A Fórmula do Amor escrita por Gabriel Campos


Capítulo 18
Amizades quebradas, porres e despedidas forçadas


Notas iniciais do capítulo

Muitos barracos nesse capítulo. Aproveitem tudo, escutem as músicas aliás. :3



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Diário da Ludi

Eu continuava morando de favor na casa do Rafa, mas diferente de quando eu morava na minha casa, eu costumava ajudar nas tarefas de lá. Lavava as louças, ajudava no almoço e ia com o Rafa no supermercado fazer as compras:

— Putz cara, o pai da Valentina faleceu essa madrugada. — disse, enquanto pegávamos alguns biscoitos na seção de massas.

— Ela deve estar muito mal.

— Quando sairmos daqui, vamos dar uma passadinha lá no Berg.

— O bom disso tudo é que eu vou ter um motivo pra ver a Andreza. — ele riu.

— Falar nisso, como ta o namoro de vocês?

— Acho que a gente casa.

Uma mulher olhava pra mim. Era minha mãe, Dona Maria! Tanto tempo que eu não a via... Tanto supermercado pra gente ir! Quando ela percebeu que eu sabia que ela estava ali, virou o rosto e saiu.

Eu queria muito falar com ela. Nós éramos muito unidas antes de tudo aquilo acontecer. Eu não sei se ela via em mim uma aberração. Eu era a pessoa de sempre, só que sem a máscara que a sociedade e ela mesma me obrigavam a usar.

💜

Diário do Berg

— E aí, não vão explicar essa pouca vergonha? — minha mãe espumava pela boca de tanto ódio. Valentina se encolhera de modo que abraçou meu corpo.

— Desculpa mãe. A gente não tá fazendo nada.

— Nada?! Berg, eu não esperava isso de você. E você garota, sua mãe ligou. Ela sabe que você está aqui. O sangue de Jesus tem poder! Ah senhor, dai-me paciência com essa juventude perdida! — exclamou Dona Hilda.

— Ligou? — Valentina estava perplexa. Como descobriram que ela estava lá em casa?

— Mãe, ajuda a Valentina, por favor?! A mãe dela a espanca. A Valentina sofre demais por causa da mãe dela! — implorei.

— Eu sei bem o motivo. Por causa dela o pai morreu... — olhou torto.

— Mãe!

Minha mãe era altamente preconceituosa, acho que era moda entre as mães do meu bairro. Mas no fundo era uma boa pessoa. Ela deixou a Valentina ficar lá em casa pelo menos uns tempos. Andreza emprestou umas roupas a ela, para ficar mais confortável. E minha mãe, com medo de ser avó precocemente, arrumou um lugar para ela dormir.

A Ludi e o Rafa apareceram lá em casa. Ludi tinha medo da minha mãe, mas ficou de boa naquele dia.

— Valentina, não precisamos mais nem dizer que pode contar com a gente pra tudo. — Disse Ludi.

— Verdade, não esconde mais nada da gente. — disse Rafa.

— Err... A gente é como uma família, né? — afirmou Valentina, com um pequeno sorriso no rosto.

Estendi minha mão pra frente e disse:

— Tamo junto então, até o fim?

Ludi e Rafa colocaram as suas mãos direitas em cima da minha. Valentina ficou parada olhando, e nós esperamos uma reação dela:

— Claro!

Abraço Coletivo.

Aquela foi uma das melhores lembranças que eu tive dos meus amigos. Andreza até tirou uma foto.

A nossa adolescência, apesar dos pesares, foi feliz. Até que foi. Fomos realmente felizes por três dias, quando recebemos uma visita que eu jamais desejei ter recebido. Fui até o portão naquele maldito dia e vi uma senhora e um homem de uma idade por volta de 30 anos.

— A Valentina mora aqui?

— Depende. Quem é o senhor? — perguntei.

— Eu sou o tio dela, vim buscá-la para morar conosco no interior.

(recomendo ouvir Cosmic Love – Florence + The Machine)

Valentina se agarrava em mim, na esperança de que eu pudesse protegê-la. E eu faria o possível e o impossível para isso. Rafa, que era o mais cabeça no lugar, tentou algum diálogo com o tio e a avó dela, mas eles estavam irredutíveis. Determinados a arrastá-la de qualquer jeito para o fim de mundo onde moravam. O tio dela, Eudes, entrou na minha casa e a puxou dos meus braços. E eu tentava brigar com aquele cara com quase o dobro da minha altura.

— Solta a minha sobrinha ou eu chamo a polícia!

— Vai chamar polícia porra nenhuma. Eu vou chamar por ter entrado na minha casa sem permissão.

Até que ele conseguiu pegar a Valentina de mim. Ela se debatia nos braços do tio, e eu tentava fazer com que ele a soltasse, mas sem sucesso.

— Solta minha namorada seu filho da mãe!

— Solto nada! Valentina é muito nova pra ter namorado, ainda mais juntos na mesma casa.

— Eu amo sua sobrinha!

Eudes fez de conta que não me ouviu. Colocou Valentina dentro do carro como se ela fosse um vagabundo no camburão da polícia, depois abriu a porta da frente para a avó, dona Rosário. Minha menina batia no vidro traseiro do carro enquanto ele seguia para o seu destino. Eu corri o máximo que pude para poder alcançá-lo. Ela me olhava, seus olhos brilhavam e eu queria muito estar perto dela. Isso me dava forças para correr atrás do veículo. Eu não tinha muito fôlego, e quando não aguentei mais, parei e me ajoelhei, vendo Valentina indo embora, chorando, precisando de mim. Rafa e Ludi, vieram e me abraçaram, compartilhamos minha dor naquele momento. Eu não tinha mais forças pra continuar a viver sem a Valentina, não, não!

O que fazer? Suicidar-me ou arranjar um jeito de trazê-la de volta?

💜

Diário do Berg

Sem Valentina, sem saber direito para onde ela fora, fiquei perdido no meu mundo. Solitário, como sempre fui. Resolvi beber, uma coisa que os jovens da minha idade, 16 anos na época, faziam naturalmente, e eu, nerd, cafona, idiota, não fazia com medo de ser pego pela polícia ou coisa assim.

Nada melhor do que uma boate nova que tinha acabado de abrir bem perto da minha casa (naquele galpão que eu fui no carnaval, lembra?). Era a “Mofoville”, o nome era como significasse “vila do mofo”, porque só tocavam músicas das décadas de 70, 80, 90 e do comecinho dos anos 2000. Bem legal, mas não tava nem aí pra que música iria tocar. Queria mesmo era esquecer-me de tudo.

“Ooh, it’s a passion
Ooh, you can feel in the air...”

Tocava Rhythm is a dancer do Snap!, e a galera toda da escola estava lá se divertindo. Eles vendiam bebida alcoólica pras pessoas e não queriam nem saber da idade... Putz, foda-se. Ainda existia o nerd dentro de mim que achava que tudo era errado. Errado é não viver a vida!

Eu desejava no fundo da minha alma ter aproveitado ainda mais cada momento que eu tive com a Valentina, mas era tarde demais.

Fui fundo na cachaça, uma bebida que é bem típica daqui no Ceará. Caralho como aquilo tinha um gosto ruim. Acho que as pessoas da escola estavam admiradas em ver o nerdão certinho enchendo a cara. E eu, queria que o mundo explodisse. Minha princesa não estava mais comigo, e eu fraco como sou, não achava um meio de trazê-la de volta.

— Mais uma dose! — exigi. Não sabia nem se eu teria grana para pagar pelas outras.

Aquela música era bem agitada, e eu já embriagado fui pra pista. Eu senti um fogo inexplicável, sério. Não me lembro de muita coisa, mas me disseram que eu soltei a franga, o galo, os pintos e a família toda.

💜

Diário da Madalena

Finalmente a namoradinha dele, a drogada tinha saído do meu caminho. Estava eu com algumas amigas na Mofoville, quando me deparei com uma cena inusitada. Inusitada mesmo: O Berg pagando um micão! Já devia estar pra lá de Bagdá, bêbado, por ter consolado sua perda com litros de cachaça.

Um remix de “What a feeling”, do filme Flash Dance estava a todo vapor, então não aguentei e fui acompanhá-lo na pista de dança, claro. Sempre na esperança de tirar uma casquinha daquela situação.

"First when there`s nothing
but a slow glowing dream
that your fear seems to hide
deep inside your mind."

Cheguei bem perto dele e comecei a dançar. Será que ele tava me reconhecendo? Sei lá, ele me odiava e não reclamou de nada.

"Well, I hear the music,
close my eyes, feel the rhythm,
wrap around, take a hold
of my heart."

Tentei chegar mais perto, na esperança de um abraço. ou até um beijo, mas ele se afastou. Achei que ele tivesse caído naquela minha lorota de que eu tinha um namorado que me ensinou a andar de skate.

— Eu não tenho namorado, Berg.

Os olhos dele estavam vermelhos, ele já estava meio tonto. Coitado, precisava de colinho. Eu podia dar.

"What a feeling.
Bein`s believin`.
I can have it all, now I`m dancing for my life."

Refrão, não tinha uma hora melhor. Era agora ou nunca. Tive de ficar na pontinha do pé e tascar-lhe um beijo. Um beijo naquele nerd bebarrão que eu amava. A metade da minha laranja... Ai ai, como eu queria que ele não me odiasse!

💜

Diário do Rafa

Bom, a mãe do Berg já estava pra lá de preocupada com o sumiço dele, então eu, Andreza e Ludi fomos procurá-lo. Dona Hilda, sempre encarando Ludi o tempo todo. Imagina quando ela soubesse que eu seria seu futuro genro? Ainda bem que ela não foi com a gente.

Encontramos nosso amigo na Mofoville muito louco, chapado, aos beijos com a idiota da Madalena, ao som de A-Ha - Take on Me.

— Berg! — Andreza gritou, decepcionada com o irmão.

— Solta ele, Madalena. — falei.

— Tirando o atraso, não é? Quer dizer, perdendo o BV. HAHA! — brincou Ludi. Isso fez a garota nerd ficar muito furiosa.

— É? É melhor estar perdendo o BV aos dezesseis do que ser um sapatão que não sabe o que é uma...

— Cala essa tua boca sua vadia!

Enquanto as suas garotas discutiam, Berg ficava rodopiando na pista de dança da Mofoville e a galera só rindo da confusão.

— Vamos levar ele daqui. — sugeri à Andreza.

— Mas Rafa, a Ludi vai cobrir a Madalena de pancada!

— Acho que ela está merecendo uma liçãozinha.

Saímos e as duas continuaram lá, encarando-se como duas lutadoras de MMA.

💜

Diário da Ludi

Como aquelas pessoas gostavam de um barraco! E eu também, ainda mais se eu fosse uma das protagonistas dele.

— O que é sapatão? Vai me bater?

— Não gosto de sujar minhas mãos com merda.

— Ah, é? Mas você enfia seus dedos em lugares muito exóticos, não acha? Sujar as mãos com merda seria fichinha perto do que você faz.

— Ah é? Pra uma BV idiota você tá sabendo legal das coisas! Madalena, Madalena... Confessa que foi você quem mostrou aquela foto pra minha mãe.

— Você quer uma confissão? Fui eu sim. Pra você deixar de ser metida.

— Acho que quem tá se metendo demais na vida alheia é você. Parece até que tava me querendo.

— HAHA! Faz-me rir. Não gosto de fazer sabão não.

Fui pra cima daquela cachorra com a cabeça fervendo, mas não consegui nem chegar perto dela da primeira vez, claro me seguraram. Fingi que estava calma, e ela me deu língua. Não aguentei e daquela vez deu certo. Enchi minhas mãos com o cabelo dela, e puxava, e a xingava de tudo.

— Isso aqui é pra você aprender. (soco na cara) E essa aqui é pra você respeitar as pessoas (joelhada no estômago). E isso é pra você deixar meus amigos em paz, beleza?(outro soco na cara)

Resultado: Fui parar na delegacia. Só sairia de lá se minha mãe viesse me buscar. Claro que ela não viria, quando ela me pôs pra fora de casa, disse que eu não era mais sua filha.


💜

Sim, minha mãe não viria. Eu estava ferrada. Altamente ferrada. Fiquei pensando em muita coisa, como por exemplo, que se caso ela não aparecesse naquela delegacia eu seria transferida pra um internato ou coisa assim. Não me arrependia coisíssima alguma de ter marcado a cara daquela vaca, achei que ela até merecia mais. Só sei que eu acabei com a festa de muita gente na Mofoville.

— Mãe? — me surpreendi, era ela mesmo! Dona Maria nem me deu bola, foi direto falar com o policial. Depois de muito sermão das duas partes, (sendo que enquanto minha mãe dava o dela nem olhava pra minha cara), o delegado me liberou.

Saímos juntas da delegacia, e depois ela disse:

— Agora segue o teu caminho. Vê se me deixa em paz.

— A senhora ta com raiva porque eu marquei a cara da cachorra que me dedurou pra senhora.

— Antes fosse. Tchau, vou pra minha casa.

— A senhora não tem a mínima preocupação comigo?

— Por que teria? Você não é minha filha.

E foi embora, com aquele jeito turrão dela. Sua sandália azaleia que fazia um barulho a cada passo que ela dava e sua saia arrastando no chão Chorei muito jogada naquela calçada. Choveu e eu continuei lá. Não era justo comigo, não! Eu sempre fui uma ótima filha!


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Notas finais do capítulo

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