A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos


Capítulo 8
Cuidado para não se queimar


Notas iniciais do capítulo

Algumas coisas desse capítulo são de exclusividade da versão do Nyah!, ou seja, na época em que eu postei em outro site, elas não existiam :)
Aproveitem!



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Diário do Berg

Passei de boa do 7º para o 8º ano. John repetiu (já era a terceira vez). Madalena também passou, e ela estava ficando cada vez mais popular dentro da escola. Em 2009, passei a perceber que você só é zoado se mostrar que é medroso e que tem vergonha. Eu esbanjava isso, tanto que parecia que tinha um “Me zoe ou me quebre” escrito de preto na minha testa.

Acho que ela chamou sua atenção no capítulo passado, mas A Mutante continuava cultivada no meu rosto. Ela estava secando, mas continuava lá. Mutante era a minha companhia, então eu conversava com ela sobre assuntos infindos (mesmo eu sabendo que ela era apenas a minha consciência).

No 8º ano também a Ludi e eu estávamos estudando na mesma sala, e conhecemos um amigo muito especial: o Rafa.

Chegou como não quisesse nada: bandana com estampa de caveira na cabeça, uma mochila maneira e uma camisa dos Guns N’ Roses. Jogou a mochila no chão, sentou-se preguiçosamente na carteira(pernas estendidas) e pôs no celular uma música qualquer. Fones de ouvido. Altura máxima. Rafael parecia ter criado um mundo só dele. De olhos fechados ele cantarolava:

Knoking, knoking, knoking on heaven’s door, hey, hey hey!

Todos olhavam para ele. "Mauricinho. Com o tempo vai chamar a atenção de todo mundo", pensei. E chamou mesmo. Meses depois, era o gatinho alfa da São Benedito. As meninas poderiam sair no tapa só para ficar com ele. Rafa, por sua vez, parecia não estar nem aí.

Em junho aconteciam as festas juninas da São Benedito. Muito vatapá, muita dança, fogueiras, barracas do beijo, só não digo muito forró porque apelaram pro funk. Fui obrigado a ir para a tal festa para ajudar com a decoração da barraca do beijo em troca de um ponto na média em todas as matérias. Rafael seria um dos caras que ficariam lá na parte masculina da barraca. Sim, tinha também a parte feminina e adivinhem leitores quem estava lá, com suas marias chiquinhas? Madalena em pessoa.

Enfim, aquele seria o dia em que as todas as meninas beijariam Rafael Furtado e que Madalena Feitosa seria execrada por todos os caras da escola.

—Não sei o que essas meninas veem nesse tal Rafa. — comentou Ludi.

— Nem eu.

Eu sabia. Ele era um cara que curtia rock e quando as meninas caíam em cima dele ele simplesmente as esnobava. Nunca dera uma palavra a não ser o necessário dentro da aula. Tanto era que todos tinham sua panelinha, menos ele.

Duas das meninas mais populares da escola estavam na barraca do beijo, além da Madalena. Eu pagaria dois reais com gosto por um simples selinho (outros se aproveitavam e ficavam mesmo com as garotas) de uma delas, só pra ver a Madalena vermelha de vergonha pelo seu ex my love estar beijando outra na sua frente.

Entrei na fila da barraca do beijo. Ludi estava vendo as quadrilhas no pátio. A barraca ficava em frente a uma das salas de aula.

— Berg eu acho melhor você não ir...

Quem disse isso? Ah, você Mutante? Por que eu te escutaria? Tu é só uma espinha idiota e eu quero dar o troco na Madalena. Não esqueço mais aquele dia no hospital.

Espinha idiota não! Assim você me ofende tio! Vou ficar quieta só observando. Depois não diga que não avisei.

Ta ok. Não vou te responder por que está todo mundo olhando pra mim e me achando com cara de doido.

O papo com a Mutante fez o tempo passar mais rápido. E eis que quando chega bem na minha vez, Natielle, a garota que estava na barraca, reveza com outra: Madalena.

— Lindemberg Honório Araújo, pensava que você era o garanhão! Ou você quer viver um flashback comigo? Vai, eu aceito...

— Que flashback o quê Madalena! Queria era dar uns pega na guria que tava aqui agora.

— “uns pega”? Do jeito que você é, vai querer ir à casa dela pedir permissão aos pais. Mas quem ta aqui agora sou eu e já que você pagou vai ter que me beijar.

Madalena fez um biquinho com os lábios. Ficar com ela, jamais! Virei as costas e saí, deixando a infeliz beijando o vento. Todos — eu disse todos — os que estavam naquela fila riram dela.

— Levou um fora do cara mais feio da escola!

Trajada de matuta, com seu vestido estampado, com dificuldades Madalena saiu correndo segurando a saia do mesmo. Ela passava as costas do braço direito nos olhos. Todos sabiam que ela estava chorando.

Você magoou a menina.

Cala a boca, Mutante, senão te espremo sem dó nem piedade. Você não sabe quem é aquela garota. O que você quer que eu faça?

Peça desculpa a ela.

Fumou o quê Mutante? Essa menina tentou me matar! Ela é doida!

É melhor pedir desculpa do que ficar com a consciência suja.

💜

Já era a enésima vez que tocava a Dança do Créu. As tchutchucas de doze anos de idade iam até o chão e voltavam, todas vestidas de matutas. Era hilário como elas cantavam o funk sem saber o que a letra da música falava.

Não vai pedir desculpas a Madalena?— insistiu Mutante.

Se eu pedir você vai me deixar em paz?

I swapped my innocence for pride
Crushed the end within my stride
Said I'm strong, now I know that I'm a leaver ... ♪

Lá estava ela, em um lugar da escola deserto. Sentada no batente em frente a uma fogueira, acho que feita por alguém no começo da festa.

Vamos, Berg. Vá em frente.

Eu juro que eu te espremo depois disso!

Fui. Fui mesmo e ainda sentei ao lado dela. Madalena olhou pra mim e fez uma cara de cachorro rosnando.

— Calma Madalena! Eu vim te pedir desculpas, mas se não quiser aceitar ta de boa.

— Eu não aceito porcaria nenhuma. Eu queria ir embora, mas se eu for passar por aquele portão todo mundo vai me ver e vão rir de mim. — disse, desatando em lágrimas. — E tudo por culpa sua!

É, galera, fiquei com pena dela. Arrisquei e passei minha mão nos seus cabelos ondulados e induzi sua cabeça para que ela olhasse para mim.

— Berg... Você disse que não queria flashback.

E não queria mesmo. Ficar com a Madalena não era bem o que eu queria. A fogueira compunha um clima bem romântico. Eu fechei os olhos, e quando os abri, vi a imagem de Valentina, sorrindo para mim. Beijei-a e fechei os olhos novamente. Era um sonho que acabava de virar pesadelo quando eu abri os olhos e vi que na verdade Valentina nunca estava ali, e sim Madalena em carne e osso.

— Seu tarado doente! — exclamou Madalena.

— Tarado o quê? Eu só quis te consolar!

Ela parecia ter brasas nos olhos, e sendo assim, me empurrou e eu caí de costas na fogueira. A chama ardia na minha pele, e tamanha era a dor que eu não conseguia me levantar, só gritava por socorro. A única pessoa que poderia me socorrer foi a que me jogara ali, e ela estava parada, de braços cruzados e olhando para mim como se tudo aquilo fosse normal.

Minha roupa estava pegando fogo, minha pele assando. Foi quando alguém me estendeu uma mão, uma mão que seria de uma pessoa amiga futuramente.

— Segura minha mão! Rápido.

Ainda não conseguia identificar de quem era, por causa da fumaça, mas eu aceitei a ajuda. Era Rafael, e logo atrás dele estava Ludi, com uma jaqueta em mãos, na qual me enrolou e me manteve nela durante alguns instantes.

— Foi por pouco, Berg. Eu vi tudo lá da barraca do beijo e chamei sua amiga pra me ajudar a te resgatar. Aquela Madalena é louca!

Isso mesmo. Era ele, o mauricinho, fã dos Guns N’ Roses. O da bandana, das munhequeiras e da mochila legal. Rafael Furtado, vulgo Rafa.

Eu tinha que pedir desculpas para o Rafa por achar que ele era metido a besta e cheio de não-me-toques? O cara era muito, mas muito legal! Eu, ele e Ludi formamos um trio amicíssimo, o qual não parava de conversar na hora da aula e nem no intervalo um só momento. O mp4 dele tinha entrada para dois fones de ouvido e sempre nós três dávamos um jeito de escutar uns rock e nos livrarmos dos forrós infelizes que tocavam na rádio da escola.

Rafa me respeitava por eu ser nerd e não tinha menor interesse na minha amizade na hora da prova, se é que vocês me entendem. Ele era um cara estudioso e tal. Ele me mostrou que não é preciso ser nerd pra ser estudioso, só basta fazer sua obrigação de aluno.

Os pais adoravam colocar a culpa do não aprendizado dos filhos no governo e/ou nos professores. Mas vamos combinar: conhecendo a situação de perto, vi que o ensino é o mesmo no colégio público e particular, só mudam os alunos. É claro, a estrutura e a administração de determinada escola contam alguns pontos. Talvez os alunos do ensino privado aprendam mais porque os pais estão investindo dinheiro e eles se sentem na obrigação de se interessaram, claro. Mas no ensino público nossos pais também pagam: os impostos. Foi com o dinheiro dos impostos que se comprou tudo naquela escola e em todos os outros órgãos públicos.

Mas voltando ao assunto, eu e a Ludi passamos a andar com o Rafa para cima e para baixo do colégio, e as pessoas começaram a me olhar com outros olhos. Eu estava me tornando popular, mesmo sem querer. Já era fim de ano e nós já éramos melhores amigos.

— E aí, Berg, tá gostando de ser popular?

— Cruz Credo, Ave Maria ao quadrado, Rafa! Eu não sou e nem quero ser popular!

— Já era, Berg. Você é meu amigo, agora. Vou te apresentar pras meninas. Tem umas fáceis e você precisa esquecer a Madalena, falou?

— Cruz credo,Ave Maria ao quadrado! Elas me odeiam! E tem mais: Eu odeio a Madalena. Ela tentou me matar duas, DUAS vezes!

— Nossa Berg, você fala sempre isso! É engraçado pra caralho o jeito que você fala, parece que tem alguém te dando um beliscão.

— O quê?

— "Cruz credo, Ave Maria ao quadrado!". Berg tive uma ideia: que tal se a gente fizesse uma comunidade no Orkut pra você? Você iria ficar famoso e as pessoas iam te respeitar pelo que você é, e você não precisaria mudar por ninguém, cara!

— Ave Maa...desculpa. Não, eu não quero isso Rafa. Só pra galera zoar mais com a minha cara...

— Confia em mim! Tu ainda vai ser o cara mais popular desse fim de mundo que é essa escola — disse ele, batendo nas minhas costas.

Fiquei nervoso, muito nervoso com essa tal comunidade no Orkut que Rafa disse que ia fazer. É. Ele fez.

Eu ficava toda hora olhando se alguém tinha participado, mas felizmente só tinha três pessoas: eu, a Ludi e o Rafa. A comunidade tinha o título de “Cruz Credo Ave Maria ao Quadrado” e esta ficou com estes míseros três membros até o final daquele ano.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do Rafa?
E a Madalena, vai continuar sem noção?
Não perca os próximos capítulos!

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