Your Hunger Games - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 9
Heitor Pierre Silva


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me por não ter postado ontem, mas meu dia foi corrido...



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Heitor Pierre Silva

Birdy - People Help The People

Quando apertou a mão de sua companheira, não sabia se tentava olhar para ela com dó ou com medo. Sarah tinha doze anos, sua primeira colheita, mas o grandes olhos negros anunciavam que ela estava ciente do que acontecia. Não aparentava fraqueza, embora seu corpo e sua magreza suavizassem aquele temperamento neutro. Pierre foi empurrado e teve de se curvar para não perder o equilíbrio. O Pacificador pediu desculpas com certo tom rude de impaciência, mas não o tocou mais. Ele encontrou a sua espera um quarto, de paredes altas e vermelhas, desenhadas com veludo e tecidos caros. Móveis em marrom e madeira rústica. Chão de madeira maciça e pura. Janelas grandes que lhe davam visão para a parte mais alta do Distrito 03, a Central de Tecnologia, onde todos trabalhavam.

Lá ele estava sozinho, e podia roer o resto de suas unhas, esperando a chegada de outros Pacificadores para empurrá-lo novamente. Quando a porta de madeira quase negra e maçaneta dourada desbotada se abriu num estrondo forte e violento, ele quase acreditou que iriam mata-lo antes do tempo. Mas não era isso. Mamãe correu até ele, agarrando-o pelos braços e o abraçando, esmagando seu corpo magro e ossudo. Ela tinha lágrimas quentes descendo seu rosto.

Papai e seus dois irmãos entraram mais sorrateiramente, mas ainda sim abalados e com as bochechas vermelhas. Era de família aquela pele branca e as bochechas coradas. Os cabelos ruivos alaranjados e os olhos escuros, com longos cílios negros que nem pareciam ser ruivos. E sobrancelhas finas e ruivas, misturando-se a pele facilmente. Todos com rostos sardentos e dentes não tão alinhados. Mamãe o soltou e tocou seu rosto, tremendo. Ela tinha os únicos olhos azuis da família, e agora eles estavam manchados com suas lágrimas. Pierre se sentiu ruim por fazê-la chorar.

– Meu menino... – ela balbuciou, encostando o queixo no ombro de Pierre e lá permaneceu, segurando sua nuca e balançando de um lado para o outro, pequena, arqueada. Sua mãe parecia uma criança assustada, enquanto se aninhava em seu peito. Pierre não soube se seria necessário abraça-la de volta, mas antes de agir, seu pai e irmãos o fizeram. Heitor lembrou-se de nunca ter sido abraçado pela família toda, mas logo pôde sentir o calor daquele abraço, e então chorou junto deles, tentando consolá-los e consolar-se.

Quando a porta se abriu de novo, foi para levar sua família, aos tropeços, para longe dele. E talvez para sempre. Pierre colocou os braços ao redor do próprio corpo, caindo de joelhos e tentando afastar aquela terrível sensação. Solidão, de uma forma negra e obscura que ele nunca tinha provado. O gosto metálico de sangue na língua, percebendo que estava mordendo os próprios lábios, evitando chorar mais. Após cerca de mais quinze minutos, ele já tinha conseguido levantar e se sentar numa das poltronas de couro escuro. De repente a sala, outrora confortável e elegante, passara a ser tremendamente fria e assustadora.

Imaginou como sua companheira de Distrito estaria se sentindo, e percebeu que estava sendo fraco demais.

Recompôs-se e levantou os olhos, a tempo da representante da Capital entrar na sala e convidá-lo a sair, com um sorriso bonito no rosto. Ela era linda, de fato. Com longos cabelos negros, escorrendo sedosos por seus ombros, até a cintura, terminando em pontas azuladas. Os olhos puxados e grandes, não como os de Sarah, mas como se fossem artificiais. E eram, ele imaginou. O queixo fino, e as maçãs do rosto altas. Sobrancelhas arqueadas e finas, muito bem aparadas. Sua pele era comum, sem nenhuma cor berrante, além de um amarelo-queimado que dizia ser bronzeamento.

– Vamos, vamos – ela chamou-o com as mãos de unhas grandes e pintadas.

Pierre se levantou, tentando não trombar contra a parede. Sua cabeça ainda zumbia, incessante. Quando alcançou a mulher, a seguiu de perto, indo por um corredor metálico, onde conseguia ver seu reflexo. Do lado de fora esperava um carro, onde o motorista e Sarah já estavam, esperando-o. A mulher entrou primeiro, separando os dois tributos do Distrito 03. Ela se identificou como Zhandya, ou Zhan.

– Mas apenas para os íntimos – e piscou seus longos cílios, decorados com muito brilho dourado.

Não pôde deixar de pensar em como ela era simpática, mesmo assim seu peito continuou vazio, enquanto deixava as imediações do Distrito onde vivera a vida inteira, sem nunca sair, e ser levado para as trilhas. Lá, onde muitos já tinham ido, e poucos voltado.

– Irão adorar seus quartos, decoram-no com suas cores preferidas e você pode até pôr música para dormir, e caso quiserem... Ah! Vejo que já chegaram. – ela sorriu para os estranhos, sentados um ao lado do outro na poltrona do vagão-refeitório. – Meninos – e virou-se para Sarah e Pierre – Estes são Juper e Niccol, seus mentores.

Eram dois homens, com cabelos negros e pele escura como noite. O sorriso deles foi seco, como se quisessem estar chorando ao invés de sorrirem. Os cabelos enrolados de Niccol eram de um preto como petróleo, e já Juper possuía madeixas duras e curtas. Mas seus olhos eram de pura simpatia e gentileza. Quando se sentaram a frente dos seus novos mentores, Sarah e Pierre se perguntaram quantos anos tinham os dois. E a julgar pelos fios metálicos entre a cabeça deles, poderiam ser mais velhos do que aparentavam.

– Eu sou o Niccol. – o primeiro a falar. – Vitorioso da 34ª Edição, Segundo Vitorioso do Distrito 03, Mentor do Tributo Masculino do Distrito 03 e todos os títulos idiotas que ganhei. Mas, enfim, eu nasci Niccol John.

– Prazer – Pierre estendeu a mão e logo notou que ela era muito menor do que a de Niccol, e ao tocá-lo, também notou que ele tinha trabalhado muito do mais do que Pierre, pois eram calejadas e grossas como lixas. Mas quentes e confortáveis. – Eu sou Heitor Pierre, mas prefiro que me chamem de Pierre, o Heitor é o nome de meu pai, por isso não gosto que me reconheçam assim. Sou o tributo masculino do Distrito 03, e por enquanto só.

Niccol sorriu, como se achasse graça da última parte.

– E eu – Juper se remexeu em sua cadeira – Sou o Vitorioso da 11ª Edição. Talvez mais velho que seus próprios pais. – e riu, achando graça de sua velhice – Posso parecer novo e um tanto inteligente, mas... Não se enganem. Eu sou apenas um gênio, nada mais. – e piscou para Sarah – Mocinha, você é minha, então espero que nos demos bem. Aliás, já conversei com seu pai sobre... Você sabe.

Sarah assentiu, minúscula dentro daquela cadeira de veludo vermelho. Ela parecia muito menor do que mais cedo na Colheita. Mas Pierre estava mais interessado em fazer seu estômago parar de roncar. Quando Niccol lhe disse que poderia comer o que quisesse na mesa, ele o fez. E devoraria tudo, se conseguisse. Sua barriga estava acostumada com poucas migalhas, e não com o pão todo. Logo, se sentiu enjoado e pronto a vomitar tudo para fora. Mas não podia desperdiçar tantas mordidas assim...

Sarah foi mais cautelosa, selecionando alguns pedaços diferenciados de bolo vegetariano e de torta de limão. Niccol e Juper usaram todo o tempo de trajeto do Distrito 03 até o 02 apenas explicando como funcionavam os Jogos e seus bastidores, como era arranjar Pacificadores e o que aconteceria com eles durante a estadia no Hotel dos Tributos, nada do que já não soubessem. Mas Pierre não podia deixar de sentir o frio na barriga ao pensar na Entrevista. Não gostava de falar quando muitas pessoas olhavam para ele, muito menos de falar de sua intimidade. E “usar palavras como ‘meu sonho’, ‘minha família’ e ‘dor’ podem render muitos olhos marejados e Pacificadores emocionados”, de acordo com Juper.

Sarah pareceu adorar seu mentor, tinha trocado pedaços de frutas e de salgados com ele, e até combinaram de conversar sobre “coisas” mais tarde. Isso deixou Pierre intrigado. Afinal Niccol não deveria estar combinando a mesma coisa? Mas Niccol, pelo contrário, parecia estar fazendo tudo que sempre fazia, deixando com que ele comesse a vontade e sem lhe dar muitos olhares.

Mas não era frio, nem um pouco. Niccol parecia muito mais adorável e amoroso do que Juper. E talvez isso fosse um de seus defeitos como mentor.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do Pepi!