, eu queria ser um avestruz e enfiar a minha cabeça num buraco. Pensei demais em se seria isso mesmo o que eu queria fazer, levar tudo pra justiça, mas só assim mesmo pra talvez acabar com tudo isso.

Eu não tinha ninguém realmente que eu podia contar, tipo uma pessoa que eu pudesse me sentir seguro mesmo do que eu estava fazendo era certo e tal. Não sei se isso era errado porque eu não tinha medo de dizer que amava meus amigos, mas sem ter esse tipo de confiança neles.

Já estava no caminho de volta pra casa (logo após eu sair da lan house), quando duas meninas ficaram olhando pra mim e cochichando entre si:

Já sei quem é, é aquele nerd da comunidade!

— Ave Maria ao quadrado!— brincou uma delas.

Abaixei a cabeça e tive certeza de que o John e a Madalena queriam estava dando certo: mico mundial.

— Ei garoto, vem cá! — uma delas me chamou.

Continuei andando.

Me dá um autógrafo!

Depois de dar o autografo para as garotas eu fiquei em dúvida novamente. Porque será que eu sou assim?! Por que minha vida é assim? Alguém pode comentar aí embaixo e me dizer (um dia, por meio de sinal de fumaça porque nem eu sei se eu vou estar no mesmo endereço quando você acabar de ler isso aqui) Nem eu que sou eu sei. Tá difícil. Alguém me ajuda? Dê sua opinião, eu devo ou não processar o John? A fama ou um soco na cara?


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Notas finais do capítulo

Pobre Berg :/
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