A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos


Capítulo 19
Ficando pra titio


Notas iniciais do capítulo

Genteeeee
Hoje o post é especial pq é meu aniversário. Será que eu ganho um comentário como presente? E uma recomendação? *tô brincando* kkkk
Vamos lá



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Diário do Berg

Caraca, não sei como descrever o grau da dor de cabeça com a qual eu acordei sentindo no dia seguinte. Depois as lembranças foram voltando à minha mente: a perda da Valentina, a briga com o seu tio, a briga das garotas, o ... o ....

— O beijo, Berg! — Andreza me lembrava. — o beijo que aquela garota te deu. Foi um beijão e tanto.

— Quem me beijou?

— Aquela nerdzinha magrela que parece com você. Aquela que já te namorou.

— A Madalena? HAHAHA!

— Que foi? Não lembra?

— Você quase me pegou! Ainda bem que eu sei que hoje é 1°de Abril!

— É a mais pura verdade.

Achei que minha irmã tava zoando comigo. Então, mesmo com aquela puta dor de cabeça fui tirar satisfações com os meus amigos:

— Te beijou sim, Berg! — Ludi disse revoltada. — Atchim!

— Que houve contigo?

— Nada demais.

— Problemas com a mãe dela. — disse Rafa. — Ela passou a noite na delegacia porque deu uma surra na Madalena. Depois ficou debaixo da chuva chorando.

— E tudo por minha causa. — falei cabisbaixo.

— Eu descobri que foi ela quem bostrou a foto pra binha mãe. Enfim, não imborta. — a voz dela tava engraçada.

— Bom, ela teve o que mereceu.

— Só quero ver a cara dela abanhã no colégio. Roxa! HAHAHAHA! Eu sou bal. Atchim!

💜

Diário do Berg

A Madalena apareceu na escola com o olho muito roxo, seus óculos disfarçavam um pouco, mas eu percebi. A galera que estava na Mofoville na noite anterior zoou muito ela, e eu , mesmo ela não merecendo, fiquei com pena dela. Mas o mínimo que eu fiz foi não rir. Ludi estava às gargalhadas, e o Rafa também.

— E aí, apanhou muito?

— Tarada!

— Madalena perdeu o BV à força! (Ela nem era BV)

— Coitado do Nerd! (sobrou pra mim)

— Ei, Berg soltou a franga hein! “Cruz Credo, Ave Maria ao quadrado!”

— Ihaaa! Saiu do armário, ainda bem que não tocou aquela musiquinha lá! (I Will Survive?)

Aquilo foi conversa pra mais de mês. E os meses se passavam e eu tava pouco me importando pras provocações, porque eu ficava imaginando como a Valentina estava. Até que chegaram as férias de julho, pra minha felicidade.

💜

Diário da Valentina

Não estava mais aguentando. Só não considerava 2010 o pior ano da minha vida porque foi nele que me aproximei dos meus amigos e comecei a namorar o Berg. Mas me afastei de todos eles, perdi meu pai...

Acho que já tinha uns três ou quatro meses que eu estava ali naquele inferno no meio do nada. De Março até Julho foi chão. Pensei que não ia aguentar ficar sem fazer nada, apenas assistir televisão amarrada (isso mesmo, amarrada) no pé da cama da minha avó. Minha avó era uma boa pessoa, seus métodos "antidrogas" que eram muito radicais. No início tentei resistir, mas depois comecei a perceber que aquilo era pro meu bem. A fissura era enorme, uma ansiedade... Achava que aquilo só passaria se eu fumasse. Roía minhas unhas até chegar na carne e fazer com que elas sangrassem nos primeiros dias. Depois, tentei me livrar das correntes que me prendiam, à toa.

— Vó, me tira daqui! — supliquei, certa vez.

— Você vai fugir, minha filha.

— Prometo que não. Essas correntes estão apertando meu pé.

Meu tio me soltou, e eu corri, corri, corri, mas não sabia pra onde ir. Até que me pegaram. Depois daquele dia era vista grossa.

Comecei a aproveitar tudo que passava na TV, lia alguns livros, inclusive os do Harry Potter que eu adorava, assistia os repetidíssimos episódios do Chris, as novelas (nunca gostei de novela)... A Clara da novela Passione me dava um ódio! Enganava o Totó, aquela piranha!

Putz, eu estava noveleira. Pensei que com as férias me dariam uma trégua, mas pensei errado... A marcação ficou cada vez mais cerrada.

💜

Diário do Berg

Eu não sabia o que fazer. Caramba, sem a Valentina do meu lado tava difícil. Tudo o que eu fazia era com ou para ela! Saí pesquisando sobre o lugar onde ela estava: Quixadá. Era uma cidade um pouco distante de Fortaleza. Mas para o amor não tem distância. Não existiria distância alguma que nos separasse. Pus na minha cabeça que a buscaria, fosse o que fosse.

— Andreza, preciso falar com você.

— O que foi, Berg?

— Eu vou fugir. Vou buscar a Valentina.

— Você tá maluco irmão?! Não sabe nem onde é!

— O que importa? Eu a encontro. Só quero te avisar. Não conta pra mamãe, não agora. Vou levar o celular e fico mantendo contato com você. Vou fugir esta madrugada.

Ela não contou pra mamãe, mas contou pro Rafa e pra Ludi. Quando estava no lado de fora, com a mochila nas costas, às 2 da manhã, com pouco dinheiro no bolso, com muita esperança e me despedindo da minha irmã, Ludi e Rafa vieram ao meu encontro. Os dois também estavam com mochilas nas costas.

— Ufa, Rafa. Ainda bem que a gente correu, se não a gente não chegava a tempo. — disse Ludi.

— O que, o que vocês...

— Eu disse a eles, Berg. — Andreza confessou.

— E a gente vai com você.

— Não, não posso meter vocês dois nessa. Principalmente você, Ludi, que já sofreu demais com essa história.

— E quem disse que a gente recusa aventuras Berg? A gente tá junto, tô cansado de repetir isso. — disse Rafa. — Mesmo assim, não iríamos te deixar fazer essa loucura sozinho.

— Têm certeza disso?

— Absoluta. — os dois responderam ao mesmo tempo.

Depois de muito choro e abraços amigos, Andreza chamou Rafa para conversar. A sós. Confesso: ainda não gostava de ver os dois juntos, mesmo com meus pais aprovando o namoro deles.

💜

Diário do Rafa

A gente ia com o Berg, sem nem pensar duas vezes. Mas antes, Andreza me chamou pra conversar. Pela sua expressão, o assunto era sério. Seríssimo.

— Não pode ser quando a gente voltar? O Berg ta atrasado.

— Tudo bem, só quero te pedir uma coisa. — ela disse. — Se cuida, e cuida do meu irmão.

— Mas... Mas por que tá dizendo isso?

— Eu... Eu tô grávida, Rafa! Aqui tem um filho seu. — pôs as mãos na barriga.

“Ergam seus copos por quem vai partir.
Longo será o caminho a seguir...
Nada será como costuma ser,
Nada vai ser fácil pra você...” (Matanza - Tempo ruim)

💜

Diário do Berg

Rafa, Ludi e eu seguimos a pé até uma das avenidas principais da cidade. Rafa estava calado, parecia que algo estava torturando sua mente. Bem, deixei aquilo pra lá, por enquanto.

— Agora, a gente tem que saber pra qual lado fica Quixadá.

— Bom, eu sei que para o lado direito é o Centro. Só pode ser o esquerdo.

— Por via das dúvidas, é melhor olhar no celular. — falei, pegando o aparelho do bolso.

— Berg, é melhor tomarmos cuidado. Esse trechozinho aqui é perigoso. — disse Rafa.

— Vai ser rapidinho. A gente veio do bairro Bom Jardim e não foi assaltado. Acho que aqui é fichinha perto de lá.

— Vai nessa, vai nessa, Berg.

Olhei no aplicativo do telefone, e consegui saber onde ficava a tal cidade. Já estava quase guardando quando...

— Passa esse celular vagabundo! Isso é um assalto porra!

(Desculpa sair da historia, mas vocês já perceberam que os bandidos sempre nos chamam de vagabundos quando estão nos assaltando? Vagabundos não são eles? Bom, naquele caso, foi assim).

Eu morria de medo de assalto. O marginal ficou parado com uma faca bem na minha cintura.

— Entrega logo, Berg! — Rafa berrou.

Eu entreguei o meu e o Rafa entregou o dele. O ladrão virou quando viu a Ludi escondendo o dela no sutiã.

— Epa mocinha, quero esse aí também.

— Aff! — ela entregou.

— Agora abram as mochilas. Quero ver o que tem dentro. Bora, bora, bora!

Deu a geral nas nossas coisas e saiu correndo. Pra que serve o programa Ronda do Quarteirão? Ah, promessa pro governador ganhar votos!

— Agora a gente ta sem grana e longe de casa. Nem dinheiro pro busão a gente tem! — disse Ludi.

— VOCÊS não têm. Eu tenho. Muahahaha! — ri, tirando uma grana de dentro do sapato. Ainda conseguia rir em meio aquela desgraça. Infelizmente não dava pra pagar três passagens para Quixadá.

— Então vamo voltar pra casa.

— Não, Ludi! A essa hora todo mundo ja deve ta sabendo da nossa fuga. Depois não vai dar pra voltar.

— E o que a gente faz? — retrucou.

— A gente continua. Se for preciso a gente trabalha, pede esmola, qualquer coisa. Mas vamos ajudar o Berg.

— Valeu, gente.

Depois caminharmos bastante, resolvemos nos juntar e fazer um "montinho de gente", nós três. Estava frio e estávamos com sono.

Já estava quase amanhecendo quando avistamos varias pessoas entrando e saindo de um lugar. Era a "Ceasa". Um lugar onde vendia legumes, frutas e tudo o que você pode imaginar, por um preço bem acessível. Era meio que uma feira livre: caminhões entrando e saindo, muito movimento, mesmo que de madrugada.

— Ai, que fome!

— Ludi, espera. Olha a placa daquele caminhão. — falei, apontando.

— O que tem a placa do caminhão, Berg? Hã?

— "Quixadá – CE.”

— Você não ta pensando em ...

— Já pensei. Vambora pra dentro daquele caminhão agora! Vamos arriscar. Pela Valentina.

Corri, e esperei um descuido do motorista. Os outros dois amigos se olharam e, sem alternativa, me seguiram.

O caminhão era daqueles fechados. Estávamos os três no cantinho encolhidos para ninguém nos ver.

— A gente não tem certeza que esse caminhão vai pra Quixadá.

— Ah, Ludi, placa é placa!

— E daí?

Um rapaz fechou as portas do caminhão. Ficou tudo escuro e abafado.

— Argh, que cheiro! Isso me deixa enjoado!

— Pô, Rafa. Se fosse mulher, diria que está grávido. — Falei, pegando a lanterna da mochila. Apontei-a para seu rosto e vi que ele estava fechando os olhos devagarzinho. Rafa passou mal e desmaiou!

— Berg, ele ta enjoado mesmo!

— E agora Ludi, o que a gente faz?

— Joga água no rosto dele.

Joguei e em pouco tempo ele voltou a si. Enquanto isso o caminhão seguia na estrada, e nós estávamos muito confusos.

💜

Diário do Rafa

Eu não estava enjoado coisíssima nenhuma, e sim imaginando como seria minha vida com a Andreza grávida. Aquela palavra sim, me fizera desmaiar. Quanto tempo demorava pra chegar em Quixadá? Eu não ia aguentar carregar essa cruz por muito tempo. Eu tinha que dizer pro Berg que engravidei a irmã dele. Pronto para enfrentar a fera?

— Berg, eu tenho que te falar uma parada séria.

— Agora cara? Bom, sabe que dentro do caminhão não vai ter pra onde você correr.

— Por quê?

— Dependendo do grau da situação, eu posso te encher de pancada. (um nerd falando isso?) Brincando. Fala logo!

Aproveitando que a Ludi dormia, comecei a contar. Fosse o que Deus quisesse!

— Berg... É que...

— Diz logo, pô!

— Tua irmã tá esperando um filho meu. Você vai ser titio!

— Seu filho de uma mãe, seu tarado gala seca! — havia ira nos olhos de Lindemberg.

— Foi um acidente, Berg!

— Acidente? O que eu te falei, Hã? — Berg mostrou os punhos para mim.

Ludi acordou e perguntou:

— Gente, o que tá acontecendo? Vocês querem falar baixo ou querem que o motorista escute? Querem botar tudo a perder?

Enquanto nossa amiga resmungava, eu cobria o Rafa de pancada, e ele colocava os braços no rosto para proteger.

— Diz que é mentira porra! Diz que é mentira!

— É VERDADE OK! E PARA DE ME BATER. EU AMO SUA IRMÃ E SOU CAPAZ DE FAZER PRA ELA O MESMO QUE VOCÊ FAZ PELA VALENTINA!

— EU NÃO SOU UM TARADO NÃO! EU RESPEITO A VALENTINA! E LAVA A SUA BOCA PRA FALAR DELA SEU FILHO DE UMA MÃE!

O caminhão parou.

— A gente ta lascado. A gente já era. E tudo por culpa de vocês dois. — disse Ludi.

Achamos melhor desligar a lanterna, mas logo a luz do sol entrou no caminhão quando o motorista abriu a porta.

— Vocês aí. Rapa fora!

O homem era daqueles, estilo lenhador, gordo, feio, peludo, barbudo, fedorento. Dava medo.

— Vamo logo pivetada!

— A gente já ta saindo senhor.

— Por favor, não chama a polícia. a gente só quer chegar em Quixadá. Eu vou buscar minha mulher. — disse o Berg.

— Mulher?! Você, nessa idade? Faz me rir.

— Sim senhor.

— Beleza. Vou ajudar vocês. Espertos não? Olha pra cara de vocês! Tão com fome né.

— Sim, mas não importa.

— Eu to faminta. — Ludi deu a indireta.

— Tem um restaurante bem próximo daqui. Vamo lá fazer um lanchinho?

— Claro, a gente aceita.

💜

Diário da Ludi

O restaurante era daqueles bem horríveis mesmo, de beira de estrada. Mas a gente tava com tanta fome que nem pestanejamos. Quando terminamos de comer, Berg tirou o dinheiro pra pagar nossas despesas.

— Nada disso. — disse o caminhoneiro. — Eu convidei, eu pago.

— Valeu.

Berg ainda estava de cara amarrada pro Rafa.

— Eu vou ao banheiro, beleza? — disse o Rafa.

— Não, eu que vou! — disse o Berg.

— Você só inventou de ir porque eu também vou.

— Gente! Parem! — interrompi. — Já ouviram falar em fila?

Os dois foram pra fila do banheiro. Enquanto isso eu fiquei sozinha com o homem, que terminava de derrubar um prato que parecia ter uns 10 metros de altura só de comida. Ele ficava olhando pra mim com uma cara estranha, de tarado e depois de algum tempo, falou:

— Menina, você tem quantos anos?

— Eu, 16.

— Ah.

Ele veio pra cadeira do meu lado. Tinha um cheiro de sovaco insuportável.

— Legal. Tem namorado?

— Eu vou ver se os meninos já saíram. — ele segurou meu braço.

— Não precisa ficar com medo. Tô só perguntando.

— Não, não tenho.

Ele colocou a mão na minha perna e foi subindo.

— Seu... doente! — acertei um chute no saco dele.

— Ai, sua piranha!

Peguei a carteira dele que estava em cima da mesa, enquanto ele gemia de dor e corri para a fila do banheiro masculino.

— Gente corre!—gritei para os meninos.

— Que foi?

— Corre porra! EU TO MANDANDO CORRER!

O caminhoneiro tarado estava prestes a nos alcançar.


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Notas finais do capítulo

Mais treeeeetas!